Herdeiros das Trevas

By GabrieldeAbreu5

8.4K 1.4K 1.5K

Depois de vencer Cecily e descobrir que Sienna carrega o futuro das necromantes em seu ventre, todos ficam ai... More

1° Capítulo - Desaparecidos
2° Capítulo - Os Alquimistas
3° Capítulo - Laços
4° Capítulo - Um pouco de fé
5° Capítulo - Beije-me
7° Capítulo - Vida Real
8° Capítulo - Fantasmas do Passado
9° Capítulo - A Verdade Machuca
10° Capítulo - Maldições
11° Capítulo - Empatia
12° Capítulo - Distantes
13° Capítulo - Widrych
14° Capítulo - Widrych (parte - 2)
15° Capítulo - Widrych (parte - 3)
16° Capítulo - Widrych (parte final)
17° Capítulo - Necromancia
18° Capítulo - Corda Bamba
19° Capítulo - Esperanças
20° Capítulo - Ainda existe Luz
21° Capítulo - Se torturando
22° Capítulo - Um Minuto de Paz
23° Capítulo - Perdendo o Controle
Penúltimo Capítulo - Saindo das Trevas
Último Capítulo - Filhos das Trevas
Agradecimentos

6° Capítulo - Utopia

354 68 103
By GabrieldeAbreu5


Isaac convulsiona enquanto a fumaça negra começa a sair por seu nariz, boca e ouvidos.

Sienna se afasta pronunciando um feitiço de contenção antes que o alquimista tente atacar.

Isaac grita enquanto a fumaça ganha forma à medida que deixa seu corpo.

Stacy fica um pouco atrás de Sienna em posição de alerta. Pode ver a loira erguer as mãos lançando uma luz contra a sombra e a impedindo de avançar.

O alquimista gira no ar desgovernado provocando um som estridente e agudo.

Sienna e Stacy tampam os ouvidos. O som se intensifica até que as janelas do quarto explodem, uma após a outra, mandando estilhaços para todos os lados.

Stacy grita se protegendo:

— Faça alguma coisa!

Sienna ergue as mãos novamente contendo o alquimista com o feitiço. 

Aquela fumaça densa e escura começa a torcer como um redemoinho até que finalmente se dissipa.

Sienna fita Isaac que está confuso, tentando entender o que estava acontecendo. Pisca lentamente ao tentar se ambientar.

Stacy tira as correntes que prendem seus braços e então pergunta:

— Está tudo bem?

— Eu... Sim... Acho que sim. — Responde se sentando na cama e grunhindo de dor por estar fraco e faminto.

— O que aconteceu lá? — Ela questiona mirando os olhos castanhos para Sienna. — Como o fez expulsar o alquimista?

— Eu... Hum... Apenas o convenci de que aquele mundo não era real.

— Disse que precisava ser alguém que ele tenha vínculo.

— Em teoria.

Isaac encara a loira que fica sem graça e o desconforto fica palpável ali.
Os dois estavam tentando entender como aquilo era possível já que a maldição ainda existia.

Stacy percebe que tem algo errado, mas antes que iniciasse o interrogatório Sienna segue em direção a porta dizendo:

— Vou buscar algumas bolsas de sangue.

Correu porta a fora e através do corredor.

Stacy volta os olhos castanhos em Isaac...

Sienna desce as escadas apressada e recebe o olhar de todos que estavam na sala

— Isaac está um pouco confuso, mas ficará bem. — Tranquiliza-os.

— Ouvimos um estrondo. — Aiden diz se aproximando.

— O alquimista quebrou as janelas.

— Seu braço está sangrando. — Merrick comunica.

— E-eu não tinha visto. Deve ter sido os estilhaços.

— É melhor fazer um curativo.

— Vou levar algumas bolsas de sangue para o Isaac primeiro.

— Não é uma boa ideia ficar perto dele agora e ainda mais sangrando.

— Ele não vai me machucar.

Um silêncio se instaura na sala enquanto ela e Merrick se encaram. Ele parecia ter muito a dizer, mas apenas se mantém calado com a expressão fechada.

— Quanto tempo até poder acordar a Ava? — Gabe pergunta quebrando a tensão.

— Só preciso de alguns minutos.

— Tudo bem. Suponho que levará o Merrick com você já que ele é a maldição da Ava.

— Não será necessário.

— Por que não?

— A Stacy não conseguiu despertar o Isaac. Eu consegui. São dois de três, então acho melhor eu tentar sozinha primeiro.

