Las sombras

By YumiRaeken

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Alexander Hernández nunca sonhou em ter uma vida perfeita, mas o que menos esperava era perder seu pai enquan... More

IMPORTANTE
Elenco
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo

Capítulo 01

993 36 57
By YumiRaeken

“Verdade é o que eu digo ser verdade. Posso incendiar o mundo e chamar de chuva”

- Maven Calore

~ 5.203 palavras

Alexander Hernández

HOJE SE COMPLETAM SETE ANOS desde que vi a trágica cena do meu pai tendo a cabeça decapitada por Manoel Lewis. Foram dois longos anos procurando esse infeliz, e quando o encontrei fiquei feliz em reproduzir a cena que vi um dia depois do meu aniversário, no aniversário da sua filha. Espero que o ser todo poderoso tenha tido piedade da sua esposa e tenha deixado ela viver feliz no que humanos tolos chamam de “paraíso”, porque eu garanti que seu marido queime no inferno. E sobre a querida filha do casal, virou meu bichinho de estimação.

E minha mãe está quase indo para o mesmo caminho, que irônico. A mãe que eu sempre admirei virou uma viciada em cigarros que passa o tempo todo chapada e não lembra sequer de tomar banho. E eu como alguém que já a amei muito, não tenho coragem de a colocar numa clínica de reabilitação, porque tenho certeza que o governo vai encontrar ela e matar a última pessoa “viva” da família que me restou.

Parece até coisa clichê de livro que foge dos padrões da sociedade, o vilão tem um passado triste e se tornou o que é hoje. A diferença é que eu não sou mau por causa do meu passado, eu sou mau porque eu quero.

Estava nas minhas mãos a decisão de começar uma nova vida em outro continente e me tornar outra pessoa, mas um passarinho uma vez me disse que coisas mal resolvidas sempre voltam, e eu não sou muito fã de reconciliações, prefiro um acerto de contas com a morte.

É,  pois é, depois daquela trágica noite e todo o blá-blá-blá, eu descobri que os negócios da minha família se tratavam de uma gangue e toda essa baboseira comum de filme americano. Matando meu pai eles pensavam que tudo havia terminado, mas eu sou o herdeiro e mais um monte de blá-blá-blá. Resumindo, minha mãe tocou os negócios até termos condição financeira o suficiente para viver uma vida normal em Cancun e depois nos mudamos para Nova York, onde ela adquiriu a porra do vício em cigarros e me deixou por conta do que restou do meu legado.

E é esse legado que eu estou reconstruindo, recrutando jovens em situação de rua que agarram a oportunidade mais fácil de mudar de vida, o crime.

E que se foda os modos que eu deveria ter, isso ficou no passado daquele garoto de oito anos que sonhava em ter uma vida normal e um emprego decente.

Ah claro, antes que eu me esqueça, o maldito governo simplesmente explodiu a minha casa e a casa dos meus avós, ou seja, eu perdi tudo de valor que eu tinha. Que maravilha! E sim, eu também matei o desgraçado que fez as coisas virarem pó.

Meu tio seja lá de onde estiver, deve estar orgulhoso de quem eu me tornei, ou deve estar se remoendo por ter visto que o pirralho da família virou um monstro que não deixa as crianças dormirem.

Em pensar que em algum momento da minha vida eu me via como um herói de uma linda história, um príncipe que conquistou uma princesa, construiu uma bela família e é feliz.

Isso não combinaria comigo nem fudendo.

Mas vendo pelo lado bom, o príncipe eu não posso ter me tornado, mas que eu fiquei cada vez mais bonito, isso não dá pra negar. E graças a essa minha beleza, eu consigo as coisas muito mais facilmente.

Tipo iludir uma otária no banco e fazer o melhor assalto que uma cidade no interior do Texas já viu. Foi hilário ver uma descrição minha no jornal, mas aquele maldito desenho ficou feio a ponto de machucar meu ego.

