𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱...

By aPandora02

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Conseguir um emprego como faxineira no maior centro executivo de direção da S.H.I.E.L.D. foi a luz no fim do... More

❗Importante❗
~ Personagens ~
1 - Alpine
2 - Socializar
3 - Traidor Entre Nós
4 - Invasão
5 - Socorro
6 - Confia Em Mim?
7 - Rodovia (Parte 1)
8 - Rodovia (Parte 2)
9 - Companheiro Caído
10 - Lado Errado
11 - Eu Sou Daiana...
(Parte 2) 1 - O Pacto
2 - Passado E Futuro
3 - Suspeitos
4 - O que aconteceu?
5 - Sujeito Mascarado
6 - Sacrifícios
7 - Dallas
8 - Visita Ao Pesadelo
9 - Ruínas De Um Homem
10 - Viva Por Mim
(Parte 3) 1 - O Que Acontece Depois
2 - Seguir Ou Não Seguir?
3 - Em Frente
4 - O Que Você Omite?
5 - O Passado Sempre Volta
6 - Bons Amigos
7 - Um Novo Capitão América
8 - Digno
9 - Um Símbolo Ou Um Objeto?
10 - Um Quase
11 - Super-Soldados
12 - Convite
13 - Jantar
14 - Ameaça
15 - Ordens
16 - Zemo
17 - Madripoor
18 - Princess Bar
19 - Respira, Expira
20 - Brownie
21 - Certo ou Errado?
22 - Abra Os Olhos
24 - Crianças
25 - Pessoas Confusas
26 - Ponto Fraco
27 - Não
28 - Sem Fôlego
29 - Medo
30 - Silêncio
31 - Dor
32 - Liberdade
33 - Planos

23 - Dog Tag

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By aPandora02

"Você acha que é fácil

Você acha que eu não quero correr até você, é

Mas existem montanhas (existem montanhas)

E portas que não podemos atravessar"

(Rewrite The Stars – James Arthur ft. Anne Marie)


Riga, Letônia


As pistas que tinham os levaram até Riga, capital da Letônia, e o plano agora era não chamarem atenção enquanto buscavam por mais informações a respeito de Donya Madani, pois assim acreditavam que poderiam chegar até quem queriam: Karli Morgenthau. O local conseguido por Zemo era bastante espaçoso e bonito, mas diferente dele, que acabava de sair de um refrescante banho de banheira repleta de espumas e aromas, os demais pensavam que não podia se dar tal luxo de relaxar antes que tudo acabasse.

Bucky havia dito que iria dar uma volta e mais tarde retornaria, deixando ao trio aquele tempo livre para descansarem. Na sala, enquanto Zemo se servia de alguma bebida e Sam observava calado o movimento da rua através das grandes janelas que iam do chão ao teto, Daiana estava sentada no sofá espaçoso.

Com o tronco curvado para frente e os cotovelos apoiados nos joelhos, se encontrava imersa em pensamentos enquanto girava entre as mãos o aparelho celular que há algumas horas parou de tocar as chamadas ignoradas de John, ou vibrar com as mensagens não lidas que lhe enviara, mas que lidas superficialmente pela barra de tarefas. Ela sabia que ele ainda estava furioso.

Ressentia estar alí agora, mas não se arrependia de ter ido embora temporariamente. Estava triste e ansiosa por não querer se ver novamente envolvida em uma situação como aquela porque, por experiencia própria, ela sabia que alguém se machucaria. Confrontos nesta situação eram inevitáveis. Duvidava que grupos de pessoas com pensamentos opostos e dispostos a serem extremos conseguiriam resolver tudo apenas sentando em conversando. Mas se havia algo que ela conhecia muito bem, era essa sensação que sentia agora.

A maldita sensação de que alguém iria se machucar muito no meio disso tudo. Pode ser que ela machuque alguém. Pode ser que alguém a machuque. Ou outras pessoas ao seu redor. Poderia ser Sam, Bucky, Zemo, até mesmo John... e quanto mais pensava nisso, mais a sensação aumentava de uma forma negativa. Poderia estar se confundindo e na verdade o que sentia era pior que apenas se machucar...? E se na verdade um deles morrer?

Deu um pequeno sobressalto e deixou cair aos seus pés o celular quando ouviu a porta da frente ser batida. Puxou profundamente o ar e esfregou as pálpebras quando percebeu que latejavam. Estava tão distraída que se assustou com um barulho tão baixo, tampouco notara que Sam e Zemo engataram em uma conversa que não parecia convidá-la a participar.

— Os Wakandanos estão aqui — mantendo a cabeça baixa, ouviu Bucky dizer acompanhado de seus passos que se aproximavam. — Querem o Zemo.

Ele sequer se importou que os outros dois estivessem em uma conversa antes de sua chegada, pois iriam interrompê-la de qualquer forma para ouvi-lo. Daiana piscou algumas vezes para se recompor e juntou o celular do chão, ouvindo-o prosseguir:

— Mas nos deram mais um tempo — acrescentou.

— Você foi seguido? — Sam afastou-se da janela para sentar-se em um banquinho próximo do balcão onde Zemo estava aparentemente despreocupado com a informação.

— Não.

— Como tem certeza? — Pouco confiante, o loiro de roupão o questionou com uma sobrancelha erguida e o copo de liquido amarelado transparente a centímetros dos lábios.

— Porque eu sei quando estou sendo seguido — confiante e sem deixar brechas para desconfianças como aquelas, pois supô-las era para ele um tipo de insulto, foi firme em sua resposta que calou o outro quanto aquilo.

