ROYALS • Sirius Black

By twinskeletonx

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[FINALIZADA] Após uma mudança na carreira de seus pais, Barbra Borage é transferida para a Escola de Magia e... More

── Introdução
Capítulo 1: Bruxos ingleses
Capítulo 2: Artifícios
Capítulo 3: Rivalidade
Capítulo 4: Ato de lealdade
Capítulo 5: Fogo cruzado
Capítulo 6: Indulgência ou revés
Capítulo 7: Remetente anônimo
Capítulo 8: Entre sussurros
Capítulo 9: Aparecium
Capítulo 10: Criaturas
Capítulo 11: Incolor
Capítulo 12: Summum bonum
Capítulo 13: Mapa Rastreador
Capítulo 14: Vigilância constante
Capítulo 15: A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black
Capítulo 16: 29ª Sagrada
Capítulo 17: Luta ou fuga
Capítulo 18: Mnemosine
Capítulo 19: Polaris
Capítulo 20: Era das Trevas
Capítulo 21: Cinza
Capítulo 22: Causas ocultas
Capítulo 23: O momento seguinte
Capítulo 24: Divergências
── Especial 40k! ♡
Capítulo 25: Legado
Capítulo 26: Canis major
Capítulo 27: Destemor e prudência
Capítulo 28: Reputação
Capítulo 29: Livre arbítrio
Capítulo 30: Finite Incantatem
Capítulo 31: Em três idiomas

Capítulo 32: Contagem regressiva

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By twinskeletonx


"Então esses tais Comensais da Morte te chamaram para–"

"Sim."

"E Sirius resolveu ir junto–"

"Isso."

"Então vocês estão namorando ou–"

"Não."

"O que isso quer dizer?"

"Estamos... juntos, eu acho."

"Ok. Há quanto tempo vocês estão 'juntos, eu acho'?"

"Algumas semanas."

"SEMANAS?" Lily gritou, apoiando os punhos na mesa e ficando de pé. A biblioteca inteira olhou para nós e até madame Nora soltou um miado sibilante atrás de uma das estantes de livros.

"Duas, no máximo três."

Depois de explicar tudo o que aconteceu para nossos amigos, nós tentamos ignorar a guerra cada vez mais cruel do lado de fora do Castelo de Hogwarts e tentamos ser estudantes normais.

Lily sentou-se resignadamente na cadeira, os braços cruzados. "Só vou perdoar porque não posso me dar ao luxo de perder amigos no momento."

É. Tentamos, mas falhamos miseravelmente.

Pelo menos uma vez por dia, escutamos novos boatos sobre os Comensais da Morte e seu líder, o Lorde das Trevas. É revoltante e desgastante, nos deixa com um sentimento de impotência. Por ora, não há nada que podemos fazer. Temos que nos graduar antes de sequer pensar em resistir de forma organizada, então só resta estudar para os N.O.M's.

O que nos traz a esta tarde encantadora com Lily.

"Como é mesmo aquela coisa que você disse uma vez?" coloquei a mão no queixo, fingindo pensar. "Ah é. 'Tudo o que eu quero é uma consciência tranquila e alguns amigos verdadeiros', ou algo assim. Sinto muito informar, mas a amiga que você tanto pediu c'est moi."

As sobrancelhas ruivas subiram, sua expressão de teimosia dissipando no rosto e dando lugar à uma de curiosidade. "Me ensina–"

"Não."

"Mas nem sabe o que eu ia pedir–"

"Ia pedir pra eu te ensinar francês."

A sineta tocou. Fechei meu livro, percebendo que não havia lido um mísero parágrafo entre as fofocas com Lily.

"Tsc. Você é uma péssima amiga", ela disse e com um giro da varinha todo seu material foi para dentro da mochila. "Quero reembolso."

"Sinto muito, sem devoluções."

Fomos para fora da biblioteca, o som das cadeiras sendo arrastadas e mochilas sendo fechadas ficando para trás conforme nos distanciamos. É um bonito dia de verão, o céu claro após uma sequência de vários dias sem chover.

