Noites de Alabastro

By LilyLinx

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Maçãs são preciosos segredos Mas é preciso morder para encontrar. More

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Manhãs de Alabastro - Parte 2

Noites de Alabastro

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By LilyLinx

Havia encontrado irremediavelmente o chão; e era de um branco leitoso cinzado na rocha.

"Querida Eloise,

No começo fui feliz; depois percebi que a felicidade cansava. Não consegui ser assim o tempo todo. Sem meios ou motivos para mudar como estava. Me afoguei em águas rasas.

O castelo de calcita à beira do desfiladeiro marítimo me era assim, depois de tantos anos: Rocha tão lúgubre que chorava, com as cores de uma manhã não desperta. Contrastando com o ocaso em mim. De tão familiar, doía e esmagava, ondas afastando o rigor e solidez da pedra.

Veja os pássaros: Asas para voar... e ainda assim encontram motivos para voltar.

Seus ninhos. Seu lar.

Pensando bem, não era como me lembrava.

Não achei a porta azul. E a comida não parece saciar minha fome.

O que era estranho, já que a felicidade tinha de estar neste lugar. Quando assistida pelas freiras, elas me castigavam sempre que desobedecia, sempre falhava; me deixaram alguns dias sem comida por ter questionado ao arcebispo se não seria de mais valia, o ouro da igreja e dos nobres, ser convertido em doações. Julgava na época, mais santas as mãos que ajudam, do aquelas que rezam, dando vã uso às suas bocas no processo. Deveria ter jejuado por isso, mas descobri que era fácil ter acesso a queijo e manteiga que deixavam quarando fora da dispensa.

Como todas as minhas tentativas de fazer graça, acabei ficando doente.

"Então, pensar no que deixei para trás, me fazia infeliz. Talvez não por amor ao passado, percebo agora, pela noção irredutível que não tenho mais a segurança dele.

"Meu pai dizia que, 'uma vez ao mar, nenhum barco está seguro'. Mas nenhum bom marinheiro foi feito em terra. Então se for do seu agrado, deixo o convite para a missa de meu pai na próxima quinzena. Embora solitária, garanto que esta é uma ilha mágica e preciso lhe mostrar ...

O trago de vinho seguinte soprou a leveza de um dar de ombros.

- Sempre achei que tinha o humor mais próximo do Oceano.

"Ass. Lady Irlina MacGyver, Condessa do Mar. E para sempre, sua amiga fiel".

Eloise estava ainda mais linda que na estação anterior, em Londres. Agora vestia roupas de adulta, mas seu sorriso ainda delicado como as prímulas.

- Irlina! - gritou Eloise, pulando em meu pescoço. Sua timidez havia desaparecido.

- Não a esperava antes da próxima estação, menina. Mas fico feliz que veio. Não é o tédio que está me matando, são as más companhias. A travessia é perigosa sozinha - a repreendi. Supondo, claro, que sua mãe não tenha vindo.

- Ela não está sozinha.

A voz de Killian me deixou hirta. Meus pés pareciam tão enraizados quanto uma árvore ao ensaiar, sem sucesso, um sorriso.

- Milady - cumprimentou.

"Essa expressão não conheço".

No jantar após a missa, seis meses após a morte de nosso pai, a pele sardenta do meu meio-irmão não conseguia esconder o quanto estava colérico. Após os convidados e alguns parentes entrarem, ele me encurralou perto do vestíbulo.

- Papai já não deixou muito para você? Já roeu os ossos do seu marido, por que veio correndo se alimentar da carne fresca do nosso pai? - Jeorge parecia roubado. Então rosnou baixinho, invadindo meu espaço. - Não precisa estragar a felicidade alheia!

- Não que precise de mim para isso, irmão. - Torrou a parte dele da herança, tentando reaver a minha. - 10 mil libras e uma casa nas imediações; vai descansar se lhe der minhas roupas? Esqueça logo o maldito titulo.

Ele chiou antes de responder:

- Papai não a queria aqui. Realmente acha justo que fique com tudo?

Com as mãos para trás, não tirei os olhos do lustre de marfim, a única coisa delicada no interior austero de pedras meio soltas.

- Despesa compensatória. - sorri. - Aceito que ele tenha escolhido você, irmãozinho. Mas lembre que sou uma megera. - Meus olhos claros o provocaram como o oceano a uma fragata. - Não vou sair do seu caminho. Nem abnegar do que é meu.