— Foi gentil da sua parte me defender — com a voz tipicamente calma e lenta, o Barão o agradeceu como se fossem amigos, fazendo com que Barnes o olhasse estranho.

— Ah, cala a boca — Sam, com a mesma expressão do outro, o cortou sobre o ombro com rispidez. — Ninguém está te defendendo. Você matou o Nagel — lembrou-os.

— Temos mesmo que discutir sobre o que podia ou não ter acontecido? — Franziu o cenho, realmente frustrado que ainda o acusassem por sua atitude.

— A gente não tem nada o que discutir. Você deu um tiro no cara — continuava o acusando.

— Eu tenho certeza que a nossa Daiana concorda comigo de que foi a melhor decisão — em tom casual e insinuativo, avançou alguns passos passando por Sam e virando-se de forma que os dois envolvidos agora estivessem em seu campo de visão. — Não é mesmo, minha querida?

Daiana ergueu um olhar sério para ele, desejando que apenas com este movimento pudesse esbofetear sua cara. Mas não podia, infelizmente.

Sim, tanto Daiana quanto Zemo sabiam perfeitamente que ela sabia quais eram suas intenções quando o viu pegar aquela arma e escondê-la atrás das costas, pedindo o seu silencio sem atrair a atenção dos outros. Ela sabia que alguém iria morrer em sua frente e ela tinha o poder de impedir. Mas não o fez.

Não podia mentir a si mesma sobre sua própria atitude. Afinal, em todos os casos da vida, fazer nada também é fazer algo.

— De que merda você 'tá falando? — Um pouco exaltado, Sam intercalou o olhar entre os dois.

— Ele sabia a fórmula... — cabisbaixa, voltando a girar o celular entre as mãos, ela se pronunciou quebrando seu silencio.

— Não pode estar falando sério — incrédulo ele a fitou, uma risada nasalada sem vontade alguma lhe escapando com as palavras.

— Ele claramente não tinha boas intenções com aquele conhecimento — com os olhos fixos no azulejo decorado do chão, Daiana parou de girar o celular, firmando mais a sua voz para se igualar a dele. — E permitir a possibilidade de mais super-soldados serem criados e deixados soltos pelo mundo, principalmente sendo o soro comercializado entre criminosos, não era o risco que eu queria correr.

— E então matá-lo era a solução? — Esbravejou jogou as mãos para o alto.

— Não, Sam — ela gritou também, erguendo a cabeça dessa vez para estressada pesar seu olhar sobre ele. — Matar nunca é a solução. Mas que alternativa, naquelas circunstâncias, nós tínhamos?

Já era ruim o bastante que ela tivesse que sozinha lidar com o próprio conflito e culpa interna, mas ter que justificar sua atitude brutal tornava tudo ainda pior.

— Poderíamos ter prendido o cara — se pôs em pé, tão alterado que não podia mais permanecer sentado no banquinho, sentindo-se traído e apunhalado pelas costas pela mulher que até então ele pensava ser de atitudes e coração tão bondosos.

Claramente estava errado.

— Em Madripoor? — Ela debochou com gosto, olhando-o como se fosse um estupido e aquilo o irritou profundamente. — Se não morresse por nós, morreria naquele ataque ou na troca de tiros. Ele tentaria fugir da gente mesmo que tivéssemos tentado levá-lo até o jatinho e fazer isso da "maneira correta" — ela também se colocou em pé e foi falando cada palavra apontando o dedo para ele até que estivesse em sua frente, não se intimidando pela altura do Wilson quando o percebeu estufando o peito e erguendo a cabeça para olhá-la de cima. — Poderíamos tê-lo perdido de vista e aí mais super-soldados estariam soltos daqui alguns meses fazendo coisas muito piores.

Você está mesmo apoiando a morte de uma pessoa? — Descrente, enfatizou aquelas palavras com desprezo.

— Estou preservando a vida de muitas mais. Ainda que você não tenha capacidade para entender isso, Samuel — sem sequer piscar, ela tinha o queixo tão erguido para ele o desafiando a empurrá-la, afastá-la, rebatê-la ou qualquer coisa, mas a postura de ambos era de que não se intimidavam com o outro. — Entre um e a maioria, eu sempre vou escolher a maioria, principalmente se diferente daquela única vida, milhares de outras forem inocentes.

Houve um breve momento de silencio entre os dois, pois ela aguardava que ele dissesse algo para rebate-la. Não sabiam se Bucky e Zemo prestavam atenção na discussão ou tinham alguma pretensão de intervir, mas estavam igualmente calados, mesmo que soubessem que podiam ouvir com perfeição todas as palavras trocadas. Visto que nenhum som além da respiração pesada do Wilson vinha dele, ela prosseguiu mais baixo dessa vez, repleta de ressentimentos:

— Não dá pra salvar todo mundo.

O Wilson, por mais difícil que fosse aceitar aquilo, sabia que era verdade. Estava surpreso que Daiana pensasse que a morte de alguém tenha sido necessária e até preferível, mas não queria concordar que talvez ela estivesse correta em afirmar que era a única alternativa.

— Pense o que quiser — num gole e sem desviar os olhos dela, virou o copo e o bateu sobre o balcão, propositalmente esbarrando no ombro da mulher para se dirigir até a janela. — Não vou concordar com isso.

— Gente... — Bucky, num tom mais baixo, conseguiu desviar a atenção deles para ele, que não tinha uma expressão muito boa enquanto o dedo deslizava pela tela do celular lentamente, os olhos rápidos correndo as letras escritas. — Karli bombardeou um depósito do CRG.

— O que? — O Wilson arregalou os olhos, assim como Daiana ao ouvir aquelas noticiais.

