CAPÍTULO DEZ
decisões podem mudar todo
o destino
BLAIR DESLIZOU PELO CHÃO E SE ESCONDEU AO LADO da jovem Eleanor, a quem tentava proteger a todo custo, como se fosse alguém de sua própria família.
── A gente vai morrer? ── sua voz doce e pura resoou baixinho, amedrontada.
── Não. A gente não vai. ── respondeu no mesmo tom, embora não tivesse total certeza daquilo, colocando o indicador sobre os lábios, pedindo por silêncio.
A sineta acima da porta de entrada ecoou na quietude que se seguiu, dizendo que alguém havia adentrado ali, Watson prendeu a respiração, mesmo que precisasse muito dela no momento. Ouvindo os passos, os quais eram pesados o suficiente para a paralisarem, cravando suas unhas no centro de suas mãos suadas. O frio que circulava por seu sangue e um vento incessante em seu peito, a dominavam por inteira, aquele taco de beisebol seria o bastante?, era o que se perguntava em mente. Ela tinha que ficar bem, por ela, por sua criança e pela garota de maria-chiquinha a sua direita. Mas nunca havia atacado alguém antes, e bem, parecia o momento perfeito para se descobrir a como fazer aquilo e ser valente afinal. Os sapatos escuros, o arfar incontrolável, sua cabeça balançou contra a mesa atrás de si, era ele, estava ali, como se rastejasse através do escuro. As batidas do coração desenfreadas, o barulho estava vindo da esquerda, se concentrou no ritmo de seu último suspirar, levantando-se, o vulto saltou para perto de seu corpo e Blair segurou firme no bastão, atingindo suas costas com toda a força que encontrou, o estalo reverberou, mas olhando com mais calma, notou não ser Tommy quem cambaleara sobre o chão, aquele grito inconfundível só podia vir de uma pessoa: Nick Goode. Era ele quem gemia, tentando se colocar em pé novamente, após levar a pancada.
── Tá tentando me matar? ── reclamou, confuso ── Ou pior, tá tentando se matar? Que merda tá fazendo aqui ainda?!
── Ai, Nick! Droga! ── ela sentiu seu corpo amolecer em alívio ── Não. Eu só tô tentando ajudar alguém!
── Shadysider?... ── constatou, encarando a criança ── Como ela ainda tá viva?
── O quê quer dizer?
── O Thomas Slater, ele só tá matando shadysiders... ── explicou.
── Não pode ser! ── Blair se aterrorizou, apesar de não ser uma, ela temia por todos que pertenciam a cidade e também estava suja pelo sangue de Frankie e da garotinha, o que a deixou ainda mais apavorada ── Cacete... É ela, é a maldição da Sarah Fier!
── Você acredita mesmo nisso? ── ele apenas sentou, cansado, como se tivesse corrido bastante.
── Nick, olha a sua volta! ── procurou convencê-lo, mas sabia que seria uma tarefa inútil ── Esquece... De qualquer forma, essa não é a pergunta certa. Tenta só ser gentil, sabe? Como aquele velho Nick Goode que eu conheci um dia. De preferência, o que não me traía... ── revidou zangada, tornando a pegar o balde que encontrara.
── Do que você tá falando agora?
── Da maneira como você esqueceu o que prometemos dentro do seu chalé, ou do que prometemos há alguns meses atrás! ── Watson mal conseguia encará-lo, sem compreender o que havia mudado, ela precisava dizer a ele que agora teriam um filho, mas as palavras que saíam de seus lábios de maneira tão fria, a fizeram recuar na ideia.
── Isso é claramente coisa da sua cabeça! Não aconteceu nada entre mim e a Ziggy. Fala sério, Blair! Você sempre faz isso, a gente tá quase morrendo e você ainda quer um motivo pra brigar comigo... Cara, não dá! Você é imatura demais pra mim! ── reagiu, fazendo com que se sentisse péssima com suas palavras.