De qualquer modo, isso não importa. O passado que fique para trás, porque hoje eu estou empolgado para começar as minhas brincadeiras de herdeiro de uma gangue. Está na hora de voltar das cinzas, como uma fênix.

E para darmos início, estou indo atrás de uma garota chamada Taynize Sthuct. Ela fugiu de um reformatório a alguns meses atrás e agora que finalmente a poeira baixou, posso arriscar ir atrás dela. Pelo que consegui saber sobre ela, a garota entende bem de sistemas e ter uma hacker na equipe vai ser como ter uma carta na manga.

A espécie de ficha que eu montei para a garota não é muito bonita, está mais para vários rabiscos em um papel, mas serve como um tipo de manual de como lidar com a desconhecida não tão desconhecida assim. Seu pai foi preso por tráfico e uso de drogas e acabou se suicidando na prisão por culpa da abstinência, sua mãe fez da própria casa um bordel e expulsou a garota de lá. Foi até gentil colocarem ela em um reformatório ao invés de um orfanato.

Eu poderia ter dó da pobre garotinha de dezessete anos, mas inocente ela não é. Quando se é obrigado a viver nas ruas, sua mentalidade muda totalmente. Deixa de ser questão de viver, para sobreviver.

Eu e duas garotas numa gangue, realmente, somos capazes de fazer um estrago gigantesco. (Estou sendo irônico, obviamente).

Saber que não seria fácil reerguer meu império eu sabia, porém ter que ir atrás de pessoa por pessoa, de comprar equipamentos e bolar planos que eu dependo da colaboração de terceiros, isso é chato e depressivo pra um caralho. Principalmente para mim, que me acostumei a fazer tudo sozinho.

Bom, na maior parte do tempo tudo sozinho. Já que por alguns anos tive a ajuda da minha mãe e anos depois sequestrei Chloe Lewis, filha do assassino do meu pai. E não foi piedade, porque pra mim está totalmente tranquilo assassinar uma criança se for preciso, foi por vingança. Imagina o papai dela vendo que eu corrompi a boa garotinha dele.

Deixando de lado esses pensamentos intrusos, que são coisa de pessoas sem auto controle e com a vida perfeita, além da minha tão procurada Taynize, estarei indo ainda hoje atrás de Michael Gutierrez, um idiota que assassinou o próprio pai e conseguiu fugir da polícia. Preciso de alguém que já tenha cometido um assassinato para me ajudar com outras coisinhas, tipo o “emprego” que eu arrumei de assassino de aluguel. Não ganho tanto dinheiro assim, porém é o suficiente para manter o apartamento onde vivo, o vício de cigarros da minha mãe (antes ela chapada o tempo todo do que sofrendo pela morte do marido) e uma casa caindo aos pedaços na periferia da cidade (ótimo modo para descrever a base da sua gangue, Alex).

- Hernández, vamos logo atrás da Taynize, eu não tenho o dia todo.

- Se eu disser que você tem a porra do dia todo, então você tem. Não somos amigos e nunca vamos ser, ou já se esqueceu? - Pergunto para Chloe que está parada na porta da nossa base com os braços cruzados.

- Não, não me esqueci.

- Ótimo. Não quero ter que perder o meu tempo lhe relembrando disso, pirralha.

- Qual foi, Hernández? Eu pensei que estávamos começando a ser amigos, mas você não tem a capacidade de ser legal nem por poucos segundos. - Ela diz se afastando para eu conseguir sair de casa, a mesma que tranco enquanto a garota fala esse blá-blá-blá.

- Não, eu não tenho o dom da super simpatia com você, Lewis. E se me permite, vou te relembrar o porque, o seu pai matou o meu pai, e enquanto você estava tendo sua vida feliz como uma criança normal, eu estava buscando o assassino que acabou com a minha família e com o meu legado. Então realmente, me desculpe se eu não tenho o mínimo de empatia com você ou com qualquer outra pessoa, roubaram isso de mim. - Digo com puro sarcasmo enquanto caminhamos em direção a alguns becos, que irão nos levar a garota fujona.

