O resto da viagem até a casa de Adan foi longo e silencioso. Boris estava muito confuso e simplesmente decidiu ficar calado enquanto a sua mente girava em torno do beijo que ele trocou com Adan.
Quando chegaram ao destino, Boris se sentou no sofá, pensativo. Ele retirou o celular do bolso e releu suas conversas com Adan e Juan. Antes, olhar para as fotos e vídeos o acalmava, mas agora o faziam ficar mais confuso ainda.
Uma das fotos que eles tiraram há duas semanas, quando foram ao parque aquático, mostrava Boris abraçado com Adan no meio da água, rindo. Era estranho olhar para aquela foto agora, que antes, não passava de um momento feliz com um amigo. Agora haviam tantas camadas que ele nunca tinha percebido , seja a maneira como estavam próximos, ou o sorriso de Adan; eram coisas que, anteriormente, apenas olhando superficial não estavam lá.
Ao passar para a próxima foto, as coisas em sua mente ficaram mais complicadas. Nesta, ele estava ao lado do Juan, abraçado ao outro, fazendo careta para a câmera. Juan era uma variável na equação que varreu completamente a mente de Boris.
Eles três haviam se aproximado muito rápido, desde que foram comer aquela pizza, há um mês. Antes disso, já se conheciam, mas era como se um estivesse na penumbra de alguma outra amizade. Boris já conhecia Juan desde a escola, mas nunca chegaram a ser próximos, da mesma maneira que ele conhecia Juan, mas apenas porque morava na mesma fraternidade que Mirka.
Ambos se aproximaram de repente e nunca mais se afastaram, agora Boris estava em dúvida se uma dessas amizades extrapolou a barreira e chegou ao ponto de se tornar um possível interesse amoroso. E mesmo assim, ainda havia Juan.
Boris respirou fundo e guardou o celular no bolso. Juan desceu as escadas e se sentou ao lado dele. Boris respirou fundo e ergueu o tronco. Ele queria ter a certeza de que Adan havia mesmo ultrapassado a barreira da amizade e se tornado um interesse amoroso, ou se estava apenas confundindo as coisas, e tanto Juan quanto Adan, ainda estavam na barreira da amizade.
Boris respirou fundo e se aproximou de Juan, que olhou para ele confuso. Boris respirou devagar e colocou o braço em volta dos ombros de Juan, enquanto levava a outra mão para cima da do outro, entrelaçando os seus dedos.
Ele fechou os olhos para não ter que olhar o seu rosto vermelho refletido nos olhos castanhos de Juan e se aproximou devagar. Ao sentir os lábios macios se encontrarem com os seus, aquela mesma sensação voltou. Ele pressionou seu braço em volta de Juan e sentiu o deste se espalmar por suas costas, o puxando um pouco para mais perto.
O beijo terminou, e a primeira coisa que Juan fez, foi se levantar bruscamente.
– Eu vou ver o que o Adan está fazendo! – disse, se afastando a passos rápidos.
Boris estava aliviado. Durante o beijo com Juan, ele sentiu a mesma sensação que havia sentido quando beijou Adan. A mesma de não conseguir respirar, perder o chão e as paredes.
Ele estava aliviado por sentir que os dois beijos significaram a mesma coisa. Não havia como Adan ter atravessado a barreira da amizade e se tornado um interesse, sendo que o sentimento de beijá-lo, era igual ao de beijar Juan. Ambos pertenciam ao mesmo local dentro dele.
Mas a calma de Boris foi varrida quando um pensamento insano surgiu em sua cabeça. Ao beijar Juan, ele percebeu que tanto Adan quanto Juan estavam lado a lado dentro de si, mas em vez de Adan ter atravessado ou de ambos ainda estarem seguros por trás da barreira de amizade, eles a derrubaram juntos, de uma maneira que passou despercebida por Boris.
O sorriso de alívio morreu no momento em que essa possibilidade foi colocada na mesa. Ele levou as mãos ao rosto e mordeu o lábio para abafar o grito que iria sair.
