Um Inquilino e Meio

De guqpjm

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[EM ANDAMENTO] [EM REVISÃO, ESTÁ SUJEITA A ERROS] Jimin se vê atolado de dívidas depois que o dinheiro que su... Mais

Apresentações
[1] Dívidas.
[2] Soluções.
[3] Reforma.
[4] Mudança.
[5] Lar.
[6] Amigos.
[7] Proteção.
[8] Jeon's.
[9] Sol.
[10] Invasão.
[11] Ciúmes?!
[12] Promessa.
[13] Próximos.
[14] Próximo passo.
[15] Depois.
[16] Fazenda.
[17] Frutas.
[18] Me conte.
[19] Eu e você.
[20] Você merece.
[21] Cuidar de você.
[22] Recomeçar.
[23] (re)começo.
[25] Barracas.
[26] Sem bandanas.
[27] Único.
[28] Aprendizados.
[29] Aniversário?
[30] Ãn?
[31] Meu tchan.
[32] Um chuchu que colhi na vida.
[33] Futuro.
[34] Amor e seus significados.
[35] Novas sensações.
[36] Como quiser.
[37] Primeira vez.
[38] Fizemos amor!
[39] Abacaxi.
[40] De mentirinha.
[41] Descobertas. 2
[42] Ciclos.
PRÉ VENDA DE UIM!

[24] Importância.

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De guqpjm

                #GarotoDasBandanas

          Oi, oi. Vocês já me seguem no
  insta? O pessoal de lá sempre recebe
       spoiler, e eu fico mais por lá.

                        Boa leitura💋

A importância da conversa que tiveram, junto às confissões e pedidos de desculpas, foram de suma importância para a relação deles.

Toda vez que Jimin lembrava de alguma coisa que gostava, parava no mesmo instante qualquer coisa que estivesse fazendo apenas para falar para Kook.

Como na vez em que estava escovando os dentes, e lembrou que odiava abacate ou qualquer tipo de coisa que envolvesse cana, ele saiu correndo pela casa, com a boca cheia de pasta e os olhos inchados pelo recente sono. Assustou Jungkook pela forma afobada que chegou até ele. Mas o mais novo gostou de saber daquela informação.

Sorriu deixando um beijo longo na bochecha do seu hyung.

Em troca, disse algo interessante sobre si mesmo. Como por exemplo; odiava limão ou qualquer coisa que envolvesse isso.

Pela madrugada do mesmo dia, enquanto dormiam abraçados com Mike, Jimin acordou o menino no susto depois de lembrar que sua cantora favorita era Lana del Rey. Jungkook achou muito legal saber daquilo também, assim poderia escutar algumas músicas dela, e quem sabe dedicar algumas para seu hyung. Faria isso, com certeza.

Em troca, falou que suas cantoras favoritas eram: Selena Gomez, Miley Cyrus, Demi Lovato, Dove Cameron e Sofia Carson.

Mas também disse que conhecia poucas músicas delas atualmente, já que sua playlist era inteiramente de músicas da época que elas eram da Disney.

Naquela madrugada, eles passaram a noite em claro comentando sobre coisas idiotas da infância enquanto tomavam leite de banana e comiam pipoca queimada (porque Jeon ficou com medo de ficar na cozinha de noite, e acabou demorando muito dando alguns beijinhos em seu hyung.)

Ele contou que quando Demi Lovato e Joe Jonas terminaram, chorou como se o relacionamento fosse dele, demorou bons anos para superar o término, e segredou que ainda chorava quando escutava a música "Wouldn't change a thing" pois a letra fazia seu coração quebrar em mil pedacinhos se lembrando da curta história que eles tiveram.

Jimin ria toda vez que os olhinhos de Kook se enchiam de lágrimas quando estava cantando a música traduzida.

Descobriu que, mesmo cantando todo embaralhado e querendo chorar feito bebê a cada estrofe da música, o menino tinha talento de sobra. A voz tão doce e suave que, se ele fizesse parte da família Madrigal, teria o dom de emocionar as pessoas com sua voz, como emocionou Park.

Quando colocou a música no YouTube a pedido de Goo, eles choraram juntos assistindo clipes da Demi e do Joe quando ainda eram um casal. Choraram ainda mais quando o YouTube começou a sugerir vídeos com músicas tristes de vários casais que não estavam mais juntos.

Selena Gomez e Justin Bieber, Miley Cyrus e Cody Simpson, Dove Cameron e Ryan McCartan…

Foram tantos casais, que eles até choraram pelo término de casais aleatórios que eles nem conheciam.

Jimin não sabia se estava chorando pelos vídeos, ou por ver Jeon soluçar de tanto chorar cantando as músicas com a mão no coração e os olhos fechados. A música que era em inglês, parecia ficar em outra língua quando Jeon cantava. 

Ele devia estar cantando em árabe.

Eles sorriam e choravam ao mesmo tempo. E o mais velho consolava Jeon deixando um beijinho na bochecha dele.

Em certo momento, tiveram que dar uma pausa, porque já estavam vendo clipes de Crepúsculo ao som de "A Thousand Years."

Como tinham acabado assim?

Não sabiam. 

Jimin estava chorando em plena madrugada por causa dos ex casais favoritos de Kook?

Talvez.

Contaria isso para alguém?

Nunca.

Aquela madrugada foi tão nostálgica e engraçada, que nem viram o tempo passar, quando se deram conta, o sol já batia em seus rostos e os galos já cantavam indicando que já havia amanhecido.

Sendo tomados por uma adrenalina contagiante, eles levantaram as pressas e foram fazer um café da manhã. O problema começou aí. Não tinha nada saudável na geladeira, eles ainda não tinham feito compras, e Jeon insistia que o café da manhã fosse composto por frutas, afinal, passaram a madrugada toda comendo pipoca queimada e aquilo já começava a revirar seu estômago. Nada melhor do que algo saudável para compensar.

— Quer ir roubar algumas frutas na vizinha? – Sugeriu Park, pegando o outro de surpresa.

— Roubar?

— Pegar emprestado não vai dar, né? Se a gente comer a fruta, o único jeito dela sair é…

— Já entendi, hyung. – O interrompeu, já sabendo o que viria a seguir. Jimin deu de ombros. — Mas ela não vai ficar brava?

— Olha…tem tantos pés de fruta na casa da senhora Pitter, ela nem come. Quer deixar estragar tudo aquilo? – Não estava mentindo. Ele caminhou até um dos armários e tirou de lá duas cestas enormes, entregou uma para o garoto e ficou com a outra. — A gente vai fazer um favorzinho pra ela, pensa assim. 

— Então…posso levar o Mike junto?

— Pode, pode sim. – Jeon sorriu animado, não notando o sarcasmo evidente em seu tom de voz. — Aproveita e já deixa ele lá em cima do pé pra entregar a gente.

— Ei! Você tinha dito que gostava dele agora.

— Eu gosto, docinho. Essa é a minha linguagem de amor com ele.

— Odiando?

— Escondendo o amor com ódio. – Deu de ombros, aliviado por ter conseguido dar uma boa desculpa.

— Tudo bem, eu não quero envolver meu filho nessa vida de crime mesmo. – Dramatizou. Ele realmente acreditava que estavam indo cometer um crime, não estavam brincando. 

— Jungkook, a gente só vai pegar umas frutas. – Disse o óbvio, olhando para o outro como se ele fosse algum alienígena.

Jeon pareceu aceitar, pois no minuto seguinte, segurou a cesta ainda mais forte em suas mãos e sorriu singelo antes de voltar correndo para o quarto.

A visão que Jimin teve quando ele retornou para a cozinha, foi provavelmente a melhor visão que já tivera em toda a sua vida.

Diferente do habitual, Kook não colocou uma bandana.

Ele entrou no quarto e voltou com o cabelo preso.

Com.o.cabelo.preso.

Porra.

O coração de Jimin pareceu dar piruetas no seu peito. Teve que fechar a boca, porque tinha certeza que estava babando ali mesmo, enquanto observava Jeon arrumar alguns fios que ficaram soltos.

Por vários segundos, se perdeu olhando para cada detalhe do rosto do menino, mais uma vez. Jeon dizia alguma coisa enquanto segurava a cesta no outro braço, preparado para ir, mas Park foi incapaz de prestar atenção em outra coisa que não fosse seu rosto lindo e o quão atraente ele ficava daquela forma.

Nossa.

Jungkook desconhecia a palavra "feiura''.

Não havia um só momento que estivesse feio, estava sempre tão lindo.

Mas…daquele jeito….Nossa.

Alguns fios de cabelo estavam soltos, outros não estavam presos porque não eram grandes o suficiente para conseguirem se juntar aos mais longos. 

Daquela forma, seu rosto ganhou mais destaque. A mandíbula bem marcada o deixava com um ar mais maduro, mas os olhinhos inchados, as bochechas gordinhas, e a pele lisinha, denunciavam que era o mesmo Kook de sempre. 

A dualidade que tinha era de deixar qualquer pessoa babando. Inclusive Park.

Não ser fofo era uma tarefa muito difícil para Jeon. Quase impossível.

— Caralho, você tá lindo. – Não era para aquilo ter saído voz alta, acabou deixando um pensamento escapar. — Assim dá pra ver ainda mais seu rosto. – Acrescentou, admirado.

— Isso é algo bom? ‐ Desviou o olhar, colocando uma das mãos na bochecha.

