OUTSIDER

By Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... More

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By Thsiol

Oh seus capetas do caralho, todo mundo comentando a fic no twitter, né?

Quero interagir com todos, mas nem sempre acho. Comentem usando a #OutsiderCS, para eu poder achar vocês, INFERNO!!!!!

A propósito, meu twitter é: @thaynasioli

Tenho um perfil no Tik Tok onde faço uns edits também: @thsiol

Outra coisa: Tem leitores de Uberlândia/MG aqui? Me mudei recentemente, queria novas amizades.

Me sigam, capetas!

E bom capítulo...

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Abri os olhos naquela manhã, sendo recebida pelos raios do sol que insistiam em entrar pela brecha das cortinas. Me estiquei, alongando meu corpo e percebendo que os braços que me serviram de abrigo de repente não estavam mais na cama. Torci os lábios. 

Quem ela pensava que era para acordar, sair da cama e me deixar sozinha?

Meu emputecimento não durou tanto quanto eu gostaria. Olhei para a ponta da cama, percebendo umas peças de roupas dobradas e passadas. Era manhã de domingo. Isso explicava o short moletom cor preto, e minha camisa do Ramones. Era dia de ficar em casa, relaxada. Camila queria que eu me sentisse confortável naquele dia preguiçoso.

Fui para seu banheiro e usei seu chuveiro. Havia pensado em usar sua hidromassagem, mas isso demandaria muito tempo e eu só queria algo para acordar. Espero que ela não se incomode por eu estar usando seus shampoos caros, sabonete líquido de baunilha e óleo pós banho.

No balcão do seu banheiro, uma escova nova ainda na embalagem. Cerrei os olhos, ainda vestindo a toalha. Estávamos usando o mesmo espaço para as escovas de dente. Isso me lembra casamento, coisa que definitivamente não temos. Sequer um namoro. Sentimento existia. Bom, eu acho. Eu gostava dela e tenho quase certeza que ela gostava de mim também. Teria certeza se suas palavras tivessem sido mais claras ontem a noite… Enfim, é manhã de domingo. Não dá para exigir muito do meu cérebro agora.

Devidamente limpa e com os dentes escovados e cabelos lavados, quando eu saí do quarto, sua cama estava arrumada. Os empregados dessa casa são literalmente fantasmas: eu quase não os vejo, e eles fazem suas tarefas em silêncio e sem serem vistos também. Dessa vez eu tinha certeza que não era Emma, pois no quadro da cozinha percebi que ela folgava aos domingos e os demais só trabalhavam até o horário do almoço. De qualquer forma, fazer o sinal da cruz nunca era demais.

Quando cheguei até a sala, notei um silêncio estranho. Camila balançava uma de suas pernas enquanto tinha o telefone pregado à orelha. Uma de suas mãos massageava sua testa enquanto seus olhos estavam fechados e ela parecia respirar fundo a todo instante, controlando sua boca.

Me aproximei, tentando não interrompê-la. Estava curiosa também. Seus olhos se abriram com a minha movimentação. Estavam marejados e com um misto de raiva e impaciência. Ela estendeu a mão para mim, e quando encaixei meus dedos aos dela, Camila os apertou, como se de forma silenciosa me pedisse para não deixá-la. Me ajoelhei na sua frente enquanto ela tremia.

— O que aconteceu? — perguntei preocupada, baixo para que isso não a atrapalhasse na ligação.

— Eu já entendi. — ela respondeu, mas tudo indicava que não era para mim. — Eu sei, Tom. Eu já disse que entendi. Você não me deixa esquecer isso por nenhum minuto.

Sua mão afastou o celular da orelha para ativar o viva voz.

Eu assinei aquele maldito acordo em que concordava com a guarda compartilhada do meu filho, não assinei? — a voz do homem rosnou do outro lado da linha. — Assim como você disse que iria lutar e lutou, tirando dos meus braços a coisa mais importante da minha vida. Tudo o que eu pedi para aquele seu advogado de merda é que não houvesse nenhuma alienação parental, e eu sinto que é exatamente isso o que está acontecendo. Eu chego do trabalho exausto todas as noites e sequer consigo descansar direito por não saber se meu filho ainda está vivo pois ele nem sequer responde minhas mensagens.

— Henry está bem, Tom. — respirou fundo, revirando os olhos. Suas pernas ainda balançavam. — Ele está entrando na adolescência, vivendo coisas novas, não seja dramático pelo amor de Deus! Se ele não responde uma mensagem sua você não tem que vir até a mim criar um inferno, combinado? Respeite o espaço dele, e outra; Eu sei cuidar do nosso filho, tá bom? Não aja como se ele fosse unicamente teu, pois o fizemos juntos, o vimos nascer juntos então você não é ninguém, ninguém para tirar a maternidade de mim.

Que maternidade, Camila? Você nunca, nunca soube ser mãe e quer encher a boca para falar de maternidade logo comigo que estive ao lado dele em todos os momentos onde você virou um resto de ser humano? Eu sou o pai. O pai da criança que quase se perdeu num maldito subúrbio porque a mãe dele estava definhando atrás de drogas. Está na hora de você aceitar que sou pai e mãe de Henry. — aquelas palavras me deram um soco no estômago de tanto ódio. Ele não tinha o direito de usar isso contra ela. — Genitora. — falou com soberba e de forma desprezível. — Para mim você é apenas uma genitora, a mulher que me deu um filho, e matou outro. Jamais vou te olhar e pensar que você é a mãe do Henry, pois você não é. Uma mãe não coloca a vida do filho em perigo. Um pai protege e é isso que eu vou fazer.

Quando ela voltou a fechar os olhos, um fio de lágrimas escorreu por seu rosto. Se esse infeliz estivesse na minha frente, minhas mãos estariam inchadas e sujas de sangue.

— Um pai de verdade também preserva a dignidade da mãe do seu filho independente de todas as circunstâncias. — ela respondeu, com a voz trêmula. — Você é um moleque que só sabe debater jogando as minhas fraquezas em cima de mim, como se eu fosse a porra de uma inconsciente dos fatos que carrego nas costas. Nada do que eu fizer vai mudar sua visão dos fatos, então não sei o motivo insano de eu ainda te dar ouvidos. — respirou fundo. Seu maxilar estava rígido como pedra. — Goste você ou não, o Henry é nosso filho. Eu tenho mil razões para alienar ele contra você e jamais farei isso, porque meus motivos são pessoais, entre você e eu. Henry é apenas uma parte boa do que nosso matrimônio foi. Quem casou comigo foi você, quem dormia comigo era você, portanto eu não aceito que você me vista como um monstro para o nosso filho, pois isso eu não sou. Quer me culpar por algo que eu fiz quando estava fora de controle? Tudo bem. Quer me martirizar pelo resto da vida pela perda do nosso outro filho? Fique à vontade, Tom. Mas por favor, por favor mesmo; não me ligue achando que eu sou obrigada a ouvir tudo calada, pois acredite se quiser: eu não sou. Henry está bem, está vivo e se não está enviando mensagens a cada minuto do dia é porque o mundo não gira ao seu redor, seu filha da puta do caralho. — as últimas palavras saíram altas, berrantes e odiosas.

Camila desligou o celular e o jogou no sofá, cobrindo o rosto e soltando uma respiração longa e funda. Pelo movimento do seu ombro, percebi que ela estava chorando.

Tudo o que eu queria era ligar para aquele fodido e lhe dizer algumas boas verdades, no entanto ela precisava do meu colo naquele momento. Semanas e dias, era a primeira vez que eu a via assim, desestabilizada. Ela chorava baixinho entre suas mãos, me fazendo ter vontade de deita-la no quarto e niná-la até que todo esse sentimento ruim tivesse acabado. Ela não merecia ouvir essas coisas de um homem que deveria acima de tudo ser seu amigo, em prol do filho que tinham juntos.

— Venha aqui. — me sentei ao seu lado e toquei suas costas. — Pode chorar, vai te fazer bem. Quero que saiba que eu estou aqui pra tudo o que você precisar, Camz.