Há distância, percebo que os jardins, antes sempre povoados por alunos tomando sol, estudando embaixo de árvores, brincando e se divertindo, estão vazios. Há uma faixa bloqueando o perímetro da Floresta Proibida e os professores estão rodeando o local – a figura baixinha de Flitwick em contraste com um homem grande, barbudo, quase o quádruplo de sua altura; estão conversando.

Desde que Sirius e eu contamos para o diretor como saímos da escola, a orla da floresta foi impedida. Não podemos sequer chegar perto. Virei-me para falar com Lily, e, distraída, quase colidi com alguém.

"Professor Dumbledore!" exclamei, gaspeando. "Não vi o senhor, desculpe."

Ele, como sempre muito calmo, passou a mão pela barba, e direcionou o olhar também para a Floresta Proibida. "Espero que não esteja distraída criando novos planos, srta. Borage."

Meu rosto esquentou, mas o diretor me deu uma piscadela divertida. 

"Estou de olho neles agora", brincou Lily, sorrindo.

"Eu também!" o grito veio primeiro, depois a silhueta de James brotou ao nosso lado, passando um braço pelos ombros de Lily. "Vou manter eles na linha, professor."

Dumbledore ergueu o nariz e franziu levemente o cenho, observando James e Lily irem para longe enquanto discutiam e/ou flertavam (é difícil distinguir). Quase consigo ver um ponto de interrogação formando-se em cima da sua cabeça.

Eu pigarreei, pescando de volta a atenção do diretor. "Professor, o senhor descobriu por que os Comensais queriam a espada de Gryffindor?"

"Temo que não. Sinto desapontar."

"Os outros artefatos são reais?" questionei logo em seguida, antes que perdesse a coragem, a pergunta que estava entalada na minha garganta. "Você sabe: a taça de Hufflepuff, o medalhão de Slytherin, a tiara de Ravenclaw..."

Dumbledore abaixou a cabeça dessa vez, fitando-me por cima dos óculos meia-lua. "Eu não sei se os demais artefatos são reais; nunca os vi. Bruxos mais habilidosos do que eu tentaram encontrá-los, mas a espada de Gryffindor é a única que apareceu. Quiçá, seja o único artefato que quis ser encontrado."

A coragem para continuar fazendo perguntas acabou, e Sirius apareceu na hora certa, sorrindo pra mim no fim da escadaria. Pedi licença e fui em direção dele, sentindo o olhar de Dumbledore me seguir até o pé da escada.

"Oi."

"Oi."

Apenas o observei por um momento. Os hematomas desapareceram, os ossos cicatrizaram, mas quando olho para ele ainda vejo nitidamente a expressão de agonia em seu rosto contorcido sob a maldição Cruciatus.

"Borage?" Sirius tirou-me do transe, acenando uma mão na frente do meu rosto. 

Senti minha visão refocar nos olhos dele, azuis acinzentados emoldurados por olheiras – se fosse qualquer outra pessoa nessa época do ano, diria que virou a noite estudando, mas como é Sirius de quem estou falando, é mais provável que ele e James tenham virado a noite planejando algum entretenimento coletivo.

"Você 'tá bem?"

"Você me pergunta isso umas dez vezes por dia, sabia?" ele soltou uma risada, meio parecida com um latido, mas seu semblante permaneceu cansado e alguns anos mais velho. Eu percebi isso, e ele deve ter percebido que eu percebi, porque logo estava com a mão ao redor do meu punho. Fez um breve carinho com o dedo polegar nas costas da minha mão antes de lançar um de seus sorrisos enviesados. "Sei exatamente o que vai me fazer sentir melhor."

"Sirius–!" exclamei quando ele me levou escada acima. "Vamos nos atrasar para a aula de Feitiços!"

"Você traduziu um livro velho e empoeirado do latim, Flitwick não deveria nem te fazer prestar o N.O.M. depois disso", ele argumentou.

"Touché, mas e você?"