Jimin poderia pensar que a pergunta não passava de uma brincadeira, mas Goo não riu em nenhum momento, ao invés disso, mordia os lábios de forma constante tentando aliviar a tensão.

Era um grande idiota. Se conseguisse se ver agora, da mesma forma que Jimin lhe via, jamais faria uma pergunta tão óbvia quanto essa.

— É um elogio. Você conseguiu ficar ainda mais bonito assim. – Respondeu, atento a cada detalhe. — Lembra que eu te disse sobre você parecer uma espécie de sereia sedutora?

— Ah, e-era o nosso primeiro beijo e você me elogiou assim. – Riu, envergonhado. A recordação daquele momento está muito viva em sua memória.

— Mas agora você tá parecendo mesmo. Me seduziria fácil assim.

"Me seduziria fácil de qualquer forma", pensou.

— Isso significa que gostou?

Por mais que já tivesse ouvido, queria confirmar. Era diferente estar com o cabelo amarrado quando já estava acostumado com o cabelo grande tapando até mesmo seus olhos.

Jimin disse que seu rosto ficava mais evidente. Isso poderia ser um elogio ou uma crítica, dependendo do ponto de vista.

E, bem…a mente de Kook às vezes era bem traiçoeira.

— Eu gostei pra caralho. – Confessou e, o olhar envergonhado que recebeu o fez acordar pra vida. — Quer dizer, tá bem… legal. Parabéns…

O outro deixou um sorriso tímido escapar. A essa altura, as bochechas já estavam vermelhas e as orelhas ainda mais.

Mas era tão bom receber elogios do seu hyung.

— Obrigado, hyung. Ele tá um pouco grande, e eu tô com calor, por isso… – Gesticulou com as mãos, apontando para o cabelo.

— Quem tá ficando com calor sou eu. – Murmurou, se abanando com as mãos.

— O que disse, Ji?

— Pra gente ir logo. ‐ Disfarçou, andando na frente.

Jeon sorriu, comemorando internamente, e dando alguns pulinhos quando Park não estava vendo.

Fechou a porta da casa, e alcançou Jimin, saltitando.

Era bem cedo, a vizinhança toda estava dormindo ‐ era o que parecia ‐, o sol já tinha nascido e um silêncio harmonioso tomava conta das ruas. 

Bem…o plano não saiu muito como o planejado. Quando chegaram na casa da senhora Pitter, perceberam que o portão estava fechado.

Foi um pouco dificultoso pular o portão alto, e depois a pequena cerca que ficava ao redor justamente para evitar que alguém indesejado entrasse, mas conseguiram.

A casa era uma espécie de mini chácara. Era um terreno enorme, contendo frutas, verduras, plantas e até animais, como galinhas e galos. Essas que provavelmente eram criadas por causa dos ovos.

A grama era bem tratada e as frutas maduras e bonitas. Notava-se de longe que a senhora regava as plantas todos os dias, eram enormes e floridas. 

Mas, realmente algumas frutas já começaram a estragar, visto que na casa só moravam dois velhinhos que só cuidavam das árvores mas não davam conta de comer, eram muitas.

Kook tremia de tanto nervoso, sentia-se um fora da lei que estava tentando roubar pilhas de dinheiro no banco, mas estava só indo evitar que as frutas estragassem, afinal, senhora Pitter nem iria comê-las mesmo ‐ pelo menos foi isso que Park ficou repetindo durante o caminho todo.

Deu graças a Deus por ter prendido o cabelo, porque Jimin o fez escalar uma árvore de manga enquanto ficava embaixo com a cesta, a colocando no lugar exato que Kook arremessava a fruta. 

Foi uma luta para conseguir subir, seu cabelo ficou todo bagunçado, as folhas bateram em seu rosto, e por fim, tinha quase certeza que sentiu um bichinho passear em suas costas.

Mas estava dando certo.

Já tinha arremessado bastante mangas, estava orgulhoso por isso. Não ficou com medo, porque Jimin estava atento a cada passo seu, pronto para lhe pegar caso caísse de lá de cima.

— Hyung! Vai com a cesta mais pra lá. – Pediu. — Eu vou jogar agora.

— Joga logo, eu pego!

A mira de Jeon não era tão boa, Jimin concluiu isso quando, ao invés de acertar na cesta, ele acertou no telhado da casa. O baque foi tão forte que acabou arrancando pedaços de telha, que caíram no piso da área. O barulho foi ainda mais alto, e em poucos minutos, os dois estavam desesperados com a ideia da Senhora Pitter sair para fora e pegá-los.

Jeon ficou tão desesperado que começou a pensar em inúmeras maneiras de ligar para seus pais pagarem sua fiança caso fosse preso.

Um minuto de completo silêncio, deixou eles ainda mais nervosos. Congelaram no lugar, olhando para a porta para conferir se alguém sairia de lá.

— Eu sou tão novo pra ir preso. Tenho um filho pra cuidar. – Dizia para si mesmo com uma mão no coração, e com a outra abraçava o tronco da árvore. — Ah, bem agora que eu beijo na boca! – Lamentou.

— Fica tranquilo. Eu tô aqui. – Colocou o dedo indicador na boca e pediu silêncio. — Você ainda vai beijar muitas bocas. — Continua pegando, Kook. Ninguém ouviu.

Ele fez como lhe foi mandado, mas Park percebeu que estava muito quietinho, sem dizer nada. Olhou para cima e notou que ele estava pensativo.

Nunca era um bom sinal.

Quando conseguiram pegar uma quantidade razoável de manga para os dois, Jimin auxiliou o garoto a descer da árvore, garantindo que ele saísse sem nenhum arranhão. 

Deixou um selar nos lábios alheios e murmurou um "bom trabalho", nunca deixando de observar os detalhes aparentes do rosto bonito.

— Você não gosta mais de mim? Por que falou que eu vou beijar outras bocas? Não tínhamos uma amizade colorida? Você não quer eu beije só você? 

As perguntas saíram disparadas, uma atrás da outra. Os olhinhos brilhando e um bico enorme, Kook observava Jimin atento, esperando por uma resposta.

— Nossa amizade colorida já está preta e branca, Ji? – Parecia aflito e nervoso, talvez triste por pensar nessa possibilidade. Nem conseguia encará-lo. 

— Docinho…não fala assim, é só um modo de falar.

Jimin tinha ciência de que aquele não era o momento e nem o lugar certo para ter essa discussão. 

Senhor ou senhora Pitter poderia pegá-los no flagra, uma manga poderia cair em suas cabeças, as galinhas poderiam cacarejar alto demais e chamar atenção de todo mundo.

Tinham muitas coisas que deixavam claro que aquele não era o ambiente certo para terem uma conversa daquela.

Mas, como poderia deixar Kook pensar que a amizade colorida deles tinha ido pro ralo?

Quando se tratava de Jeon, não importava mais nada.

— Você vai beijar só a minha boca. – Corrigiu-se. 

Jimin não esperou por uma resposta. Segurou o queixo do menino, e deixou um beijo estalado no canto da boca dele, seguido de um longo selinho.

— Vamos continuar? – Ele assentiu, mordendo um sorriso. Feliz por estar errado. — Nossa amizade colorida nunca vai ficar preta e branca, tá?

— Tá bom, Ji. Desculpa por ser tão imaturo, é novo pra mim, tenho medo de te perder. 

O coração do loiro ficou pequenininho com aquela declaração. 

— Você não é imaturo por isso. Quando ficar chateado ou pensativo com algo, eu prefiro que faça como acabou de fazer. Me fale, tá bom? 

— Tá bom, hyung. 

Deixou outro beijo na boca bonita e segurou sua mão, o puxando para o próximo destino.

Eles partiram para o próximo pé; o de acerola. Dessa vez, foi mais fácil para eles, as frutas estavam embaixo, o que facilitava muito visto que não tinham que subir e atirar as frutas do alto.

Mas como nem tudo são rosas, em certo ponto, Kook começou a sentir uma coceira insuportável. Esqueceu-se do quão sensível sua pele era, e aquelas folhas de acerola coçavam muito!

A pele já estava toda vermelha, mas ele continuou colhendo as acerolas até que a cesta enchesse. Não quis contar para o mais velho, não queria atrapalhar a colheita deles.

Passaram o que acharam ser quase uma hora ali. Depois do pé de acerola, colheram outras frutas também. Tentaram fazer o máximo de silêncio que conseguiam, mas quando Jimin abraçou Jeon por trás depois de deixar as duas cestas no chão, o garoto gritou pelo susto que tomou, o grito foi alto o suficiente para fazer os dois ficarem alertas e com medo. Teve que ser calado pelos lábios do seu hyung, e, bem…ele jamais reclamaria disso. Na verdade, até pensou em gritar mais uma vez.

E, enquanto Jimin ajudava Jeon a amarrar o cabelo mais uma vez (porque o rabo de cavalo já começava a desmanchar), eles ouviram um barulho alto da porta sendo destrancada. Dessa vez, não tiveram tempo de se preparar, pois em instantes, a porta havia sido aberta, revelando um senhor de cabelos grisalhos com sua xícara de chá, embalado em uma coberta grossa demais para o calor que estava fazendo.

Só tiveram tempo de pegarem as cestas e se esconderem atrás de alguns arbustos que, por sorte, ficavam em um local mais escondido.