— E se não funcionar? — Aiden questiona.

— Eu vou levar você.

— Ele? — Gabe quase grita.

— Se a maldição não é um elo forte o bastante para fazê-los distinguir entre ilusão e realidade é porque de certa forma ela não é real. É um elo criado por magia e não por escolha. Se eu não puder convencer a Ava de que está vivendo uma utopia, então precisa ser alguém que ela ame por escolha e esse alguém é o Aiden.

— Como pode ter certeza disso?

— Eu não tenho. — Sienna saiu direção a cozinha.

Aiden foca Merrick e por sua expressão podia tirar conclusões óbvias.

Gabe indaga em voz alta o que todos se perguntavam:

— Como a Sienna acordou o Isaac? A maldição dele é a Stacy! O que a gente perdeu? O que pode ser maior do que esse sentimento que a maldição nos faz sentir?

Aiden engole em seco:

— Um sentimento real, como a Sienna disse, por escolha e não intermédio de uma maldição.

Gabe sorrir olhando para o lado:

— Então tem como eu fazer a Ava me amar...

Merrick saiu dali sendo seguido por Mallory.

Seguiu até o lado de fora da casa como se precisasse sair daquela casa que parecia estar pequena demais para ele.

Mallory se aproxima vendo-o tenso e leva a mão até seu ombro, mas não o toca, recolhe a mão e engole em seco:

— Você está bem?

— Só tentando organizar meus pensamentos.

— Não tem porquê se preocupar. Vamos quebrar essa maldição.

— Eu.... Sei que não devo esperar que ela retribua o sentimento da mesma forma que eu sinto, mas... As coisas estavam diferentes, ela disse que me... O Dr. Sexy. Agora Isaac?

— Merrick, essa maldição está prestes a acabar, você precisa manter o foco no que realmente importa, que é acabar com isso. Depois que quebrarmos a maldição esse sentimento não existirá mais, seremos livres.

Ele concorda voltando o olhar nela:

— O que será do nosso clã? Jay está cada vez mais distante e você sempre quis ser livre... Quero que a maldição acabe, mas não sei se estou preparado para o depois.

— É o mais próximo de uma família que já tive, me ajudou nos meus piores momentos, até quando eu não era digna de ajuda. Nada vai mudar. Ao menos não pra mim.

— Sei que sou duro e que exijo demais de você e do Jay, mas só faço isso por que confio em vocês com a minha vida. Nos últimos tempos quase nunca falamos sobre como se sente e eu queria...

— Não tem que fazer isso.

— Eu tenho sim. Porquê me importo. Você me lembra uma de minhas irmãs e ela também guardava coisas demais, coisas que não precisava guardar. Não quero que sinta que não tem ninguém para se apoiar.

— Você conhece a minha história... Me tirou do meu pai abusador e alcoólatra. Já minhas irmãs não tiveram tanta sorte. E depois me tirou do fundo do poço quando tive que matar o Alaric pra corrigir meu erro egoísta. Se existe alguém que eu sinto que posso contar, esse alguém é você. Eu quero sim ser livre, porquê desde que nasci não tive isso plenamente. Quero sentir que sou dona de mim mesma, mas isso não tem nada a ver com você... Com ou sem maldição, ainda assim será como um irmão pra mim.

— Nós dois contra o mundo.

— Nunca precisei de nada mais que isso.

Ela sorri e o abraça de lado...

( † )

(Bayou - Mountains of the Moon)

Aquele olhar de Stacy fito em Isaac esperando por algo, era tudo que ele queria receber por toda sua vida, sempre quis fazer com que ela sentisse algo por ele, por mínimo que fosse o sentimento.

Mas agora, após conhecer Sienna, depois dela tirar ele daquela utopia, percebeu que sentimentos não se tratam de receber o mínimo e sim tudo que um tem a oferecer ao outro.

Não se tratava de dependência e sim de desejar o melhor, de mostrar que a realidade é dura, mas existe um sentimento que faz todos os contras valarem a pena.

Um sentimento que diferente do que estava acostumado a sentir não era de inquietude, euforia ou ardia como chamas, era um sentimento sereno, pacífico que o fazia ansiar por mais, uma sensação única.

Stacy o observava e estava acostumada a ter o amor dele por tanto tempo que pensar em perder aquilo a deixava confusa, não ser tudo para ele era algo do qual nunca teve que aprender a lidar.

Se aproximou da beirada da cama e engole em seco:

— Nos assustou.