"Eu me viro. Você tem sua inteligência e eu tenho a minha arma secreta que nenhum professor resiste."

"E o que seria?"

Paramos de andar, Sirius levou sua mão livre à maçaneta de um armário de vassouras e me encarou com um quê de ousadia.

"Meu charme."

Fiz menção de protestar, porém logo me vi sendo puxada para dentro do armário, os lábios de Sirius colados nos meus.

O problema é que, ao que tudo indica, nós não fomos os únicos a ter essa ideia. Um grito agudo nos separou e, depois de bater a cabeça na parede com o susto, reconheci as duas cabeleiras loiras que também estavam se beijando no armário de vassouras.

Sirius riu abertamente e dessa vez parecia genuíno. "Foi mal aí."

As duas começaram a se justificar, mas saímos e fechamos a porta de imediato. Encostei-me na porta e me juntei à risada de Sirius até ficarmos quase sem ar.

"Marlene e Celeste?"

"É a Cecília!"

Ele secou as lágrimas nos cantos dos olhos, o esboço de um sorriso ainda nos lábios. "Quando isso aconteceu?"

"Acho que elas já estavam flertando há algum tempo", ponderei. "Nós que não percebemos."

Ainda rindo vez ou outra, começamos a traçar o caminho para a aula de Feitiços.

"É bom que elas não roubem nosso status de melhor casal Grifinória-Corvinal", Sirius disse entre uma risada e outra.

"Corvinal-Grifinória."

Ele ergueu uma sobrancelha. "Grifinória-Corvinal."

"Por ordem alfabética, a Corvinal vem primeiro."

"Por ordem de magnificência, a Grifinória vem primeiro."

Soltei uma arfada debochada. "Andou lendo um dicionário?"

"Não, mas decidi roubar o vocabulário do Remus. Afinal, ele é o único que consegue sua atenção ultimamente."

"Você passaria mais tempo comigo se estivesse estudando para N.O.M.s."

"Oi", ele reclamou. "Estou estudando!"

"Acho que planejar pegadinhas com James e Peter até às quatro da manhã não se enquadra no conceito de estudar."

"Mas você tem que admitir, prender o Pirraça na Sala Comunal da Sonserina é uma ideia brilhante."

"Como vocês vão prender um poltergeist– Quer saber? Não me conta. Prefiro não saber."

Sentamos em mesas separadas na aula e Feitiços, mas uma do lado da outra. Xeno sentou-se ao meu lado, e Peter juntou-se à Sirius.

Percebi o Black meio incomodado. Sua perna batucava no chão e ele não parava de mexer no cabelo. Flitwick estava organizando as coisas para começar a aula quando Sirius finalmente se inclinou para minha mesa e sussurou:

"Ei, ahn... Peter está um pouco atrasado em Poções. James e eu não temos paciência para ajudar, e Lily e Remus estão tutorando uns outros três alunos cada."

"Vou falar com ele."

"Só não diga que a ideia foi minha", ele deu um sorriso torto. "Já pensou se as pessoas começarem a desconfiar que eu me importo com os outros?"

Revirei os olhos, empurrando Sirius de leve de volta para sua cadeira. Estiquei o pescoço para falar com Peter.

"Como estão as lições de Poções, Peter? Sabe que pode pedir minha ajuda, né?"

Seu rosto enrubesceu, dando um olhar de reprovação à Sirius. "Não sei se quero fazer Poções à nível N.O.M."

"É importante para várias carreiras bruxas. Já tem ideia do que quer fazer?"

"Ainda estou tentando achar meu lugar no mundo, sabe?" Peter coçou o pescoço com sua pena de escrita.

Eu sorri. "Sei, na verdade, eu sei sim. Xeno e eu vamos fazer uma revisão das últimas aulas hoje depois do jantar. Vem estudar com a gente, se quiser."

