Pietro
A última vez que pisei na Itália eu tinha 10 anos. O que quer dizer que faz 14 anos que não piso no lugar que eu nasci e onde minhas raizes estão. É tempo demais. Parece que deixei algo pra trás e só agora lembrei de ir procurar. Mas não estou aqui pra matar a saudade de nada, estou aqui por causa da mulher da minha vida.
—Pra onde vamos? —Alfredo indagou, se espreguiçando, enquanto puxava sua mala. —Caramba, como é bom sentir o clima quente e não congelante como o de Aspen.
—Vamos pro hotel e então procurar por eles. —Afirmei, vendo ele me olhar com um sorriso muito grande no rosto.
Tínhamos pegado o primeiro voo que conseguimos pra Itália assim que saímos do apartamento de Hermione. Tudo que a mãe dela nos disse foi o nome do hotel em que eles estavam ficando. Eu nem ao menos dormi durante as longas horas no avião, porque estava ansioso demais para chegar.
—Você pode ficar no hotel pra descansar. —Falei para Alfredo, já que nenhum de nós dois estávamos acostumados a ficar mais de 10 horas dentro de um avião.
—Ah, não. —Ele riu, negando com a cabeça. —E perder todo encontro romântico seu com a Hermione? De jeito nenhum!
Revirei meus olhos, sentindo meu coração acelerado. Nunca tinha ficado tão nervoso em toda minha vida. Mas aquela garota era importante demais pra mim. Hermione mudou todos os meus planos e me fez mudar inclusive minha rotina que eu estava tão acostumado. Não largaria tudo em uma viagem em cima da hora por ninguém. Só por ela.
Eu e Alfredo pegamos o primeiro táxi que conseguimos para o hotel. Pro meu azar, o hotel que Hermione estava não tinha mais quartos disponíveis, o que me obrigou a pegar em outro hotel um pouco longe demais do dela. Fiquei olhando para as ruas da cidade enquanto o táxi percorria o trânsito. Estávamos no início da manhã, o que significa que Hermione provavelmente não estaria no hotel.
—Ei, relaxa. —Alfredo me deu uma cotovelada. —Ela vai ficar feliz em te ver. Tenho certeza.
—Não, ela com certeza não vai. —Soltei uma risada nervosa, passando as mãos no rosto. —Eu a conheço. Ela vai ficar assustada em me ver aqui.
—Um assustado bom ou ruim? —Indagou, me fazendo olhá-lo com as sobrancelhas erguidas.
—E existe isso? —Soltei o ar com força, vendo ele rir. —Para, eu tô nervoso pra caramba, sabia?
—Eu tô vendo. Mas relaxa, vai dar tudo certo. —Ele me deu outra cotovelada. —Você atravessou o oceano por ela, cara. Se vocês não voltarem depois disso, não acredito mais no amor.
Olhei pra ele um pouco cético, mas fiquei em silêncio o restante do caminho até o hotel.
[...]
Como eu havia imaginado, Hermione não estava no hotel quando fui até lá. Alfredo ficou flertando com o rapaz do hotel até ele aceitar falar se eles estavam lá ou não. Bem, eles estavam hospedados naquele hotel, mas haviam saído logo cedo, o que não nos ajudava em nada.
Ficamos andando pela rua, passando pelos pontos turísticos, esperando que milagrosamente esbarrássemos com ela ou o pai dela. Na verdade, eu deveria ter arrumado o número dele, porque não acho que ele seria tão mal comigo a ponto de não me ajudar a encontrar com a filha. Mas ali estava eu, sentado em uma mesinha em um café, enquanto pensava na opção de voltar para o hotel dela e esperar lá.
—Onde você acha que eles estão? —Alfredo folheou o folheto de pontos turísticos, fazendo uma careta. —Passamos pelos pontos turísticos mais importantes.
—Provavelmente foi o que eles passaram primeiro. —Afirmei, vendo ele bufar e continuar olhando o folheto, sem qualquer interesse.
—Já que não a encontramos ainda, você sabe o que fazer? Tipo um grande gesto românico com uma declaração de amor perfeita?
—Não pensei em nada disso. —Ele me olhou de queixo caído.
—Como assim não, princeso? Você precisa ter um plano em mente! —Alfredo afundou na cadeira, fechando os olhos com força. —Não pode viajar dos Estados Unidos pra Itália, pra se declarar pro amor da sua vida sem nem saber como vai fazer isso!
—Todas as vezes que eu tento fazer algo pra ela, da errado. —Afirmei, lembrando do jantar que eu ia preparar no terraço do prédio, que foi atrapalhado por toda neve. —Mas eu vou saber o que fazer na hora.
—É, mas precisamos encontrar ela primeiro! —Alfredo cruzou os braços na frente do corpo, mais frustrado do que eu.