— Estou de volta.

— Brie era linda.

— Stacy...

— Eu só quero entender como é possível?

— Eu não sei.

Ela pisca algumas vezes e questiona em um tom passivo agressivo:

— Você gosta dela?

Depois de um momento de silêncio massacrante Isaac responde:

— Sim, eu gosto.

— E quando foi que essa coisa entre vocês começou que não percebi?

— Desde quando se importa?

Engoliu em seco erguendo o queixo tentando se mostrar superior, mas a verdade está assustada, após perder Lance e Naomi a ideia de perder mais alguém se tornou seu maior temor.

Embora negasse a si mesma por muito tempo, Isaac era uma das pessoas mais importante de sua vida e não ser mais importante para ele, era algo do qual não saberia como lidar.

Isaac indaga sabendo que ela não daria o braço a torcer:

— Quer exigir lealdade de mim? Quando, nesses últimos anos, você se preocupou em ser leal a alguém que não fosse o Aiden?

— Você sabe o motivo.

— Eu sei e é por isso que pedi para que ele correspondesse seus sentimentos. Que não se prendesse por minha causa porquê eu vi o quanto estava sofrendo. Fiz o que seria melhor pra você e não pra mim.

— Eu nunca pedi para fazer nada.

— É, mas fiz mesmo assim. Porque era o que você queria. Tornei tudo mais fácil, mas ainda não parece ter sido suficiente. — Isaac faz uma pausa como se sentisse dor ao dizer aquilo — Amo você, Stacy. Sabe disso. Mas, é difícil pra caralho. E não devia ser.

Ela arqueia as sobrancelhas franzindo os lábios, tudo quando se tratava dela era assim, difícil pra caralho.

A atenção deles se voltam para porta com Sienna entrando e Stacy joga o cabelo escuro para trás vestindo aquela armadura.

Pode ver a loira entregar as bolsas de sangue para Isaac e perguntar:

— Quer ajuda com mais alguma coisa?

— Não. — Stacy responde. — Ele já tem tudo o que precisa.

As duas se entreolham por alguns segundos, Sienna volta os olhos azuis em Isaac por alguns segundos e Stacy podia ver a forma que se olhavam, lembrava a forma que Ava olhava para Aiden e ela podia ver o quão real era e não tinha se dado conta porque quando se tratava de Isaac, ela simplesmente ignorava a maior parte do tempo.

Sienna saiu do quarto em silêncio.

Isaac fitou Stacy e antes que dissesse algo ela o interpela:

— Eu não quero que diga nada. Você não me deve nenhum tipo de explicação.

— Não é o que está parecendo.

— Eu não estou chateada com você. Estou comigo mesma... — Olhou para os lados com dificuldades de confessar aquilo em voz alta — Eu sempre fui egoísta e não sei se isso algum dia vai mudar, não quero justificar nada, só quero que saiba que eu me importo e quero sua felicidade e eu sei... sei que eu não sou ela. Fui sua prisão por todos esses anos e eu queria que as coisas fossem diferentes porque todos nós merecíamos mais do que temos, mais do que recebemos, mas isso não é algo do qual podemos mudar. Quando você ficou preso nessa utopia a única certeza que tive foi de que não estou preparada para te perder.

— Sua vida não é mais ligada a minha.

— Minha vida sempre será ligada a sua, tudo que sou, tudo que me tornei é graças a você. Embora eu nunca te pedi para abrir mão de tudo por mim você fez isso e qualquer felicidade que tive foi por intermédio do seu sacrifício para me fazer ficar bem. Quando vi o que está acontecendo, minha primeira reação foi de ego ferido, mas você merece ser feliz e eu posso não ser amaldiçoada a amar você, mas se eu pudesse te daria tudo que você merece. Não porque você fez isso por mim, mas porque você merece muito mais que eu.

Isaac a observa inexpressivo, pisca algumas vezes e avisa:

— Eu não esperava por isso.

— Acho que nem eu, mas saiba que eu quero te ver feliz. — Se aproxima e bagunça o cabelo dele e sorrir fraco — Você merece.

Isaac sorri a observando e pega a bolsa de sangue.

Stacy segue direção a saída do quarto e fecha a porta voltando o olhar para o final do corredor, abaixa o olhar sabendo que as coisas estavam mudando muito e odiar mudanças só tornava aquilo ainda mais complicado...