— Todos os meus esforços parecem em vão o tempo inteiro. — ela se virou para mim. Seus olhos estavam tristes, molhados. Ela precisava tanto de um abraço e Tom de umas porradas na cara. — Nada do que eu faço é suficientemente bom para ele. Tudo ele consegue virar para que eu me sinta um lixo por minha condição. Tudo, Lauren. Eu me sinto muito fraca e só ele consegue fazer que meu estado piore. — fungou. — Me desculpe por isso, queria que tivéssemos um dia tranquilo e então ele me ligou e… — ela começou a chorar novamente.

— Não peça desculpas. — a puxei para perto e comecei a limpar as lágrimas que caiam por seu rosto. — Eu não sei o que você sente ou como sente, mas imagino que não deva ser agradável ver o pai do seu filho agir dessa forma. Não quero que acredite em nada que venha daquele pobre de espírito.

— Quando Tom e eu nos separamos, não perdi apenas meu parceiro. Meu melhor amigo tinha ido também. — respirou fundo, seu olhar tinha um brilho triste agora. — Sabe o que é ter um início de namoro crendo que pode contar com aquela pessoa para tudo e lá na frente, quando você precisa dela como precisa do oxigênio, ela simplesmente te olha e diz com naturalidade "eu não consigo lidar com você assim." — riu entre lágrimas, secando seu rosto. — Eu nunca pedi a ele que me salvasse do meu próprio inferno, mas sua companhia ao meu lado enquanto eu construía minha escada para sair da cova, seria muito bom. Me ajudaria muito, mas não tive isso. Apenas seu desprezo e hoje em dia tudo de forma absoluta é porque eu sou uma maldita viciada. Se eu sou demitida é porque sou uma viciada, se eu tenho um dia ruim é porque sou uma viciada.

— Pare com isso. — segurei em seu queixo, obrigando ela a me olhar. — Você uma vez me disse que minhas decisões erradas não definem a minha história e agora eu vou te dizer a mesma coisa. Sua dependência não faz de você uma fraca, uma estúpida. Camila, isso não foi escolha sua. Você precisava dos medicamentos e infelizmente acabou se tornando dependente deles. Você não procurou isso, foi um acaso infeliz do destino. Poderia ter acontecido comigo, com a Dinah, Normani, ou até mesmo com ele. Ninguém estava na sua pele, ninguém sentia o alívio que esses remédios te davam nas suas crises crônicas. Ninguém. Só você. A melhor pessoa que eu conheci na vida e eu digo isso sem medo de errar. Nós não somos as nossas fraquezas, Camz. E daí que você tem um vício? Isso não traduz tudo de bom que você fez, faz e fará na vida. Decisões erradas todas nós tomamos… — sorri tímida. — Eu sou a prova viva disso, você sabe bem. Mas não me arrependo desde que percebi que minhas decisões péssimas fizeram a vida me apresentar um ser humano incrível.

Seus olhos brilharam. Não, não era tristeza e lágrimas ali. Minha frase havia causado um efeito positivo nela, felizmente. Ela piscou algumas vezes como uma criança feliz, fazendo meu estômago gelar de alegria. Então, ela sorriu acanhada. Nem parecia estar triste há um minuto. Isso era bom. Se eu pudesse, tiraria qualquer sentimento ruim do seu coração, para perpetuar em seu rosto aquele lindo sorriso.

— Eu me sinto forte perto de você. — deitou a cabeça no meu ombro, me dando um cheiro no pescoço. — Não lembrava como era bom abrir minha vida para alguém. Gosto disso, Lauren. Obrigada por me apoiar, por cuidar de mim. Você trouxe uma luz gigante para minha existência e não tem noção disso.

— Não. — discordei sorrindo. — Posso não ser a melhor pessoa do mundo e sei que não sou. Mas meu colo para chorar você tem sempre que precisar.

— Obrigada, meu amor. — ser chamada assim gelava meu estômago todo. Camila segurou no meu rosto e me beijou diversas vezes. — Obrigada, obrigada e obrigada.

— O que eu posso fazer para você ficar alegre assim sempre? 

— Você já fez ontem a noite.

Arregalei os olhos enquanto ela ria. A rápida mudança de personalidade. A demonia não estava em lágrimas há dois segundos?

— Não faça essa cara, eu que deveria estar fazendo. Eu nunca tinha… —deixou no ar. — Bom, eu achava que isso era um mito.

— Ejaculação feminina? — eu perguntei e ela assentiu, com um sorriso acanhado no rosto. — Não, não é mito. É apenas difícil de se obter.

— Eu fiz uma pesquisa e-

— Você pesquisou? — a cortei, rindo. — Camila!?

— Queria entender. — gargalhou erguendo os ombros. — Acho que suas malditas pausas repentinas fizeram meu corpo acumular e isso gerou uma reação de orgasmo bem forte e… e bom, é isso.

Suas bochechas estavam vermelhas. Eu queria rir dela e com ela. Pela primeira vez ela não parecia direta quando sexo era o assunto. Pelo o contrário, parecia bem tímida.

— E foi bom? — perguntei curiosa. Queria entender a sensação.

— Foi muito. — fechou os olhos, sorrindo para si mesma. — E muito forte também, não sei explicar. Parecia que todos o meu corpo havia sido tomado por uma energia, eu contraia com força e de repente me senti mais molhada e… porra, eu não vou dormir em paz até que você tenha vivenciado isso.

E ela pela sua determinação, ela não iria mesmo. Camila mordeu os lábios e me olhou de cima a baixo. Porra, Deus!!!! Essa mulher não tava depressiva há SEGUNDOS atrás? Por Cristo!

— Não me olha assim. — virei o rosto. — Eu nem comi ainda, não sinto tesão quando estou com fome. Era por isso que não transava com ninguém antes de te conhecer. Sem comida, sem sexo.

Lauren. — Camila prensou os lábios e virou a cabeça para cima, fechando os olhos e controlando a si mesma. — Por favor, não faça piadas com isso. 

Ela pediu, mas que queria rir, queria.

— Eu não estou mentindo. Para uma piada ser válida, ela precisa ter um fundo de verdade.

— Então você realmente… passava fome? — era fofo como ela tentava ser delicada com aquele assunto.

Levantamos juntas e fomos em direção a sala de jantar que ainda tinha a mesa servida.

— Bom, não exatamente. — agora o assunto havia ficado sério. Nos sentamos. — Eu também não era uma sem teto. Eu tinha um quarto na república onde Ally mora, mas eu já passei madrugadas nas ruas, andando, conhecendo gente nova e essas coisas. Eu tinha uns empregos informais também, fazia um favor aqui, um favor ali e com isso tinha alguns trocados. Ally me ajudou muito no quesito alimento, então não é como se eu passasse dias sem comer. Em alguns dias eu tinha que fracionar a comida para comer no almoço janta… Às vezes eu jantava biscoito. Sabe, eu adoro comer besteiras, só que a situação é diferente quando você não tem outra opção.

De tristeza, para um quase possível ia para cama, piadas pesadas e um clima tenso sobre a fome. O domingo se iniciou muito bom 

— Isso não vai acontecer outra vez. Você não precisa se preocupar com isso nunca mais. É bom te ver comendo o que quer, quando quer. Eu disse e repito, você pode comer tudo o que estiver dentro dessa casa quando tiver vontade.

— Isso inclui você? — minha pergunta fez ela abrir os lábios em choque, mas logo estávamos rindo. Era melhor voltar para o estágio da risada.

— Não. — negou, com um riso brincalhão. — Não me inclui, pois você pode me comer fora dessa casa também.

Entrei os lábios, escondendo minha expressão no guardanapo.

— Então a senhora não está mais triste não é? Fazendo piadas de cunho sexual.

— O que foi? A adolescente em mim ainda existe, eu só controlo ela. — ergueu o ombro. — Agora vai, vamos comer.

— Posso perguntar uma coisa? — falei enquanto passava creme de avelã em uma fatia de pão caseiro.

— O que você quiser. — ela respondeu enquanto se servia de café.

— Sei que não é da minha conta, mas como você e Tom se casaram, tiveram um filho e agora estão como estão?

Camila deu um gole em seu café e pareceu pensar na resposta enquanto apreciava o gosto. Espero que minha pergunta não a tenha incomodado.