Soltei uma risada, olhando para o café a nossa volta. Por mais que eu pensasse no que fazer, nada me minha em mente. Mas estávamos na cidade do amor, eu precisava aproveitar a oportunidade que estava ganhando.
—Ei, parceiro, não querendo me intrometer, mas já me intrometendo... —Olhei por cima do ombro, ouvindo a voz masculina se dirigir a mim. Um grupo de pessoas estava na mesa ao lado, olhando na nossa direção. —Mas o seu amigo tem razão.
O cara que falava comigo tinha os cabelos raspados e os braços repletos de tatuagens. Fiz uma careta pra ele, quando o mesmo abriu um sorriso simpático, escorando o braço nas costas da cadeira.
—Para de se intrometer na vida dos outros, Steven. —Uma garota com cabelos pintados de roxos deu um tapa nele. —Deixa o cara se de declarar para a garota dele do jeito que quiser.
—Não, não... a opinião dele é muito válida. Normalmente eu não sou levado a sério. —Alfredo murmurou, me fazendo revirar os olhos.
—Ei, vocês são americanos ou italianos? —Um rapaz de óculos de grau perguntou, fazendo uma careta. Ele estava abraçado com uma garota de cabelos encaracolados e pele morena.
—Aposto em italianos. —O cara tatuado falou, jogando uma nota sobre a mesa. Um rapaz loiro que estava ao lado da garota de cabelos roxos riu, jogando outra nota sobre a dele.
—Americanos. —Afirmou.
—Italianos. — Um rapaz de cabelos escuros que estava sentado entre o cara tatuado e uma garota ruiva jogou outra nota no montinho.
Olhei para Alfredo quando os outros começaram a apostar também, colocando o dinheiro no montinho que se formava. Eles estavam em sete e o fato de apenas dois deles terem chutado que éramos italianos me fez ter vontade de rir. É isso que dá passar tempo demais longe do país de origem.
—Somos italianos. —Alfredo afirmou, enquanto os cinco que haviam apostado em americanos gemeram e afundaram nas cadeiras, nos fazendo rir.
—Qual é, isso não faz sentido. —O cara loiro bufou. —O inglês de vocês é perfeito.
—A gente nasceu na Itália, mas moramos nos Estados Unidos a mais de 10 anos. —Expliquei, dando de ombros. —De onde vocês são?
—Atlanta. —A garota morena respondeu. —E vocês?
—Aspen. —Afirmei, indicando eu e depois meu irmão. —Pietro e meu irmão Alfredo, é um prazer.
—Cara, que falta de educação. A gente se meteu na conversa de vocês e nem nos apresentamos. —O rapaz de cabelos escuros falou, indicando o cara tatuado. —Esse é o Steven, Bryan e Jane... —O cara de cabelos loiros acenou com a cabeça, enquanto a garota de cabelos roxos sorriu. —Aquele é o Yuri e a Yasmin.
O rapaz de óculos e a garota morena acenaram pra nós, enquanto o que estava fazendo as apresentações estendia a mão pra mim.
—Eu sou o Nicholas. —Apertei a mão dele, enquanto ele indicava a moça ruiva que estava do seu lado. —E essa é minha noiva Ella.
—Ei, não é você que vai fazer um recital de violino hoje a noite? —Alfredo questionou, pegando o folheto de novo.
—Sou eu mesma. Ella Summer. —Ela sorriu animada, enquanto Alfredo virava o folheto pra mim, onde estava a propaganda da apresentação, com uma foto dela. —Então, você veio aqui só pra encontrar uma garota?
—É a minha namorada. —Eles ergueram as sobrancelhas. —Quer dizer, não sei mais como chamar o que temos. Não terminamos, mas também não conversamos sobre isso. Aconteceu uma coisa que estragou tudo e não estamos nos falando. Ela veio pra cá ficar com o pai que está conhecendo o país e eu vim atrás porque quero consertar as coisas. Porque pensei que essa viagem dela poderia significar que terminamos e isso está me matando por dentro.
Expliquei da melhor maneira possível, não querendo contar demais. Eles ficaram olhando pra mim, como se esperassem mais informações ou uma super história de amor em que tudo dá errado.
—Você deve gostar muito dela pra ter vindo até aqui atrás dela. —Nicholas murmurou, e eu concordei com a cabeça.
—Eu a amo. —Afirmei, pensando em como eu queria estar com ela naquele momento. —Quero encontrá-la e dizer tudo que sinto, mas não quero assusta-la e afastá-la de vez.
Eles trocaram olhares, parecendo estarem conversando mentalmente, antes de se virarem pra mim de novo.
—Bem, pode fazer uma coisa simples. —Ella falou, colocando o cabelo ruivo pra trás. —Sabe em que hotel ela está, né? —Balancei a cabeça afirmativamente. —Então corra até a varanda dela e se declare, Romeu.
Continua...