( † )

Sienna segue até o quarto e pode ver Ava presa a cama, observa todas aquelas feridas e se aproxima da ruiva preocupada:

— Gabe eu preciso ficar sozinha, pode ser arriscado ficar aqui enquanto removo o alquimista de dentro dela. Além que pode entrar em você ele pode te ferir.

— Vou trazer sangue para ela quando acorda-la.

Sienna concorda e pode ver o rapaz sair.

Se aproxima de Ava e toca seu olho abrindo-o e podia ver aquela escuridão em seu olhar, como se olhasse para um mar negro, podia sentir que aquele alquimista estava bem instaurado ali, seja qual for a utopia que Ava estivesse vivendo, estava convencida que era real e seria mais difícil convence-la o contrário. 

Toca a testa dela e fecha os olhos se concentrando naquele feitiço....

( † )

Posso sentir aquela claridade vir por uma fresta da cortina, abri os olhos lentamente para me adaptar a luz do sol que vinha de encontro a mim.

Afago meu rosto ao travesseiro que é macio como se deitasse nas nuvens e fosse aquecida pelo sol.

Sorri ao sentir Austin me abraçar por trás e beijar meu pescoço.

Sua ereção matinal é meu primeiro desafio diário.

E tem sido assim desde... sempre.

Deitou sobre mim e seus olhos escuros percorrem por cada detalhe do meu rosto.

Observo sua barba a fazer e seu cabelo castanho escuro desarrumado de uma forma que o deixa ainda mais charmoso do que quando está arrumado.

Deu aquele sorriso lindo que completa meu dia.

Me puxou para um beijo e o afastei virando o rosto:

— Para, Austin! Eu ainda nem escovei os dentes.

Apertou os olhos franzindo a testa:

— Ava... Eu te amo. Já tem anos que acordo todos os dias ao seu lado e acredite, não é um cabelo bagunçado e o fato de não ter escovado os dentes que vai me assustar.

Sorri olhando para o lado e sinto seus lábios quentes e macios tocarem os meus, sua barba roçar no meu rosto enquanto ele saboreia meus lábios puxando-os para o interior de sua boca.

Sua língua adentra minha boca tocando a minha como se ambas se abraçassem. O beijo dele é maravilhoso, me incendeia e tranquiliza.

É como uma dose perfeita entre o êxtase e a tranquilidade.

Sinto sua mão percorrer pelo meu corpo e o alarme ao lado da cama desperta nos arrastando de volta a vida real.

Austin faz uma careta e solta uma respiração pesada:

— Logo agora?

Empurro-o me levantando mordendo o lábio:

— Temos que ir para o trabalho.

Corro para o banheiro tirando minha roupa e entro para o box ligando o chuveiro, após acostumar com a temperatura sinto aquela água percorrer meu corpo fazendo-o arrepiar.

Passo o sabonete pelo meu corpo e posso escutar o box abrir, sorri erguendo as sobrancelhas e posso sentir a mão de Austin deslizar pelos meus seios, minha barriga e seus dedos logo chegarem até minha parte íntima deslizando até encontrar o ponto certo.

Como ele consegue ter essa maestria?

Esfrego minha cabeça em seu peitoral e sinto-o beijar meu pescoço, seus lábios sobem para minha orelha me fazendo gemer.

Posso sentir meu corpo contrair de desejo e naquele instante só o dedo dele não é o suficiente mais.

Viro beijando-o, deslizo as mãos pela barriga definida dele até segurar seu membro latejante. Coloco-o em mim e sinto-o me pressionar contra o box me tirando do chão, contrai seu quadril ao meu removendo qualquer centímetro entre nós dois.

Abafa meu gemido com um beijo sedento. Enfio os dedos no cabelo macio e sedoso dele.

Sinto-o se mover dentro de mim enquanto o abraço contraindo meus músculos e sentindo-o me preencher.

Me beija com a respiração mais descompassada transmitindo o prazer que sente.

Sinto-o intensificar os movimentos e a sensação do box frio com o calor que vem do corpo dele e da água é maravilhoso.

Arranho as costas dele, sua pele bronzeada e de um tom quente destoa com a minha por eu ser muito branca e ter um tom de pele mais frio. É como um contraste perfeito.

Não levou muito tempo até que chegássemos ao ápice e por instantes eu queria que durasse uma vida inteira....

Penteio meu cabelo que está maior do que nunca, no meio das costas, o ruivo está mais vermelho por estar molhado. Alguns cachos estão se formando conforme seca.