── Não fala assim comigo! Como se tudo fosse minha culpa! Como... Como se eu fosse a vilã! ── a loira pegou a criança em seus braços e as coisas da qual precisava no outro, Watkins a abraçou, não querendo soltá-la nunca mais, se sentindo segura pela primeira vez dentro de horas.
── Às vezes você age como uma, sabia? Já falei pra deixar de ser tão insegura! ── insistiu, tocando em seu ponto fraco.
E apertou firme a barra da calça, mordendo os lábios, com muita dor.
── O que houve com a sua perna? ── ela olhou para o chão e percebeu o sangue que não parava de escorrer da lateral de seu jeans.
── O Tommy... ── murmurou, se levantando com dificuldade ── Vêm! Eu vou tirar vocês daqui... Ele tá por perto!
── Blair! ── a voz sensível da menina a fez olhar em sua direção, depois para onde seu dedo minúsculo apontava.
A porta se abriu num estrondo e desta vez, sem qualquer anúncio prévio, Tommy entrou enfurecido, o machado girou no alto e desceu sobre Nick, mas ele caiu a tempo de escapar, a arma lascou a beira da madeira e Blair gritou, enquanto Eleanor escondia seu rosto contra seus cabelos. O garoto jogou a mesa quebrada encima do corpo forte de Slater, o imobilizando a certo ponto, Watson aproveitou a distração e apenas correu com a menina em seu colo junto da corda e o balde de que tanto precisava, deixando o bastão para trás devido a pressa. Atravessou a entrada, eufórica, Tommy estava diferente, agora a imagem dele se repetia em seus pensamentos, vestia um saco de batatas sobre a cabeça, transformado definitivamente num assassino sanguinário, e embora muito óbvio no início da noite, sua ficha caíra de fato naquele instante, Slater estava mais assustador do que nunca. Escutou o som de objetos colidindo contra a parede, encarando o chalé de onde saira, só pra se certificar de que havia mesmo se livrado dos passos do assassino atrás de si, observou então Nick pegar o taco que deixou num canto qualquer, se protegendo atrás de um armário. Tommy não notou sua presença, estava farejando algo novo e, por um segundo, foi como se ele tivesse a visto de longe, mesmo que não conseguisse enxergar seus olhos devido ao saco, Blair sentiu em sua alma, o que arrepiou todos os poros de sua pele. Correu floresta à dentro, lutando por sua vida e dos que dependiam dela, como se ainda tivesse muita energia, mas a verdade é que ela já estava cansada, bem no seu limite.
Voltando a como Tommy conquistou aquele pedaço de pano no lugar da cabeça, era nescessário observar a corajosa Ziggy Berman que depois de tentar se livrar do mesmo por diversas vezes, sendo rudemente perseguida, parou no refeitório, finalmente tomando a iniciativa de confrontá-lo, o atacando. Foi aí que ela brigou com toda a força de seu corpo para se manter viva, porém perdeu e foi pega por um instante, sendo prensada contra um armário da despensa, sentindo a mão forte do homem agarrar e apertar sua garganta, assistindo sua vida ir embora aos poucos, buscou por algo que pudesse ajudá-la, atrás de si puxou um saco de batatas, a primeira coisa que veio entre seus dedos e decidiu usá-lo, sem raciocinar direito, subiu em suas costas, segurando o objeto em torno de seu pescoço, tentando asfixiá-lo, mas Slater se ergueu após a tentativa miserável de Ziggy que escorregou, contudo, o saco havia ficado ali. E ao se arrastar pelo chão, ela temeu, suando frio, sentindo a morte lhe abraçar quando encarou seu rosto apavorado no reflexo do machado, os olhos arregalados, mas algo o fez parar a tempo.