Já havia lido outras matérias e assistido reportagens que diziam que os Apátridas tinham roubado depósitos de mantimentos e no processo ferido e matado algumas pessoas inocentes, mas por já fazer algum tempo desde a última vez, chegou a pensar que tivessem desistido dos atos violentos. Agora, porém, percebia que estava errada.

— Qual foi o dano? — Ansiosa o questionou.

— Onze feridos e três mortos — aquilo a fez prender o ar. Sam fechou os olhos e balançou a cabeça enquanto Zemo encarava tudo aquilo com naturalidade e Barnes prosseguiu ainda deslizando sobre a tela: — Tem uma lista de exigências e prometem mais ataques se não forem cumpridas.

— Isso é muito ruim... — mordiscou a ponta de seu polegar, passando a andar de um lado para o outro com o olhar baixo.

Quanto mais tempo perdiam sem capturá-la, mais pessoas se feriam e mais famílias precisavam enterrar seus entes queridos por isso.

— Ela está ficando pior — murmurou o Barão aproximando-se do balcão onde agora Sam e Bucky se encontravam. — Eu tenho determinação para completar a missão. A pergunta é: vocês também? — Intercalou o olhar entre eles.

Não precisava de mais palavras para entenderem as entrelinhas daquela pergunta. Ele estava basicamente dizendo que o único caminho para parar a Karli, era a matando e matando todos os outros super-soldados de seu exército. E quanto a isso, Daiana não tinha certeza se concordava.

Karli era uma pessoa que ela não conhecia, é claro. Daiana não concordava com seus métodos violentos, mas entendia seu desespero e as loucuras que ele pode levar alguém a fazer, principalmente se você tem alguém para cuidar... Se havia algo com o qual Daiana estava familiarizada, eram os efeitos e as consequências do desespero.

Tinha esperanças de que uma conversa adequada poderia ser suficiente para resolver o problema, apesar de estar consciente de que conseguir isso seria bem difícil, pois preferia acreditar que como ela, a jovem também se ressentia ferindo pessoas e gostaria de poder fazê-la enxergar que havia outro caminho. Gostaria de poder ajudar. Mas antes, a ameaça precisava acabar.

— Ela é só uma criança — e nisso ela precisava concordar com Sam.

— Você está vendo nela algo que não existe — Zemo o rebateu. — Está se iludindo. Ela é uma supremacista. O próprio conceito de um super-soldado — contava Zemo servindo-se novamente com bebida — sempre vai preocupar as pessoas. Foi essa aspiração distorcida que levou aos nazistas, ao Ultron, aos Vingadores...

— É dos nossos amigos que você está falando — em tom de aviso de que o Barão estava cruzando uma linha perigosa, Sam enfatizou aquela frase.

— Os Vingadores — Bucky acrescentou rapidamente, curvando o tronco sobre o balcão e entrelaçando as mãos em sua frente —, não os nazistas.

— A Karli radicalizou, mas deve ter uma forma pacifica de impedir ela — Daiana se pronunciou num suspiro pesado, deixando seu corpo cair sobre o sofá quando se viu cansada de andar sem rumo pela sala.

— Sempre que eu acho que está avançando, você retrocede, querida — lamentou o Barão com o copo a centímetros dos lábios, fazendo-a revirar os olhos. — O desejo de se tornar um super-humano não pode se separar dos ideais supremacistas. Qualquer um com o soro está inerentemente neste caminho. Ela não vai parar — agora intercalava o olhar entre os três após um gole. — Ela vai progredir até que a matem.

De certa forma, por mais difícil que fosse concordar, ele não estava errado. Até mesmo Sam manteve-se calado, pois aquela era uma grande possibilidade e ele temia que as coisas ficassem ruins àquele ponto, mas assim como Daiana, estava determinado a fazer todo o possível para impedir que mais estragos fossem feitos.

— Ou ela mate vocês — dessa vez Zemo acrescentou olhando diretamente para Daiana que o fulminava com o olhar.

Aquilo tudo fazia parte de um jogo dele, da qual o trio ainda não tinha conhecimento. Zemo era inteligente e havia percebido que apesar de lutarem por uma mesma causa, vez ou outra, nos detalhes, os julgamentos do trio se diferiam e quando Daiana, tão pacifista, permitiu que ele matasse Nagel tendo plena consciência de suas intenções, provou ao Barão de que ela poderia ser mais facilmente manipulável para se aliar a ele e que talvez não fosse tão pacifista assim se usasse as palavras certas.

Afinal, ninguém é perfeito. Da boca para fora a mulher podia dizer o que quisesse e em seus pensamentos mentir para si mesma se isso a fazia se sentir melhor, mas era na hora de tomar uma atitude que as pessoas mostravam quem realmente eram. E vendo quem ela realmente é nestes momentos, Zemo decidiu que gostava de Daiana. Via um pouco de si mesmo nela.

Bucky e Sam, apesar de não se importarem tanto quanto ela de usar a violência para resolver algum problema se necessário, se recusavam literalmente a matar qualquer um que fosse. Não que Daiana não se ressentisse, mas se Zemo soubesse trabalhar para entrar na mente dela e fazê-la entender que a morte de um significava a salvação de milhares de pessoas, diferente dos outros dois ela concordaria mais facilmente.

— Talvez esteja errado, Zemo — Barnes endireitou sua postura. — O soro nunca corrompeu o Steve.

— Touché — com a mão livre apontou para ele com um sorrisinho. — Mas nunca houve outro Steve Rogers, houve?

Odiavam perder no argumento para Zemo, principalmente por ele ser quem ele era e pelo que havia causado a eles no passado, mas o silencio era resposta suficiente para o Barão que exibia sua confiança de quem sabe que está certo.