Passo aquele delineador e vejo Austin esbaforido procurando algo no interior do quarto:

— Segunda gaveta da mesa de cabeceira do seu lado da cama.

Foi em direção e sorriu agradecido:

— Não sei o que seria de mim sem você?! Como sabe que estava procurando minha carteira?

— Eu te conheço.

Deu aquele sorriso maravilhoso e veio em minha direção dando um beijo e avisando:

— Não vou poder ficar para o café da manhã, acabamos levando mais tempo do que devíamos no banho.

— A culpa com certeza é sua.

— Sempre é. — Sorriu. Me dá um selinho — Bom trabalho querida.

— Para você também.

— Não esquece que nossos pais vão jantar conosco essa noite.

— Vou pedir minha avó para ajudar a preparar o jantar.

— Achei que ia pedir um buffet...

— Eu vou, mas conhece ela, gosta de se sentir útil.

— Tudo bem. Ela é ótima na cozinha. — Confere as horas e me dá outro selinho e sai apressado.

Me observo na frente do espelho e sorri ao ver aquele vestido vinho tubinho marcar minhas curvas. Fiquei elegante.

Saio do quarto pegando minha bolsa e posso sentir aquele cheiro maravilhoso de panquecas virem da sala de jantar, sigo em direção vendo-a preparar a mesa com café da manhã.

Seus cabelos com fios grisalhos quase se fundem com o ruivo acobreado e aquele liso pesado contornando seu rosto deixando-a linda, suas linhas de expressão pela idade não diminui sua beleza.

Usa um terninho vermelho que a deixa linda.

Fita os olhos azuis em mim e abriu aquele sorriso lindo:

— Está maravilhosa, Ava!

— Vovó, já disse que não precisa acordar cedo e preparar o café da manhã.

— Te conheço melhor que seus pais, sei que se eu não fizer isso, você não toma café da manhã. E além do mais, eu faço questão de estar na sua manhã de autógrafos. Tenho tanto orgulho de ter se formado em literatura e ser uma escritora famosa.

— É exagero a parte do famosa. Mas ter a senhora comigo, me deixa bem mais tranquila.

— Sempre estarei com você.

A observo por alguns segundos com uma vontade louca de chorar, a amo tanto que chega doer. É como se sentisse falta dela mesmo estando com ela.

Após tomarmos o café da manhã, seguimos para a livraria, observo vovó atenta ao caminho em silêncio, mas com um sorriso de orgulho que sempre sonhei em ver e agora, ver isso, é mais gratificante do que qualquer outra coisa....

Todas as cadeiras estavam preenchidas, todas aquelas pessoas estavam ali empolgadas para que eu dissesse algo, um nervosismo fazia minhas mãos suarem e aquele arrepio na espinha percorre em um misto de nervosismo e adrenalina.

Observo minha vó me olhando com tanta confiança que era como se me contagiasse. Tomo a frente:

— É um prazer imensurável estar aqui na companhia de todos vocês divulgando minha obra. — Observo o banner com a capa do livro e prossigo — Escrever se tornou uma terapia para mim, poder me expressar através de personagens e narrar histórias das quais as pessoas que lessem se identificassem é algo muito gratificante.

Uma senhora levanta a mão. Gesticulo para que ela perguntasse:

— Oi Ava, sou fã das suas obras. Mas esse livro em especial, a protagonista é uma mulher incrível e tão forte. Se inspirou em alguém para escreve-la? Pois quando leio, sinto como se ela fosse real.

Volto os olhos em minha avó e sorri mordendo os lábios:

— Me inspirei na pessoa mais importante para mim, que sempre esteve ao meu lado e me fez ser a mulher que sou.

Vejo-a limpar os olhos emocionada.

Todos aplaudem.

Uma garota levanta a mão, volto os olhos nela que indaga:

— Ava, eu também sou escritora. Só que amadora, teria algum conselho para que eu possa desenvolver a minha escrita?

— Acredito que ler, seja o melhor conselho para enriquecer seu vocabulário. E quando for escrever deixar a história fluir, às vezes é como se... Ela se escrevesse sozinha.

— E tem algum padrão? Acho que ter um norte para onde seguir.

— Acho que toda história, tem um determinado padrão.

— Qual seria?

— Geralmente um início onde se está tudo bem. Até um elemento surpresa causador de um clímax entrar no contexto. Ele é o ponto decisivo entre como será levar as personagens ao fundo do posso e depois tira-los de lá.

— E se não os tirarmos?