- Se fosse assim, você também matou minha família e me sequestrou, e mesmo com tudo o que você me fez e continua me fazendo passar, eu ainda tento me aproximar de você. - Esse é um dos males de recrutar uma garota dois anos mais nova que você, ela esquece de amadurecer e acha que a vida é um delicioso doce a qual a receita é passada de geração em geração por séculos.

- Não me diga que também está apaixonada por mim, porque eu vou destruir seu coração.

- É claro que não! - Percebo pelo canto dos olhos que a pirralha está mais vermelha que um pimentão, aparentemente alguém aqui está apaixonada e eu vou ficar feliz em desprezar todo o seu amor. - Eu só queria algo para me apegar, cara. Você tirou tudo de mim, me forçou a aprender a me defender sozinha, fez um puta terror psicológico comigo e eu não te odeio por isso…

- Se quer um conselho, você deveria me odiar com todas as suas forças e se apegar apenas na lealdade que é o que te mantém viva. Eu sou corrompido por dentro e não tenho limites, e se você quiser se aproximar, vai perder o último pingo de inocência que restou em você.

- Sua cabeça é tão transtornada que você alucina as coisas. Isso não é uma série, livro ou qualquer porra desse tipo onde eu vou desenvolver uma incrível Síndrome de Estocolmo e me apaixonar por você. Isso é a vida real, e se você quer minha lealdade poderia fazer por onde para merecer, e entender também que você sozinho é um anjo caído, mas se eu estiver ao seu lado, você pode conquistar o inferno inteiro.

Garota esperta, acha que teria a capacidade de me fazer mudar de ideia com esse argumento decorado e um pouco de estudo. A vida não é tão fácil assim, e uma conversa de alguns minutos não é e nunca será o suficiente para mudar toda a personalidade que eu criei, para mudar o que eu me tornei.

Se eu sou um anjo caído, foi porque arrancaram as minhas asas e me impediram de voar, tiraram o que eu mais amava. E quando se tira a luz de alguém que caminha na escuridão, essa pessoa perde o rumo por não enxergar nada.

Arrancaram as minhas asas, a minha luz, o sentido da minha vida, a inocência genuína que eu possuía.

O que restou foi apenas um menino perdido no escuro, que vai se tornar o verdadeiro bicho papão que atormenta as crianças em plena madrugada. Se eles pensavam que matando minha família acabariam com um legado, eles irão se surpreender. Eu aprendi a fazer fogo, e agora vou queimar o mundo e chamar de chuva.

Nada e nem ninguém vão me parar.

Não porque não querem, mas porque jamais serão capazes.

- Eu não preciso conquistar o inferno inteiro porque já estou nele, e o inferno é o que você e mais bilhões de pessoas chamam de planeta Terra.

- É tão difícil aceitar alguém que quer o seu bem na sua vida?

- A única pessoa que deseja meu bem nessa vida e que está viva é a minha mãe, e adivinhe?

- Adivinhar o quê?

- Que ela está enfiada em um quarto nesse exato momento consumindo caixas e caixas de cigarro para se livrar das lembranças do seu passado. Irônico, não?

- Por que seria irônico? Você nunca falou da sua mãe. Hernández eu sinto muito, eu não fazia a menor ideia disso.

- É irônico porque eu ando com a filha do meu inimigo do meu lado, e ela jura que eu sou uma boa pessoa e não vou matar ela se for preciso. É irônico porque ela jura que apenas eu virei um fudido da cabeça, porque essa mesma garota jura que para eu ser o que eu sou hoje, aconteceu apenas isso na minha vida. Se hoje eu sou assim, a culpa é do seu pai, sua, e de toda a porra do governo. Então, preste atenção no que eu vou te falar e ouça bem porque não pretendo repetir. - Em um ato rápido prendo a garota na parede do beco que estamos passando. - Eu estou te mantendo viva enquanto isso me é útil, quando você perder o seu valor, você morre. Então fecha a porra da boca e foca na missão que estamos indo, isso não é um aviso e sim uma ameaça. - A solto e volto a andar, ela logo me alcança e tomara que agora essa ameaça sirva para ela manter a boca fechada.