— Eu conheci Tom no meu primeiro ano de universidade. — colocou a xícara de volta ao pires e me olhou. — Ele era um pouco mais velho, e eu iludida achei que tinha achado "o cara", afinal, o que ilude mais uma jovem de dezenove anos do que um cara de vinte e cinco, encantador e aparentemente maduro? Eu enrolei ele por um tempo, até que começamos a sair. O namoro e o noivado foram tranquilos. Brigávamos muito, claro, mas sempre conseguimos contornar aquilo. Quando nós casamos e Henry veio, começamos a nos afastar. Eu fiquei doente, quase sem cabeça para ser "sua esposa", se é que me entende, aí veio meu vício, traições e brigas graves a todo momento. Poucas vezes conseguimos manter uma vida normal nesse meio, só que o sentimento não era mais o mesmo. Às vezes a gente transava e tal, e eu sabia que ele tinha casos fora de casa. Era um sexo bem vazio, quando não há emoção nem sentimento. Tudo em prol de chegar a um orgasmo e ir pro chuveiro me livrar do perfume dele. Eu por muito tempo achei que isso seria algo pelo qual passaríamos. Fiquei uns anos morando na Europa, me tratando do vício e antes de voltar pra cá me divorciei.

— Apesar de ser um demônio, ele parece ser um pai bom. — admiti, comendo algumas frutas. — Não sei se estou errada.

— Ele é mais protetor e ciumento que eu. — ela concordou. — Isso conta também pelos dramas familiares que ele teve. — ergueu os ombros.

— Dramas familiares?

— Tom é para Henry tudo o que seu pai não foi para ele. Meu ex sogro é um homem muito sério e eu diria… — buscou as palavras. — Imponente. Tom comia o pão que o diabo amassou na adolescência e no início da vida adulta decidiu fazer o que bem queria, começando por escolher o seu próprio curso. Isso não agradou muito o patriarca, pois expulsou o próprio filho do seu "reino".

Cerrei os olhos. Parecia que eu tinha visto aquela história em algum lugar.

— Então por isso ele é todo frouxo com o filho?

— As vezes eu agradeço por Henry não ser uma menina, pois seria pior, acredite. Ele é preocupado, atencioso e confesso, às vezes mima demais o menino. Tirando a parte que ele tenta me pintar de monstruosa e todos os mimos que oferece, não tenho o que reclamar. Eu preciso ser a parte que segura as rédeas da criação, senão eles dois montam na minha cabeça e chifres para servir de apoio eu tenho.

— Você é ridícula! — gargalhei. — Depois quer falar de mim.

— E falando em Henry… — cobriu a cabeça. — Nem me lembre, viu. Vou precisar ter aquela conversa com ele.

— Que conversa, mulher?

— Aquela conversa. — disse firme. — A que se toda mãe não deixasse apenas na mão no pai, com certeza teríamos homens melhores por aí.

Percebi o que ela estava falando por ter notado o menino bem próximo da coleguinha da escola.

— Ele está tendo um namorinho com a amiguinha? Que gracinha.

— Por um lado é gracinha, por outro me preocupa. — mastigou um pedaço de torrada. — Quando eu pensei que ele fosse uma menina, tive medo por imaginar ela sofrendo mil tipo de situações que mulheres geralmente sofrem. E quando eu descobri que era um menino, não me aliviei. Agora meu temor era gerar um filho que fizesse a filha de alguém por aí. Eu já fui bem sincera com ele, dizendo que se ele querer bancar o gostoso, não o apoiarei e Lauren, não vou mesmo.

Era só conhecer ela um pouco para saber que a mulher não estava mentindo.

O café da manhã foi uma brecha para conversarmos da vida dela, da minha. Em outras palavras, nos conhecermos melhor. Ficamos longos minutos na mesa, rindo, comendo e brincando, até que uma das empregadas precisava recolher as coisas para dar início ao preparo do almoço.

Camila precisou ir para o quarto, resolver algumas pendências bobas de trabalho, e eu pique a mula para a cozinha onde Henry estava. Era dia de GTA SA, um clássico da Rockstar. Televisão no volume alto, pois Camila havia dado permissão, pipoca espalhada pós almoço e alguns refrigerantes também.

Tiroteio, gritos, pessoas correndo para salvar suas vidas. Parecia até alguns guetos que eu me metia quando andava pro lado mais pesado da cidade vizinha.

A matriarca gostosa saiu do quarto, olhando para a televisão que exibia balas pipocando para tudo quanto é lado. Felizmente quem estava com o controle na mão era Henry, então se houvesse uma represália, o pivete arcaria sozinho.

— Vocês dois vão ficar surdos. — levou a mão atrás da orelha. — Lauren, pode vir comigo até a cozinha? Tenho uma coisa para você.

— Sim, claro. — deixei o balde de pipoca de lado. Me levantei e fui em sua direção. — Pode falar.

— Me acompanhe e veja com seus próprios olhos.

Camila se virou, atravessando o corredor e indo em direção a cozinha. Eu parecia uma cadela seguindo a mulher. Não que eu estivesse reclamando.

— Aqui está. — ela parecia feliz e com os olhos brilhantes apontou para a bancada. Nela estava, farinha, fermento biológico, açúcar, sal, barras de chocolate, algumas geleias de fruta, confeitos. Parecia uma cozinha de confeitaria. — Gostou? É tudo para você.

— Uau… — eu não sabia ao certo o que dizer. — Sempre quis ganhar um… um… Mulher, dá pra fazer mil receitas com essa base. O que você está aprontando?

— O que vamos aprontar. Donuts! — aí ela tinha me quebrado e com força. — Eu sei o quanto você gosta pois no dia em que nos conhecemos você tinha os lábios salpicados de açúcar. — gargalhou se lembrando. — Por isso, eu abri uma excessão nesse domingo, sairei um pouco da minha dieta para comermos boas rosquinhas; caseiras e ah, frescas.

— Você sabe cozinhar? — aposto como eu estava rindo como uma maldita imbecil. — Meu Deus eu adoro Donuts. Dependendo do quão gostoso ficar eu te peço em casamento.

— Então prepara a aliança. Minhas mãos na cozinha são uma coisa… — beijou as pontas dos dedos como faziam os italiano. — Divina. 

Camila se virou de forma animada, apertando o aparelho de som que eu nem sequer tinha percebido ali no meio. A batida antiga começou a ecoar, e ela misturava a parte seca dos ingredientes primeiro. Eu estava distante, esperando alguma ordem ou permissão para fazer alguma coisa.

Sugar… — ela cantou junto. — Oh, honey, honey.

Com a tigela em mãos, ela sorriu pra mim e piscou, antes de pronunciar os próximos versos. 

You are my candy girl. — aquela voz, aquele sorriso. — And you got me wanting you.

De uma coisa eu tinha certeza dali em diante: Eu queria ouvir aquela mulher cantando mais vezes.

I just can't believe. The loveliness of loving you

Ainda com a tigela em mãos, ela cantarolava como uma criança pela cozinha. Apontou para o pote de vidro onde havia barra de chocolates e depois para uma pequena garrafa com creme de leite. Fez um sinal com as mãos para que eu misturasse. Dei um passo, abrindo a garrafinha e despejando o líquido. Cobertura cremosa de chocolate. Sempre parecia que ia dar errado, mas era só confiar no processo e deixar o microondas fazer seu trabalho. Coloquei a tigela e pus no timer um minuto. Seria tempo o suficiente para o creme de leite aquecer e começar a derreter a barra.

— Seu celular está tocando. — ela falou enquanto começava a misturar os líquidos na massa.

Pausei a música e vi no visor: "Ally". Liguei no autofalante, por pura preguiça de ficar com o aparelho nas mãos.

— Pode falar, Allyson. — Será que ela tinha se recuperado da ressaca?

Não é a Ally, vagabunda. É sua outra loira aqui.

— Oh! Oi, Lucy. — Camila apenas me olhou e voltou sua atenção para a massa. — Tudo bem, o que aconteceu?

Estou de babá hoje. Alguém atravessou o limite da cara de pau ontem e agora está me dando trabalho.

Vai se foder, Lucy. Apenas vai se foder! — ouvi a voz da baixinha no outro lado da linha.

— Cuide dela. Você sabe, as mais baixas são as mais raivosas. — Lucy e eu rimos juntas, mas fui eu quem recebi um olhar sério de Camila.

Certo, que eu gosto de atravessar limites, isso vocês já perceberam.

O microondas apitou, e eu fui tirar o chocolate para misturá-lo.

E cadê sua hot mama? Não liguei mais cedo com medo de interromper sua foda, vai que a coroa gostosa estava alimentando cria dela.