O senhor varreu os olhos pelo local, desconfiado. Tomava lentamente seu chá, que parecia tão saboroso, visto que ele suspirava a todo momento. Sentou-se na cadeira de balanço e observou com atenção aqueles pés de fruta, estavam diferentes…vazios.

As frutas tinham caído tanto assim?

Podia estar ficando velho, mas jurou ter escutado um barulho alto vindo do seu quintal, e foi justamente por isso que saiu. Se algum animal estivesse destruindo sua horta, seria melhor expulsá-lo antes que os danos ficassem maiores.

Olhou para cima, de onde vinha as telhas quebradas, e levantou-se, curioso. Andou um pouco para trás, tentando decifrar se era algum gato, ou bombinhas que os meninos da vizinhança tinham jogado.

Ficou observando por um tempo, com as sobrancelhas franzidas e os lábios em uma linha reta.

Desconfiado, ele entrou pra dentro.

Estranho.

De repente, tudo ficou em completo silêncio. Jimin tinha uma das mãos tapando a boca de Kook, enquanto o garoto mantinha os olhos arregalados e até prendia a respiração com medo de que ela saísse alta demais e acabasse os entregando. Só aliviou a tensão quando Park deixou um selar longo em seu pescoço, segurando sua cintura com força para impedir que ele caísse.

Tudo parecia bem, agora só tinham que pegar as cestas, pular o portão e correr de volta para casa.

— Acha que ele percebeu a gente aqui, hyung?

— Ele quase não enxerga nada. – Tranquilizou.

Não era mentira. O homem quase não enxergava nada, sua idade já era avançada.

— Mas e se tiver enxergado?

— Você é bom improvisando? ‐ Perguntou Park.

— Não. – Sussurrou de volta. — Acho que se eles nos pegarem, eu desmaio aqui mesmo.

— Então vamos logo! ‐ Disse alto, como se tivesse dado um plano de fuga para algum fugitivo procurado em vários estados.

Kook assentiu, e seguiu os passos dele parando vez ou outra para se coçar. A vermelhidão estava sumindo aos poucos, mas Goo sentia como se várias formiguinhas estivessem fazendo piquenique em seu corpinho.

Já devia ser regra…toda vez que tentavam fazer algo, uma merda acontecia.

Quando estavam perto de chegar no portão, Jeon sentiu algo molhado respingar em sua calça. Desconfiado, olhou para o lado, e, se arrependimento matasse, ele já teria caído duro no chão.

Por causa da sua curiosidade, ele viu o exato momento que o aspersor – que eles nem tinham notado até então –,  começou a girar e jogar água para todos os cantos. 
Aquilo passou em câmera lenta diante dos seus olhos, demorou alguns segundos para assimilar o que estava acontecendo.

Instantaneamente, começou a gritar pedindo ajuda e colocando a mão na frente do corpo para impedir que a água o atingisse, o que foi inútil, já que estava todo molhado a essa altura.

A água tinha tomado conta de tudo, seus olhos estavam vermelhos porque a água entrava em seu olho toda vez que ameaçava  abri-los para se localizar e não correr o risco de ser pego. 

Ficou girando em círculos, mas não achava nenhum lugar para se esconder. 

E, bem...Jimin já conhecia aquele grito muito bem, e agora, provavelmente a vizinhança toda conheceria também. Estava escalando o portão quando o ouviu, e só teve tempo de jogar as cestas por cima, e respirar fundo, pensando: "e lá vamos nós", seria mais uma aventura para a conta.

Foi pensando nisso que correu para acudir Goo.

O menino realmente não tinha nascido para essa vida de crime.

O problema, no entanto, foi que, ao tentar correr para impedir que o menino continuasse gritando como se a água fosse matá-lo, Park acabou escorregando na grama molhada. Ele caiu de cara na pequena lama que tinha se formado ali. 

Aquele aspersor não era normal, não. Os velhinhos com certeza inventaram alguma coisa a mais, porque, geralmente, ele servia apenas para irrigar a grama, sem fazer barulho ou deixar poças de lama, o que não era o caso no momento já que Jeon estava encharcado e Jimin estava caído de cara na poça de lama.

— Hyung! – Jeon cobriu os olhos com as mãos para impedir que a água entrasse neles. E, ao ver seu hyung de cara na lama, se desesperou. A essa altura, alguém com certeza já tinha escutado alguma coisa, visto que Jeon não parava de gritar.

O desespero era real.

— Vem cá! – Cometeu o mesmo erro de Jimin, quando, ao tentar socorrê-lo correndo sob a grama molhada, acabou piorando tudo.

Se espatifou no chão tão rápido, que nem conseguia raciocinar direito. E como se não bastasse, quando olhou para o lado, viu um galo olhando fixamente para si, como se fosse fuzilá-lo com aquele olhar.

Meu Deus!

Estava dando tudo errado!

— Porra, caralho, merda! – Jimin levantou, limpando o rosto na força do ódio, tomando cuidado para não cair de novo. — Levanta, Jungkook!

Jeon o ignorou e permaneceu deitado com os olhos fechados e a língua pra fora.

— Kook?! – Disse alto por conta do barulho forte que o aspersor fazia. — Você tá bem? Levanta, a gente tem que ir!

— Estou! – Murmurou baixinho quando Park ameaçou levantá-lo. — Você nunca assistiu "os sem florestas", hyung?

— O que isso tem a ver? 

— A ratinha se finge de morta quando é pega roubando a comida da humana, e funciona. – Quase engasgou algumas vezes por conta da água que atingia todos os cantos. — Estamos em uma situação parecida agora, deita também! 

Park acharia aquilo adorável, se não estivessem nessa situação.

Espremeu os olhos, e levantou Jeon o mais rápido que conseguiu enquanto ouvia o garoto murmurar, reclamando. Caminharam em passos rápidos até o arbusto que estavam antes, quando ouviram a porta ser aberta de novo.

Bendito seja aquele arbusto.

Dessa vez, para o desespero de Kook ‐ e até de Jimin ‐ o senhor voltou com uma arma de caça.

Ela estava sob seu ombro, e ele mantinha os olhos fixos no arbusto em que se escondiam, vendo a movimentação que acontecia ali. Os olhos estavam semicerrados por conta da pouca visão que tinha. Era tão magro, que os meninos se perguntaram como ele conseguia segurar a arma que parecia ter o dobro do seu peso. 

O Senhor Pitter já beirava seus oitenta anos, mas mesmo assim, a cena não deixava de ser assustadora. Na verdade, se tornava ainda mais.

Um pouco de imaginação e Kook começou a pensar se ele não era, na verdade, um fantasma que veio os assombrar por estar na sua horta.

E se a casa fosse assombrada?

Na verdade, ele até lembrava o velhinho do desenho "A Casa Monstro".

E se a história fosse a mesma?

Passou a tremer. A roupa toda molhada e suja grudando em sua pele. O cabelo com várias folhas, pedaços de grama e lama. Estava uma bagunça, aquilo já começava a causar agonia.

Jimin não estava muito diferente, a única diferença era que sua cara estava toda suja de lama, ele até tentou limpar, mas não adiantou muita coisa. Parecia que estava fazendo skincare de argila.

— Quem está aí? – A voz rouca e falha denunciava que o senhor provavelmente era um fumante nato. Tossia antes de cada palavra proferida. — Se eu pego esses animais que estão estragando minha horta!

— Meu Deus, tenha misericórdia de nós! – Jeon implorou, com as mãos juntas. — São só algumas frutas…o senhor ensinou a dividir.

Jimin soltou um riso soprado, negando com a cabeça.

— A dividir, não a roubar. – Deu de ombros como se a ideia não tivesse sido sua. — Relaxa, Kook. Deus entende. Tem tantas pessoas passando fome no mundo, seria pecado deixar as frutas estragar, né?

O garoto parou por um momento, depois virou ficando cara a cara com Park.

— Tem razão, hyung. – Disse pensativo. — Me beija!

— Oi?

— Anda, eu estou nervoso. 

— O que…– Parou quando viu Kook fazendo biquinho. — Tá bom. – Selou os lábios.

Goo ficou aliviado, apesar de ter um senhor quase cego com uma arma no ombro, que podia atirar no lugar errado a qualquer momento e acabar os matando.

O senhor, nada satisfeito com sua esposa gritando que ele estava ficando louco, caminhou até o centro do jardim depois de ver que o aspersor tinha desligado. Observou as galinhas – estas que ele via só o vulto –, elas estavam inquietas. Olhou as plantas, árvores.

Hm.

Estranho.

Quando percebeu que não havia nada fora do comum ali, ou nada que pudesse provar que estava certo em sua teoria, suspirou alto, colocando a arma de volta no ombro. 

O ápice foi quando Jungkook e Jimin arrancaram alguns arbustos, e se arriscaram a ir caminhando segurando as folhas na frente, como uma espécie de camuflagem.

O velho andava muito devagar, não podiam esperar até que ele atravessasse para voltar para dentro.

Já estavam há muito tempo lá, suas roupas estavam molhadas e sujas. Precisavam de um banho urgente.

Senhor Pitter observou aquilo com as sobrancelhas franzidas e os olhos quase se fechando de tão espremidos.

Achou que, sua esposa tinha razão, devia estar ficando louco mesmo, afinal, uma pessoa normal não veria dois arbustos caminhando.

— Inferno! – Disse para si mesmo, entrando para dentro. — Vou ir tomar meu remédio.