— Quer saber? — Barnes passou a língua entre os lábios com uma expressão de quem está cogitando algo com seriedade, afastando-se do balcão para se aproximar do sofá. — Acho que podemos entregar ele para os Wakandanos — ameaçou despreocupado, sugerindo aquilo aos outros dois como quem comenta do tempo.

— E perder seu guia turístico? — Fingindo-se de ofendido, o Barão abriu os armários com os olhos correndo pelos potes e pacotes que haviam alí, em busca de algo especifico.

— Vou — não hesitou em responder, se jogando no sofá ao lado de Daiana.

— Pelo o que eu entendi, Donya era tipo um pilar da comunidade deles, não era? — Pensativa, a mulher refletia sobre isso em voz alta, as palavras das últimas notícias lidas por Barnes ainda rondando sua mente junto ao posicionamento extremo de Zemo. — Alguém bem importante... então devem estar organizando algo grande e simbólico para homenageá-la, talvez?

— Faz sentido — Sam concordou com ela como se não tivessem discutido cara a cara minutos atrás. — Quando eu era criança, minha titi faleceu...

— Sua... — o interrompendo, Barnes franziu o cenho estendendo o braço sobre as costas do sofá atrás de Daiana. — Sua titi? — Repetiu esticando o pescoço para encará-lo pensando ter ouvido errado.

— É... — Sam confirmou desconfiado, não entendendo a confusão do outro. — Minha titi.

— Quem é sua titi? — Mesmo encarando o outro, os dedos de Barnes esbarraram nos fios de cabelos de Daiana e sem prestar muita atenção no que fazia começou a enrolá-los como costumava fazer nos anos 40 ao se sentarem daquela mesma forma no sofá da sala e conversarem sobre como foi o dia um do outro.

Daiana tinha um pequeno sorriso observando a interação dos dois, achando certa graça.

— 'Tá bem — Sam revirou os olhos. — Quando eu era criança a minha tia faleceu — corrigiu um tanto emburrado. — 'Tá melhor agora? — Debochou.

Foi a vez do Soldado revirar os olhos e com a mão livre esfregar as pálpebras.

— E o bairro inteiro se reuniu para uma cerimônia — ele continuou a contar aquela lembrança após as palavras de Daiana as terem despertado nele outra vez. — Durou uma semana.

— Talvez estejam fazendo o mesmo com a Donya — ela assentiu para ele, pois era exatamente aquilo que estava pensando.

— Vale a tentativa — Bucky cedeu abaixando a mão de seu rosto para jogar a cabeça para trás e fitar o teto alto, a ideia de paz e tranquilidade sendo para ele algo bastante distante naquele momento.

Só queria que isso tudo acabasse para que ele pudesse relaxar um pouco.

— Sua titi — com sotaque marcante, a voz de Zemo ecoou outra vez atraindo as atenções para ele. — Estaria orgulhosa de você — instantaneamente o trio franziu o cenho para ele, desconfiados de suas palavras gentis, mas isso não pareceu intimidá-lo. — Gostam? — De dentro do pote que segurava, tirou uma bala colorida enrolada num plástico transparente e o balançou para eles antes de atirar para Sam que o pegou no ar com facilidade. — Manjar turco.

— Eu vou tomar um banho — com gentileza Daiana afastou a mão de Bucky de seus cabelos e se pôs em pé.

— Não demore — Zemo falou mais alto para que ela o ouvisse quando esta estava quase sumindo de vista no corredor. — Sairemos daqui a pouco.

Mesmo após Daiana ter se afastado completamente do cômodo, Bucky permaneceu fitando sua própria mão, lembrando-se da sensação de tocar novamente os cabelos dela. Foi um gesto automático que há muito tempo não fazia e até então não tinha reparado no que fazia.

Pressionou os dentes e a fechou em punho, respirando fundo. Estava enlouquecendo.

Apesar das circunstancias corridas, estava se acostumando a tê-la por perto outra vez. Estava voltando a se acostumar em acordar e vê-la preparando o café antes de saírem, de ouvir sua voz diariamente com frequência e agora repetia gestos do passado, sabendo que em algum momento, quando tudo isso acabasse, ela iria voltar para os Estados Unidos, para Alpine e seu marido. E então Barnes também voltaria, mas sozinho para a sua casa vazia, sendo um reflexo dele próprio. Não a teria mais e a perderia outra vez.

Estava se apegando de novo e por mais que soubesse dos riscos de que a despedida era inevitável e seria dolorosa, visto que aparentemente John não permitiria que eles tivessem uma relação de amizade desde o ocorrido no último encontro, não conseguia se ver distante. Não mais. Se a presença dele não trouxesse problemas para ela, estava decidido a enfrentar John se fosse necessário.

Esse pensamento, porém, o levou a outro. Aquela discussão em frente à delegacia, o olhar que ela lhe lançou antes de ser praticamente arrastada para longe pelo marido, como sua voz parecia levemente trêmula quando Sam ligou para ela na mesma noite no viva-voz e as palavras de John quando a ligação dele foi atendida neste mesmo modo por ordem da Selby. Atiçava sua curiosidade saber o que aconteceu quando não esteve por perto e queria descobrir.

Iria descobrir.

....

Sequer dois minutos haviam se passado com Daiana sob a água morna do chuveiro para que ela se arrependesse de não ter tomado aquele banho assim que chegaram. Instantaneamente sentiu relaxar os músculos que sequer havia notado como estavam tensos. Com os olhos fechados apenas apreciando aquela sensação da tranquilidade e do silencio sendo cortado somente pela água corrente que atingia seu corpo, tentou imaginar que todos os seus problemas e negatividade deixavam seu ser e acompanhavam o caminho da água, descendo pelo ralo.