Sabe quando seu coração para e você sente o chão abaixo dos seus pés se abrirem como uma cova pronta para você entrar e se enterrar com contrato? Eu estava assim. Lucy ficou em silêncio esperando minha resposta, alimentando o silencio constrangedor que havia ficado na cozinha. Camila olhava para o telefone com seus lábios carnudos entreabertos e a sobrancelha arqueada. Parecia perplexa com a ousadia da loira, mas manteve a pose. Franziu os lábios e pegou o telefone com a ponta dos dedos para não sujá-los.

Puta que pariu, não! 

— Olá Lucy, como está? Hot mama falando.

O silêncio do outro lado da linha permaneceu por alguns segundos até eu ouvir minha amiga pigarrear.

D-dona Camila eu…

— Sabe, Lucy. — ela voltou a apoiar o celular na bancada, e cortou minha amiga. — A boca fechada pode nos transformar nos melhores gênios contemporâneos. Pense nisso. Apenas um conselho da "coroa gostosa".

O segundo passa fora em menos de vinte e quatro horas. Ser amiga de Lucy me rendia boas risadas.

Tu é muito burra, cara. — ouvi a voz de Ally do outro lado. — Olha as merdas que você fala, parece que pensa com intestino.

Não fui eu quem esqueci que era hétero ontem.

Cala a boca! Inclusive me dê essa merda aqui. — Ally exclamou e ouvimos um ruído, e logo sua voz ficou mais alta. — Lauren amiga, desculpa pelo beijo de ontem. Explica para dona Camila que isso foi uma ação involuntária do meu subconsciente, provavelmente uma dúvida não resolvida de quando eu era criança e estava formando minha sexualidade. Eu te beijei, Lauren, mas sou hétero e continuo hétero. Você beija bem? Sim, mas isso não vem ao caso. Desculpa, dona Camila.

Camila queria rir enquanto misturava a massa. Ao menos ela parecia gostar de uma das três.

— Ally, você está bem? — me referi ao porre.

Sim, a Lucy está cuidando de mim. Nem fui a aula de estatísticas pois minha cabeça não para de doer. Não vou beber nunca mais na minha vida. Quando me contaram que eu te beijei eu quis morrer. Não por você, claro. E sim pela minha atitude.

— Está tudo bem, amiga. — a tranquilizei. — Não precisa ficar assim, foi só um beijo.

Eu não avancei o sinal para outros lábios não é?

Camila arregalou os olhos.

— Definitivamente não, Ally.

Bom, bom. — ela pigarreou. — A gente só te ligou mesmo para perguntar se você tem notícias das Vero.

Notícias da Vero?

— Não. — estranhei, mexendo o ganache.

Hum. — Ally falou, lentamente. — O que me deixa tranquila é que ela sabe se virar, mas seu celular não tá dando área e a Lucy não consegue falar com ela.

Depois do que tinha acontecido ontem eu achava um pouco difícil a Verônica querer se encontrada por Lucy.

Enfim, se você souber de alguma coisa me envia mensagem.

— Envio sim. Beba bastante água, se cuidem!

Encerramos a ligação. Eu juro que, pela imbecilidade de Lucy em ter falado aquilo no viva voz, eu não queria desligar. O mínimo que eu esperava era que Camila tivesse esquecido aquela vergonha.

— Então eu sou a sua hot mama?

E claro que não tinha, afinal, para me foder o destino fazia absolutamente qualquer coisa.

— Camila, por favor… — eu só queria fingir que aquele momento nunca tinha existido. — Podemos voltar a nossa atenção pros donuts? Ou melhor, vamos esquecer a receita e enfiar a minha cara no forno. Nem precisa pré aquecer, ela já está fervendo.

Camila riu de olhos fechados, mas logo se recompos.

— Quero que você responda a minha pergunta. Não por você, por mim. — ela parecia mais curiosa do que zangada. Ainda bem. — Você me vê assim ou é uma brincadeira das suas amigas?

— B-bom, é que… — ergui os ombros. Não sei se tinha resposta certa para aquela pergunta. — Nunca estive com uma mulher mais madura antes, e não veja como algo ruim, por favor. Eu adoro ficar com você, mas minhas amigas-

— A opinião delas não me importa. — me cortou. — Eu já imaginava que elas me viam assim, mas quero saber de você. Você me importa. Você me vê como uma espécie de… sugar mama?

— É complicado. — eu não sabia o que dizer. Sequer sabia explicar o que sentia. — Você me dá tantas coisas, é bem de vida financeiramente. Talvez em uma espécie de jogo entre você e eu, usar esse termo seja algo interessante. Só que eu não quero que pense que eu te enxergo como um par de bunda que me banca. Eu jamais te enxerguei dessa forma. O que você faz por mim todos os dias… — senti minhas bochechas queimarem. — Ninguém nunca fez, e não tô falando do material.

— Sabe, eu reconheço que tenho uma boa condição de vida, mas isso não me faz. Eu batalhei muito para chegar aqui. Claro, tem uma parte bem grande do meu divórcio, porque eu não sou idiota. E fico feliz por você não me ver dessa forma, mas…

Camila alisou minha cintura e beijou meu rosto, trilhando uma trilha até chegar na minha orelha.

Vou confessar que, entre nós duas, esse jogo pode ser sim interessante. — sussurrou tão próxima que eu conseguia sentir o tremor das suas palavras. Fechei os olhos, apertando a bancada.

— Então você não está ofendida? — perguntei com o resto de forças que eu ainda tinha.

— Essa sensação de dominância não me ofende nenhum pouco. A menos que ela venha de você. — selou os lábios na carne da minha orelha, fazendo meu corpo tremer e eu deixar escapar um gemido entre os lábios. — Na realidade, isso tudo me excita. Eu posso ser a sua Camila, eu posso ser a sua sugar mama. Ou seja Lauren, posso ser o que você quiser que eu seja. O que eu disse ontem na festa vou manter aqui: é só você me pedir.

Demonia! Eu precisava dela, ali mesmo.

Quando segurei em sua nuca para beijá-la, Camila riu e se afastou alguns centímetros, apontando para a montanha de farinha criando forma.

— Mesmo que eu esteja louca de vontade de te dar nessa bancada. — Se virou. Era inevitável não olhar para sua bunda. — Henry está em casa e pode sentir fome a qualquer minuto.

— Então vamos pro quarto?

Abracei seu corpo por trás. Com a mão livre, movi seu cabelo para o ombro esquerdo, deixando sua nuca livre. Dei um beijo molhado, sentindo sua pele se arrepiar entre meu toque. Ela deu uma risada excitada, e empinou sua bunda, forçando-a contra meu quadril. Caralho.

— Não provoque se não dá conta, Camila. — sussurrei no seu ouvido.

Ela se virou, com o ego inflamado e olhar autoritário. Segurou no meu rosto pinçando as mãos, num gesto ameaçador. O tesão havia virado ódio em questão de segundos.

— Então você tem certeza que sou eu quem não aguenta, não é Lauren? — cerrou os olhos de forma raivosa, embora divertida. — Você tem certeza mesmo do que está falando? Pensa bem na sua resposta.

Oh mulher filha da puta. Quis rir, mas daria uma resposta a altura.

— Não consigo ouvir, repete. — prenseei os dedos no ouvido. — Acho que sua ejaculação acertou meus canais auditivos.

Ela deu um tapa no meu ombro, abrindo os lábios ofendida. Gargalhei.

— Comemora enquanto ganha a batalha. Quem vai declarar a guerra entre meus lençóis sou eu. 

Apontou pra mim, se virando em seguida.

Eu continuava rindo, cuidando apenas da ganache de chocolate. Camila sovava a massa em cima do balcão e parecia concentrada em fazê-la ficar lisa.

Porra, eu estava pensando que há muito tempo não me sentia confortável em ser eu mesma com alguém que não fosse do meu ciclo de amizade. Camila me encontrou num estado deplorável de rebeldia e cuidou de mim como se cuidasse de uma rosa com espinhos. Tomando cuidado para que eu pudesse mostrar minha beleza interior sem receios, sem medo. Ela fez com que eu tirasse minha armadura sem sequer citá-la. Era bom sentir isso perto dela. Conforto. E eu nem estava falando do conforto físico e sim emocional.