Ah mamãe, porque você foi fazer isso comigo. Eu ficaria tão feliz de poder reconstruir o legado do papai ao seu lado. Porque mamãe, você se tornou uma viciada?

O que nossa família acharia do que eu tive que passar? Eu te amei infinitamente, você foi a melhor mãe que poderia ter sido, mas ainda dói lembrar das marcas escondidas pelo meu cabelo. Ainda dói lembrar que eles me torturaram com apenas treze anos porque você não tinha dinheiro para pagar a dívida de drogas, e eu preferi sofrer no seu lugar do que te ver chorar.

E o que adiantou? Você parou com as drogas, mas começou com bebidas, e bebia tanto ao ponto de me ver como o assassino do papai e me agredir. As tatuagens que hoje eu carrego tem um significado, mas acima de tudo são para esconder as marcas que você deixou em mim. E mesmo com todas essas coisas, eu ainda te salvei de um coma alcoólico.

O que você se tornou…

E mesmo com tudo isso, eu não perdi a esperança de reerguer o pouco que temos. Eu não te deixei entrar em abstinência quando você largou o vício de bebidas e começou com o de cigarros, o qual eu sustento até hoje…

Nós podíamos não ter a família perfeita, mas era tudo o que eu tinha. E o que me restou foram memórias fragmentadas.

Sinto uma lágrima se formando por trás dos meus olhos e bocejo para disfarçar. Eu fiz uma promessa, a última vez que eu choraria seria um dia depois da morte do meu pai, depois disso me recuso a deixar até mesmo uma lágrima cair.

「𖤛」

Depois de mais de cinquenta minutos andando, finalmente chegamos ao outro lado da cidade onde Taynize está ficando. O famoso beco 17, conhecido por alto tráfico de drogas, ladrões, e moradores de ruas.

Pessoas da classe média e alta não ousam pisar aqui, muito menos a polícia.

- Como vamos encontrar ela no meio de tantas pessoas? - É a primeira vez que a pirralha abre a boca desde a nossa recente conversa, e agradeço mentalmente por estar falando algo útil dessa vez.

- Andando como quem não quer nada e está só de passagem. Encarar qualquer pessoa aqui ou reparar demais é levantar suspeitas.

- Mas…

- Mas nada, aqui somos duas pessoas de passagem.

- Pode pelo menos me falar como ela é?

- Quando encontrarmos ela, você saberá. Agora use os seus dons de atuação, pequena artista.

Lewis nada diz, mas posso reparar o pequeno sorriso sem mostrar os dentes que surge nos seus lábios. Posso não ter nenhum tipo de afeto por ela, mas a ter por perto é necessário e nada melhor do que jogar sujo para isso.

Consigo lembrar quase que perfeitamente do seu aniversário de dez anos. Mesmo eu tendo sequestrado ela, achei importante conquistar um pouco de afeto para entrar melhor na sua mente. O que me custou algumas horas ouvindo ela falar sobre várias merdas, inclusive que tinha o sonho de virar uma estrela dos cinemas. Fico extremamente feliz por saber que tirei isso dela.

Foi o primeiro e último aniversário que ela teve comigo, odeio festas e principalmente aniversários.

Enfim, já estamos praticamente na metade do beco e nada do meu alvo aparecer. Bom, era isso que eu pensava. Alguns passos a frente encontro a garota andando distraidamente para fora do beco.

- Acelera o passo e espera escondida no final do beco. - Digo para a pirralha baixo o suficiente para que apenas ela ouça, e a mesma obedece sem questionar.