Apenas quando se sentiu um pouco mais relaxada, reuniu forças para se ensaboar e dar continuidade àquele banho. Por diversas vezes fez caretas pela dor que sentia em sua nuca, mas a tranquilizava saber que os médicos do hospital em que passaram antes de ir parar alí disseram que o corte não era profundo e nem grave, apenas era necessário que a higiene fosse mantida para que não houvesse problemas com a cicatrização.

Não era algo que ela não estava acostumada a enfrentar, pensou com certo humor ácido. Aparentemente era bastante propensa a lesões na região da cabeça, e só podia agradecer por até então nenhuma ter sido fatal.

No banheiro mesmo se secou e trocou de roupa. Viu o secador de cabelos pendurado na parede, mas achou melhor que o ar quente fosse utilizado apenas quando o ferimento não estivesse mais tão aberto, optando então por deixa-lo secar ao natural, usando apenas a toalha para retirar o excesso de umidade.

Saindo do banheiro entrou diretamente em seu quarto, deixando no cesto as roupas sujas e dando uma olhada no espelho. Calças leggings pretas eram definitivamente as suas favoritas para ocasiões, como as que poderiam estar prestes a enfrentar, em que precisasse de facilidade para se movimentar. Apesar de detestar muitas camadas de roupas, reconhecia que o ambiente estava consideravelmente frio, então uma simples manga longa era suficiente para permanecer naquele edifício, mas se lembraria de pegar um casaco assim que saíssem.

Três batidas foram ouvidas vindas da porta, atraindo imediatamente sua atenção para aquela direção. Seria Zemo vindo importuná-la por estar atrasada? Revirou os olhos e respirou fundo caminhando para atende-lo, preparando-se psicologicamente para rebater seus ataques verbais quanto ao tempo perdido no banho.

Todavia, encarou sua mente totalmente branca ao abrir determinada a porta e ao invés dos olhos castanhos e cabelos loiros, encontrou um par de olhos azuis familiares e cabelos escuros que a fitavam ansiosos. Foi inevitável não lembrar que a última vez em que ela abrira a porta do quarto em que estava para Bucky, ele a ajudou a sair de seu vestido...

Para, Daiana!

— Eu... — limpou a garganta sentindo as bochechas corarem irritantemente por aqueles pensamentos, deixando-a com um pouco de raiva pelas reações incontroláveis de seu corpo. — Já estou quase pronta. Pode avisar ao Zemo — se adiantou deduzindo que aquela era a razão de ele estar alí.

— Não foi por isso que eu vim — lhe respondeu fazendo-a erguer as sobrancelhas um tanto surpresa.

— Hum... não?

— Não — os olhos dele correram sobre os ombros dela para o cômodo designado para a mulher dormir durante o tempo que passassem em Letônia. — Eu posso entrar? — Pediu um pouco sem jeito. — Queria conversar com você agora, caso não tenhamos chance mais tarde e... — seus olhos baixaram para o item que tinha em mãos — te ajudar a cuidar disso aí — apontou para a sua própria nuca, referindo-se ao ferimento dela ao imaginar que teria dificuldades de cuidar sozinha.

Daiana sequer havia percebido que ele trazia consigo uma maletinha de primeiros socorros. A tranquilizou minimamente perceber que assim como ela, ele também estava nervoso como costumava acontecer quando se viam a sós. Pensou em recusar, pois aquilo certamente os atrasaria e traria Zemo possivelmente frustrado até a porta de seu quarto, mas ele era a última coisa que lhe importava no momento.

— Claro — deu um passo para o lado abrindo mais a porta para que ele tivesse espaço livre.

Com um pequeno sorriso nos lábios, Bucky a agradeceu pela oportunidade e avançou, a porta sendo por ela fechada em suas costas. Fez bem em esperar alguns minutos antes de vir até alí, pois os cabelos úmidos diziam que acabara de sair do banho.

— Então... — passando por ele em passos curtos, olhou ao redor considerando suas opções. — Prefere que eu sente na cama ou na cadeira? — Apontou para a primeira e depois para a segunda opção posta em frente a uma escrivaninha vazia com nada mais além de um abajur.

— Pode ser na cama — respondeu se dirigindo até lá.

Assentindo, Daiana caminhou atrás dele e sentou-se na ponta com os pés para fora do colchão. Sentiu o mesmo afundar com o peso adicional de Barnes mais ao centro, posicionando-se de joelhos atrás dela.

Engoliu em seco ouvindo-o e sentindo-o se mover atrás de si, não tendo coragem para se virar, ciente de que estava bastante próximo. Barnes, por outro lado, abrindo e revirando aquela maleta pôde refletir mais calmamente sobre ter sugerido a cama, pois talvez fosse menos embaraçoso se ele estivesse sentado na ponta do colchão e ela em uma cadeira em sua frente. Tentou expulsar quaisquer outros pensamentos que não fossem unicamente as razões que o trouxeram até alí.

Sentiu-o tocar os fios molhados de seus cabelos e os afastar, então ela abaixou um pouco a cabeça para ajudá-lo a conter os fios para frente do corpo para que não caíssem e o atrapalhasse. Como já havia previsto, algumas mexas ao redor do ferimento precisaram ser cortadas para que a limpeza fosse feita adequadamente sem muitos problemas, mas como da outra vez, quando secos e soltos, mal podia se notar que faltavam alguns pedaços.

— Me avisa se estiver doendo — pediu e Daiana prendeu a respiração involuntariamente quando a voz rouca e baixa cortou o silencio mortal tão próximo ao seu ouvido.