A observo por alguns segundos e franzo os lábios:

— Aí provavelmente o final não será feliz.

— E você acha que toda história merece um final feliz?

— Penso que as personagens tem o que merecem.

— Como na vida real?

— Exatamente.

Todos aplaudem.

Sorrio observando vovó me olhar orgulhosa.
Me sinto realizada. E esse é o melhor sentimento do mundo...

Estaciono o carro de frente a minha casa e sorri descendo com vovó que falava

— ...ver você autografando todos aqueles livros me deixou muito animada.

— Acho que devíamos escrever um livro juntas.

— Não acho que será capaz de me convencer.

A olho arqueando as sobrancelhas:

— Sabe que quando eu quero, consigo ser bem insistente.

Sorrimos juntas e nosso sorriso se desfaz, vejo uma mulher loira seguir em nossa direção.

É bonita, tem traços marcantes. Lábios carnudos, olhos bem azuis e usa o cabelo liso em um corte moderno e desfiado na altura dos ombros.

Se direciona a mim como se me conhecesse:

— Ava... Precisamos conversar.

A encaro confusa, vovó me olha preocupada:

— Tudo bem?

— Eu... Entre e ligue para o buffet.

Me olha temerosa e segue direção a casa.

A loira se aproxima com olhar preocupado, algo nela é familiar, mas não sei dizer de onde:

— Ava você tem que acordar.

A encaro confusa:

— Acordar? Eu... Não estou entendendo. Conheço você?

— Ava nada disso é real. Você está presa em uma utopia, estão te usando para ferir pessoas que você ama, pessoas que você jamais iria ferir.

Volto os olhos vendo minha vó na varanda e fito a loira:

— Me desculpe. Eu não entendo de verdade o que está dizendo. Mas está me assustando, vá embora.

— Ava você se lembra do Aiden.

— Aiden?!

Me olha atônita. Pisca algumas vezes e pega minha mão colocando em sua barriga:

— Você que me contou deles.

Sinto um pequeno relevo, uma dor de cabeça repentina me acerta e é como se um déjà-vu se passasse a minha volta, porém não consigo entender o que está acontecendo.

O céu começa a fechar com nuvens escuras tampando o sol.

Foge dela! Foge! É como se o vento sussurrasse em alerta.

Me afasto e a forma que ela me olha é familiar, porém tem algo errado, é como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.

Me afasto e aviso:

— Vá embora.

— Nada disso é real, sou eu, Sienna! Você tem que acordar.

— Eu estou acordada. Você é quem parece estar alucinando, deve estar drogada. Não parece nada bem, vá embora ou serei obrigada a chamar a polícia.

A loira balança a cabeça e passa a mão no rosto:

— Você tem que se lembrar da sua vida, isso aqui não é real.

A observo atônita. Sigo direção a casa e ela me interpela:

— Merrick, você se lembra dele?

A olho por cima dos ombros e balanço a cabeça negativamente:

— Eu não sei quem é você ou quem são as pessoas que está falando, certamente está me confundindo com alguém.

— Stacy... — Relâmpagos cortam o céu e uma sensação de angustia me envolve — Isaac... — Aquele vento se intensifica, ela prossegue — Naomi... Lance. — Volto os olhos nela podendo sentir o chão abalar como um terremoto, Sienna insiste — É sua mente, não pode ter perdido todos eles.

A observo por alguns segundos aquele sentimento de angustia faz meu peito se comprimir. Um sentimento de dor me invade.

Uma chuva de vento nos acerta.

Sienna se aproxima afastando aquela mecha de cabelo de seus lábios:

— Se lembra deles? Naomi e Lance, você os viu morrer.

Me assusto com um raio caindo em um poste no final da rua, sinto a angustia aumentar. Engulo em seco tendo a atenção desviada pela loira:

— Você precisa acordar. Nada disso é real, você está presa em um loop infinito do que seria perfeito para você.

— Fica longe de mim.

Corro direção a minha casa e escuto-a vir atrás de mim. 

Entro e antes que fechasse a porta ela segura a mesma fitando meus olhos:

— Eu sei o que está sentindo, eu posso sentir, sei que está confusa e assustada. Está angustiada por estar reprimindo. E quer fugir para não ter que sentir porque dói. Mas a vida real é assim. Não somos felizes o tempo tudo, nem tudo é perfeito, sofremos, mas tudo isso nos torna mais forte. Aprendemos a conviver com as perdas com a dor, tornamos esses sentimentos ruins combustível para nos fortificar. Acorda, Ava. Você precisa acordar.