Assim que tenho certeza que ela saiu do beco, acelero um pouco o passo e como em um truque de mágica tiro uma arma e a pressiono nas costas da garota morena.

- Cala a boca e continua andando. Não sou um policial, mas tenho conhecimento o suficiente da sua vida e não me importo de te matar se você tentar qualquer gracinha.

Ninguém aqui acha essa cena estranha, pelo simples fato de já estarem acostumados com alguns rebeldes vindo cobrar quem deve algumas pequenas organizações criminosas da cidade. Então, para eles a querida Taynize está apenas sendo cobrada pela sua dívida.

- Quem é você e o que você quer comigo?

- Posso ser quem vai mudar sua vida para sempre ou a morte. A decisão fica nas suas mãos.

- Eu não pretendo comprar drogas, cara. Me deixa em paz!

- É claro que não, você teve o exemplo do papai pra não seguir por esse caminho. O que eu tenho a te oferecer é muito melhor do que uma porcaria dessas que te traz a paz temporariamente e depois te mata.

Finalmente chegamos no fim do beco e logo a Lewis age, amarrando as mãos da garota e colocando um pano na sua boca. Também sou ágil em guardar a arma.

- Revista ela. - Posso ser quem eu sou hoje, mas tenho o mínimo de respeito por mulheres a ponto de não passar a mão pelo seu corpo.

- Limpa.

Tiro uma chave de carro do meu bolso e destranco a lata velha que eu roubei semana passada. Não é nem de longe, muito menos de perto o melhor carro do mundo, mas é o que eu tenho no momento e o que vai nos tirar daqui.

Abro a porta do veículo e jogo Taynize no banco de trás junto com Chloe, então dou a volta e entro no banco do motorista, começando a dirigir.

- Você nunca me falou que a gente tinha um carro. - Caralho pirralha, estava tão bom você com a boca fechada.

- A gente não, eu tenho. E outra, eu andei a pé esse tempo todo apenas para meu plano dar certo, você deveria reconhecer que eu sou genial. - Teria mais impacto se eu usasse narcisista egocêntrico inteligente, mas agora já foi.

- Vamos abrir o jogo de uma vez com ela?

- Não, estou levando ela para passear. É claro que sim. - Reviro os olhos. - Não vou jogar uma pilha de informações em cima de você, Sthuct. Então, preste atenção no pouco que eu vou falar e não responda de imediato, porque dependendo da sua resposta, você vai virar comida de porco. - Quase sorrio com a expressão da garota com os olhos arregalados. - Eu tenho uma gangue e preciso de integrantes para voltar a dar problemas para o governo, porque mesmo eu sendo foda, sozinho não chego muito longe com uma organização criminosa. E bom, achei uma ótima ideia sair por aí procurando novos integrantes que pareçam úteis e cheguei até você, que por trás de toda essa vidinha triste tem ótimas habilidades de hacker. E aí, o que me diz?

Percebo a morena olhando para a jovem ao seu lado e se perguntando pelo olhar o que eu quis dizer. Esperava mais de uma garota que é um ano mais velha que eu, aparentemente o cérebro dela não tem a capacidade de entender algo simples assim. Mas também, julgando pelo tamanho dela, deve ter tido algum problema para crescer, ela é menor que Chloe e olha que a pirralha tem um metro e sessenta e cinco de altura.

- Ele está lhe perguntando se você aceita fazer parte da gangue? Você ganha dinheiro e uma casa em troca.

Sem pensar duas vezes a garota balança a cabeça em sinal de positivo e sinalizo para a Lewis tirar o pano da boca da sua suposta nova companheira.

Eu vou ter uma casa? - Um sorriso genuíno surge no seu rosto e pelo seu comportamento corporal parece estar sendo sincera.

- Depois de passar por alguns testes, sim. Mas não se empolgue muito, vai ter que dividir a casa com ela aí.