Uma faca atravessou o peito de Tommy, que paralisou ao senti-la, se virando para ver, e ficou frente a frente com Cindy, irreconhecível ao seus olhos e perante uma mente tão perdida quanto a sua, no entanto, ela ainda sabia quem ele era por debaixo de todo o sangue e, depositando mais um golpe em seu estômago, seu coração se despedaçou. Porém o alívio ao ver sua irmã a salvo, o preencheu rapidamente. Cindy conseguiu, depois do incidente no banheiro, encontrou uma outra saída e por coincidência novamente, se juntou a Ziggy. Quando por fim, ela conseguiu acertá-lo, achou que nunca seria capaz, mas foi. Alice estava a caminho também, um pouco mais atrás pelos túneis abaixo de ambas. E Tommy, agora encontrava-se aparentemente morto. A mais velha puxou a ruiva para trás do balcão, distante do corpo do assassino, a abraçando. Estava tudo doendo e era exaustivo, mas quando sentiram uma a outra, as coisas pareciam ter feito sentido, era como se tudo tivesse valido a pena.
── Me desculpa, Ziggy... ── Cindy começou, chorosa ── Por não tá com você, não só hoje, mas todos os dias.
── Não. Você tava, você só... ── a menor nem se importava mais, feliz por ver o rosto coberto de merda e sangue, em conjunto do cabelo desgrenhado de sua irmã.
── Não. Eu não estive presente! ── insistiu, lamentando ── E eu sei disso agora, eu sei que você só precisava que eu ouvisse, que eu te escutasse... Mas eu achava que se eu abaixasse a cabeça e seguisse as regras, ia ficar tudo bem e eu ia sair de Shadyside! E, até o começo do dia eu acreditava mesmo nisso, de verdade. Mas, mas agora, eu já sei que você tinha razão. Tudo aqui é amaldiçoado!
── Eu... Eu podia ter sido mais legal! ── Ziggy engoliu em seco, se sentindo um tanto culpada ── Eu podia ter sido menos, menos monstro... ── sua voz quebrou ao dizer aquilo, experimentou a sensação de temor por ter se transformado no que todos afirmavam sobre si e por se lembrar de um certo alguém que a beijou no banheiro.
── Bom, é... Você é o meu monstrinho! ── Cindy sorriu, orgulhosa ── E no fim das contas, a mamãe e o papai, Shadyside e Sunnyvale, eu não vou deixar mais nada separar a gente, tá? ── ela segurou firme em seu rosto, aproximando suas testas ── Você me ouviu?
── Alto e claro, senhora! ── a ruiva repetiu, confiando plenamente na outra.
Mas um som de algo se arrastando pela escuridão vindo do buraco da ventilação por onde saíra, a fez se aproximar do mesmo. Cindy se inclinou sobre o pequeno quadrado no chão, com os lábios trêmulos, e seu corpo recuou assim que viu uma mão segurar na beirada, cravando suas unhas na madeira, algo saltou perto dela, porém quando notou ser os fios loiros de Alice e seu rosto todo borrado passando pela extremidade, suspirou mais tranquila por descobrir que se tratava da velha amiga.
── Oi dedo duro! ── cumprimentou, com o coração apressado.
── Por que demorou tanto? ── a morena fechou os olhos por um segundo e logo se concentrou, a segurando pelos braços e arrastando a garota para fora do buraco, a ajudando a sair dali ── Vêm, cuidado!
Alice encontrou dificuldade para retornar à superfície, mas quando a alcançou, só tinha cabeça para uma coisa e, precisava dizê-la de uma vez por todas, aquela seria a descoberta do século. No entanto, engasgou quando viu o corpo de Tommy morto, caído no chão e a jovem Ziggy do outro lado.
── Você conseguiu? ── ela se surpreendeu, olhando para os olhos claros de Cindy.
── Nós conseguimos! ── a corrigiu, a puxando para um abraço, Cindy havia sentido muita falta de Alice, se pudesse fazer tudo de novo, ela sabia que teria feito diferente, de diversas formas.
── Ok, cuidado, tá?! ── a loira se desvencilhou, constrangida, ela não curtia muito essa coisa de demonstrações afetivas, ainda mais em público ── Isso aqui tem um milhão de anos! ── e bateu de leve na bolsa que carregava com sigo.