Ontem ela havia pedido pra fazer amor comigo. Eu nunca tinha feito isso com ninguém. Apenas sexo e sexo, mas com ela até o sexo tinha seu mar de sentimentos. Ter ela para mim aquela noite, me olhando de forma doce enquanto buscava prazer comigo, com meu corpo. Eu queria poder fazer amor com ela a maior parte das noites daqui pra frente.

— Camila? — a chamei. 

A mulher não me olhou. Continuou mexendo a massa com as mãos, mas me deu uma resposta nasal para que eu prosseguisse minha fala.

Fechei os olhos, sentindo meu coração pulsar de nervosismo. Minhas mãos sujas de chocolate tremeram na bancada, então eu abri os olhos e voltei a falar.

— Ontem na festa… hum… você sabe, a Ally me beijou e você viu. Quando eu virei pra te procurar você já tinha ido embora e… bom, eu meio que…

— Meio que…? — então ela me olhou, esperando em silêncio pela resposta. — Pode falar, Lauren. Está com medo de alguma coisa?

Claro que sim, porra!

Respirei fundo. Parecia que meu coração ia sair para fora de tão forte que ele batia.

— Eu… — respirei mais uma vez. Era agora ou não seria nunca. — Enfim, ontem eu te chamei de namorada. — já era e eu que lute. — Foi isso, se gostou amém, caso não, infelizmente não posso voltar ao passado e mudar minhas palavras.

Camila sorriu genuinamente e deu um passo, ficando mais próxima a mim. Aquilo nos olhos dela era alegria?

— Espera, deixa eu ver se entendi. — ela prendeu o riso e pediu calma com as mãos. — Você se referiu a mim como "sua namorada"?

Agora eu me sentia uma estúpida adolescente. Desviei os olhos por alguns segundos.

— Sim, eu te chamei de minha namorada. — no entanto tentei ser séria mantendo minha pose de adulta. — Você quer rir?

Não, eu não quero. — A demonia queria, o que fez com que eu me sentisse uma maldita palhaça. Que ódio, meu Deus. Sorte que ela era maravilhosa para não despertar minha raiva.

Percebi naquele momento que calada eu era uma poeta. Como eu queria voltar atrás e fechar a merda de boca que eu tinha.

— Eu só… — abaixou a cabeça. Pelo movimento dos seus ombros eu percebia que ela ria internamente. — Um minuto, por favor.

Minha vontade era de afundar minha cara naquela massa. Com ela dentro do forno, de preferência.

— Só estou surpresa, minha menina. — se recuperou por mim, mas ainda havia resquício de riso. 

Só… surpresa? Meu sorriso morreu.

— Eu sei que não deveria… não deveria ter falado assim porque a gente não colocou rótulo no que temos, só que de repente saiu e eu só me dei conta depois e-e-e… bom, já era tarde demais para que eu me corrigisse pois eu tinha que ir atrás de você para corrigir outra coisa então deixei por isso mesmo e, e também-

— Meu amor?! — sua voz foi suave assim como a palma da sua mão acariciando meu rosto. Ela tinha um cheiro delicioso de farinha fresca agora. — O que é isso, meu bem? Fica calma, não precisa se afobar. Respira comigo.

Camila fechou os olhos e inspirou, e eu fiz junto com ela soltando aos poucos o ar dos meus pulmões.

— Você não está brava por… — meu rosto esquentou violentamente. Deslizei os olhos para tudo o que não fosse os seus castanhos.  — Por eu ter me referido a você assim?

— Por que eu estaria? — ela selou nossos lábios e me olhou. 

— E-eu não sei, porque… — busquei palavras, mas não vinham. — Talvez eu não devesse me referir assim a você sem… sem te dizer antes e… sério, eu não sei mais o que falar. Podemos mudar de assunto?

— Você quer me passar um bilhete com um "sim" e "não" para que eu possa marcar alguma opção ou…?

Voltou a dar aquela gargalhada, me fazendo revirar os olhos.

Porra, Camila. Eu toda nervosa e você brincando com isso.

Eu não estou te pedindo em namoro, tá bom? — cruzei os braços e ela ergueu as mãos. — Você é uma idiota, Camila. Esquece o que eu falei também.

— Não está? — continuava pedindo paz com as mãos.  — Tudo bem, eu posso conviver com isso. — riu outra vez, fingindo secar uma lágrima.

Relaxei minhas sobrancelhas. Ela voltou a sua atenção na massa, sovando mais um pouco, mas parecia prender um sorriso nos lábios.

— Esses donuts sairão maravilhosos. — suas mãos desciam e afundavam. — Bom, modéstia a parte tudo o que eu faço na cozinha é uma delícia mas eu não vou me gabar por isso e-

Você quer ser minha namorada?

Ela soltou a massa, explodindo em uma risada energética fazendo eu rir também, inclusive de nervosismo. Eu tinha acabado de pedir Camila em namoro e essa informação chegou tarde demais ao meu cérebro. Minha língua era solta, mas meus sentimentos e intenções por ela eram mais do que sinceros naquele momento. Eu estava rendida e apaixonada. Queria aquela mulher apenas para mim, mesmo com todos os meus medos.

— Você é maravilhosa. — selou meus lábios ao dela outra vez. Seus olhos se conectaram aos meus de forma brilhante. — E sim. — sussurrou, colando sua testa a minha. — É claro que eu quero namorar com você, minha menina.

— Eu… hum… tipo, sério? — ri de nervoso. — Você disse que sim?

Ela tinha realmente aceitado namorar? E comigo?

— Uhum. — arqueou as sobrancelhas, confusa. — Se não ficou claro o suficiente, estou dizendo que a partir de agora eu sou a sua namorada. Apenas sua. Não foi isso o que você pediu?

— É que… — torci os lábios. — Eu nunca cheguei nessa parte. Digo, meio que sim, meio que não. É confuso. Então, estamos namorando?

— Sim, minha menina. Você é a minha namorada agora. — ela entrelaçou nossas mãos. — Caso queira podemos assinar um contrato…

— Eu disse namoro, não casamento. — falei seria, mas rimos juntas. — Se bem que não seria uma má ideia.

— Lauren Michelle, não provoque se não der conta. — ela segurou meu queixo com o dedo indicador. — Eu posso ser uma esposa bem exigente. Dentro e fora da cama.

— E como você é como namorada? — perguntei curiosa. — Não é exigente? Se uma mulher não mandar em mim, eu sinceramente não quero.

— Sou. — mordeu os lábios, gostando do que eu tinha falado. — Mas num casamento é diferente. Namorando você sabe do meu jeito, casando você assinou um termo de responsabilidade ciente de tudo. Não pode reclamar lá na frente.

— O que tá pegando aqui? — Henry entrou na cozinha enquanto a mãe dele e eu estávamos bem próximas. — Tô atrapalhando alguma coisa, devo voltar depois…?

Camila não se intimidou, continuou com o corpo colado ao meu, apenas ficou de costas para mim.

— Oi, filho. — cobriu a massa com um pano para que fermentasse. — Está precisando de algo? Estamos fazendo um lanchinho.

— Estou vendo… — ele deu a volta no balcão e observou. — Ganache, massa crescendo, Lauren com a mão na sua cintura, amêndoas, geleias de fruta, açúcar de confeiteiro.

Corei violentamente. Tipo, agora eu meio que era madrasta de um moleque de treze anos. Puta que me pariu. De fato, quem quer a galinha quer os pintinhos.

— Donuts, já que tenho duas formigas em casa.

— Estou com muita fome. — nos olhou. — E como assim, namorando? — dessa vez ele foi direto. — Aposto que estão brincando comigo.

— Não, não estamos. Lauren e eu acabamos de concordar a entrar num relacionamento sério. Isso te desagrada de alguma forma?

Henry pareceu pensar por alguns instantes. Era lindo a forma como Camila validava a opinião do filho e sempre tinha conversas francas com ele.

— Não. Antes ela do que um homem velho e barrigudo andando de samba canção atrapalhando a digestão do meu café da manhã. — ergueu os ombros. — A Lauren pelo menos deve ficar melhor de shortinho.

— Mantenha os seus olhos na sua namoradinha, ouviu bem? — Camila brincou, pontuando cada frase. — Você me conhece muito bem e eu não divido o que é meu.