                                🍎  

Eles chegaram aos risos em casa. A adrenalina tomou conta do corpo deles no momento em que pularam o portão, pegaram as cestas com as frutas, e saíram correndo mais rápidos do que o flash.

Já era um pouco mais tarde quando estavam voltando. Perceberam que passaram boa parte da manhã ali, mas valeu a pena, porque agora Kook estava feliz.

A primeira coisa que fez quando chegou, foi correr para o banheiro para tomar um bom banho, com direito a hidratante, óleo corporal e até seu sabonete favorito, que o deixava cheirosinho e livre de sujeiras. 

A sensação que teve quando colocou uma roupa confortável, penteou o cabelo – que ele tinha lavado –, e tomou o banho, foi tão boa. Sentiu-se leve e aliviado. Sua pele ainda estava vermelha, resultado de tudo que aconteceu mais cedo, mas a coceira tinha passado.

Terminava de passar um hidratante quando chegou na sala e se deparou com um Jimin sem camisa.

Jimin o esperou sem camisa.

O loiro não tinha vergonha na cara mesmo, pois assim que notou Jeon parado com os olhos arregalados e boquiaberto, um sorriso descarado nasceu em seus lábios. 

Oras, estava agoniante ficar com aquela camisa toda suja e grudenta, não foi de propósito, – ainda que fosse absurdamente bom ver o quanto Jeon ficava vermelho e mexido com aquilo.

Mas, quem disse que o coraçãozinho de Kook conseguia se acostumar com aquela visão?

Com toda a vergonha que se apossou de seu corpo naquele momento, foi quase impossível não ficar vermelho como um pimentão.

Não parecia o mesmo Jeon que, algumas horas atrás, conversava sobre chupar a língua de Park.

Essa era uma das coisas que o tornavam ainda mais adorável. Era um tagarela que, quando falava coisas daquele tipo, não eram intencionais. Realmente não via maldade naquilo e nem se dava conta do que estava falando, até porque era tomado pela curiosidade. 

Agora, no entanto, não havia qualquer sinal de naturalidade. Estava bem sã, raciocinando muito bem, e ficando cada vez mais vermelho toda vez que tentava abrir a boca para tentar dizer algo.

Jimin estava descontando pela hora que Jungkook voltou com o cabelo preso.

— J-já saí do b-banho. – Anunciou.

— Tô vendo.

— E-então já pode ir também. 

Sem motivo aparente, Jimin gargalhou alto, fazendo os olhos de Kook se voltarem para si.

— Por que está vermelho agora? Você sabe, já viu isso antes. – Provocou, se aproximando. — Além disso, por que não fica tão vermelho assim quando me pede pra chupar sua língua?

— É por c-causa da coceira. – Mentiu. — Hyung, eu fiquei todo vermelho por causa da folha de acerola, você sabia? – Tentou mudar de assunto.

— Deixa o hyung ver. 

Sabia que o inquilino estava tentando arrumar um jeito de mudar de assunto, mas mesmo assim, aquilo não deixava de ser verdade. Deixou que ele pensasse que sua ideia tinha funcionado. A provocação poderia esperar, tinham todo o tempo do mundo para isso.

Sua preocupação agora era Jungkook e sua coceira.

Lembrava-se muito bem do quanto a pele do garoto era sensível, tanto que, ele só usava perfumes feitos especialmente para crianças e bebês. 

— Já passou? – Perguntou, passando o dedo na bochecha dele. — Tá coçando ainda?

Goo negou.

— Eu já tomei banho e passei meus produtos, hyung.

— Tem certeza?

— Sim. 

Jeon estava respondendo retoricamente, não estava focado na conversa nesse momento. Seus olhos, sem sua permissão, desceram para o abdômen perfeitamente definido de Park. E, nossa…ele ficou sem fôlego com a visão que teve. Jimin estava suado, o suor trilhava um caminho do pescoço e descia por toda a barriga.

Levou as mãos até os ombros alheios, porque nunca sabia o que fazer com as mãos quando tinha Jimin assim, tão perto.

Não conseguia raciocinar. Ter Jimin ali, com a mão em sua bochecha e os corpos separados apenas por um mínimo centímetro, era a causa.

Aquilo não passou despercebido por Jimin, que, da forma mais descarada possível, mordeu os lábios para conter um sorriso. Os olhos de Kook estavam tão arregalados e vidrados em seu corpo, que nem se deu ao trabalho de continuar a provocação, ela já tinha dado certo.

Mais um ponto para Park.

— Deixa eu ver uma coisa. 

Não deixando tempo para a pergunta que Jungkook provavelmente faria, Park enterrou o nariz no pescoço dele, depois deu uma fungada forte, tão forte, que os pelos de Kook foram incapazes de permanecerem quietos. Com apenas aquele gesto, estava completamente arrepiado, e, consequentemente, mole. O mais velho precisou segurá-lo para que não se espatifasse no chão mais uma vez.

— Cheiroso como sempre. – Disse, afastando-se. — Acho que é minha vez de tomar banho.

— Está suado… – Comentou, sem motivo aparente, apenas para não ficar calado e parecer fraco demais.

— Então eu vou.

Jeon assentiu, sem dizer nada. 

— Vai lavando as frutas, pode ser?

— Pode ser.

O loiro afastou-se, pronto para caminhar em direção ao banheiro, mas foi impedido pelo outro que segurou seu pulso com certa força. Olhou-lhe imediatamente, preocupado, Goo mordia os lábios e olhava para baixo.

— Que foi, doce?

Ah…aquele apelido.

— Aqui… – Apontou para a própria bochecha.

Park franziu as sobrancelhas.

— Tá coçando ainda? Quer que eu compre remédio pra passar aí? – Perguntou, a preocupação podia ser sentida em cada fala proferida, mas Goo negou mais uma vez.

Precisou reunir coragem o suficiente para levar as lumes até as de Park, e, quando os olhares se encontraram, ele sorriu fofo com os dentinhos da frente.

— Me dá um beijinho na bochecha. – Pediu.

Jimin riu desacreditado pela cara de pau. Mas já se aproximando novamente. Não conseguiria negar aquilo.

— Tão carente…

Segurou o queixo de Kook, e com o maior cuidado e zelo do mundo, selou a bochecha gordinha, sentindo Jeon sorrir com o contato.

Logo já estavam se abraçando, como se fosse uma despedida. Jungkook tinha dessas de fazer um momento simples se tornar especial.

Através daquele abraço, estava agradecendo ao seu hyung por lhe proporcionar aventuras incríveis, pela manhã, pela noite de conversa fiada, pela paciência, pelo esforço. 

Inteiramente grato por tudo. Grato por simplesmente ter Park, por poder chamá-lo de seu.

Quer dizer, uma amizade colorida com direito à exclusividade já era motivo de festa para ele. Não sabia se o termo "meu" poderia ser utilizado, mas gostava de acreditar que eram um do outro.

Pertenciam um ao outro, e o abraço era um agradecimento.

Quando estava com Jimin, vivia momentos de aventuras, de descobertas…momentos ao qual queria eternizar.

Mas, neste momento, a única coisa que poderia oferecer como recompensa, era um abraço. E para Jimin, aquilo bastava. Ter Jeon em seus braços era a melhor recompensa do mundo.

O fato do mais velho estar sem camisa e todo suado, não importava mais, porque agora, Goo não estava dando atenção a isso. Tinha tantas coisas se passando em sua cabecinha.

Não eram pensamentos ruins. Não. Ele não deixou que sua mente trabalhasse em teorias e hipóteses. Guiou os pensamentos para o seu lugar de conforto, o seu lugar de paz. Não era um lugar, era uma pessoa.

Jimin.

— Já estou com saudade, hyung. – Jeon disse com a voz arrastada. Alisava a costa do mais velho, sentindo a textura de sua pele.

— Eu só tô indo pro banho. – Riu, o apertando em seus braços, compartilhando do mesmo pensamento. — Eu acho muito engraçado o seu jeito. 

— Como assim? – Franziu as sobrancelhas.

— Tava morrendo de vergonha por causa da minha semi nudez, e agora está agarrado em mim igual um coala. 

Ah! Esse hyung!

Não era pra ele ter dito aquilo, porque agora, Kook se lembrou que estava o abraçando enquanto ele estava sem camisa.

— Você tem que entender que meu foco é outro nesse momento, Ji. Eu ainda estou morrendo de vergonha. – Respondeu, indignado. — E vai tomar seu banho!

Ficou aliviado de estar com o rosto na curvatura do pescoço dele, porque agora, seu rosto pegava fogo de tanta vergonha.

— Tudo bem, tudo bem. – Ele estava feliz também. O sorriso em seu rosto denunciava isso.

— Você não se sente desconfortável se eu te olhar assim, Ji?

— Não. – Respondeu de imediato. — Pode olhar a vontade, eu deixo. Você tem permissão para qualquer coisa.

— V-você… – Houve uma pausa. Estava relutante quanto a próxima fala, mas não queria que Jimin pensasse que não confiava nele. — Você t-também tem per…

— Tô indo pro banho agora.

Sem deixar que Jeon completasse a fala, Park o interrompeu assim que notou a relutância e inquietação para retribuir a fala. Conhecia o menino bem demais para saber que falar aqui era quase como um gatilho, e, além disso, percebeu que Goo só ia dizer porque ele disse primeiro.

Se não fosse por livre e espontânea vontade, Jimin não queria ouvir.