- Prazer, me chamo Chloe Lewis.

- Sou Taynize Sthuct.

- Disso nós já sabemos. - Quebro o clima amigável. - Feche a sua boca, Lewis. Não confiamos nela ainda, e se você ousar falar algo da gangue ou de mim para ela, mato vocês duas em um acidente de carro e ainda jogo o corpo de vocês em um lago cheio de piranhas.

- Por Deus, você não bate bem da cabeça, cara!

- Primeiro, não falamos o nome dessa entidade aqui, é proibido visto que eu sou ateu e converti a garotinha do seu lado a ser também. Segundo, você não viu nada ainda.

- Não liga pra ele, Tay! A gente vai ser amiga, não vai?

- Cala a boca Lewis, vocês duas! Não estou afim de ouvir papo de menininha, e sem apelidos. Você conhece as regras, e tenho certeza que não quer aprender elas novamente.

Qualquer pessoa com um alto QI sabe que isso está muito suspeito. Ela já passou por muita coisa que eu sei, uma gangue só traria mais caos a sua vida de merda. E uma construção que se chama casa não é lá tão grande coisa pra alguém que perdeu a sua quando pré-adolescente. E eu vou fazer questão de fazer uma lavagem cerebral nela para descobrir tudo sobre ela, para depois  corromper o que restou de bom nela (se é que restou alguma coisa) e a obrigar jurar lealdade perante os meus pés.

「𖤛」

Cerca de vinte minutos depois, chegamos em um lote abandonado um pouco afastado do centro de Nova York. É aqui onde vou resolver as coisas com ela, e depois irei atrás de Michael Gutierrez.

- Desce do carro, Sthuct. - Digo assim que estaciono. - Lewis, fique aqui.

Espero a garota mais velha descer do carro e tiro a chave do mesmo, guardando no bolso da minha calça, e em questão de segundos solto um fio do carro. Se qualquer uma das duas tentar fugir com o veículo, nem com ligação direta vão conseguir. É como diz aquele ditado, melhor prevenir do que remediar.

Desço do carro na maior tranquilamente possível e começo a puxar a garota em direção ao lote pelas cordas que envolvem o seu pulso.

- Qual a necessidade disso? Eu já aceitei virar a hacker da sua gangue, pirralho! - Por que mulheres são tão escandalosas? Qual a dificuldade de ficar de boca fechada e falar apenas quando necessário? Sinceramente, época medieval era um sonho se tratando da submissão feminina em certos aspectos.

- O pirralho que é mais alto, mas habilidoso e mil vezes mais perigoso que você. Passarinho morre pela boca, nunca ouviu esse ditado?

- Passarinho morre pela boca e você morre se levar um chute no saco. - Como já estamos quase no meio do lote e aqui a grama está mais alta que a garota, jogo ela no chão e me afasto silenciosamente. - Isso não tem graça! Cadê você?

Sinceramente, não vejo a necessidade de alguém ter que ficar dizendo o óbvio. É claro que isso não vai ter graça alguma, eu não sou palhaço muito menos um comediante. Eu sou um assassino a sangue frio que vai apenas reconstruir seu legado, e dessa vez será um legado que ficará marcado na história desse país e de vários outros.

- Eu estou em todo lugar, e se você pensar em se mover pode acabar caindo em uma armadilha.

- Terror psicológico não vai funcionar, pirralho! Você deve saber que já sofri disso no reformatório.

- Todo o sofrimento que você passou até hoje, não chega aos pés do sofrimento que eu posso te causar.

- Não tem armadilha nenhuma aqui e eu vou te provar. - De onde estou consigo ver ela perfeitamente levantar e começar a andar, porém em menos de dois passos ela cai em um buraco fundo que cavei cheio de ossos de animais mortos dentros. - CARALHO! ME TIRA DAQUI!