Os dois trocaram olhares cúmplices e Henry veio até a mim, dando dois tapinhas no meu ombro.

Boa sorte, Lauren.

— Boa sorte por que, moleque? — estranhei.

— Apenas boa sorte. — não tinha entendido caralho algum, mas pela cara dele, parecia ser algo divertido. Entre risadas, o pivete abriu a geladeira para pegar refrigerante e saiu da cozinha.

Eu não era nem mãe e tinha virado madrasta de um pré adolescente. Quem diria uma porra dessas? A propósito, isso precisava virar assunto o quanto antes.

— Camz, você quer ter mais filhos?

Camila se virou para mim, com o olhar pensativo e analítico. Aquela pergunta pareceu tê-la pego de surpresa.

— Lauren faz menos de cinco minutos que estamos namorando, não acredito que você já quer falar sobre filhos.

Revirei os olhos. Ela estava mais piadista que eu hoje.

— Responde minha pergunta, Karla Camila. — ela pareceu surpresa ao ser chamada assim.

— Certo, Lauren Michelle. — pigarreou. — Quando a gente começou a se envolver, eu imaginei a gente amadurecendo essa relação e tendo essa conversa difícil. E eu amo conversas difíceis logo no começo para não haver situações difíceis lá na frente. — seus olhos caíram para o lado por uns segundos. — Bom, eu já tenho um filho de quase quatorze anos e não pude ter o outro que perdi. Faz muito tempo que eu não mexo com fraldas e mamadeiras. Anos que meu corpo não sabe o que é acordar de madrugada para alimentar outro ser humano ou até mesmo pisar numa peça de lego que foi deixada no tapete. Henry está crescendo, aprendendo a se virar sozinho e eu não sei se quero vivenciar tudo outra vez, porque por mais que ser mãe tenha sido uma das melhores coisas que me aconteceu, não vou romantizar isso e dizer que não é cansativo. E eu sei que você é jovem, que talvez queira experimentar toda essa emoção de ser chamada de mamãe pela primeira vez e tudo bem se-

— Não, eu não quero. — a cortei.

— Não quer? — ela perguntou surpresa. — Bom, eu imaginava que… Enfim, eu não vou questionar sua decisão, mas mesmo assim estou curiosa. Afinal, porque você não quer?

Pelo amor de Deus, Camila. Imagina eu sendo responsável por uma vida? Não estou cuidando nem de mim direito.

— Não foi fácil crescer sem minha mãe. Não sei se eu conseguiria ser para uma criança tudo aquilo o que não tive. É uma responsabilidade gigante. — ela assentiu, concordando. — Então, para não correr o risco eu prefiro viver sem filhos. Mas, pensei que quisesse, por isso fiz a pergunta.

— E se eu quisesse? — ela segurou em meu rosto. — Você teria uma criança comigo? E não, isso não é uma proposta. Minha fábrica está fechada… mas vamos imaginar um filho nosso por um minuto. Mesmo que ambas não queiram, seria uma coisa linda e não podemos discordar disso.

Ter uma criança com aqueles olhos amendoados e castanhos correndo pela casa realmente me fazia querer voltar atrás no que eu tinha falado. Uma menininha como Camila seria a coisa mais linda do mundo.

— Você engravidaria?

— Caso eu quisesse, sim. — me respondeu. — Mas a essa altura, com minha idade… — prensou os lábios, pensando nos contras. — Seria complicado manter uma gestação, sejamos sinceras. E você, minha menina?

— Nunca me vi grávida. Se eu decidisse, não seria por agora. Não sei se tenho muito juízo pra isso também. — pensei por uns instantes as merdas que eu tinha feito na vida. — Você com certeza seria uma mãe muito equilibrada.

— Equilibrada? — ela gargalhou. —Eu tento, Lauren. Apenas tento. Tenho falhas, manias. A terapia me faz entender que Henry ainda não é um ser humano pronto. Ele vai falhar e eu como mãe preciso respirar fundo e impor limites, compreendendo a visão deles das coisas, validando e muitas vezes falando "meu querido, não é bem assim que a banda toca". Ser mãe é difícil pra caralho.

— Eu posso imaginar e por isso mesmo, escolho viver uma vida longe dessa responsabilidade. Prefiro ser a tia Lauren, pois quando o caga fralda começa a chorar, posso devolvê-lo aos pais.

— Então… — a mulher riu. — A primeira conversa difícil já temos. Sem filhos?

— Sem filhos.

— É uma pena. — ela me puxou pela blusa e olhou para os meus lábios. — Podíamos fabricar uma criança agora mesmo.

— Você nunca percebeu que eu uso preservativo nos dedos? — brinquei, fazendo ela gargalhar. — Você é uma idiota, Camila. Essa pose de mulher de negócios é apenas da porta para fora. Você é mais adolescente do que eu.

— Não. — negou, enlaçando meu pescoço com os braços. — Na verdade eu vivia uma vida séria demais antes de você chegar. Você me mostrou que ela pode ser mais leve e risonha. Já se perguntou o que eu estava fazendo quando o acaso nos apresentou?

— Algumas vezes. — fui sincera. — Só não tive coragem de perguntar.

— Eu tinha ido fazer alguns exames para entregar ao advogado do Tom. — respirou fundo. — Ele quis usar meu vício contra mim e disse que eu não tinha condições de ter a guarda do menino por estar sempre anestesiada de tanta droga. Eu fiquei tão magoada que iria provar para todos o quão errada ele estava, no entanto teria que matar sete leões por essa decisão. Naquele dia, eu entrei no consultório médico e me senti humilhada de tantas formas que talvez você nem imagine. O tratamento que dão a nós, dependentes químicos, é cruel. Foi a primeira vez que alguém não ligou para como eu me vestia, para minha condição financeira e me viu como uma pessoa à margem da sociedade. Tudo o que eu desejava era sair daquela consulta o mais rápido possível para poder me sentir uma pessoa normal outra vez. Ao tirarem meu sangue pareciam ter nojo em me tocar e sinceramente, foi uma experiência marcante e dolorosa. Eu estava péssima quando sai, e liguei para Tom para despejar toda minha amargura nele.

— E o que você falou para ele, Camz?

— Não deu tempo. — prensou os lábios. — De repente a minha bolsa não estava nas minhas mãos e eu tive que processar o que estava acontecendo. Que destino louco, não é? Eu te vi, encurralada e assustada nos braços daquele homem mil vezes mais forte. Você era rebelde e mostrou suas garras para mostrar que sabia se defender, e creio que isso tenha salvo você de muita merda nessa vida. Quando eu me aproximei e olhei nos seus olhinhos pela primeira vez, eu vi algo que aqueles policiais nunca conseguiriam enxergar. Eu me vi. Não apenas no reflexo cristalino dos seus olhos. Você estava assustada, amedrontada. Eu me sentia todos os dias assim. Cada pessoa que me olhava na rua era como se conseguisse ler meus pecados. Nossos olhos não mentem, e mesmo sem me conhecer os seus não foram capazes de mentir pra mim naquele dia. — ela limpou a lágrima que escorreu de mim. — Não chore, eu estou aqui. — sussurrou. — Você não está mais sozinha, amor. Desde que eu decidi ir até a delegacia, você não está. Só não sabia ainda. Eu te olhava em cada sinal que a gente parava. Cabeça baixa, lágrimas nos olhos. Sei bem como é se sentir uma esquisita, uma pecadora e entendo bem a sensação de parecer que falhamos outra vez. Não sei explicar o que sentia toda vez que olhava para a janela e te via cabisbaixa, mas era algo forte. Uma conexão de outras vidas, talvez. Chegamos na delegacia, você entrou primeiro e Dinah lá fora tinha resumido sua história pra mim. Eu não dormiria tranquila sem saber que você estaria segura aos cuidados de alguém que jamais abriria a boca para te julgar, no caso eu. Eu sei que o mundo é cruel lá fora e que as pessoas não são tão gentis, mas você tem um espaço na minha vida que ninguém vai tirar. O espaço do colo, do zelo, da proteção.

— Camz… — eu mesma tive que limpar minhas lágrimas, que agora eram muitas. — Desculpa por chorar, eu me sinto uma criança.

— Eu amo sua criança interior. Ela é ingênua, inocente e doce. Minha menina, você me salvou mais do que eu salvei você naquela tarde.