No instante seguinte, já estava dentro do banheiro, deixando um Jungkook confuso mas aliviado para trás.

                                  🍋

Jungkook lavava as frutas com um sorriso enorme no rosto, orgulhoso pelo trabalho deles. Organizou frutas para comerem de café da manhã, e em um potinho para levar para escola e dividir com seus outros hyungs.

O café da manhã foi rápido, conversaram um pouco, riram um pouco e assistiram um pouco. Foi uma manhã repleta de aventuras e muito, muito amor.

Enquanto Goo escovava os dentes e passava um perfume se preparando para ir para escola, o celular de Jimin tocou, mostrando uma foto linda do senhor e da senhora Jeon. Ele atendeu de imediato com medo de que algo estivesse acontecendo.

— Alô? 

— Alô, Jimin? – Reconheceu a voz doce e suave de Areum. Parecia contente em falar consigo. — Eu tô ligando pra avisar que vamos depositar o dinheiro agora mesmo, também vamos enviar uma boa quantia para as compras e contas, tudo bem?

Jimin ficou em silêncio por um tempo, fechando os olhos com força, envergonhado e sem saber o que responder.

— Ah, não precisa mandar dinheiro a mais…a gente se vira aqui. – Coçou a nuca, desconfortável. 

Não queria ser um abusado que ficava se escorando nos outros. 

Areum sorriu por trás do telefone, agradecida. Era bom ver que Jungkook tinha arrumado pessoas tão boas ao seu lado, não por causa do dinheiro, mas sim por causa do seu jeito.

Isso era tudo que Kook desejava quando era mais novo.

— Eu sei que sim, mas…qual a graça de ter dinheiro se eu não posso ajudar meus meninos? – Jimin deixou que um sorriso escapasse ao ouvir a última frase. 

— Tia… 

Ainda estava bastante hesitante e com receio. 

Sei lá…e se Jungkook pensasse que era um interesseiro?

— Você está cuidando tão bem do nosso Goo, fazendo um papel que nós deveríamos estar fazendo. – A voz soou em um tom tão triste e culpado, que Jimin ficou desesperado sem saber o que falar para confortá-la, mas não teve tempo de dizer nada, pois ela continuou: — Deixe a gente fazer o único papel que nos restou e ajudar com as despesas. Trabalhamos duro durante todo esse tempo para dar uma boa vida ao nosso filho, e você faz parte da vida dele agora, então…

Pensando por esse lado, eles tinham razão. Entendia que não estavam fazendo aquilo por ele, e sim por Jungkook, o único filho deles. Não seria egoísta e orgulhoso a ponto de não deixar os pais do garoto ajudá-los quando trabalharam duro desde o dia do seu nascimento para isso. Por mais que o dinheiro não substituísse os momentos presentes, era uma obrigação que tinham.

Eram bons pais. E…

Que pai gostaria de ver o único filho tendo uma vida ruim? Era por esse motivo que antes trabalhavam tanto.

Agora estava na hora de colher os frutos que tinham plantado um dia.

— Tudo bem, tia. Eu fico um pouco sem graça com essa situação, mas entendo. – Respondeu por fim.

— Não fique, por favor. Estamos dispostos a ajudar não só vocês dois. – O suspiro que ela soltou a seguir, foi um suspiro de preocupação, quase implorando para que o loiro aceitasse a ajuda que estavam dispostos a dar. — Jimin, o Jong-su gosta muito de você e dos outros meninos, não tem um dia que ele não fique preocupado com cada um, sobre as despesas, sobre a família, sobre a aceitação…ele trabalhou feito louco quando Kook nasceu. Queria dar uma boa vida ao filho, queria dar o apoio que ele e o irmão dele não tiveram…Eu já disse, vocês podem nos ver como figuras paternas, então…

— Tudo bem, tia. A gente fica feliz de ter vocês dois. – Sinceridade e gratidão acompanhavam suas palavras. — Vocês podem fazer como acharem melhor. 

— Que bom, querido. Hoje o Jong vai passar para buscar vocês, pode ser? Durmam aqui essa noite, vamos esperar.

— Tudo bem. Tchau, tia.

                                   🏘 

Quando Jeon mais velho foi buscá -los de tardezinha, Jimin e Jungkook foram correndo em direção a vã, onde os meninos os esperavam. Levavam suas mochilas nas costas, e como sempre, o caminho todo foi repleto de piadas e cantorias.

Quando chegaram lá, a bagunça se tornou ainda maior.

O que aconteceu foi que, eles queriam fazer o almoço por conta própria como uma família. Jogar farinha um no outro, se ajudar, se divertir enquanto contavam piadas idiotas.

Senhor e Senhora Jeon ficaram muito empolgados com todos os meninos animados, e aceitaram de imediato, mesmo que sentissem que a cozinha não duraria muito na mão daqueles sete.

Os Jeon's ficaram encarregados de comprar as coisas enquanto os meninos tomavam conta – ou destruíam – a casa. 

Colocaram uma música tão alta, que os tímpanos se sentiam ameaçados. Os talheres eram feitos de microfones, as panelas eram feitas de bateria e as vassouras de guitarra.

Dançavam ao som de Taylor Swift. Balançavam os corpos para lá e pra cá. Sentiam a vibe gostosa que tomava conta de todo o ambiente, gargalhadas contagiosas, sorrisos enormes, uma felicidade além do que palavras poderiam explicar.

Tinham certeza que os caminhos deles eram tortos, porque precisavam encontrar um ao outro durante o processo.

Faziam bem um ao outro. Os sete tinham histórias e traumas diferentes, mas que, ao mesmo tempo, eram tão parecidas.

Existia um ditado que levavam consigo.

"Não se contente com o pequeno riacho até que tenha a chuva em abundância".

Eram a chuva em abundância um do outro. O arco íris depois de uma tempestade.

Jeon não pôde deixar de notar o quanto aqueles hyungs riam por sua causa. 

Não estavam rindo dele, essa sensação era diferente. O achavam engraçado o suficiente para caírem em gargalhadas altas quando, com uma emoção evidente em seu tom de voz, contou-lhes sobre a história de cada um dos casais que gostava. Ou quando contou-lhes que achava estranho algumas expressões que eles utilizavam.

Jungkook nunca gostou de ser o centro das atenções, era desconfortável porque ele sabia que para isso acontecer, as pessoas teriam que espalhar alguma fofoca sobre si, ou alguma maldade. Nunca foi por um bom motivo. Era melhor ser uma pessoa invisível, assim, no dia seguinte, ninguém mais lembrava das humilhações que teve que passar no dia anterior.

No entanto, ali, agora, com os meninos…gostou de ser o centro das atenções, porque era por um motivo bom.

Gostava de ver como os meninos disputavam para ocupar o posto de melhor hyung. Passavam as mãos em seu cabelo, deixavam beijinhos em sua testa, pediam para ele tomar cuidado toda vez que ameaçava pegar um objeto cortante, e sempre o incluíam em qualquer que fosse a conversa.

Não foi diferente quando foram fazer o almoço. Mesmo sabendo que Jeon era ótimo na cozinha, ficaram do lado dele o tempo todo, garantindo que nada saísse fora do controle.

— Hm…faca, por favor. – Pediu, estendendo a mão, em alguns segundos Jin já tinha lhe entregado uma faca de serra com a ponta redonda. — Obrigado, hyung.

Estavam ao redor de Kook, observando ele cortar o frango em pequenos pedaços e depois colocar na panela de pressão.

Os adultos da casa estavam em outro cômodo depois de voltarem do mercado, resolveram dar privacidade aos meninos.

— Deixa que eu ligo o fogo. – Namjoon se ofereceu. Todos atentos a cada passo de Jeon, e curiosos para provarem o resultado.

Estava fazendo salpicão, uma de suas comidas prediletas, e uma das mais práticas e gostosas que sabia fazer.

Jungkook fez Jimin e Hobi descascarem e ralarem as cebolas. No processo, os dois choraram juntos compartilhando o mesmo ralador. Hobi fungava alto, Jimin também.

Os outros tiveram que ficar na frente deles, garantindo que não iriam desmaiar até que a cebola estivesse ralada.

Yoongi dizia palavras de apoio e incentivo ao Hobi, e Kook fazia o mesmo com Jimin, estava quase chorando junto com seu hyung. Sabia que ele não estava chorando por estar triste, e sim por causa da cebola forte. Mas mesmo assim, seu coraçãozinho partiu ao meio ao vê-lo naquele estado.

Por um momento, se arrependeu de dar aquela tarefa, poderia ter pedido para os dois fazerem outra coisa!

— Calma, hyung. Você tá quase lá. – Deixava beijinhos discretos na bochecha dele, como uma tentativa de acalmá-lo. 

O que foi um pouco difícil já que os meninos olhavam para eles no mesmo instante, desconfiados. 

— Quando eu terminar isso aqui, vou querer um beijo de verdade. – Sussurrou com dificuldade por conta dos olhos que ardiam.

Jungkook estranhou a naturalidade de Park ao proferir aquelas palavras como se não fossem nada demais.

Deixou a timidez de lado, e respondeu-lhe. 

— Tudo bem, Ji. Estou orgulhoso do seu trabalho.