Ela toca minha testa e é como se uma luz reluzisse de seu dedo, a empurro:

— Sai. Da. Minha. Casa!

Vejo-a voar direção ao céu como se fosse sugada para uma daquelas nuvens.

Corro direção observando-a desaparecer nas nuvens e pisco algumas vezes confusa.

Como que isso é possível?

Balanço a cabeça confusa e me viro assustando com Austin:

— Oi meu amor.

Olho confusa, ele devia estar no trabalho. O que faz aqui? 

Balanço a cabeça confusa:

— Uma mulher... Ela foi... É como se tivesse sido abduzida. Eu não sei explicar...

Ele começa a rir, afaga meu rosto:

— Fica calma. Você está nervosa. Olha para mim. Olha nos meus olhos.

Observo os olhos escuros dele, é como se estivesse hipnotizada. Posso ver sua pupila dilatar como se um lago negro expandisse dentro dela tornando seus olhos completamente negros e uma fumaça densa e negra veio para cima de mim me intoxicando. Sinto meus olhos pesarem e tudo escurecer....

Posso sentir aquela claridade vir por uma fresta da cortina, abri os olhos lentamente para me adaptar a luz do sol que vinha de encontro a mim.

Afago meu rosto ao travesseiro que é macio como se deitasse nas nuvens e fosse aquecida pelo sol.

Sorri ao sentir Austin me abraçar por trás e beijar meu pescoço.

Por alguns segundos flashes do que parece um pesadelo se passam na minha cabeça. Uma mulher loira.

"Você está presa em um loop infinito do que seria perfeito para você"

Como um grito isso ecoa na minha cabeça.

 Austin deita sobre mim e antes que me beijasse seguro-o e franzo as sobrancelhas:

— Austin... Eu... Tive um sonho estranho.

Apertou os olhos franzindo a testa:

— Ava... Eu te amo. Já tem anos que acordo todos os dias ao seu lado e acredite, não é um cabelo bagunçado e o fato de não ter escovado os dentes que vai me assustar.

O encaro confusa e por mais que tente me lembrar de o que aconteceu ontem, não consigo. Pisco algumas vezes e sinto-o me beijar.

O empurro e me levanto seguindo até a janela, puxo a cortina e observo o lado de fora, o céu está lindo, com poucas nuvens, o sol está brilhando.

Vejo como uma premonição uma mulher loira ser sugada para o céu. 

Passo a mão no rosto confusa com esse pesadelo. Me assusto com o despertador tocando.

Austin faz uma careta e solta uma respiração pesada:

— Logo agora?

Volto os olhos nele confusa vendo-o deitar na cama passando a mão no rosto e levantando pegando seu celular, volta os olhos em mim confuso:

— Devia estar no banho.

— O que?

— Vamos transar no banho?

Flashes se passam na minha cabeça de nós dois transando em baixo do chuveiro, é como quando estávamos na faculdade. Porém, como se essas lembranças estivessem alteradas. Com esse lugar.

Passo a mão na cabeça:

— Não estou me sentindo bem, preciso comer alguma coisa.

Pego aquela camisola e coloco sobre o baby doll fechando-a e saio do quarto seguindo pelo corredor vendo fotos minhas com meus pais, Austin e vovó.

Posso ver aquela mulher loira no reflexo pelo vidro atrás de mim, me viro assustada e não a vejo.

Foco as fotografias e vejo aquele liquido preto escorrer pelos olhos dos meus pais.

Desço a escada correndo e paro ao sentir o cheiro de panquecas. Vejo vovó com aquele terninho vermelho preparando a mesa de café da manhã na sala de jantar enquanto cantarola uma música.

Fita os olhos azuis em mim e abriu aquele sorriso lindo:

— Está maravilhosa, Ava!

É como se o que ela disse ecoasse na minha cabeça, é como se já tivesse vivido isso várias vezes. Passo a mão na cabeça e aperto os olhos tentando acordar de algum pesadelo.

Abro os olhos e me assusto com ela na minha frente:

— Não faça isso.

— O que está acontecendo?

— Querem tirar o seu final feliz de você.

— Final feliz?

— Querem te levar para uma vida infeliz, cheia de dor, de desgraças. Uma vida da qual eu não faço parte.

— O que a senhora está falando?

— Não deixe que tirem a sua vida de você novamente.

— Vovó... Está me assustando.