----

E como estudamos. O restante do mês Maio e Junho, e todos os dias de Julho até os exames, no fim de todas as aulas, nos fins de semana, no horário de almoço, depois de tomar café da manhã, antes de dormir, às vezes madrugada adentro; ocupamos a biblioteca, os jardins, os corredores, as mesas do Salão Principal, as arquibancadas vazias depois do Campeonato Inter-Casas, a Salas Comunais da Grifinória e da Corvinal e qualquer sala vazia que achávamos.

James constantemente reclamava da falta de ação do nosso grupo, mas estudar serviu como uma boa distração no último mês de aula. Nos revezamos para ajudar Peter com as matérias que ele mais tinha dificuldade. Sirius, espontaneamente, ficou mais concentrado do que todos nós juntos – ele nunca me disse, mas suspeito que almeja seguir carreira como auror.

No fim, a Sonserina ganhou a Taça de Quadribol pela enésima vez. E a Corvinal, surpreendentemente, recebeu a Taça das Casas, porque recebemos as maiores notas no N.O.M's, e imagino que os pontos que eu própria ganhei por ter feito a tradução do Incantatorium ajudaram.

Bem como os pontos extras que Dumbledore deu a mim e a Sirius pela... bravura... demonstrada frente aos Comensais... ou algo assim.

Sirius foi passar o verão na casa dos Potter, agora que não era mais bem-vindo no número 12 do largo Grimmauld. Me surpreendi quando Lily me convidou para ir para sua casa assim que chegamos em King's Cross. Fiquei um pouco receosa no início, não sabia como explicar aos meus pais que estaria hospedada na casa de uma família trouxa, mas aceitei. A ideia de passar as férias inteiras com meus pais não é muito animadora, não trocamos corujas desde que Sirius e eu nos metemos com os Comensais.

Assim que cheguei em Londres, esvaziei minha conta no Banco Gringotes antes que meus pais mexessem na parte da herança que meu bisavô deixou para mim. Quando cheguei na casa de Lily, passei a madrugada inteirinha escrevendo uma carta para eles, Noir empoleirada ao meu lado, seus olhos dourados observando cada vez que um pergaminho amassado voava no chão.

Eles não responderam minha carta.

Os pais de Lily queriam que eu ficasse o verão inteiro com eles, pois a ruiva os contou sobre minha situação; contudo, eu não queria atrapalhar as férias deles e... bem, Lily tem uma irmã trouxa que não é a pessoa mais amigável do mundo.

Ok, admito: ela é irritante pra cacete. Nem Noir gosta dela.

Estava há duas semanas na casa dos Evans quando recebi uma coruja de James, convocando uma reunião da nossa gangue na casa dele (ei, foi ele que nos chamou de gangue, não eu. Inclusive, achei péssimo).

Os pais de Lily não a deixariam ir, lógico, então ela mentiu dizendo que iria ficar comigo por alguns dias no Caldeirão Furado, pois eu estava "deprimida e precisava de companhia". Eu quase a bati quando descobri que ela mentiu, seus pais foram muito acolhedores enquanto estive na casa deles.

Eu a fiz jurar que mandaria corujas para seus pais todos os dias enquanto estávamos na casa de James, dizendo que eles eram incríveis e que ela estava com saudades e que voltaria assim que eu estivesse melhor.

Sob estas condições, utilizamos a Rede de Flu para ir à casa dos Potter em Godric's Hollow – a irmã de Lily quase teve um ataque cardíaco ao nos ver entrando nas chamas verdes da lareira. Encontramos James, Sirius, Peter e Remus na sala de estar quando chegamos.

O Sr. e a Sra. Potter estavam viajando. Durante a semana inteira, tivemos aquela casa gigante apenas para nós. A transformação de Remus aconteceu na mesma noite do meu aniversário. Lily e eu ficamos no quarto de James, a ruiva trouxe um estoque de algo que os trouxas chamam de histórias em quadrinhos e pegou a caixa de esmaltes da Sra. Potter, alegando que nós precisávamos de uma noite das garotas. Pintamos as unhas e passamos várias horas lendo, conversando, rindo e comendo os doces que James escondia em seu armário.

