O ambiente todo ficou em silêncio.
Eu podia ver várias câmeras de celulares apontadas em meu rosto, mas isso não era nada pra mim.
A única coisa que importava era que Wheezie havia pedido pra mim ficar, ela me queria naquela festa.
Olhei pra Molly, que estava a alguns passos de distância de Henri, ela me ofereceu um sorriso grande e fez um joinha com a mão.
Voltei a mirar Whezie, que permanecia encarando o seu namorado. Sua respiração estava ofegante e seu semblante era sério, ao mesmo tempo que parecia estar com medo.
Medo da reação dele, medo da aceitação, medo do que iria acontecer no dia seguinte...
A verdade é que eu não sabia o motivo do seu medo, mas estava disposta a fazer ela superá-lo.
Saí do meu transe quando uma mão pegou fortemente o meu braço, começando a me puxar.
— Vamos embora. — Era Gia.
— Me solta, Gia. — Puxei meu braço novamente, deixando a garota surpresa pelo meu ato — Ela pediu pra mim ficar.
Conversávamos baixo, enquanto o outro casal parecia ter a mesma conversa. O público em volta não tiveram o privilégio de ouvir nenhum dos dois diálogos, visto que nenhuma das duplas quis fazer escândalo.
— Eu já falei pra você esquecer essa garota, caralho. — Ela se aproximou de mim, com uma postura ameaçadora.
— E eu já falei pra você não se intrometer! — Respondi no mesmo tom.
A morena pareceu ficar ofendida com o meu comentário, já que recuou um passo.
— Pensei que estivéssemos nos dando bem. — Ela disse.
— Eu sempre deixei claro a nossa situação.
— Ah sim, claro... igual no dia que você me beijou na festa? — Gia cruzou os braços.
— Já falei um milhão de vezes que aquilo foi um erro, eu estava bêbada! — Estava me controlando pra não gritar.
— Para de se fingir de sonsa, Maybank. — Ela voltou a se aproximar de mim. — Você tinha tomado dois goles da bebida, nao estava bêbada. Admita logo, você brincou com os meus sentimentos pra ficar com ela no final. Isso é por qual motivo? Por dinheiro, óbvio.
Depois que ela terminou de falar, eu fiquei calada. Meus olhos marejaram e as lembranças vieram na minha cabeça no mesmo instante.
"Você brincou com os meus sentimentos por causa de dinheiro!"
Wheezie havia dito a mesma coisa pra mim no dia que a gente brigou, enquanto uma tempestade caía sobre nós.
Foi o deja vu mais doloroso da minha vida.
Me recompus e voltei a fulminá-la com os olhos.
— Quem me usou foi você, sua filha da puta. — Empurrei ela, que deu dois passos pra trás, tendo que se equilibrar em alguém pra não cair. Naquele momento, toda a atenção estava em nós duas. — Você se aproveitou de mim quando eu estava vulnerável só pra aumentar o seu ego. Além de ficar me manipulando, dizendo que eu era certinha e que não devia andar com Kooks e blá-blá-blá. Posso ter parcela de culpa sim, mas você não é a vítima da história.
— Eu só queria que gostasse de mim. — Ela se aproximou ainda mais — Você se culpava por causa do roubo e eu só queria te ajudar.
— Não era só por causa do roubo - Respirei fundo — Eu vacilei com a pessoa que eu amava, Gia. E pasme, essa garota não era você. Nunca foi.
Eu disse aquilo tão baixo que quase não saiu voz da minha garganta, mas foi alto o suficiente pra garota na minha frente escutar.
Aquilo deixou ela muito furiosa. Brava ao ponto do seu rosto ficar vermelho.
— Vamos embora, você não sabe o que está dizendo. — Ela pegou no meu pulso novamente e voltou a me puxar.
— Menina, você é surda? Qual parte do "eu não quero" você não entendeu? — Tentei me livrar do seu aperto, mas foi em vão.
— Eu não vou desistir só por causa de um desejo momentâneo seu.
— Ei, solta ela. — Molly chegou e me puxou pra longe do toque de Gia. — Garota maluca.
Foi quando a luz do local ficou mais clara e eu pude olhar para os olhos de Gia com mais clareza. Eles estavam vermelhos.
Ótimo, ela estava chapada.
Olhei pra minha volta e, literalmente, todas as pessoas estavam me encarando. Algumas estavam rindo, outras estavam confusas, outras filmando e o resto só estava prestando atenção mesmo.
Wheezie também estava me olhando. Mas o olhar dela era diferente dos outros ali, ela me olhava com... admiração?
Henri também me olhava, com raiva talvez, mas ele é irrelevante.
Me senti extremamente envergonhada pelo olhar de todos em mim, não sabia o que fazer. Talvez era hora de ir embora mesmo.
— Quanto constrangimento né... — Tentei descontrair, gesticulando — Acho melhor eu ir então... sabe... pra vocês continuarem a festa numa boa...
— Tina- —Wheezie tentou dizer, mas eu a interrompi.