A porta de entrada cai no chão. Vejo a loira do sonho que tive entrar para dentro de casa, me fita e avisa:

— Ava! Precisa acordar!

— Quem é você?

Vovó segura meu braço:

— Não deixa eles tirarem sua vida de você novamente.

— Não escute ela, sua avó está morta.

Fito a loira confusa:

— O que está falando? — Sinto uma angustia enorme no peito que chega a me deixar sem ar. Ela toma a frente:

— Sua avó está morta, seus pais estão mortos. Você não vive essa vida que acredita ter.

Vovó me puxa:

— Não dê ouvidos a ela? Você quer isso? Quer viver uma vida em que todos que ama estão mortos?

(Can't Help Falling In Love - Tomme Profitt, Brooke)

Fito a loira que me observa e avisa:

— Ava... A realidade não é perfeita. Só que se tem algo que eu sei é que se alguma coisa dói é porque é ou foi real. Algumas vezes é melhor sentir dor do que não sentir nada.

— Não dê ouvidos a ela, Ava.

— Ava... — Volto os olhos na porta ao ouvir aquela voz masculina e sinto meu coração descompassar.

Um sentimento de euforia, adrenalina, emoção e saudades me faz ficar sem reação por instante.

Aqueles olhos azuis, sigo em direção daquele homem sentindo um magnetismo me puxar para ele.

Quanto mais perto dele fico, mais descompassado meu coração bate.

Seu olhar tem muita dor, mas um brilho único ao olhar para mim.

Me aproximo observando cada detalhe de seu rosto e sinto uma raiva que me faz chorar, um desespero que faz todos os poros do meu corpo dilatarem.

Aquele vento forte nos envolve e posso ver o sol ser coberto por nuvens escuras e relâmpagos.

O vento começa a levar partes da casa fazendo-a se tornar poeira.

Embora tudo a minha volta esteja sendo levada pelo vendaval que nos envolve como um furacão eu não consigo desviar os olhos dele um segundo se quer.

Toda aquela dor, aquele desespero, posso me ver gritando, me ver chorando. É como se todos aqueles sentimentos ruins viessem e me atropelassem. Chega ser insuportável senti-los.

Choro olhando-o e sinto as lágrimas serem levadas pelo vento junto com todas as casas da rua, árvores, carros, como se o céu estivesse engolindo e desfragmentando tudo.

Choro engolindo em seco vendo minha vó ser desfragmentada, ela ergue as mãos para mim, ergo a mão direção a ela e sinto-o me segurar.

Fito os olhos dele ao sentir me tocar, posso ver os olhos dele reluzirem de um verde e prateado deslumbrante que chega a me deixar hipnotizada porém consciente, sua pupila reluz como se uma luz brilhasse no fundo delas. Como um farol na escuridão.

É como se aquele sentimento que ele passasse para mim com apenas aquele toque fizesse toda aquela dor desaparecer e um sentimento muito maior me deixasse sem fôlego.

Tudo a nossa volta é sugado para o céu como se estivéssemos no centro de um furacão, posso sentir aquele vento forte cortar nossa pele.

Ele sorrir com lágrimas nos olhos e afaga meu rosto:

— Acorda meu amor, precisamos de você.

— Aiden.

Sorrir ao escutar eu pronunciar seu nome.

Toco sua barba e levo meus dedos até seu cabelo.

Sinto-o afagar meu rosto e seus dedos subirem na minha nuca e me puxar para um beijo.

Seus lábios sugam os meus com uma vontade que nunca senti antes. Não é perfeito, é bruto, mas é real.

Sinto o furacão se fechar contra nós dois como uma explosão.

Acordo....

Continue Reading

You'll Also Like

1.9K 144 40
Aurora uma simples humana de 18 anos, teve que lidar com a morte do seu pai, e o sumiço do seu irmão, mas acidentalmente acabou se condenando a um va...
24K 1.6K 28
Quando Eliza Quinn morre num "acidente" de carro,Harley Quinn Swan,sua filha,acaba se mudando para a casa de seu pai Charlie,em Forks. Depois da mort...
26.8K 1.4K 97
A 26 anos Elijah Mikaelson conheceu o amor de sua vida , e então a moça Teresa engravidou do vampiro original algo que era impossível. Mas como um er...
10.6K 601 74
Em um mundo onde seres sobrenaturais existem em segredo, a chegada de uma figura lendária muda tudo. Alana Evans, a primeira e mais poderosa criatura...