Os três entraram na casa e Adan os guiou até ao seu quarto no andar de cima. Agora com mais calma, Juan pôde observar melhor o quarto em que estava. A suíte principal da casa era infinitamente maior que o pequeno quarto que Juan tinha na sua. A cama estava arrumada, com exceção do edredom marrom. O lugar em si parecia organizado até que ele olhou para a mesa no canto do quarto. Haviam papéis preenchidos a lápis espalhados por toda a superfície da mesa e entre livros de cálculo.
Adan pousou a prancheta junto às outras coisas e sentou na cadeira ao mesmo tempo em que trocava mensagens com Loren, para que ela mandasse as medidas originais da peça. Enquanto esperava pela resposta, ele abriu a conversa da turma e verificou a lista de exercícios que tinha por fazer.
– Vocês podem descer e procurar por um filme. Eu só vou fazer a minha parte da lista de exercícios do trabalho de cálculo, um rabisco rápido de Desenho Técnico e passar para o computador – disse Adan.
– Você ainda tem matemática? – perguntou Boris.
– Não. Eu tenho Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear e Geometria Analítica.
– Eu não duraria uma semana estudando essa merda toda – disse Juan.
Boris e Juan desceram com o edredom marrom e sentaram no sofá para assistir um filme. Para o loiro, era muito bom estar abraçado com o mais alto por baixo das cobertas enquanto assistiam uma comédia romântica leve, mas ele passou a achar estranho a demora de Adan para aproveitar o momento com eles.
No andar de cima, Adan bebia um pouco de seu café, enquanto sua mão tremia segurando o lápis por cima da folha A3.
– Você tem a certeza que as medidas estão erradas? – perguntou Loren do outro lado da linha. – Talvez só tenhas calculado mal a escala da peça.
– Sim, eu tenho a certeza! – disse, pousando o copo na mesa.
– Calma, já estou procurando no caderno.
– Desculpa. Tenho muita coisa na cabeça e também estou muito cansado, tive que fazer horas extras para poder ter o fim de semana livre. Se isso não fosse para segunda, eu iria me jogar na cama agora – disse o negro.
– Olha, você tem razão – disse Loren, soltando um suspiro mecânico através do altifalante. – A equação da esquerda está errada na mensagem, o dois não era para multiplicar, esta é para potenciar. Temos que refazer as três peças.
Adan já havia pousado o celular na mesa e apertava as mãos trêmulas contra o rosto enquanto a sua respiração acelerava. Ele puxou o ar devagar, sentindo os seus pulmões se expandirem e diminuírem a velocidade das batidas no seu peito.
– Loren, eu vou parar um pouco. Me liga daqui a cinco minutos e a gente refaz tudo. – disse ele.
– Tudo bem – Adan ouviu antes de desligar e voltar a jogar o celular na mesa.
Quando ele estava prestes a levantar, outra chamada chega, fazendo-o suspirar frustrado ao ler "mãe" na tela escura.
– Alô, mãe – disse, levando o celular a orelha, enquanto bebia o restante do café.
– Boa tarde, filho.
– Aqui já é de noite – respondeu.
– Desculpa, eu esqueci. Te acordei?
– Eu estava quase indo dormir, na verdade.
– Eu só liguei porque estava com saudade. Você não fala mais comigo e o Jonathan disse que agora você está quase sempre falando com outras pessoas. Arranjas-te uma namorada e esqueces-te que tens uma mãe? – brincou, tentando amenizar a rispidez de Adan.
– Mãe...por favor, agora não – disse Adan, desligando, enquanto limpava a umidade das lágrimas no seu rosto.
Ele chorou em silêncio por um tempo, até que o seu celular voltou a tocar e ele o atendeu rapidamente.
– Mãe, agora não, por favor – disse com a voz embargada e quebrada.
– Adan? – a voz de Loren soou do outro lado.
Adan desliga o celular e se joga na cama, afundando nos travesseiros e abafando os soluços enquanto se apertava contra os lençóis.
Juan estava no começo das escadas quando a campainha tocou. O filme que combinaram de assistir juntos, já estava no fim, e Adan ainda não havia descido.
O mais alto queria subir no momento em que o arco da protagonista já estava encerrando, mas ficou em duvida se talvez não fosse interromper a concentração de Adan. Depois de conversar com Boris, ambos decidiram esperar até o final do filme.
Quando a campainha tocou, Juan parou no pé da escada e olhou para Boris, que andou até a entrada. O loiro olhou pelo olho mágico e depois abriu a porta, espantado por ver Loren de pijama com uma bolsa nas costas.