A boca rosada como minhocas se torceram, entre o nojo e o ódio. Empertiguei os ombros. Não iria recuar. Já o havia aturado demais me destratando.

- Posso me meter? - indagou Killian, já se metendo.

- Não pode...

- Não estou falando com você!

Tinha a ira aquecida como metal diante da reprimenda do outro. Olhos amendoados cheios de especulação e coragem. Alguns dos convidados do jantar - considerando que Killian não era um deles -, botaram suas cabeças para dentro do átrio.

- Tem coragem de olhar para mim agora? - provoquei o francês. Ele estava mesmo diferente, de algum modo. E alerta. - Ignore o parasita inútil.

Foi rápido: Inflado, Jeorge agarrou meu braço. Sem se atentar aos curiosos, cego pela raiva. Meu olhar o desafiou a seguir com que seu punho fechado pedia.

- Gananciosa fútil - xingou.
Ele e meu pai eram iguais quando bebiam. "Vamos, bate em mim como fez com sua filha. Agora na frente de todos se tiver coragem".

Mas se ia acrescentar algo, Killian não deixou. Com o aperto de ferro, o moreno segurou-lhe o pulso. Meu irmão chiou ao me soltar. Killian tinha a mandíbula trincada, também parecia saber até onde meu irmão iria.

- Padrinho, chega - implorou Eloise correndo até seu lado. Outros convidados teciam cochichos.

Killian parou. Ainda pensando um bocado antes de se afastar, continuou entre nós. Meu irmão inflava o peito como galo de briga pré cozido. Falei-lhe por cima do ombro:

- Não precisa se preocupar, Jeorge - meu tom era de ameaça. - Estou em casa agora.

Na torre principal, Killian parecia mais leve, longe dos olhares especulativos.

- Considerei que o tivesse provocado de propósito - especulou. - "Queria lady Irlina apanhar na frente de todos"? Possível. Até ver a pedra soltou da parede bem fechada em sua mão. Decerto que ele sairia mais machucado que você. Tudo é mais animado na Escócia?

- Só quando estou presente.

Meu sorriso não chegou aos olhos, e isso não lhe passou despercebido.

- Reintero que disse: ficarei na vila. Vim para acompanhar Eloise e escrever, tentar ao menos, não está nos meus planos abusar da sua hospitalidade ficando no castelo.

- UI! Que modéstia grosseira. Isso explica o estilo dândi "não uso cinto".

- Tenho cinto!

- Disse que não usava. Mas de que outro modo teria a agilidade para agredir alguém?! - Killian revirou os olhos. - Me pergunto se teria trazido algo mais arrumado que o casaco azul por vontade própria. Quem foi a criminosa que o obrigou a mudar o guarda-roupa?

Seus lábios e olhos ficaram estreitos.

- Por que não pergunta logo?

- A carreira de escritor está badalada? Soube que foi convidado a um sarau no verão. - Ele assentiu. - Por que continua como valete? Tem Lorde Byron como fã, não precisa de melhor indicação que esta.

- Byron só é fã de Byron; e eventualmente de Shelley. Ademais, essa coisa de escritor não vai durar, não sou nobre e rico como eles. - "Lorde Byron também não era". - Tudo que foi publicado até agora foram textos antigos. Não... escrevi mais nada. Me sinto perdido, como um barco à deriva. - queixou-se. - Seu convite me deu esperanças. Mas dizei uma palavra, se foi engano, ou apenas uma piada, e não me tornará a me ver se, como parece, minha presença causa tanta repulsa.

Os ventos do Norte uivaram. O luar prata pintava o mundo de azul e um branco leitoso.

- Não é repulsa. É confusão, Florentine. O convite não estava direcionado a você, então só não esperava vê-lo.

- Então... o que disse... Se a mensagem era apenas para Eloise, por que escreveu ao jovem barão ao invés dela, quando sou eu que revisa suas cartas?

Para isso, não tive resposta. E isso lhe bastou.