Às seis da manhã, os quatro idiotas entraram no quarto e se jogaram na cama conosco, nos acordando. Estavam sujos e fedidos, provavelmente passaram a madrugada inteira correndo em algum campo. Depois que eles se limparam, nos aconchegamos na cama de James e ficamos conversando sobre as coisas malucas que aconteceram naquele ano. Contaram-me histórias dos anos anteriores, e eu me senti em um constante dejá vu de quando os conheci pela primeira vez, no Expresso de Hogwarts, há menos de um ano.

Parece que faz muito mais tempo.

Parece que os conheço por uma vida inteira.

Eu nunca pensei que poderia estar tão feliz por ter sido renegada pelos meus pais. Pelo menos, supostamente renegada, pois eles ainda não mandaram notícias.

Foi o aniversário mais simples e mais especial que já tive.

Os meninos estavam exaustos, mas ninguém parou de falar até o meio-dia, e então nos arrumamos e saímos para almoçar, Remus meio cambaleante, mas com um sorriso que não conseguia conter. Quando voltamos, havia seis corujas pousadas na varanda dos Potter – alguma carta de meus pais? Meus tios?

Mas eram corujas de Hogwarts com os resultados dos nossos N.O.M's amarrados nas perninhas.

Mesmo com nossas exaustivas sessões de estudo, Peter passou em apenas quatro N.O.M's. Com exceção dele, fomos todos muito bem. Já era de se esperar que Remus seria o melhor: ele passou em dez N.O.M's. O resto de nós passou em nove.

E sabe quem ficou surpreso quando descobriu que nota mais baixa de Lily foi "Excede Expectativas"? Isso mesmo: ninguém.

Quanto a mim, entrei em êxtase ao ver que consegui passar em Astronomia – com um mero "Aceitável", porém não pude deixar de soltar um gritinho de felicidade.

Passamos o resto da tarde comparando nossas notas com os panfletos que nos entregaram no fim do semestre. Tiramos uma soneca, porém Peter nos acordou depois de quinze minutos, surtando por não saber o que queria fazer da vida depois da formatura. Conversávamos sonolentos e indecisos, discutindo sobre o lado negativo e positivo das carreiras bruxas. Nenhum de nós tem certeza absoluta do que quer fazer – o que deixou Peter aliviado – apesar de eu ter me interessado pelas carreiras acadêmicas, e Remus também.

Pois bem, nós ainda temos dois anos para pensar sobre isso.

James se gabava de peito estufado, falando que com suas notas e sua performance nas partidas de Quadribol dos últimos cinco anos, qualquer time do Reino Unido o aceitaria. E ele provavelmente está certo.

De canto de olho, vejo Sirius mais afastado de nós. Ele segurava o panfleto sobre aurores em uma mão e o pergaminho com suas notas em outra, com um sorrisinho satisfeito nos lábios.

Na tarde seguinte, voltamos para nossas casas. Como não tive notícias dos meus pais, aluguei um quarto no Caldeirão Furado e, alguns dias depois, descobri que vários estudantes trabalham em meio-período ou fazem estágios no Beco Diagonal durante as férias. Enquanto passeava, avistei uma plaquinha de "precisa-se de ajuda" na Floreios e Borrões. Conversei com a dona da livraria por quase uma hora, nos demos muito bem e ela me ofereceu o emprego no mesmo dia em que chegou a primeira coruja com notícias dos meus pais.

Foram breves: estamos bem, estamos desapontados, nossa imagem está manchada perante os Comensais depois do que você aprontou, avise se precisar de dinheiro. Feliz aniversário atrasado.

E nenhum pedido para eu passar os últimos dias das férias com eles. Já esperava, mas doeu mesmo assim. A única parte da carta que me surpreendeu foi o final.

Só não sofremos penalidades mais severas pois Regulus Black interviu. Bom moço, muito perspicaz. Entre os gritos acusatórios de Bellatrix, ele contou sua versão da história e acalmou os ânimos da família Black. Acho que Orion e Walburga acreditam que ele não teria conseguido atravessar a floresta sem você, e assim a discussão encerrou-se de imediato, pelo menos por enquanto.