Não passou despercebido para ambos que ela havia se arrepiado e mentalmente se recriminou por isso. Desejou que ele deduzisse que a causa era o frio repentino de recém ter saído do banho e estar com os cabelos úmidos ao mesmo tempo que tentava ao máximo dizer a si mesma que a razão daquele efeito não era ele.

Mordeu o lábio inferior com força algumas vezes, pois a região estava bastante sensível, mas não deixou que ele soubesse que estava doendo vez ou outra, pois temia que isso o deixasse mais nervoso do que ela havia percebido apesar dos seus esforços para disfarçar. De costas para Bucky, porém, não sabia quais eram as suas expressões, tampouco podia arriscar ler o que seus olhos transmitiam.

— Você e o John... — ele se interrompeu por um momento após minutos calados, pensando como deveria iniciar aquela conversa sem ofendê-la. — O que aconteceu naquele dia?

— Depois da delegacia? — Ela sabia a que dia ele se referia, estava apenas tentando ganhar tempo por se tratar de um assunto que definitivamente não a agradava lembrar.

— Sim.

— A gente discutiu — respondeu vagamente em voz baixa, mas tão pesada que causou a Barnes um grande desconforto.

Tudo dentro dele gritava que havia muito mais nessa discussão e implorava que ela lhe contasse nos mínimos detalhes para que ele tivesse mais boas razões para quebrar a cara do Walker.

— Sobre o que?

Não a viu fechar os olhos com uma expressão sofrida, mas viu seus ombros caírem demonstrando seu desânimo e tristeza. Sentiu-se culpado por lhe trazer de volta aquele desconforto, mas esse pequeno gesto confirmou, se ainda havia dúvidas, de que algo mais que uma simples discussão de casal definitivamente aconteceu.

— A gente.

Aquilo o fez franzir o cenho, então repetiu em tom de dúvida:

— A gente?

Afinal, a gente significava ela e o Walker ou ela e ele?

— Agora ele sabe da gente — esclareceu um pouco inquieta, passando a apertar as mãos sobre o colo. — Não entrei em detalhes, mas agora ele sabe. Já vinha desconfiando, na verdade, porque aparentemente o seu tratamento comigo é diferente — riu nervosa.

Bucky abaixou as mãos, mas continuou fitando suas costas.

— Mas não temos mais o que tivemos — foi muito difícil dizer aquelas palavras e doeu mais nela ao ouvi-las do que poderia imaginar.

— Eu sei — engoliu com dificuldade.

— Ele acha que temos um caso? — Deduziu incrédulo.

Conhecia a mulher em sua frente e era ofensivo até mesmo para ele que aquele bastardo do Walker pudesse desconfiar que Daiana estava sendo infiel no relacionamento.

— Ele... — precisou respirar muito profundamente para fazer aquela pergunta, pois a mera possibilidade o fazia ferver de raiva. — Ele te agrediu?

— John não tocaria em mim — respondeu rapidamente e honestamente James não sabia se se sentia mais tranquilo, pois as reações dela ao falar sobre ele lhe diziam o contrário.

— A violência doméstica não é só agressão física, Daiana — um pouco bruto a informou daquele fato, fechando as mãos em punhos ao vê-la encolher os ombros. — O que ele fez?

— Nada demais.

Não havia firmeza em sua voz que soava tão pouco convincente.

— Daiana... — insistiu lentamente num tom que ela sabia bem que quando utilizado, era porque Barnes estava se esforçando muito para manter a calma.

Ela se pôs em pé ajeitando os cabelos, saltando da cama como se tivesse sido queimada.

— Você já terminou, não é?

Tinha medo de que se contasse os detalhes a Bucky, ele fosse descontar toda a raiva estampada em seu rosto naquele momento em Walker no segundo em que o reencontrassem na rua. A situação de Barnes com o governo poderia ficar muito pior caso circulassem boatos de que ele esteve agredindo o novo Capitão América. Não seria nada bom e ela definitivamente não queria ser o gatilho para isso.

— Daiana — a chamou outra vez, mas ela lhe deu as costas passando a revirar as gavetas de uma cômoda mesmo sem estar procurando por nada especifico, apenas não queria olhar em seus olhos quando mentisse dizendo novamente que não foi nada.

— Eu ainda não terminei de me arrumar, então se você... — calou-se imediatamente ao sentir seu corpo ser envolvido por braços fortes.

James a abraçava por trás, tendo tido aquela atitude por impulso, incapaz de pensar em fazer qualquer outra coisa quando todo o seu corpo gritava a ele que ela não estava bem com aquilo, apesar de sua boca insistir em lhe dizer mentiras. Pensou que o empurraria, mas ela apenas se calou e ele suspirou aliviado quando a sentiu no mesmo instante se render em seus braços, sequer fazendo questão de lutar contra.

Daiana não se moveu e Barnes deu um passo a mais, sem nenhuma segunda intenção visto a sua vulnerabilidade, enterrando o rosto na curva de seu pescoço, inspirando profundamente e a sentindo arrepiar novamente como costumava fazer quando ela estava irritada com ele por motivos bobos. A prendia em seus braços e a enchia de cosquinhas caso resistisse demais e Daiana sempre acabava por ceder às risadas, deixando o clima tenso mais leve e o perdoando.

Não era o caso agora, mas tinha esperanças de que pudesse surtir um efeito semelhante. Pouco se importava que os cabelos úmidos estivessem encharcando sua camisa, pois, mesmo que naquelas circunstâncias, ele momentaneamente a tinha em seus braços de novo e ela estava completamente consciente desta vez. Mesmo que por curtos minutos, eram apenas os dois assim outra vez. Se fechassem os olhos, podiam fingir que ainda eram eles. E só eles.