- Se é assim, se tiver de ser assim, então que nossos caminhos não se cruzem, mas que neles haja felicidade. No barco a caminho daqui, lembrei de outra viagem que fiz, e um pensamento me ocorreu: mesmo que erga-se com dignidade, nenhuma rocha resiste imaculada diante do oceano. Estava certa quanto a mim, ávido por mudança, amarguei a falta de expectativa; Depois, me desfiz por completo, com medo delas. - Com uma reverência, acrescentou: - Que suas mudanças sejam boas, Irlina. E cuidado com seu irmão.

Killian Florentine desceu a escadaria em passos rápidos após uma despedida cortez. Ao em mim parecia fora do lugar, suponho, pela confusão.
Eloise não demorou a subir, no mais próximo de irritação.

- Que engano poderia tê-lo deixado tão abalado? - indaguei, infeliz.

Eloise mordeu os lábios e sacou a carta de sua manga. A mesma que lhe escrevi convidando para Skye.
- Ele disse que sempre revisa mais de uma vez suas cartas. Não gosta de acasos. Minha mãe insistiu que não o era. E dessa vez ele teve mesmo esperança.
Abri e fechei a boca.
- Vocês sabem?
- Têm todos aqueles textos que trocaram. Mas daqui ate a Irlanda; Basta ver vocês juntos.

Xinguei em pensamento. "Desgraça. Ele deve estar se corroendo com isso". Me voltei para a carta, tomada de culpa. "......... preciso lhe mostrar que o oceano em profundos mistérios"

- Escreveu errado. Colocou: "Oceamo". Quero lhe mostrar que oceamo...

- O que disse?

Ela repetiu e acrescentou:

- É verdade, Lady Irlina.

Minha mão sobre os lábios trêmulos não ocultava de tudo as lágrimas.

- Acredito... Eu acredito.

As luzes da Aurora do Norte riscaram cores na noite de alabastro. E não voltei para recuperar meus sapatos que escaparam de mim na escada, tinha pressa e ofegava um bocado ao chegar ao pátio.

- Killian. Killian Florentine! - Reuni minha dignidade, mas não contive revirar os olhos. Agora não podia acusá-lo de lenta compreensão quando eu nem mesmo admiti antes. Interrogação corria em seu rosto. Passei, vermelha, a lingua nos lábios ao continuar:
- "Quando a noite alabastro cai

A voz do silêncio

Sussurra,

Solidão a afastar

A solidez da terra firme.

E nesse

Firmamento líquido

Navego

De dentro pra fora".

- Decorou uma das cartas?
"Todas, sua peste".

- Fiquei com raiva de você quando, depois do casamento, parou de falar comigo. Ficava andando despreocupado pelos jardins do convento dizendo que era um lugar mágico. Todo dia. Por meses. Conversávamos por horas e comprava todas as minhas fugas. - "Não que tivesse escolha". - Éramos amigos. Até encontrar meu noivo no portão e você estar ao seu lado. Mudamos tanto assim um para o outro?
Killian negou com a cabeça. Quando ele riu de alguma piada interna. O acompanhei de nervosa.
- A porta azul. A porta azul não fica aqui, Irlina. Era a porta no fundo dos jardins que dava pomar. Por onde você fugia.
Investiguei na memória.
- Certo, não esqueci. Só confundi o lugar. - "onde depositei meu lar... minhas lembranças felizes... - Pelo visto é comum. Uma vez na vida, não pense, responda: mudaria algo nas suas escolhas? Teria feito diferente se pudesse?

- Não - respondeu depressa. Só então parou, diminuindo um passo entre nós. Pedi o motivo: - Não sei, Irlina. Mudar o que fiz, seria mudar a mim mesmo. Não acha egoísta comigo e até cruel, desejar não existir?! - Seus olhos eram quentes como um cobertor na noite fria. Mas o céu estava abrasado de cores. - Por que pergunta?

"Meu pai dizia que nenhum mar calmo faz bons marinheiros. Mas também disse que se cai do barco, é porque não está preparado para ele". Apertei sua mão a minha, enlaçados do polegar ao mindinho.

- Nenhum navio zarpa sem estejamos prontos.

- Meu porto seguro!

E o ladrão roubou-me um beijo. (embora esse já lhe estivesse guardado).

Um novo começo

"... Estava me afogando, céu ou mar, não havia estrelas para me guiar. A vida foram ondas de cacos de vidro e já não podia respirar. Ou nadar. Mas só ao ver um farol rochoso que tive medo. Medo da Esperança se é que me entende. Apesar do vidro, só ela rasgava meu peito".

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