Nem uma palavra sobre o roubo da bolsa de Bellatrix ou sobre a espada de Gryffindor. Questiono-me se eles sabem dessa parte. Questiono-me se a culpa caiu inteira sobre Sirius. Bellatrix não parece o tipo de pessoa que acobertaria minha parte da culpa do roubo só porque ajudei Regulus.

A espada tem tirado meu sono. Mantive a cabeça ocupada para não ruminar tanto minhas preocupações. Passei tardes e mais tardes estocando livros e ajeitando prateleiras. Lily veio me visitar no último fim de semana antes do retorno das aulas. Troquei cartas com Sirius, James, Remus e Xeno a cada três dias; Peter demora mais pra responder. Levei Noir para passeios noturnos. Fiz os deveres de verão que os professores passaram. E só me dei conta que as férias estavam chegando ao fim quando alguns colegas do meu ano apareceram na Floreios e Borrões para comprar o novo material.

Agora estou aqui, fazendo exatamente o que estava fazendo um ano atrás: arrumando minhas malas para Hogwarts, enquanto Noir bate o bico nas grades da gaiola, pedindo comida. Sinto-me aliviada em voltar para Hogwarts, pois estaria mentindo se dissesse que a guerra no mundo bruxo não me deixa hipervigilante o tempo inteiro em que estou acordada, e ainda infiltra-se nos meus sonhos em formato de espadas encravadas de rubi e ouro sendo usadas em feitiços nefastos.

Ouvi um barulho de batida do lado de fora do quarto. Um mau agouro sobe pela minha espinha, prendo a respiração. 

"Serviço de quarto!"

Meus ombros caíram. "Lily!" suspirei aliviada, abrindo a porta do quarto.

A ruiva pulou para me dar um abraço enquanto os meninos entravam. "Quarto legal, Beauxbatons", comentou Potter, enquanto Remus murmurou um "com licença" a passar por nós.

"Cadê o Peter?" questionei, virando-me para Remus quando Lily soltou-me.

Ele e James se entreolharem, um certo constrangimento pairando no ar.

"Não sabemos", Remus foi quem respondeu, coçando a nuca. "Não retornou nossas corujas... O convidamos para vir aqui hoje, ficamos esperando por ele na lareira lá embaixo por quase meia hora. Mas, como pode ver, ele não veio. Acho que vamos encontrá-lo em King's Cross."

"Ah, ok. Espero que ele esteja bem", comentei. James e Remus assentiram em sincronia.

James, Remus, Lily, Peter... Falta alguém nessa conta. Espiei para fora do quarto.

"Olha só, quem tá vivo sempre aparece", brinquei quando vi a silhueta de Sirius no fim do corredor. Ele sorriu envergonhado, vindo em minha direção. "Oi, sumido."

"Oi", ele disse simplesmente, encostando-se no parapeito da porta. "Eu... eu queria te visitar, mas... Bem, eu não tinha certeza se..."

Ergui uma sobrancelha, um sorriso divertido brincando em meus lábios.

"Não tinha certeza se... o que?" questionei, provocando-o.

Suas bochechas adquiriram uma coloração rosada.

"Se estamos, tipo, juntos."

"Tipo, juntos? Como assim?"

Ele bufou, revirando os olhos. Depois, sorriu.

"Por Merlin, Barbra. Estamos namorando ou não?"

"SIM!" James, Remus e Lily gritaram em uníssono dentro do quarto.

Começamos a rir, e Sirius ficou mais vermelho do que antes.

Tive que ficar na ponta dos pés para lhe beijar. Suas mãos foram automaticamente para minha cintura e senti seu sorriso moldar nos meus lábios antes de retribuir meu beijo. Não durou muito, pois Lily e James começaram a gritar "parem, parem, meus olhos!" e Sirius se afastou de mim, rindo.