— Ele gritou comigo — ela sussurrou após longos minutos calados naquela mesma posição. Então as mãos dela subiram e cautelosamente tocaram os antebraços de Bucky que se apertaram ao seu redor com aquelas informações. — Insinuou que estivéssemos zombando dele pelas costas por deduzir que nós dois temos um caso — com os polegares, ela lhe fazia carinhos, mesmo que um estivesse em contato direto com a pele do homem e o outro com o metal gélido. Sem interrompê-la, Barnes a ouvia calado, os lábios agora descendo para tocar seu ombro coberto pelo tecido da blusa como um gesto de conforto, a incentivando a prosseguir. — Ficou irritado e quebrou uma mesinha de vidro que estava próxima de nós.

— Isso te machucou? — Pergunto imediatamente desejando ouvir uma negação.

— Estava de sapatos.

— E a Alpine?

A tocou que ele, apesar de ter tido pouco contato com ela, se preocupasse com a mesma.

— Fui rápida e consegui trancá-la no quarto antes da discussão começar — o sentiu assentir levemente sem se afastar.

— Se quiser — murmurou abafado, um pouco cauteloso. — Ele nunca mais chega perto de vocês.

Bastava que ela lhe pedisse aquilo e Barnes imediatamente cuidaria do problema. As consequências disso não importava.

— Ele nunca tocaria em mim... — repetiu, mas não mais confiante que antes.

A verdade é que ela já não tinha mais tanta certeza. Quanto mais pensava, menos confiança tinha naquela afirmação.

— Ele nunca deveria nem ter gritado com você — retrucou pôde sentir como os músculos dele tensionaram colados a ela e a veia de seu braço saltou, sumindo parte dela sob a manga curta da camisa preta que usava. — Nem duvidado da sua fidelidade ou quebrado qualquer coisa para te intimidar.

Ela não podia mais defender John. Afinal, por mais que tivesse um grande carinho pelo homem pelos anos que passaram juntos, se ressentia pelo ocorrido na última vez que estiveram juntos. Então, alí com Bucky, um pensamento lhe golpeou com extrema força em seu estômago a fazendo arregalar os olhos com preocupação. Desde que "abandonara" John para embarcar nessa loucura com Sam e Bucky, e até mesmo Zemo, em nenhum momento sentiu falta do marido.

Na verdade, os momentos que pensava nele estava fitando o celular, temerosa em abrir suas inúmeras mensagens ou atender suas ligações. Não tinha vontade, ânimo ou coragem para falar com ele como já tivera antes. Não sentia sua falta. Não como sentia de Alpine. De Melinda, a mãe dela, sr. Guerini, os filhos da amiga com Lemar... O casamento não deveria ser assim, sabia muito bem. Sabia muito bem porque já sentiu muito a falta de Bucky, com quem sequer chegou a casar, e o que sentia com a distância de John não chegava nem perto.

Um movimento bem rápido diante de seus olhos a arrancou de seu devaneio que fizera o coração acelerar de ansiedade por estar juntando os pontos. Erguendo a cabeça e fitando o espelho redondo em sua frente sobre a cômoda que antes revirava as gavetas em busca de nada, viu refletido em sua frente a imagem de Barnes atrás dela. Incapaz de encarar a si mesma naquele reflexo que não lhe pertencia, focou-se totalmente nele.

Dessa vez os braços do homem não estavam mais ao seu redor, fazendo-a sentir falta de seu toque, mas sequer havia percebido que a soltara antes. Ele teve essa atitude, pois agora passava por sobre a cabeça da mulher uma corrente prata, o movimento que a havia tirando de seus pensamentos antes. Mas não, não era uma simples corrente, tampouco um colar que poderia ser comprado em qualquer loja para presentear alguém.

Mesmo sem ler as letras gravadas naquela plaquinha, ela imediatamente reconheceu que pendurado em seu pescoço estava, outra vez, a Dog Tag que Barnes costumava usar quando servia ao exército nos anos 40 e que o vira usando nos últimos dias. Tomando liberdade, Barnes voltou a envolver os braços em volta da cintura de Daiana e pousar o queixo sobre seu ombro sem dizer nada além de fitar através do espelho em sua frente os olhos incrédulos dela focados no objeto que lhe entregara.

— O que... — piscou algumas vez antes de tocar o metal que lhe foi entregue outra vez. — Por que...?

James hesitou por um momento.

— Naquela hora, em Madripoor — começou com o olhar baixo. — Quando explodiram o laboratório, você caiu e bateu a cabeça.

— Eu sei... — continuou piscando confusa.

— Mas não se mexia — ele parecia sentir dor ao recordar aquele momento e o desespero que sentiu ao alcança-la e vê-la totalmente imóvel e sangrando no chão. — Quando eu vi o sangue... — se interrompeu para respirar fundo, como se buscando reunir coragem para prosseguir. — Eu juro que eu pensei que eu tinha te perdido. Então quando consegui uma reação e você me olhou tão confusa... — ela não reclamou quando os braços dele a prenderam com mais força que antes, concentrada demais em ouvir suas palavras.

— Pensou que eu tinha te esquecido — ela rapidamente deduziu num sussurro, tocada por ver a angustia dele ao confessar aquilo em sua frente e revelar o medo que tinha com a possibilidade de tê-la morta ou sem memórias dele de novo.

Como antes, voltou a acariciar seu braço, dessa vez com mais carinho.

— Então quero que fique com isso — afastou a cabeça de seu ombro e apontou para a Dog Tag. — Só por precaução.