Tarde fria. Tudo o que eu tinha em mente naquele dia era que precisava comer alguma coisa. Tinha caminhado decidida até a confeitaria mais próxima, de cabeça baixa para não ser reconhecida por ninguém na rua. Estava faminta, precisando de qualquer coisa que me saciasse. Entrei, pedi uma caixa com quadro e comi como se minha vida fosse depender disso, e naquele momento, dependia. Quando me levantei com a caixa nas mãos, sobrando apenas um, todos os funcionários de levantaram comigo. Tentei me manter tranquila, observando a porta da frente. Eu dava um passo e era seguida por dois funcionários diferentes. Um senhor entrou, enrolando com a porta aberta para limpar os sapatos no tapete externo. Era minha deixa, era meu momento e usar a energia que o açúcar tinha me dedo. Tomei um impulso e corri, atravessando os dois policiais que nem precisaram raciocinar e perceberam o que estava acontecendo ali.

Eles não me viram como alguém que estava faminta. Me viram como uma ladra, uma delinquente. Camila tinha me enxergado além do meu delito e por consequência, no fim de tudo ela tinha meu coração em mãos, apenas para ela.

Eu estava rendida, apaixonada e louca por tudo o que lhe representava. A doçura, a delicada, os conselhos. Onde essa mulher estava que eu não havia conhecido antes?

— Obrigada por cuidar tanto de mim. — Me aproximei dos seus lábios. — Você é uma mulher incrível e eu estou vivendo o sentimento mais forte que tive por alguém, e tenho certeza disso toda vez que olho nos seus olhos e enxergo sua doçura. Eu estou apaixonada por você e por cada detalhe que você carrega.

— Sabe do que eu preciso agora? — de olhos fechados ela segurou no meu rosto enquanto falava roçando seus lábios aos meus. — De você, no nosso quarto, na nossa cama. Eu quero te sentir, Lauren. A cada momento em que meu coração bate meu corpo me mostra que eu preciso do seu. No fim das contas você vai se tornar o meu maior vício.

De olhos fechados eu só consegui ter forças para agarrar sua cintura e puxá-la, fazendo com que nossos lábios se encontrassem num beijo cheio de vontade. Camila levou sua mão para minha nuca, entrelaçando seus dedos em meus fios. Respirei fundo quando suas unhas curtas e vermelhas arranharam minha pele. A suspendi, colocando-a em cima da bancada. Nossas bocas se moviam juntas, em sincronia num beijo intenso. Camila chupou minha língua, agarrando mais meus fios negros entre seus dedos. Faltava ar, mas eu não queria parar de beijá-la. Aquela mulher de um dia para o outro havia se tornado meu calcanhar de Aquiles.

Minha salvação e perdição nos mesmos olhos, mesmas curvas e mesmos lábios.

— Espera. — pediu num sussurro afobado, tomando um pouco de ar. — Preciso de um banho. Estou toda suja de farinha.

— Vou com você. — ela negou, sorrindo e descendo da bancada. — Por que não?

— A massa está crescendo, minha menina. Não vou demorar a voltar. — achei fofo como ela levantou o pé para alcançar meu lábio e beijá-lo. Suas mãos alisaram as maçãs do meu rosto. — Seja boazinha e me espere aqui.

— Tudo bem, amor.

— Você me chamou de amor? — ela me deu repetidos selinhos enquanto parecia estar em êxtase ao ouvir aquilo.

Camila era meu amor.

— Sim, eu chamei.

Aqueles castanhos brilharam como diamante na minha frente. Se eu soubesse que ela teria essa reação, teria chamado o quanto antes.

— Respira, Camila. Respira. — disse para si mesma de olhos fechados. — A massa está crescendo, não saia dessa cozinha. Eu volto logo, minha menina.

Sua menina.

— Tudo bem, minha senhora.

Sorrimos uma para a outra, e ela se virou e correu em direção ao quarto. Me sentei na bancada, com um sorriso idiota nos lábios. A sensação de estar apaixonada era assim? Tudo delicioso, mais leve, divertido e intenso.

Quando uma mulher nos enche de luz, nossa vida fica até mais leve.

Eu morri de vontade de segui-la, mas eu sabia que se a obedecesse, ganharia em dobro mais tarde. Ou até mesmo, em triplo. O que me preocupava, para ser bem sincera. Torci os lábios rodando na mesa da bancada. Não queria ficar cansada ao ir pro quarto. Ontem minha energia foi gerada por causa do álcool. Hoje eu estava sóbria, muita coisa podia dar errado.

Amanhã era segunda e eu começaria meus exercícios e uma alimentação balanceada, mas hoje… Hoje não.

Meus olhos bateram nas embalagens de especiarias, focando especificamente na do famoso guaraná em pó. Olhei para os lados, pegando o potinho e me certificando que estava sozinha. Abri a tampa, sentindo o cheiro. Cheiro de tempero comum, forte e peculiar. Depois que esses donuts tivessem sido feitos, Camila e eu teríamos muito assunto a tratar na cama. Eu não podia vacilar. Hoje não. Era cedo, portanto iríamos aproveitar bastante.

Com o pote em mão, abri a geladeira e peguei uma lata de coca cola. Se Emma estivesse aqui, eu pediria um daqueles sucos verdes. Quem não tem cão, caça com gato. Um copo longo, e uma colher de sopa. Três bem cheias seria o suficiente para mim aguentar o tranco daquela mulher. Despejei metade da latinha. Havia ficado com cor de bosta, torci os lábios. Era isso ou pedir arrego na primeira gozada, então encarei. Mexi com a colher e dei um gole, torcendo os lábios outra vez. Quando Camila fazia não ficava péssimo daquela forma. Tapei o nariz como uma criança quando precisava tomar um xarope. Eu odiava remédio líquido e isso era pior do que qualquer dipirona que minha mãe me forçava a tomar quando criança. Em três grandes goles, todo o líquido de aparência duvidosa já estava dentro de mim.

Era só esperar fazer efeito. Eu teria tanta energia que poderia abrir uma usina hidrelétrica de tanto que gozaria naquela noite.

•••

Definitivamente, eu não estava bem.

Haviam passado apenas dez minutos e eu me encontrava sentada no chão da cozinha, apenas de sutiã e suando feito uma porca velha. Minha nuca doía, eu estava sonolenta, visão turva e o caralho de um zumbido insuportável no ouvido. Além dos arrepios frios que meu corpo sentia, tirando o sintoma mais preocupante de que era meu último dia na terra: coração desregulado e dessa vez não era de amor.

— A massa já está enorme e… — Camila finalmente havia chegado. — Lauren, o que aconteceu?

— Acho que não estou me sentindo muito bem. — respirei fundo, me faltava ar. — Preciso de água, ou de um caixão. Não sei.

— Você estava bem há quinze minutos. — agachou e tocou minha testa. — Está gelada, suando frio. Está sentindo dor?

— Não exatamente. — me forcei a levantar a cabeça. — Só estou me sentindo fraca, acelerada. Parece que tudo ao meu redor se move rápido. Aí, Camz… Não tô bem não.

Camila se levantou e encheu um copo de água, estendendo pra mim. Tive forças para pegá-lo e enquanto eu tomava percebi que o copo que eu tinha usado minutos antes estava em suas mãos.

— Não, tira isso de perto de mim. — coloquei o copo de água pela metade no chão.

— Coca coca. — cheirou o resto do líquido. — E… — aspirava o odor como um cão farejador. Nem precisou focar por mais tempo. — O que esse pote de guaraná em pó está fazendo aberto? — seus olhos se fecharam. — Lauren, você não fez o que estou pensando que fez.

— Eu fiz.

Camila respirou fundo e manteve o controle. Se agachou do meu lado e abriu meus olhos, focando em minhas pupilas.

— Puta que me pariu. — sussurrou. — O quanto você usou?

— Três.

— Três pitadas? — ela parecia um pouco assustada. Neguei.

— Três colheres.

Camila entreabriu os lábios e agarrou a colher que estava ao lado da lata de coca.

— Três fodidas colheres de sopa, Lauren????! — aquilo era um sinal ruim. — Você está tentando se matar?

— Não, é pra gente poder transar. — disse cansada.

— Meu Deus! — Camila estapeou a própria testa. — Não acredito que você fez isso, amor. Quer me matar de susto? Venha, vamos pro quarto.