"Oi, eu não atrapalhei vocês dois quando ficaram se agarrando no sofá durante as férias."

"Não quero ser estraga-prazeres," Remus comentou casualmente; "mas o Expresso de Hogwarts sai em menos de duas horas. Como vamos para King's Cross?"

"Eu sempre vou de táxi", Lily respondeu e eu acenei a cabeça, concordando. "É fácil e não chama a atenção dos trouxas."

"O que é isso?" James franziu o cenho, confuso.

Enquanto Lily e Remus tentavam explicar para James o que era um táxi, Sirius se aproximou de mim de novo.

"Estava com saudades."

"Eu também", e estava mesmo. Cada dia que passava entre as trocas de cartas era angustiante.

"Certo, gangue", anunciou James, batendo uma palma para chamar nossa atenção. Eu tive que me contar para não revirar os olhos. Não acredito que ele realmente vai começar a nos chamar de gangue. "Vamos de áxi."

"Táxi", Remus e Lily corrigiram em uníssono.

----

"PETER!" James exclamou assim que pisamos dentro do Expresso de Hogwarts. "Por onde você andou, cara?"

O garoto se assustou ao nos ver, esquivando-se do grito de James. Depois, sorriu tímido e veio nos cumprimentar.

"Foi mal. Quando voltei para casa, descobri que minha avó estava doente. Fiquei o restante das férias com ela no St. Mungus. Sarapintose, sabe?" Peter se pôs a explicar, mexendo as mãozinhas no ar.

"Uh, sarapintose é horrível. Eu já peguei quando era mais novo. Ela está melhor?" Remus perguntou, colocando a mão no ombro de Peter, que se encolheu sob o toque do amigo.

"Ah... sim, sim", o mais baixo respondeu.

"Que bom que ela está bem agora. Sabe, você poderia ter nos dito. Ficamos preocupados", a empatia nas palavras de Lily deixou Peter visivelmente envergonhado.

"D-d-desculpa", ele disse baixinho, olhando para o chão.

"Então vamos pegar a última cabine antes que alguém seja mais rápido que nós!" Sirius exclamou, puxando-me pela mão.

"Oi! Por que a última cabine?", questionei, sendo arrastada pelo Black para os fundos do trem, nossos amigos acompanhando atrás. Parece que peguei a mania de falar "oi" indignada como os britânicos – Sirius, principalmente – fazem. Ele sorriu pra mim.

"Para dar uns beijos, duh. Que pergunta ein!" James falou animado, colocando o braço ao redor dos ombros de Lily.

"Antes de tudo, vamos combinar que os casais não podem ficar se pegando durante a viagem", Remus disse autoritário, recebendo protestos de James e Sirius.

Dei um tapa no braço de Sirius, e ele me olhou sorrindo.

"Não se preocupe. Não vamos deixar você e Rabicho segurando vela", James disse, mas depois piscou para Lily, que lhe deu um soco no ombro. "EI! Qual é, é brincade- PARA DE ME BATAR, LILY!"

Lily ria, desferindo tapas fracos em James, que agia como se estivesse sendo espancado por um jogador profissional de Quadribol. Fui obrigada a rir também, antes de empurrar Sirius para que ele continuasse andando.

"Você não achou o Peter estranho?" perguntei baixinho, conferindo por cima do ombro se alguém prestava atenção. James, Lily, Peter e Remus estavam numa sessão de gracejos entre eles.

Sirius deu de ombros. "A avó dele está doente."

"Ainda assim... Parece envergonhado ao nosso redor."

"Não percebi, Borage. Deixa o cara, logo ele se solta. O Rabicho é assim mesmo."

Deixei o assunto morrer assim que entramos na cabine.

Ainda não entendo como Lily e eu conseguimos dormir no meio da confusão que nossos amigos aprontaram durante a viagem. Quando acordamos, descobrimos que eles colocaram um unguento escorregadio na frente das portas das cabines que abrigavam alunos da Sonserina.