Daiana sorriu um pouco emocionada, desejando também ter um semelhante para entregar a ele só por precaução. Mas então ela adotou de repente uma expressão quase iluminada, semelhante a de quem acaba de lembrar de algo que havia esquecido há algum tempo e era importante.

Tomada pelo impulso e a curiosidade brilhando em seus olhos despertando a curiosidade em Barnes, ela se virou em seus braços de forma que agora estivesse de frente para ele com a cabeça erguida o suficiente para poder manter os olhos nos dele. Sem saber o que fazer com as mãos, visto o quase nulo espaço presente entre eles, as espalmou em seu peito, agarrando o tecido da camisa.

— Me chamou de amor — soou como um sopro antes mesmo que ele pudesse lhe perguntar o que causara aquela reação.

Barnes não conseguiu esconder a surpresa estampada em sua cara.

— Você ouviu?

Aquilo o surpreendia, afinal Daiana estava desacordada quando a alcançou após a explosão e assim permanecia quando ele, em desespero, implorou que abrisse os olhos.

— Estava distante, mas eu entendi — respondeu sem ao menos piscar.

Quando parcialmente inconsciente, sua memória era um completo breu. O que era um pouco mais nítido após ser arremessada longe após a explosão em Madripoor, eram os sons ao seu redor. Lembrava-se de ouvir tosses, algo queimando, tiros e alguém, uma voz bastante familiar, chamando seu nome. Mas tudo parecia meio distorcido e mais distante a cada segundo.

Não sentiu quando Bares a tomou nos braços, mas ouviu quando ele, e sabia que era ele, implorou para que não o deixasse. Não sabia o que estava acontecendo, apenas seu corpo incrivelmente pesado e sonolento, mas toda a angustia de Barnes, porque ela sabia que era ele, fazia aquele pequeno pedaço de consciência, que ainda tinha no momento, querer lutar para ao menos lhe sussurrar que estava bem na medida do possível. Mas foi quando ouviu dizer aquela frase, que a motivou a unir ainda mais forças para abrir os olhos.

"Ei, meu amor. Por favor. Por favor..."

— Eu sinto muito se não gostou — um pouco desconcertado por ter sido pego de surpresa, se apressou a desculpar-se, afrouxando um pouco o abraço. — Foi força do hábito, é que... — com a mão esquerda coçou a nuca, desviando o olhar para o chão.

— O que? — Ela o pressionou, o coração batendo mais forte.

— Ainda penso em você daquela forma — confessou voltando a encará-la, os ombros caindo junto aos braços que a soltaram para baterem na lateral de seu corpo. Naquele momento Daiana tinha James Barnes completamente desarmado bem em sua frente. — Eu juro que eu tentei me manter distante e te enxergar apenas como uma amiga em respeito ao seu matrimônio com aquele imbecil, mas é extremamente difícil não se apaixonar por você tantas e tantas vezes — declarou num peso, como se estivesse carregando tudo aquilo consigo, suportando que o corroesse por dentro. — Ainda que não o queira mais por ter colocado outro em meu lugar, e eu não a julgo porque te pedi isso, meu coração ainda é seu.

— Barnes — o chamou num sopro, mesmo sem saber o que dizer, sua mente tentando digerir tudo o que acabara de ouvir e a transformara numa enorme confusão.

— Não vou pedir que escolha a mim, porque sei que existem opções muito melhores por aí — a interrompeu tentando rir, mas soou amargo. — É só que... — respirou fundo. — Só quero que saiba que não importa mais quantos anos se passem, mesmo que eu não seja ou tenha o suficiente, você sempre vai ter para quem voltar quando quiser. — Seus olhos transbordavam de uma emoção quase palpável que atravessava o ar e a atingia com força. — Lembra na HYDRA, quando me perguntou do que eu tenho medo? — Ela assentiu levemente.

— Você disse que não tinha medo de nada — sussurrou piscando algumas vezes em confusão por ter repentinamente trazido a tona aquela lembrança.

— Eu menti — confessou quase que lhe pedindo desculpas nas entrelinhas de suas palavras. — Meu maior medo é perder você.

Um nó se formou na garganta de Daiana e seus olhos marejaram. De repente como um filme, toda a história dos dois se passou em segundos bem diante de seus olhos, ao mesmo tempo que fitava aqueles azuis que apesar de não terem mais o brilho juvenil de um jovem sonhador após tanto terror ter presenciado, ainda eram os mesmos olhos pelos quais se apaixonou. Ainda era a mesma imensidão azul na qual mergulhou, sem temer ou fazer ideia de quais demônios e perigos escondiam aquelas profundezas.

Oiee :)

Esse capítulo foi longo e me cansou um pouquinho 😅😅 7 mil palavras e pouquinho (Por isso o próximo é só na semana que vem).

Zemo, Zemo... se liga hein 🤨🤨

Sobre o Bucky, vou aproveitar que logo o natal tá aí né rs.... Querido papai Noel...

Eles já estão tendo gestos que costumavam ter por já terem se acostumado com a presença de outro de novo 🥺🥺

Ele cuidando dela e os dois atrapalhados kkkkk 🥺 

Isso mesmo, abre o olho dela pra realidade.

Diferente do embuste lá, ele pensa na Alpine. O caminho mais certo pra conquistar a Daiana kkkkkkkkkk

Bucky devolveu a Dog Tag dele pra ela 😭😭 (Estou pensando em escrever um capítulo extra em algum momento, ou um trecho, mostrando a primeira vez que ele fez isso).

• ✨ Me desculpem qualquer erro

♥ Espero que estejam gostando ♥

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