— Vão logo com isso vocês dois! – Diferente de Goo, Taehyung aproveitava a fragilidade dos amigos para gravá-los. A gravação provavelmente tinha ficado tremida ou torta, porque ele gargalhava tanto, tanto, que se remexia para lá e para cá, a barriga até dóia e os olhos lacrimejavam. — Ai, sério. A nossa vida era muito triste sem o Kook. 

— Para de rir da gente! Estou dando o meu melhor! – Exclamou Hoseok. — Tae… – Chamou com a voz arrastada e os olhos pidões.

Tão fofo que derretia qualquer um.

O tom de voz que usou, fez Kim ficar com peso na consciência, ficou um tanto tocado. Encerrou a gravação no mesmo minuto, e depois levantou as duas mãos em sinal de rendição.

— Taehyung tá ficando bem mandadinho. – Jin riu, batendo as mãos uma na outra. 

— Não estou nada. – Defendeu-se. — Eu já tinha gravado quase tudo, para sua informação.

— E perdeu o final porque o Hoseok usou a arma secreta dele. – Yoongi acrescentou. — Nem vou te julgar, porque eu também me rendo facinho quando ele usa esse tom de voz. 

Tae desviou o olhar, negando com a cabeça.

— Terminamos! – Jimin comemorou aquilo como se tivesse acabado de ganhar o campeonato mais disputado do mundo. Levantou as mãos para cima, e limpou as lágrimas que tinham rolado por seu rosto.

— Finalmente, né? – Taehyung alfinetou.

Park teria retrucado se não fosse por Jeon passando a mão em seu braço e sorrindo. Até perdeu o raciocínio.

— E agora, Kook? – O platinado perguntou, pegando uma faca pontuda. 

— Hm…você e o Jin-hyung podem descascar e ralar a cenoura?

— Você que manda, bebê. – Jin disse, pegando outra faca depois de lavar as mãos.

Eles fizeram isso sem dificuldade, mesmo que de vez em quando Yoongi reclamasse que quase tinha perdido um dedo no ralador.

Goo achou uma brecha.

Aproveitou que todos estavam entretidos em como a cenoura ficava com o formato diferente quando era ralada por diferentes raladores, e puxou Jimin para o cantinho.

A cozinha era grande, então dificilmente alguém os veria, já que estavam atrás da grande geladeira.

— O seu beijo, hyung. – Explicou ao ver a cara de confusão do outro quando já estavam no cantinho.

— Ah, é verdade. O meu beijo… – Colocou as mãos na cintura dele, fazendo um carinho suave. — Minha mão deve estar com cheiro de cebola, então é melhor não colocar no seu rosto. 

Jungkook sorriu, assentindo com a cabeça.

— Que pena, eu amo quando você fica fazendo carinho na minha bochecha. – Passou os braços ao redor do pescoço de Park, se aproximando conforme ia falando. Os olhos se fecharam em expectativa, e primeiramente, ele só encostou as testas, sem saber como o beijo rolaria já que Jimin não fazia menção alguma de tomar iniciativa. — Meu hyung…

— Tô esperando o beijo que você está me devendo. Se demorar muito, vou começar a cobrar os juros.

— Posso te pagar parcelado? – Brincou, entrando no clima.

— Quantas vezes?

— Em várias, hyung. Pra sempre.

— Pra sempre? Isso é muito comprometedor. – Esfregou os narizes, querendo mais que tudo tomar os lábios do garoto, mas se controlou. — Será que você consegue?

Jungkook assentiu com a cabeça, mesmo que Jimin não estivesse vendo por estar com os olhos fechados também.

— Eu consigo. – Afirmou mais para si mesmo do que para Jimin.

Sabiam que não estavam falando apenas das parcelas do beijo.

— Não temos muito tempo, doce…me beija logo.

Sem conseguir se conter mais, Kook selou os lábios, tomando a iniciativa dessa vez.

Foi estranho não ter a mão de Park em seu rosto durante o beijo, foi estranho ter que conduzir o beijo quando sempre se rendia aos comandos de língua de Park.

Mas era sempre tão bom beijá-lo. Sentir ele chupando sua língua, sentir ele puxando seu lábio inferior entre os dentes ao final do selar, sentir ele fazendo um carinho de leve em sua cintura, sempre o respeitando e jamais o tocando de forma indevida, e sentir o carinho que lhe dava sempre que finalizavam o beijo com vários selinhos e dois grandes sorrisos.

Terminou o beijo quando ficou sem ar, mas Jimin o puxou de volta, querendo mais.
 
— H-hyung, eu preciso respirar. – Disse com a respiração desregulada. Quase sem ar.

— Tá bom, eu espero. – Sorriu, distribuindo vários selinhos pelos lábios alheios, aguardando.

— É melhor a gente ir. Os meninos podem sentir nossa falta.

Jimin suspirou, apoiando a testa no ombro dele e o puxando para um abraço, sabendo que Kook tinha razão.

— Lindo. – Elogiou quando Jungkook o abraçou de volta e deixou um beijo molhado em seu rosto. — Você tem muitas parcelas para me pagar ainda.

                               💋

Os dois voltaram rapidamente, os lábios com uma tonalidade mais forte, mas nada muito exagerado. Encontraram os meninos cochichando entre si, Jungkook pensou que eles tivessem escutado e ficou vermelho só de pensar nisso. Que vergonha.

Já pensou se eles descobrissem que beijava Jimin? Seu hyung com certeza não queria isso.

Jimin, por outro lado, estava tranquilo. Até porque já tinha contado para os amigos que beijava Jeon.

Ops…

Aquela era uma informação que deveria contar a ele.

— O que estavam fazendo? – Nam semicerrou os olhos. 

— Conversando sobre contas e parcelas. – O loiro deu de ombros.

Sabia que eles estavam desconfiados, mas se fingisse que não ligava, acabariam deixando para lá.

Foi o que aconteceu.

Prosseguiram com a receita, e descobriram que Yoongi e Jin tinham muito talento na cozinha. Fizeram aquilo como se não fosse nada em questão de alguns minutos.

E chegou a vez de Taehyung.

Ele tirou os caroços das azeitonas e as cortou em pedaços pequenos, como foi lhe mandado. Jungkook pediu para Hobi mexer o frango, porque os meninos disseram que ele tinha que descansar um pouco.

Jimin ficou ao lado dele o tempo todo, dando água, atenção, e até um carinho discreto.

E agora, Namjoon tinha uma das mãos apoiadas no queixo, encarando Jeon com os olhos quase brilhando em expectativa. Queria saber como ajudaria já que cada um teve uma função na ajuda para a preparação do almoço.

— Tá cheirando bem. – Yoongi parecia faminto. Cheirava o ar e depois fechava os olhos, colocando a mão na barriga, e revirando os olhos como se aquele gesto fosse fazer sua fome passar.

Não adiantou, óbvio.

— Para de ser morto de fome. – Murmurou Jimin.

Não havia ninguém mais pleno do que ele naquela cozinha. Era até estranho vê-lo daquela forma.

É claro que estava assim porque sabia que era o hyung favorito de Jeon. Jungkook alimentava seu ego toda vez que dava algo em sua boca para que pudesse provar, enquanto os outros ficavam boquiabertos e "chateados" com o tratamento especial que recebia.

Claro que Goo deixava os meninos provarem e os tratava com muito amor, mas havia um diferencial em Park, o que não era surpresa pra ninguém.

— Você manda bem na cozinha, Kook! Podia me ensinar qualquer dia. – Namjoon disse, capturado um pedaço de cenoura. Apesar de falar de modo descontraído, Jeon assentiu com a cabeça, pensando que talvez Namjoon estivesse se sentindo triste por não poder ajudar – isso porque os meninos disseram que ele poderia fazer outra coisa que não envolvesse cozinhar ou descascar alguma coisa.

— Nam, não se preocupe com isso. Com um pouco de prática, você vai ser o melhor cozinheiro do mundo! – Disse confiante, e Namjoon sorriu grande por ter alguém que acreditasse em seu potencial.

Quer dizer, os meninos tinham motivos para desconfiar dele na cozinha. Mas pano de prato é uma coisa que se pode comprar, os sonhos, não!

Não importava se já tinha quase colocado fogo na casa umas quatro vezes.

— Acredite, Kook, nem você consegue fazer ele ser bom na cozinha. – Yoongi riu, sendo acompanhado pelos outros.

— Ele já é bom em outras coisas, eu fico com a parte da cozinha. – Jin murmurou, abraçando o namorado para confortá-lo. 

— Você cozinha e ele te come. – Yoongi brincou em um murmúrio, escorando a cabeça no ombro de Tae. Os meninos deram risada, Namjoon e Jin nem fizeram questão de protestar alguma coisa.

Mas Jeon precisou voltar a mexer na panela e desviar o olhar. Devia estar todo vermelho agora! 

Arregalou os olhos quando notou que tinha entendido aquilo rápido demais. Meu Deus!

O convívio com os garotos já estava começando a ter efeitos.

Enquanto mexia o frango aleatoriamente  porque não tinha nada para mexer, sentiu alguém o abraçando por trás.

Deu um sobressalto tão grande que quase caiu de cara na panela, isso se não fosse pelos braços lhe segurando antes que isso acontecesse.

Não era Jimin ali, ele reconhecia Jimin só pelo cheiro.

Era Hobi, a confirmação veio quando sentiu ele escondendo o rosto em seu pescoço e rindo baixinho.

A risada era única.