Adan estava em seu quarto tentando falar com Loren por mensagem, quando a porta se abre e Juan entra, batendo a testa por ter esquecido de se abaixar. Enquanto fechava a porta atrás de si, ele levou a mão até ao local machucado, e logo em seguida, virou-se para Adan, que estava sentado na cama em volta de pedaços rasgados de plástico filme e com o celular em mãos.
– O que foi? – perguntou Adan.
– Eu não sei – disse Juan se aproximando da cama. – Aconteceu uma coisa e eu vim correndo para cá.
– O que aconteceu?
– Eu deixei você aqui e desci as escadas para ficar com Juan, mas quando cheguei lá, ele estava muito sério, então decidi me sentar e ficar quieto. Só que ele se aproximou de mim e eu pensei que queria conversar, mas como ele estava sério, eu pensei que... sei lá, quisesse desabafar sobre algum problema. Só que ele me beijou!
– Ele fez isso? – perguntou Adan, pousando o celular na cama.
– Sim – disse Juan, se sentando do lado dele.
– Curioso... – disse Adan, seguido de um momento em silêncio. – Como é que foi?
– Não sei. Eu não estava esperando.
– Mas como é que você se sentiu?
– Sei lá. Primeiro fiquei surpreso... Depois eu me deixei levar, sabe? As coisas só foram acontecendo e eu acabei... Sei lá. Depois que o beijo terminou, eu fiquei assustado, então vim correndo para cá.
– Você gostou? – perguntou Adan.
Juan não conseguiu responder imediatamente. Ele ficou quieto, depois se jogou na cama de Adan, antes de acenar com a cabeça.
– Curioso... – disse Adan. – Como é que ele estava quando você subiu?
– Eu vim correndo, então não vi.
– Você lembra quando a gente foi naquele parque aquático e o Boris não sabia se compraria o sorvete de caramelo ou o de biscoito, então ele pediu para o atendente deixar que provasse os dois para saber qual comprar?
– Sim – disse Juan.
– O Boris me beijou. Na verdade, o beijo aconteceu, mas acho que dá no mesmo.
– Hoje?
– Sim. Na cabine do estúdio de tatuagem – disse Adan.
– Mas e o sorvete?
– Eu acho que ele ficou confuso depois do beijo, então tentou testar da forma que sempre faz, experimentar os dois e ver qual prefere. Já que ele me beijou sem querer, precisou beijar você para saber de quem gostava mais.
Juan não falou nada. Apenas continuou deitado enquanto Adan falava.
– Por um lado, o raciocínio lógico faz sentido. Ele gosta de nós dois da mesma maneira e tentou saber se havia alguma diferença entre o que ele sentia. Eu faria o mesmo.
– Você me beijaria só porque também beijaste o Boris? – perguntou Juan, confuso.
– Não é bem assim – disse Adan se aproximando dele. – O pensamento em si faz sentido. Nós nos aproximamos ao mesmo tempo uns dos outros, nos tornamos íntimos muito rápido e passamos a maior parte do tempo conversando, juntos. Se me beijar deixou ele confuso, beijar você foi uma experiência para saber em que posição no mapa cada um de nós está.
– Isso não parece fazer sentido – disse Juan.
– Tenta me beijar – disse Adan, fazendo Juan se levantar da cama assustado. – Se me beijando, sentir o mesmo que sentiu enquanto beijava o Boris, então você sente a mesma coisa por nós dois. Essa é a experiência. Boris já tem as amostras dele, mas nós ainda não. Vai fazer falta esse teste para tentar ter uma visão objetiva.
Por um minuto, Juan ficou em pé, encarando Adan. Por um lado, ele parecia ter razão, mas era como se as coisas estivessem sendo mecânicas para isso dar certo de um ponto de vista otimista. Beijar Boris causou vários sentimentos, mas apenas por ser uma coisa que ele não esperava. Beijar Adan agora será algo planejado, então não transmitirá as mesmas sensações.