Durante todo o resto da viagem, cada vez que um Sonserino caia de bunda no chão, nossa cabine explodia em risadas – exceto Lily, que fingia ficar brava com o Potter, mas não conteve o sorriso quando Avalon escorregou no caminho de chamar Remus para a reunião de monitores.

A familiaridade e conforto que senti quando pisei no terreno de Hogwarts é indescritível. Quando chegamos até as carruagens que se movem sozinhas, Sirius veio por trás de mim e entrelaçou seus braços na minha cintura, encaixando seu queixo no meu ombro.

"Parece que foi ontem que estávamos estressados por causa das provas", ele disse, sorrindo para o Castelo que rasgava as nuvens com suas torres no horizonte.

Virei-me em seus braços, ficando de frente para ele. Atrás de nós, vi Lily e James de mãos dadas, com Remus e Peter se aproximando.

"Mais um ano!" Remus disse animado quando nos alcançou, ajeitando o broche de monitor em suas vestimentas. "Vocês acreditam que ainda sou monitor? Depois de tudo que aconteceu no ano passado, jurei que Dumbledore iria me mandar uma coruja bem mal-educada durante as férias."

Todos rimos. Afastei-me de Sirius e me espreguicei, dolorida da viagem de trem. Lily soltou a mão de James e correu para o meu lado, puxando-me para dentro da carruagem mais próxima.

"Pelas barbas de Merlin, vocês acreditam que nossa gangue já está no sexto ano?" James exclamou ao pular dentro da carruagem, seguido de Remus, Peter e Sirius.

Não consegui mais segurar. "James, preciso te pedir para parar de nos chamar de gangue."

"Pois é, gangue soa meio babaca, Pontas", para minha surpresa, Sirius concordou comigo.

"Meio babaca?", foi a vez de Lily tirar sarro do namorado, agora. "Soa completamente prepotente."

O moreno piscou várias vezes enquanto olhava para nós, inconformado.

"Mas... mas..." James gaguejou. "Bem, se não posso chamá-los de gangue, do que eu devo chamar?" cruzou os braços de maneira pueril e se jogou contra o banco almofadado da carruagem.

Bem, as coisas podem ter mudado. Mas pelo menos eu ainda tenho meus amigos.

Nesse exato momento, Nick-Quase-Sem-Cabeça parou ao lado da nossa carruagem. Ele olhou simpático para Lily, depois empinou o nariz para mim.

"Você pretende continuar levando meus alunos para almoçar na mesa da Corvinal nesse ano, senhorita?"

"Sim, pretendo."

"Suponho que não posso fazer nada a respeito disso."

Eu dei um sorriso contido. "Creio que não, Nicholas."

O fantasma já estava quase de saída quando percebeu James, Peter, Sirius e Remus sentados no outro lado da carruagem. Desconfiado, ele apontou um dedo torto e translúcido na direção deles.

"Seja lá o que vocês, marotos, garotos arteiros, estiverem aprontando dessa vez, é bom que não tirem pontos da Grifinória."

Imediatamente, James trocou o olhar mais travesso que já vi na vida com Sirius, Peter e Remus. "Vocês ouviram do que ele nos chamou?"

Ah, não. Lá vamos nós de novo.



N/A: Quando postei aquele aviso mais cedo, não sabia que o capítulo seria postado hoje mesmo, mas acabei me empolgando e terminando a revisão/reescrita mais rápido do que o planejado. 

Ah, sei lá. Não sei se existem palavras para escrever o misto de emoções que estou sentindo agora. Esse é o último capítulo de Royals,  quase quatro anos desde que eu postei o prólogo pela primeira vez, e mais de cinco anos depois que comecei a escrever o enredo. Estava olhando o histórico de Word e tem várias cenas desse capítulo que foram escritas há exatos cinco anos. Há cinco anos era 2019 - foi na década passada, que loucura. 

 Acho que vou deixar o textão bonitinho para o epílogo. Vejo vocês em breve (e dessa vez vai ser em breve mesmo!)

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