— Obrigada, Wheezie, mas acho que eu devo ir mesmo. Meu irmão deve estar me procurando. — Sorri pra ela, que retribuiu.
Saí do local às pressas, pronta pra voltar pra casa, dormir e esquecer isso tudo.
*
Não seria surpresa dizer que eu não consegui dormir.
Estava deitada na minha cama com os olhos abertos, sem nenhum pingo de sono.
Fiz tudo que era possível para adormecer: chá, meditação, asmr, ouvi música... nada.
Mudei o lado da cama novamente, mas acabei esbarrando em algo na minha mesa de cabeceira. Era uma espécie de caixa pequena.
Aquilo chamou minha atenção. Me sentei no colchão e peguei o objeto, tentando reconhece-lo naquela escuridão.
Era a fita cassete que Wheezie tinha me dado na festa.
Arregalei os olhos e desci da cama, correndo pra acender a luz do quarto.
Estava de madrugada, era possível ouvir o ronco do JJ no quarto ao lado, enquanto meu pai devia estar desmaiado em algum beco abandonado.
Analisei o pequeno objeto em minha mão, procurando alguma explicação para o "presente". E eu achei.
"Espero que você tenha um aparelho que toca fita :)"
Ass: Madame."
Dei um pequeno sorriso vendo sua caligrafia.
Corri até o quarto do meu irmão, tentei abrir a porta com cuidado, mas a mesma bateu em alguma coisa no chão e fez um barulho estrondoso, acordando JJ.
Ele deu um pulo grande de susto e caiu da cama.
— Puta que pariu. — Ele murmurou. Eu estava parada na porta, com um sorriso culpado, ele olhou pra mim e revirou os olhos — Você tá me dando muito trabalho ultimamente, princesa.
— É o meu dever de irmã mais nova. — Respondi. — Cade aquele seu aparelho que toca fita cassete?
— Fita cassete? Quem ainda ouve isso? — Ele voltou a subir na cama e deitou-se de barriga pra baixo.
— O aparelho, JJ! — Aumentei meu tom de voz, estava ansiosa pra ouvir o que tinha dentro da fita.
— No guarda roup... — Sua frase terminou em um ronco, ele havia dormido de novo.
Andei até o móvel, desviando da bagunça que tinha no chão. Homens.
Abri o guarda roupa e procurei. Não foi difícil de achar, já que o JJ não tem muitas roupas.
Peguei o objeto e saí apressada até a cozinha, batendo a porta do quarto do loiro novamente.
— Tina! — Ele gritou raivoso e eu só sabia rir. Estava radiante.
Fui até a cozinha -onde havia maior claridade- e me sentei na mesa, colocando os objetos em cima dela.
Coloquei a fita pra tocar e logo reconheci a voz do cantor Dean Lewis, o nosso cantor favorito.
To Have You Today - Dean Lewis (tradução)
É, eu sei que você gosta de sentar
No topo desta montanha
Há apenas você e eu
E essa linda vista
Esse trecho me fez lembrar do fia do solstício de verão, quando estávamos sozinhas na praia.
Será que ela pensou o mesmo?
Eu permanecia confusa por ela ter me dado isso, então continuei ouvindo a música, esperando uma explicação.
E eu acho difícil falar
Quando estou olhando para você
Coloquei minha mão na boca e comecei a roer as unhas, o que estava acontecendo?
E aí caminhamos para casa de mãos dadas
Há apenas você e eu
Ninguém está aqui
Acho que eles desligaram as luzes
Ah, é lindo
Dei um sorriso pequeno, a música era linda, Dean nunca errou. Mas estava muito confusa pelo significado dela ter me dado isto.
Foi só um presente comum? Ela não quis dizer nada?
Desanimada, fui desligar o aparelho, mas outro trecho da música chamou minha atenção.
Você me faz sentir
Que não há outro caminho
O que ela quis dizer com isso? Quer dizer, ela não disse nada, Dean disse.
É, você me faz sentir
Que não há outro caminho
Me levantei da cadeira e cheguei mais perto do aparelho com o meu corpo, como se aquilo fosse responder minhas dúvidas.
Porque eu não consigo explicar a sensação...
O som foi interrompido pelos gritos do meu pai.
— Valentina, eu já falei 'pa você... não... — Ele entrou na casa, cambaleando, enquanto apontava o dedo pra mim. Sua voz estava embargada, ele tava muito bêbado — Ficar acordada nessa hora...
A música continuava tocando no fundo, mas eu não conseguia prestar atenção no que a letra dizia por culpa do meu pai. Aquilo me deixou furiosa.
— Você-
— Dá pra calar a boca?! - Esbravejei, voltando às pressas a colocar meu ouvido no aparelho de música.
E eu não consigo explicar a sensação
De ter você aqui, hoje.
POSTEI E SAÍ CORRENDO!!!!
HEHEHEHEHEHE
acharam q iam escapar da minha obsessão pelo Dean Lewis? nananinanão
DIAS DE GLORIA TAO VINDO AÍ
beijaaaoo amores, até a próxima!!!