Adan estava sentado, com as costas apoiadas na cabeceira, quando Juan se aproximou devagar, tendo que apoiar ao mesmo tempo em que inclinava-se sobre Adan, que tocou no seu pescoço com as mãos.
Foi de repente. Adan se aproximou e juntou os seus lábios, fazendo a respiração de Juan desaparecer.
O mais alto se afastou por um segundo, mas depois voltou a beijá-lo, sentindo a maciez e a grossura se juntando com o calor do seu corpo, causando uma explosão dentro dele.
Juan segurou o braço que Adan havia pousado em seu pescoço e o puxou para mais perto, o pressionando devagar.
Quando se afastaram, Juan se sentou ao lado de Adan. Eles ficaram em silêncio até que o celular de Adan apitou. Ele o pegou e mandou uma mensagem para Loren, avisando que havia beijado Juan e o descartou novamente na cama.
– Acho que a gente precisa conversar sobre o que aconteceu – disse Juan.
– Sim, fomos muito impulsivos. Vamos – disse Adan se levantando.
– O que? Vamos aonde? – perguntou Juan.
– Vamos conversar. Nós três.
Juan se lembrou de Boris e sentiu uma tontura o derrubar de volta para a cama. Eram demasiadas coisas para ele conseguir lidar ao mesmo tempo, e nenhuma delas parecia querer se resolver sozinha.
Boris estava sentado na bancada da cozinha com um copo de água na mão quando a porta se abriu e Adan e Juan passaram por ela.
Eles ficaram frente a frente com Boris, olhando-o e depois um para o outro. Boris ficou ainda mais nervoso e apertou o copo em suas mãos, sentindo o ar desaparecer à sua volta.
– Acho que a gente precisa conversar – disse Adan. – Juan e eu estávamos conversando lá em cima sobre as... situações que aconteceram hoje, mas achamos que era melhor conversarmos todos juntos.
Boris passou as mãos pelo rosto e franziu a testa e o nariz, frustrado.
– Queres dizer algo, Boris? – perguntou Adan.
Juan se sentou e passou a olhar para a mesa, sem mover o rosto.
– As situações que aconteceram hoje fizeram as minhas barreiras.
– Barreiras? O que? – perguntou Juan, levantando o rosto.
– É tipo... – começou Boris, olhando em volta – Imagina que toda essa bancada seja um território de amizade e que esse copo seja o território dos interesses amorosos. Vocês dois estão no território da amizade porque nos tornamos muito amigos. Mas hoje, depois da... situação, eu fiquei confuso se Adan estava mesmo no território da mesa, ou se ele fugiu de dentro do copo. Eu pesei o que sentia pelo Juan, mas acabei percebendo que sinto a mesma coisa pelos dois. Depois disso, decidi ver em que vocês estavam, porque eu já sabia que se, sentisse o mesmo pelos dois, talvez estivesse confundindo tudo durante a situação na cabine do estúdio.
Boris foi interrompido pela gargalhada de Adan, que se esticou e se encolheu enquanto lacrimejava, quase sem ar.
– Desculpa... Foi sem querer... Eu não queria – disse Adan, tentando recuperar o ar. – Então, na tua hipótese, Juan e eu estamos juntos, no mesmo ponto do território, por isso você decidiu beijá-lo para ter a certeza de que nós dois estávamos na mesa, mas não te ocorreu que poderíamos estar dentro do copo?
– Não tinha pensado nisso – sorriu cabisbaixo.
– E agora?
– As coisas estão mais confusas do que eu havia planejado – disse Boris.
Adan voltou a gargalhar. Eles ouviram a porta da frente abrir, seguida da porta da cozinha. Amara entrou com dois grandes potes nas mãos. Atrás dela, estava Jonathan, segurando outro.
– Vamos terminar essa conversa lá em cima – disse Adan, que recebeu um aceno dos dois rapazes atrás de si.
Adan ajudou os irmãos a guardarem a comida que eles haviam trazido da casa de sua tia, depois subiu para o seu quarto junto de Boris e Juan.
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