— O que foi que eu fiz? — perguntei enquanto ela tentava me levantar.

— Tudo o que não era pra fazer. — tocou meu rosto, forçando a olha-la. — Me escuta, minha menina. Eu tomo guaraná em pó para me gerar energia. Ele é um energético natural e por consequência, observe bem, consequência, ele aumenta minha disposição na cama. Você ainda tomou com coca cola, que já tem muita cafeína por si só, ou seja, você pode estar tendo um enfarte fulminante e eu não sei. Por favor, se você for tomar outra vez, é uma pitada. Só! Tudo em excesso tem uma grande consequência.

— Eu vou morrer, não vou? — perguntei com um medo real. — Meu coração não para de bater forte.

— Não. Você não vai morrer, embora minha vontade seja de te matar. — ela me guiava para o quarto. — Vamos tomar um banho morno, beber bastante água e logo você vai ficar bem.

De lá pra cá, eu fui de forma automática em tudo o que fazia. Camila me enfiou de cabeça na ducha morna enquanto ensaboava meu corpo. Era estranho se sentir com tanta energia e fraca por isso. Minha cabeça estava rodando e qualquer movimento que eu fizesse parecia ser concluído com muito esforço.

Garota burra do caralho, bem feito também. Era a voz da adolescente interna gritando dentro de mim.

Sabonete de camomila. Calmante natural. Ela pedia para que eu respirasse fundo sempre que massageava meu tórax. Não sabia se isso ia me tirar da luz da morte, mas mesmo assim resolvi obedecer.

Logo o chuveiro foi desligado. Senti uma toalha passar por meus cabelos e um roupão de toalha ser colocado no meu corpo. Camila fez com que eu me sentasse no vaso fechado e abriu uma gaveta. Pingou umas três ou quatro gotas de óleo na mão, as esfregou e passou em minhas bochechas. Cheiro refrescante e calmante de lavanda.

— Não vou te dar nenhum remédio para baixar sua pressão. — estendeu a mão na minha frente. — Por enquanto vou tentar baixá-la de forma natural. Óleo essencial de lavanda vai te ajudar bastante. Respira fundo e solta devagar. — obedeci. — Mais uma vez. Isso, amor. — beijou minha testa. — Venha, a cama está quentinha e você precisa de repouso por algumas horas.

Camila puxou o edredom, me fazendo deitar. Deslizei até embaixo, deitando na sua barriga. Ela acariciou meus cabelos úmidos enquanto eu sentia seu cheiro refrescante de pós banho.

— Ainda podemos transar?

— Nada disso! — exclamou autoritária. — Você vai ficar bem quietinha, deitada e tirando um bom cochilo enquanto eu termino de fazer os donuts. Vou te trazer um chá de maracujá também.

Não tinha forças para contestar alguma coisa, tampouco razão. Queria sexo e acabei ganhando uma noite de um casal de oitenta e sete anos, com direito a rosquinha e chá.

Não foi isso que eu pedi, Deus.

— Eu vou voltar pra cozinha, tudo bem? — disse baixinho, deixando um beijo na minha orelha. — Pode me chamar de sentir qualquer coisa.

Eu apenas assenti. Estava entrando no mundo dos sonhos e fraca demais para responder qualquer coisa.

— Não me mate de susto outra vez. — beijou minha testa e alisou meu cabelo. Ela parecia falar mais para ela do que para mim. — Eu amo você, minha menina.

Eu não sabia se tinha escutado direito ou se estava delirando. Ela poderia ter dito qualquer coisa e eu ouvi outra completamente errada. Mesmo assim, meu coração bateu forte. Não por causa do energético e sim pela possível declaração. Queria ter perguntado, ou até respondido de volta, mas era tarde demais. Todas as essenciais calmantes que ela tinha feito eu cheirar estavam fazendo efeito naquele momento. Meu corpo relaxou de forma tranquila na cama, e a partir dali seriam bons minutos de sono.

•••

— Lauren, amor. — ouvi a voz de Camila de longe, suave e gentil. — Acorda.

Eu não sei quanto tempo havia passado. Quando eu abri os olhos, já me sentia um pouco melhor. Camila estava na minha frente, segurando um prato cheio de donuts. Pisquei os olhos algumas vezes, focando minha visão em seu rosto. Ela sorria, mas a tensão em suas sobrancelhas era presente.

— Venha, coma um pouco.

— Que cara é essa?

Ela ignorou a minha pergunta por um segundo, pois apontou para o prato com donuts. Peguei um, fechando os olhos e apreciando a delícia que aquilo havia ficado.

— Ficou bom?

— Muito. — eu mastigava. Estendi a mão e ela mordiscou. — Isso está divino, Camz.

— Fico feliz que tenha gostado. — suas mãos partiram um no meio e levaram até sua boca. — Vou precisar sair, vai ficar bem?

— Sim. — respondi enquanto mastigava. Que estranho. — O que aconteceu?

Camila respirou fundo e me olhou nos olhos. Tocou em minha mão, alisando e beijando as costas dela. Pela sua expressão preocupada, algo de grave tinha acontecido.

— Lembra do pessoal da agência? — assenti. — A Keana, especificamente.

— Ela está bem? — Camila negou. Parei de mastigar e fitei preocupada. — O que aconteceu? Cheguei a vê-la no banheiro da festa ontem. Trocamos poucas palavras, mas até então ela estava bem.

— Me ligaram há alguns minutos. A Halsey está transtornada no hospital, pois foi visitá-la e a encontrou desmaiada no chão do loft. — entreabri os lábios em choque. — Suspeitam de overdose de cocaína.

— O que????! — me sentei para focar mais. Eu tinha ouvido aquilo? — Como isso é possível, Camila? A Keana não usa isso.

Camila negou.

— Ela faz parte do meu grupo de apoio. Na minha primeira reunião, assim que voltei da Europa eu a conheci. Quando vim assumir o meu cargo na agência, descobri que ela era minha colega de trabalho. Ela está na luta contra a cocaína desde os seus dezesseis anos, mas acabou caindo outra vez.

— Meu Deus! — cobri os lábios. Não imaginava o quão difícil era se manter limpa e no fim acabar tendo que recomeçar do zero. — Eu não sabia.

— Ela e eu somos as únicas lá dentro que sabem uma da outra. Eu vou ao hospital ver como ela está e me oferecer para cuidar do que for necessário. Sendo a "líder" dela na empresa, isso é o mínimo. Não é fácil para a família também.

— Posso ir com você?

Eu sabia que era uma questão delicada para Camila. Não queria deixa-la sozinha.

— Eu quero que fique. — negou, me deixando frustrada. — Não vou demorar e Henry está sozinho. Se eu te levar, terei que levá-lo também e hospital não é um local muito agradável para ir em família.

— Tudo bem. — assenti, compreendo duas razões. — O celular está no alto, então se você precisar de alguma coisa…

— Você também pode me ligar. — beijou minha testa. — E… Lauren?

— Hum?

— Preciso que me faça um favor.

— Pode falar.

— Se sua amiga Verônica der algum sinal de vida, preciso que me diga. Aja naturalmente, mas me avise o quanto antes. — pontuou de forma clara. — Está me entendendo? O quanto antes.

Franzi as sobrancelhas. Por qual razão dessa altura do campeonato, a localização da Vero era relevante? Ainda mais nesse contexto.

— Não sei se entendi muito bem, mas… — ergui os ombros.

— É claro que você não sabe. — ela se aproximou de mim e se sentou na cama. — Verônica foi a última pessoa que viu Keana lá. As câmeras do estacionamento do salão mostram que as duas se encontraram ontem à noite, trocaram número de telefone e um generoso pacote de drogas. Não sei que tipo de relação ela tem com isso e não cabe a mim acusá-la, no entanto o caso já está com a polícia e Verônica é a suspeita número um de ter vendido essa substância para Keana.

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Uma galera no twitter veio falar que quer comprar guaraná em pó (que eu já expliquei que não tem nada a ver com suco de guaraná em pó), então eu vim e criei essa cena para alertar. É uma pitada, no máximo! É muito bom para quem malha, inclusive.

Tomem cuidado, bando de foguentos.

Comentem no twitter usando o CARALHO da hashtag, inferno. Senão vou postar mais nada nessa bucetar.

Tchau, amo vocês.

Me sigam no tt: @thaynasioli



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