── Poxa, eu comprei mês passado... ── a Berman retrucou, olhando para o objeto todo destruído com muito pena.
── Não tô falando da sua bolsa besta! "Sangue é derramado..." ── tornou a citar a frase do diário ── A "Pedra de Satã" tava bem ali. O tempo todo! Em baixo daquele musgo... mas eu achei!
── Achou o quê? ── franziu a testa.
── Advinha! ── Alice arregalou os olhos, empolgada, conduzindo as irmãs até o salão principal, onde as mesas ficavam. As outras duas não foram capazes de dar qualquer palpite, aguardando que ela revelasse.
A distração foi suficiente para não perceberem Thomas se levantando no outro cômodo, feito um morto-vivo que, inconscientemente, se tornara. Ele sentiu um par de corpos se movendo próximo dali, por uma espécie de faro ávido para sangue, correndo atrás deles. Foi assim que acabou encontrando Blair no chalé de artes, o ferimento da faca não havia sido tão profundo quanto Cindy esperava. Ele ainda estava por aí, rondando pelos cantos.
No entanto, retornando ao momento atual, os vultos entre os galhos que espreitavam Watson, a viram se esforçando para chegar a tempo de resgatar Frankie, acelerando com os pés sobre o barro frio da floresta, segurando a jovem shadysider em seus braços, mas de repente, um ruído perturbador ecoou próximo ao lugar pelo qual passava, localizando-se mais a frente, no caminho que tomara. E embora com imenso receio, percebeu alguém cair sobre a grama, em completo desespero, observando os cabelos longos que esconderam seu rosto, a câmera fotografou acidentalmente, então reconheceu ser Sheila, agoniada e chorando sem pausa. Blair se aproximou do banheiro, tentando entender a cena.
Tudo o que a morena se lembrava era de ter levantado-se zonza, com o cérebro nas nuvens e a vista completamente turva, se apoiando contra a porta da cabine em que caíra, seus pés pisaram em algo molhado, paralisando, sentindo um líquido espirrar entre seus joelhos, ele era vermelho e escuro, diferente do que esperava, bem, o sangue que lhe sujou a deixou extremamente apavorada e sem ar. Olhando assustada para baixo, viu a cabeça de Gary decepada, como se estivesse encarando todas as suas falhas, todos os pecados que cometeu durante a semana, aquele sangue retorcido estava nela agora, sentindo uma onda de pânico entorpecer seu corpo, como se a sufocasse em silêncio. A garota gritou tão alto que sentiu sua voz falhar ao final e, ficou alguns segundos saltando no canto, se debatendo, como se dançasse de forma desengonçada e sem música, tentando passar por cima daquele pedaço ensanguentado de crânio. Com tamanho frio e medo, conseguiu correr, lutando contra a sua carne para se mandar dali, o coração bombardeando seu peito, até que ao saltar por cima do monitor morto e sair correndo para fora do banheiro, suas pernas bambearam e ela caiu no gramado sem forças.
── SOCORRO!! ── foi tudo o que Sheila conseguiu berrar com a pouca voz rouca que lhe restara ── ALGUÉM!! Por favor! Eu tô sozinha aqui!
Aquele foi o devido grito que a sunnyvale mais velha tinha ouvido há alguns minutos antes, acelerando até a adolescente, a encarou quase sem forças, com um frio na barriga incomum.
── Sheila? ── perguntou.
── Blair? ── tentou se pôr em pé, como se não quisesse demonstrar o quanto estava abatida, embora fosse impossível.
── Anda! Vem rápido! Me ajuda a levar isso! ── a loira empurrou o balde contra seu estômago, olhando para trás uma única vez, mas não viu nada além da escuridão, continuando sua trilha.
A outra não teve tempo de perguntar coisa alguma, o clima desconfortável por si só já alertava a fatalidade crescente que viviam, apenas se apressou em acompanhá-la na rapidez com a qual caminhava, encarando o objeto entre seus dedos, suspirando brusco, numa investida falha de se acalmar.