— Nossa, você é tão cheiroso! Agora entendo o toquinho. – Disse chocado pouco antes de enterrar o nariz e dar uma fungada forte. Jeon se esquivou, rindo. Fazia cócegas. — Gente, vocês já cheiraram o Kook? Nossa, venham aqui.

Jeon deixou o frango no fogo, e afastou-se rapidamente quando viu os meninos – com exceção de Jimin – quase pularem em cima de si para sentirem seu cheiro. Se esquivava a todo momento, gargalhando alto e tentando afastá-los para que pudesse respirar.

— Hyungs, minha barriga está doendo de tanto rir, por favor! – Praticamente implorou, mas os meninos seguiram fungando seu pescoço como se fossem cachorrinhos.

Jimin sentou na cadeira com os braços cruzados e observou aquela cena com as sobrancelhas franzidas.

— Ih, não quer cheirar o mozão não, é? – Yoon não perdeu tempo para lhe provocar. Recebeu um olhar de desdém. — Tá com ciúme, toquinho?

Ele caminhou e segurou Jeon pela mão, afastando os meninos antes que o menino mijasse nas calças de tanto rir.

Eles ficaram indignados, enquanto Kook dava risada e se escondia atrás de Park.

— Eu faço isso todo dia. – Respondeu a pergunta de Yoongi. Empinou o nariz, se gabando por ter esse privilégio. 

— Nossa, não sabe nem brincar. – Hobi estalou a língua no céu da boca.

— Nam-hyung, você pode me ajudar a desfiar o frango! – Goo disse do nada, sorrindo grande pela ideia que teve.

— Sério? – Perguntou desacreditado.

— É, sério? – Os outros perguntaram em uníssono com as sobrancelhas franzidas.

— Sim. Vocês tem que deixar o hyung ajudar, ele nunca vai aprender assim! – O tom de voz que usou foi de repreensão. Bateu o pezinho no chão e negou com a cabeça, pegando na mão de Namjoon e o guiando até a cadeira para depois despejar o frango e dar a ele dois garfos. — Você consegue, tá bom?

— Valeu, Kook!

Ah! A cena foi tão fofa.

Namjoon nem parecia aquele marmanjo de quase um e noventa. Ficou tão felizinho desfiando o frango, que acabou fazendo os meninos se sentirem culpados.

Comemorava toda vez que terminava de desfiar um pedacinho. Mostrava para Kook, querendo receber um elogio, e o menino sempre dizia que ele era muito bom naquilo.

Todo mundo ajudou a misturar os ingredientes em uma forma junto com a maionese. Namjoon forrou com batata palha, e estava pronto.

Eles almoçaram do lado de fora, sentados na área da grande casa. Areum e Jong-su elogiaram os meninos e aprovaram a comida deliciosa que tinham feito.

Era bom ter a casa cheia.

Durante a tarde, jogaram bola no campo de futebol. Pularam no pula-pula que tinha ali, colocaram sabão e detergente para escorregarem na lona. Todos participaram.

Quando cansaram, tomaram banho e entraram para dentro. Jogaram uno, assistiram, conversaram sobre a vida dos famosos, sobre a vida alheia e sobre a própria vida.

Jin fez as unhas de Areum, e Taehyung fez massagem no pé de Jong-su, porque ele estava todo inchado por causa da tarde divertida que tiveram.

Jimin e Jungkook sumiam de vez em quando para trocarem beijos e abraços. Ou se enfiavam debaixo das cobertas para se beijarem à vontade.

Foi um dia tão divertido, que eles não queriam que acabasse. 

Era incrível como se sentiam à vontade na casa dos Jeon's. Já era praticamente da família.

Abriam a geladeira, pegavam coisas para beber, para comer, para jogar. Entravam nos quartos, pulavam no sofá, colocavam música para dançar.

Naquela tarde, tiveram certeza que Senhor e Senhora Jeon eram adolescentes que tinham crescido demais. A diferença de idade era grande, mas quando conversavam até se esqueciam disso.

Era bom estar em família. Era bom poder ser eles mesmos, e era melhor ainda ter alguém para chamarem de pai e mãe.

                                🦸‍♂️🦸‍♀️

— Na sala então? – Yoon perguntou.

Quando anoiteceu, o assunto era onde iriam dormir. Estavam discutindo isso a pouco mais de doze minutos. Cada um tinha uma opinião diferente.

A casa era grande, tinha muitos cômodos que queriam explorar, mas queriam dormir todos juntos.

— Mas eu queria algo diferente. – Murmurou Hobi.

— Dorme no banheiro então. – Jin disse sarcasticamente.

— E se ao invés da gente dormir na sala, a gente montasse algumas barracas lá fora e acendesse uma fogueira?

Para a surpresa deles, a ideia partiu de Jimin. Esperariam aquilo de Jungkook ou Hobi, mas foi uma surpresa até mesmo para os Jeons, que o conheciam a pouco tempo em comparação aos outros. 

Sem deixar que Jungkook e Jimin percebessem as trocas de olhares desconfiados que rolaram ali, se limitaram a apenas gritar pela animação, e como de costume, pular em grupo. Areum tinha certeza que tinha perdido, pelo menos, dois quilos apenas naquele dia. A quantidade de vezes que pularam toda vez que se animavam com algo, chegava a ser engraçada. 

Sentia-se como uma adolescente de novo, tal como Jong su, que não perdia um só minuto parado. 

Queria realizar todas as vontades dos meninos que, agora, eram seus filhos do coração. Queria que se sentissem em casa, que confiassem em si.

Era tão gratificante ser o apoio deles. A história do seu irmão era a causa disso, via seu irmão caçula naqueles meninos, principalmente em Jin, talvez por isso tinha um carinho especial por ele.

Jin e Namjoon eram um casal forte, e tudo que Jong-su queria era ver a felicidade deles. Vê-los ultrapassar todo o limite que a sociedade impunha para eles por serem um casal fora do padrão.

Não era muito diferente com Yoongi, Hoseok e Taehyung. Queria o bem de cada um.

E bem…Jimin e Jungkook, o Jeon mais velho desejava que lutassem pelo amor que tinham, e que fosse tão duradouro quanto seu amor por Areum.

Tinha uma família ali. Não era a família que um dia imaginou, não. Era muito melhor.

Quando pessoas do seu sangue viraram as costas e fizeram ele se sentir deslocado na própria família, quem o entendeu foram aqueles meninos que, agora, pulavam de alegria com a sua esposa. 

Ele os entendia, e os meninos entendiam ele.

Seu menino tinha sorte.

— Deve ter algumas barracas lá em cima. – Areum disse, chamando a atenção deles. — Quem vem comigo?

— Eu vou! – Jin ofereceu sua ajuda, parando ao lado da mulher. 

— Eu também. – Disse Taehyung, animando-se com a ideia de passear pela casa grande.

Vendo que Jimin e Jungkook eram os únicos que pareciam imersos em seu próprios mundinho, Jong-su fez um barulho com a garganta, tentando chamar a atenção deles.

Todo mundo virou para trás, a fim de saber o que aqueles dois estavam fazendo que demoravam tanto pra responder.

Jungkook abraçava Jimin, agradecendo pela ideia que, na verdade, havia sido sua. Comentou com Park mais cedo sobre a vontade de acampar, mas, achou que ele nem estava dando importância para mais uma das suas prosas aleatórias. 

Esqueceu-se o quanto aquele hyung era incrível, e que sempre prestava atenção em si, por mais que o assunto não fosse do seu interesse, os olhos estavam sempre atentos a cada fala e cada informação que dava sobre coisas do seu gosto.

Era bom ter alguém que se interessasse por cada coisa boba que falava. E por mais que agora Jimin sussurrasse em seu ouvido que aquilo não tinha sido por causa dele, Jeon sabia que era mentira, qualquer pessoa conseguiria distinguir aquilo. 

O sorriso que se rasgava no rosto de Park toda vez que notava um sorriso vindo de Jeon, acabava completamente com sua pose, se entregava sozinho. Como sempre, os dois estavam aos sussurros e se esqueceram completamente que havia pessoas à volta, pessoas curiosas, vale lembrar.

Yoongi tentava se enfiar no meio deles para saber o que tanto cochichavam, para depois informar aos outros que também desejavam saber. 

Se já eram fofoqueiros naturalmente, imagina só quando se tratava do casal que sempre quiseram juntos. 

— Escuta, eu também quero saber! – Taehyung disse se referindo aos segredos que compartilhavam um com o outro aos sussurros. 

Os dois pareceram se dar conta da situação só naquele momento, porque assim que olharam para frente e se separaram em desespero, viram aquele monte de olhares curiosos sendo direcionados a eles.

Não foi novidade para ninguém quando as bochechas de Kook ficaram vermelhas, ou quando ele tapou as orelhas para tentar esconder a vermelhidão que, com certeza, estava tomando conta dela nesse momento.   

Quando olhou para Yoongi e notou o olhar malicioso que lhe lançava, como se soubesse de tudo, Jungkook correu com as mãos nas orelhas, para ficar ao lado de Jong-su, deixando que os olhares agora fossem direcionados apenas para Park.

Porra.

— O que eu perdi? – O loiro perguntou-lhes, tentando afastar a curta vergonha que quis se apossar sobre si ao perceber que todos estavam o analisando freneticamente. — Estavam falando sobre o que?

— Eu tava falando que quero saber o que você e o Kook tanto dizem um para o outro. – Taehyung respondeu simples, roendo a unha antes que a curiosidade o corroesse.