– Loren? – disse Juan, intrigado.
– Vocês vieram passar a noite aqui? – perguntou, se apoiando na parede.
A loira parecia agitada. Os seus cabelos estavam desarrumados e o seu rosto estava pálido, com exceção dos papos escuros por baixo dos olhos que a faziam parecer à beira de um colapso.
– Sim – disse Boris, assustado demais com a aparência dela.
– Eu estou tentando ligar para Adan – disse ela, andando até Juan. – Ele ficou aqui com vocês todo esse tempo?
– Não, está no quarto terminando um trabalho. – Juan quebrou o contato visual com Loren e olhou para o topo das escadas. – Ele disse que não iria demorar, mas o filme já terminou e ele ainda não desceu.
– Estávamos com medo de desconcentrá-lo, então estamos aqui, esperando – disse Boris se aproximando.
– Merda – respondeu Loren, amarrando o cabelo e indo até a cozinha.
A loira abriu as portas e reparou nos restos do pó de café derramado na bancada, antes de suspirar, por já conhecer o amigo.
– Vocês chegaram todos juntos? – perguntou ela.
– Sim – disse Juan, entrando na cozinha –, ele passou na minha casa e decidimos vir assistir um filme.
Loren assentiu distraída enquanto aquecia um pouco de água. Juan evitou olhar diretamente para ela enquanto estavam sozinhos e agradeceu quando Boris entrou na cozinha.
– Ele está dormindo – disse o loiro, vendo Loren largar a sua bolsa no chão.
Eles não conversaram. Apenas ficaram observando a loira se mover na cozinha apressada, preparando três canecas de chocolate quente, um prato cheio de biscoitos e depois subir para o quarto de Adan com a bandeja.
– O que você acha que aconteceu? – perguntou Juan.
– Não sei, mas ela não parecia bem – disse Boris.
– Será que deveríamos subir?
– Não. É melhor esperarmos eles descerem. A Loren e o Adan se conhecem há anos. Ela deve saber melhor o que está acontecendo – disse Boris, devagar.
Eles se sentaram no sofá, mas desta vez não havia filme que os distraísse, apenas a ansiedade de saber o que estava acontecendo no andar de cima.
Depois de quase meia hora, Loren desceu apressadamente. Ela correu pelas escadas e foi direto para a cozinha, sendo seguida por Boris e Juan. O cacheado teve vontade de perguntar o que estava acontecendo, mas as palavras morreram em sua boca quando ele viu o estado dela.
Loren estava curvada sobre o balcão com a mão na boca abafando os soluços enquanto chorava. Ela se ergueu e limpou as lágrimas com a manga do pijama, depois abriu a geladeira e pegou o leite.
Em algum instante, entre aquecer o líquido e derramar algumas raspas de limão neste, o cabelo desgrenhado de Loren se soltou. Ela apenas ignorou e voltou a subir as escadas com a chávena cheia de leite quente em uma mão, enquanto a outra limpava o resto da umidade em seu rosto.
Quaisquer que fossem as expectativas de uma noite cheia de risadas e comedias românticas, morreram junto com o choro de Loren abafado na cozinha.
Eles permaneceram sentados no sofá. Já passava de uma da manhã quando os passos na escada foram ouvidos novamente, desta vez mais lentos e abafados. Loren andava calmamente com a bandeja nas mãos, a levando até a cozinha.
Quando voltou de lá, o seu rosto estava mais pálido do que quando chegou. Ela se sentou na poltrona de frente para Juan e Boris e respirou fundo, se mantendo em silêncio por um tempo.
– O Adan não está bem. Ele está muito sobrecarregado com várias coisas, além de ter a faculdade e os irmãos, então acabou tendo uma crise nervosa. – Juan ergueu o corpo do estofado do sofá segurando a mão trêmula de Boris de maneira firme. – Eu o fiz comer e deixei ele dormindo depois de desabafar um pouco. Vou dormir no quarto de Amara porque estou muito cansada.
Loren levanta rapidamente e começa a subir os degraus quando a voz de Boris a faz parar.
– O que a gente faz? – perguntou.
– Conversamos amanhã. Agora ... amanhã – disse ela com a voz embargada enquanto corria pela escada.
Juan olhou para os olhos claros de Boris e os viu molhados por lágrimas e dúvidas. Ele o abraçou e puxou o ar com força, tentando afastar o choro.
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