- Se você gritar vai ser pior. A partir de agora você me responde com sim ou não, e se eu achar que você está mentindo, eu vou encher o buraco com terra mesmo você estando aí dentro.

- Eu respondo o que você quiser, mas me tira daqui. Desculpa falar daquele jeito com você.

- Pra que tanta pressa? Temos todo tempo do mundo. Agora me diga, você teve algo haver com a prisão do seu pai?

- Ele batia na minha mãe, eu tive que denunciar ele.

- É sim ou não, não preciso das suas estúpidas justificativas.

- Sim!

Uma ótima manipuladora eu diria, daqui eu consigo a ver sem ser visto, e essa sua carinha de tédio não combina nem um pouco com o tom da sua voz. Uma pequena órfã mentirosa e escandalosa.

Eu sempre estou certo, a rua muda qualquer um, e pelo tempo que ela esteve sozinha por aí, tenho certeza absoluta que criou habilidades úteis o suficiente para continuar sobrevivendo.

- E você faria o mesmo comigo se eu te batesse é?

- Não! Por favor confia em mim.

Isso está muito sem sal, tenho que colocar meu jeitinho se eu quiser que isso realmente funcione. E nada melhor do que jogar gasolina na garotinha, quem está na chuva tem que se molhar, não é mesmo?

- Ei, ei, ei! Que merda é essa?

- Ah, sabe como é. Estava pensando em aumentar a minha coleção de ossos. Espero que você esteja ansiosa para virar pó.

- Alexander Sánchez você não vai fazer isso comigo. Se você queria que eu abrisse a porra do jogo, então eu abro. Eu sei da existência da sua gangue de merda e que seu pai foi assassinado pelo pai da Lewis, sei também que sua mãe virou uma viciada  e que você está tentando reconstruir seu império. Eu te ajudo, mas por favor, não faz isso comigo.

Ela tinha uma pequena chance de continuar viva se tivesse permanecido calada, mas quem muito sabe não me é útil. Foi um prazer te conhecer Taynize, mas você tem informações o suficiente na sua mão para me prejudicar e eu me nego a confiar em você. Seu único erro foi meu sobrenome, não tenho e nem pretendo colocar o sobrenome da minha mãe.

- Eu te avisei que passarinho morre pela boca. - Sem pensar duas vezes ligo um isqueiro e o jogo no buraco, fazendo as chamas rapidamente se alastrarem e consumirem o pequeno espaço.

Começo a andar para longe dali sem me importar com os gritos de dor de alguém que está sendo queimada viva. Eu faço sumir do mapa qualquer coisa que possa significar uma ameaça sem remorso algum.

Assim que entro no carro, dou de cara com uma Chloe de olhos arregalados, com a mão na boca e lágrimas caindo. Ela não esperava isso vindo de mim, mas eu sou imprevisível.

- Vem cá. - Mando, indicando o banco de passageiro ao meu lado, a pirralha obedece sem pensar duas vezes. - Ela poderia se tornar um problema para nós futuramente, não se apegue a essas memórias, tudo bem? Primeiro a nossa sobrevivência e depois a de outros. - Não sirvo para consolar e não está nos meus hábitos fazer isso, mas algumas palavras devem ajudar e ter o efeito esperado.

- Você faria isso comigo se fosse preciso? - Lewis pergunta entre lágrimas.

- Você é especial para mim, sendo assim sua morte seria muito mais demorada. - Sou sincero, mesmo sabendo que isso só piora a situação atual. - Mas não se preocupe, você é leal a mim, não é?

- Minha lealdade por você é incondicional.

- E é exatamente isso que te mantém viva, querida. - É tudo o que digo antes de puxá-la para um abraço, odeio contato físico mas levando em consideração que eu posso estar traumatizado ela e isso pode causar danos irreparáveis, é melhor tentar diminuir o impacto que isso vai ter.