── Eu vi... Eu vi a cabeça do Gary no banheiro! ── andava com certo formigamento nos calcanhares. Aliás, Sheila parecia bastante concentrada em relatar tudo o que havia visto, intrigada com o que estava acontecendo, fazendo aquilo de forma frenética ── Tava lá, e foi nojento! Eu não sei por quanto tempo fiquei apagada, é só que... BLAIR!! O quê tá acontecendo? Por que cê tá suja de sangue? ── reparou em suas roupas.
── Tem um assassino no acampamento! ── tocou em seu ombro, a congelando, enquanto olhava no fundo de seus olhos.
Depois ambas seguiram caminho pela mata fechada, Watson passava a compreender um pouco melhor as instruções do mapa na fotografia.
── Um assassino? Tipo, o Thomas Slater? ── adivinhou, os olhos arregalados ao processar a informação.
── É! Isso! ── somente assentiu ── Ah, agora você acredita?
── QUE MERDA! Malditos shadysiders! ── pragrejou, sem se importar com Eleanor que ouvia a tudo ── Então quer dizer que aquele idiota enlouqueceu mesmo?
Blair mordiscou os lábios, irritada com a voz da garota e com o que falava, escolhendo trocar de assunto. Agora era sua vez de revelar a sua curiosidade.
── Vem cá, o que tava fazendo no banheiro? E o que houve com o seu dente?
── Ah, isso? É uma longa história... ── sua expressão foi se fechando aos poucos ── Provavelmente, se as vagabundas de Shittyside que fizeram isso não morrerem essa noite, juro que vou matá-las com as minhas próprias mãos!
── Para de ser tão fútil, garota! ── rebateu, esgotada de tanta reclamação. E antes mesmo que a morena conseguisse dizer mais algo por cima, Watson lançou a luz da lanterna entre os galhos e achou o que tanto vasculhava, dizendo ── Olha, a árvore com a frase... Vêm, já estamos perto! ── se encheu de expectativa, embora Sheila não houvesse entendido o que aquilo significava.
Contudo, uma sombra se ergueu por detrás das paredes do banheiro por onde haviam passado, mais ágil que de costume e compenetrado na silhueta das duas garotas, que estavam praticamente vulneráveis naquela situação.
No poço desativado, indiferente e corrosivo, era notório como Frankie não era de fato melhor amiga da paciência, menos ainda das trevas que a cercavam naquele espaço tão curto. E sinceramente falando, estava a beira de ter uma crise de ansiedade, apenas conseguia pensar nos possíveis "e se": e se Blair nunca mais voltasse? E se começasse a chover? E se ninguém mais a encontrasse? E se ficasse ali até morrer? Ela não queria que aquele fosse seu fim, não desse jeito. O vento sacudindo as folhas como se varresse a terra, o movimento da natureza que não parecia ser em falso e, soube daquilo naquele momento, quando pedaços de troncos caídos começaram a serem esmagados como se por decorrência de passos pesados.
Blair estava próximo agora, o caminho que tomava parecia similar, e convicta daquilo, desceu Eleanor de seu colo, quando observou o perigo distante o bastante. A criança ainda muito calada, desta vez conseguira findar seus pés no chão e dar alguns passos, aliviando a coluna da moça que, esbaforida, só desejava em pensamento que aquela noite tão inesperada acabasse de uma vez por todas.
── A gente já tá chegando? Sério, Blair! Eu não aguento mais andar! Meus pés tão fazendo calo! ── a morena continuava a lastimar-se, sem levar em consideração a realidade que viviam, um verdadeiro pesadelo sem saída.
── Sheila... Só cala essa boca! ── retrucou, cansada de tudo ── Nós temos problemas maiores aqui, tá legal?!
── Que inferno! O que pode ser pior do que tá acontecendo? ── bateu os pés, revoltada.
E inesperadamente, tudo se calou.