A expressão no rosto de Park ficou indecifrável. Os olhos percorreram por cada um, até pairarem em Jeon. Franziu as sobrancelhas e, se fazendo de desentendido, deu de ombros.   

— Para de ser fofoqueiro, Taehyung. Vamos logo com isso.

Eles então olharam para Jungkook, que estava escondido atrás dos pais. O garoto negou com a cabeça, quase implorando para que não lhe perguntassem nada.

Ficaram alguns segundos o encarando com os olhos semicerrados.

— Tudo bem, então. – Jong-su disse por fim, colocando um ponto final naquele assunto. E só então, Jungkook soltou todo o ar que nem sabia que prendia. — Eu, Jin, Taehyung e Areum vamos ir buscar as barracas, vocês cuidam do resto? 

— Pode deixar. Eu tomo conta de tudo. – Yoongi afirmou, achando que aquilo deixaria eles tranquilos.

Jeon mais velho sorriu soprado.

— Tenho certeza que vai, Yoon. Te dou meu voto de confiança.

— Valeu! – O platinado sorriu, grato.

— Jungkook sabe onde ficam as coisas, qualquer dúvida, perguntem para ele. – Aconselhou, pouco antes de sair com Jin, Tae e Areum em busca das barracas.

                                     🏘

Eles caminharam em um silêncio confortável até a parte de cima da casa. Era escura e muito silenciosa, Jin se perguntou se teriam uma barraca ali mesmo.

Quando acenderam a luz, a claridade tomou conta do local. Era um quarto grande, com as paredes brancas e uma decoração incompleta.

Conforme iam andando, conseguiam ver quadros, pinturas, fotos. Um dos quadros pintados chamou a atenção de Taehyung.

O quadro tinha uma pessoa pintada de preto, a expressão confusa e chorosa, um curto espaço entre uma nuvem negra que ficava acima dela. Dentro da nuvem, havia vários pontos de exclamação, interrogação, e até mesmo rabiscos grandes, como se a pessoa não soubesse mais o que pintar para se expressar. 

Interpretou que a pintura representava uma pessoa com sentimentos confusos. Os pontos de interrogação significavam confusão, incerteza, medo do que viria a seguir. Os de exclamação, representavam indignação, animação, ansiedade.

E os rabiscos, ele não soube dizer, assim como não conseguia explicar sobre seus próprios sentimentos ou sobre o aperto que sentia em seu coração ao se identificar com o quadro.  

Ficou bons minutos ali, analisando cada detalhe enquanto os três buscavam as barracas.

— Tudo bem? – A mulher parou ao seu lado, encarando o quadro também. A voz suave trazia calma a Taehyung, mas ele não conseguiu tirar o foco da pintura.

— Sim, tudo bem. 

Ele tentou sorrir, mas Areum sabia que não estava tudo bem.

A voz vaga e sem emoção denunciaram sua mentira. Aquele não era o Taehyung de sempre. Estava pensativo, ela queria tentar entendê-lo para ajudá-lo.

— O que está sentindo olhando pra isso? – Ela perguntou, segurando uma das barracas na mão esquerda.

— Não sei explicar, tia. – Murmurou, passando a mão sobre a tela.

— Medo? Confusão? Tristeza? Ansiedade?

— Acho que um pouco de tudo. A senhora não acha besteira ficar sofrendo por um amor que ainda nem existe? – Agora que tinha dito aquilo em voz alta, pareceu ainda mais patético. — Tipo, é muito desespero ter medo de ficar sozinho?        

Queria continuar mentindo dizendo que estava bem, mas do que adiantaria?

Só estaria mentindo para si mesmo.

— Não é desespero querer alcançar a felicidade também. Não que alguém precise de outra pessoa para ser feliz, mas é melhor enfrentar as batalhas quando se tem alguém ao seu lado, pronto para lhe defender e lutar com você. 

— Ai, tia…E se ninguém estiver disposto a lutar comigo? – Suspirou alto, jogando a cabeça para trás. Era horrível ter esse tipo de pensamento, mas ultimamente não conseguia evitar.

Ela deixou a barraca em cima de um pequeno sofá, e, carinhosamente, o puxou para um abraço. Ele não esperou que ela dissesse algo, retribuiu o abraço com tanta intensidade, que Areum quase conseguia sentir sua dor.

— Eu tenho certeza que vai aparecer alguém disposto a lutar não só com você, mas por você. – Passou as mãos pelas costas dele em movimentos suaves, e, nossa…

Taehyung estava precisando tanto daquele abraço que nem viu o momento em que derramou a primeira lágrima.

— O problema, tia, é que eu nem sei se gosto de alguém ou se só estou confundindo as coisas. E é tão frustrante sentir que esse lance de amor não foi feito pra mim. Eu não quero que minha família esteja certa, mas é o que parece…     

— O que sua família diz a respeito disso? – Ela perguntou com jeito, sem parecer insensível ou sem deixar que a raiva aparecesse em seu tom de voz.

Era um misto de emoções, sentiu curiosidade e raiva em pensar que a própria família estava o deixando assim.

— Ninguém da minha família teve um casamento bom, sabe? Estão sempre brigando, xingando um ao outro, se batendo, e eu não ligava muito porque já estava acostumado. Mas de uns tempos pra cá, minha tia me disse que era pra eu me preparar porque isso era hereditário…

— Querido, isso não é verdade…

— Quando eu olhei para mim, o único que não tinha uma pessoa e que nem se interessava por ninguém, fiquei com medo daquilo ser verdade. Acho que quero o amor, mas tenho medo dele.

— Você não precisa ter medo do amor, e não precisa ficar preocupado quanto a isso. Quando a pessoa certa, ou as pessoas certas aparecerem, você vai saber. Não precisa sair em busca do amor, o amor virá até você.

Taehyung soltou um murmúrio, o equivalente a concordância. Depois franziu as sobrancelhas, tentando entender o que ela quis dizer com "as pessoas".

Depois da conversa que teve com os meninos, Tae mandou uma mensagem para Bogum querendo saber se ele sentia algo a mais. Mas a resposta que recebeu foi um áudio de um minuto de Bogum dizendo que não sabia e que ainda estava confuso. Então, não quis saber mais.

De confuso já bastava ele.

A partir daí, Bogum mandava mensagem todos os dias, querendo saber como estava ou se eles podiam se encontrar, mas Tae negou todas as vezes.

Aí que entrava o problema. Como ele queria namorar se sentia-se preso quando tinha conversas mais profundas com alguém?

Bogum era alguém bonito, legal, carinhoso. Então, onde estava o problema?

O conselho de Areum ficou em sua cabeça. Ali, no abraço de uma figura materna que o entendia, ele ficou aliviado. Como se só precisasse daquele abraço ou daquele apoio que ela lhe ofereceu.

Estava certa. Não tinha que tentar achar o amor, o amor viria até ele.

— Obrigado, tia. – Agradeceu, se afastando. Deu o melhor sorriso que conseguia no momento, e ela retribuiu da mesma forma. — Tô me sentindo melhor agora.

— Tem certeza? 

— Tenho. Eu não fico triste por causa disso sempre, sabe? É só que às vezes me dá uma crise existencial e esse tipo de pensamento ronda minha mente.

— Isso é normal. Acontece até comigo  que sou mãe, casada há anos, e tenho minha vida feita…não pense que você é uma exceção, querido. Todos nós passamos por isso.

Ele soltou um suspiro aliviado.

— É mesmo, né? 

— Você só precisa parar de pensar que alguém pode determinar seu futuro. Você é você, sua família é sua família, eu sou eu. Cada pessoa tem o poder de decidir sua própria história.

— Tem razão…– Um pequeno sorriso brincou em seus lábios. — Obrigado, tia. Obrigado por me entender e por se preocupar comigo. Posso te pedir uma coisa? – Ela assentiu. — Isso pode ficar só entre a gente? Já conversei sobre isso com os meninos e não quero que eles pensem que estou chorando pelos quatro cantos da terra por causa de amor. – Revirou os olhos.

Areum sorriu, fazendo um zíper na boca e depois jogando a chave imaginária fora.

Taehyung sorriu, de verdade agora. Aquele sorriso quadrado que fazia o peito de Areum se encher de felicidade também.

Realmente gostava muito daqueles meninos. 

— Nem pro meu marido? – Perguntou brincando.

— Hm…pode contar pro tio. – Autorizou, sorrindo junto com ela. — Mas corta a parte que eu chorei, por favor.

Confiava neles e queria que senhor Jeon soubesse como estava também, ele ficaria feliz em saber que Taehyung estava confiando neles para contar algo assim.

— E não se preocupe. Eu ainda tenho uma amiga beirando os oitenta. – Lhe lançou uma piscadela.

— Ela é rica? – Perguntou, animado. — É?!

Areum pegou novamente a barraca, e recebeu a ajuda de Tae.

Parou para pensar por um tempo.

— A casa dela é três vezes maior do que a nossa.

— Cara, essa informação foi melhor do que terapia. Pode me passar o número da velha?

Era esse Taehyung que ela queria. O brincalhão, o sorridente e o animado.

Mais rápido do que ficou triste, ele voltou a ficar feliz.

Já nem parecia o garotinho que estava chorando em seus braços a pouco mais de três minutos. Agora, ajudava Jong-su e Jin a tirar a poeira das barracas, já que elas estavam ali há bastante tempo.

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