- Eu sei que já jurei uma vez, mas eu juro de novo nunca te deixar. Eu te amo, seu doente de merda! - Ela diz entre soluços ainda abraçada a mim.

Sinceramente, estou sem reação. Primeiro porque não escuto um “eu te amo” a muito tempo e nunca escutei um que não seja vindo da minha família. Segundo, como ela pode amar alguém que destruiu a sua vida?

E pela primeira vez em anos, dessa vez eu não tenho a resposta para uma pergunta tão simples assim. Eu não amo ninguém, e ela não vai ser quem vai mudar isso.

Mas lá no fundo, em algum lugar do jovem fragmentado que eu me tornei, uma luizinha se acendeu, a luz da esperança que há muito tempo havia sido apagada.

E eu farei de tudo para apagá-la novamente. Eu não tive uma vida normal e nunca vou ter, é minha obrigação ser frio e não ter sentimentos. Isso não me tornaria fraco, mas eu seria um tolo.

Se apegar a alguém é como dar um manual de como te destruir para os seus inimigos, basta apenas atacar uma pessoa com uma mínima importância para você, e pronto, você vira um desestruturado.

Alexander, Alexander…

Não se deixe abalar por uma frase de três palavras.

Você é maior do que isso.

Eu sou maior do que isso.

E que se foda essa pirralha chorando, não sou psicólogo ou instituição de caridade pra ajudar. Isso é falta de mentalidade. Eu criei essa idiota para aguentar cenas piores que essa, e se ela não consegue se controlar, é problema dela e não meu.

- Engole a porra do choro. - Ordeno, a afastando com brutalidade de perto de mim.

Sem pensar muito, conserto o carro e o ligo, logo dando partida e indo em direção a base da minha gangue.

Não vou conseguir manter minha sanidade por muito tempo com essa pirralha chorando. O problema não é matar alguém, isso é o de menos, o problema é lidar com o choro quando eu não me permito demonstrar fraqueza.

Eu não tenho medo, mas tenho consciência. Estar perto de pessoas fracas, irá me deixar fraco.

E se eu for fraco, eu nunca irei conseguir reerguer meu império.

Eu nunca darei orgulho para meu pai e para meu tio.

Eu não posso fracassar nessa vida, eu não posso pisar em falso.

Se para obter sucesso eu tiver que desligar a porra da minha humanidade, que assim seja. Antes uma máquina mortífera do que um idiota com um alvo no meio da testa.

- Desce do carro, agora. - Praticamente expulso a garota, abrindo a porta e a jogando no asfalto. - Vou aparecer na base mais tarde, e espero que encontre com você, Michael Gutierrez, porque se o assassino do próprio papai não estiver lá, a próxima pessoa a morrer será você. - Digo com um sorriso no rosto.

Se ela jura lealdade perante a mim, então vai tentar a todo custo não me decepcionar. E se ela ama a sua vida, não vai falhar nessa missão. Hoje foi a primeira e a última vez que vi essa garota chorar, e a primeira e a última vez que ela disse que ama alguém.

Se na primeira vez eu não tive capacidade de moldar ela como um fantoche assassino perfeito, dessa vez eu não vou falhar. Eu vou corromper ela de vez, quebrarei em tantos pedacinhos que nem um milagre será capaz de se fazê-la se sentir inteira de novo.

Tiraram quase tudo de mim, e eu vou tirar tudo dela. Afinal, no meu mundo não existe compaixão, empatia ou misericórdia. Existe apenas a dor e o caos.

Primeiro capítulo oficial da história sendo postado em plena véspera de Natal como forma de presente da autora para vocês.

gente, chorei escrevendo o que o Alex passou por causa da mãe dele.

E a Tay que apareceu em único capítulo? Enfim, nosso menino tem a mente meio perturbada mais ele tem os motivos dele, ?

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo. Cliquem na estrelinha pra ajudar a autora aqui e sintam-se a vontade para comentarem, sempre respondo vocês com o maior carinho do mundo.


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