Mas Watson descobriu não estar errada sobre sua intuição e leitura daquela página fotografada que a guiou até ali, bastou o feixe da lanterna pousar na beira de um círculo isolado no chão da floresta, confirmando que achara o mesmo poço de antes, a outra sunnyvale detestaria saber o que estava por vir, seu olhar debochado se mantinha, mas ela perderia a postura em seguida. Ao que parece, tudo estava ali ainda, as pedras e o mato remexido, e todos os objetos que escondera.
── Ei, Frankie! Sou eu, Blair!! ── inclinou seu corpo sobre o buraco, lançando a luz amarela contra o rosto da shadysider ── Eu voltei! Você tá bem?!
── Puta merda! ── reagiu, a um passo de chamar a atenção ── Eu achei que você não fosse mais voltar!! Já ia começar a gritar!
── Pera aí! A Frankie tá aí em baixo? ── Sheila prosseguiu, se aproximando ao lado da garotinha, incrédula.
── Essa voz... SHEILA?! ── a aspereza no tom de Lane retornou, descrente com o que escutava lá em cima.
── Sua shadysider de merda! ── começou, curvando-se para que a jovem pudesse entender com clareza, recebendo um olhar repreensivo da outra sunnyvale sobre ela ── Garota, quando você sair daí, saiba que eu vou te arrebentar!
── Não foi o que aconteceu no banheiro! Se eu conseguir sair desse buraco, eu te enterro nele! ── revidou com todo o eco, decidida a não engolir aquele desaforo.
── CALEM A BOCA!! AS DUAS! ── Blair interviu ── Não é hora pra isso! Se vocês querem se matar, vão ter que fazer isso depois que sobreviverem a essa noite! E pra sobreviver, vão ter que esquecer suas rivalidades e lutarem juntas pelas suas vidas!! ── foi a primeira vez que as garotas a viram agir assim, tão fora de si, porém a loira estava sendo sincera e o mais prática possível ── Estamos entendidas?!
E ambas ficaram quietas, como se a indireta tivesse servido.
── Tanto faz! ── Frankie sussurrou, e Watson decidiu informar de uma vez por todas que o grupo naquele canto do acampamento havia aumentado de uma forma que não imaginavam.
── Nós temos uma terceira integrante no grupo, além da Sheila, é claro. Eleanor Watkins! ── apresentou ── Ela tem oito anos... ── mas a menina a corrigiu, apontando sete dedos ── Não, sete! Na verdade... E ela vai vir com a gente!
── A ótimo Blair! ── Lane apertou as sobrancelhas, totalmente zangada, usando a ironia como defesa ── E você chamou mais alguém que queira me contar?!
── Não! E não dá tempo pra isso! ── concluiu, se referindo ao seu drama evidente. Agilizando tudo do que precisaria para salvar a shadysider, dando um nó bem firme na corda, a torcendo na alça do balde ── Ei, eu vou descer um balde pra pegar você, consegui isso no acampamento, só sobe nele e confia na gente!
── Na gente?! ── Sheila franziu a testa, com um semblante desagradável, desejando ficar fora daquilo.
── É, Sheila, você também vai puxar! ── suspirou, se levantando e ficando frente a frente com ela, que pareceu ter recuado no olhar num mísero segundo, descendo o balde lentamente, por receio de machucar Frankie, até que sentiu a mais nova tocá-lo.
── Nem MORTA! ── trincou os dentes, indiferente, depois de minutos se decidindo em mente a respeito do que faria.
── Faz logo o que eu tô te pedindo! ── ofereceu a corda à Sheila, enquanto Eleanor as encarava.
A morena não tinha outra alternativa, ela apenas queria se livrar daquela caótica noite e viver para reencontrar Will e, possívelmente, prosseguir destilando todo seu ódio. A proposta de acabar com Lane depois daquilo, pareceu convidativa. Estava tentando ser uma pessoa melhor, pois temeu ser castigada por alguém superior ou pelo destino, e ela queria muito sobreviver àquele inferno.
── Tá bom. Tá bom! Eu tenho certeza que tem alguma divindade nos assistindo agora, então... Deus, Zeus, ou Sarah Fier, eu tô sendo uma boa garota, tá legal? Eu vou salvar uma das minhas piores inimigas! Isso significa redenção, pelo pouco que sei... ── disse com bastante convicção, segurando com toda a força no pedaço traseiro da corda.
Blair apenas revirou os olhos, algo na sunnyvale a fazia a odiar sem qualquer motivo.
── Elie, segura isso e fica quietinha, aqui... Tá bom? ── a loira entregou o taco de beisebol para Watkins, esperando que ela soubesse como usá-lo, a deixando próxima ao tronco da árvore mais próxima ── Isso, muito bem! Sheila, no três tá legal?! ── arqueou as sobrancelhas para a detrás que assentiu, ainda de cara fechada.
── Tá! Anda logo! ── respirou fundo, erguendo o queixo, fixando seus olhos no cordão branco.
── Frankie! Tá tudo bem? Você já subiu? ── Blair aguardou a confirmação.
── Tá! Pode me puxar! Vai, Blair!! Me tira logo daqui!! ── a shadysider sentiu uma imensa agonia quando seus pés tocaram o musgo vermelho, não conseguindo encarar o esqueleto pequeno no cantinho.
Foi o medo que estavam sentindo que as fizeram dar o primeiro puxão tão desesperado, como numa dessas competições escolares, ambas balançavam o corpo no ritmo em que empurravam a corda. Frankie era pesada, ao contrário do que aparentava, o que ficava nítido pelo sofrimento em seus rostos. A rapidez com a qual dobravam a corda, uma esticada, depois outra volta, até que fizeram algum progresso, Frankie estava perto de alcançar a superfície, os gemidos de dor e o suor no rosto das sunnyvales demonstravam o quanto estavam sendo fortes naquele momento. Mas num segundo, Sheila olhou para trás e uma terceira respiração acelerada pela floresta, que não devia ser a de Eleanor, se manifestou. As pegadas foram aumentando na direção das duas, quando num vão entre os galhos, a lua acabou sendo benevolente com o grupo, iluminando o espaço de onde escutara as folhas se retorcendo, revelado Tommy com o saco de batatas sobre a cabeça, completamente descontrolado, saltando em sentindo a elas.
── Blair! ── Sheila alertou.
── O quê? ── se voltou, paralisando quando o viu.
A única reação da morena foi soltar a corda e escapar do machado que acabou colidindo contra seu ombro direito de maneira vertical, um berro vindo dela foi ouvido, vendo o sangue escorrer por seu braço. Watson apenas sentiu o impacto da corda escapando, a levando com sigo, deixando sua palma vermelha, Frankie estava caindo novamente e batera as costas com força desta vez, Blair largou o objeto no último minuto, desabando de bruços sobre a grama, com sua cabeça próxima ao poço, quase tombando dentro dele. Virou para cima, o coração pulando mais depressa que um meteoro atingindo o solo terrestre, vendo os pés de Slater na lateral de seu corpo frágil, a encurralado, e a lâmina no alto, entre as sombras das árvores. Ela ouviu a morte lhe chamando num sussurro, assim que o machado desceu contra sua testa, fechando os olhos, sua alma se preparando para o último suspiro, porém a pancada que esperava sentir foi interrompida pelo som de um motor, alto e veloz.
A loira olhou para cima, crendo num milagre, um amontoado de sangue espirrara em sua face, mas a jovem permaneceu com seus olhos azuis arregalados, grudados na cena, vendo a cabeça de Tommy ser cortada por uma espécie de serra elétrica, barulhenta e afiada. Ele tombou junto de seu machado ao seu lado, engolindo a poeira de terra que levantou-se com o impacto. O peito ainda inquieto, o medo roubara sua voz e toda a sua compreensão, mas ela conseguiu enxergar, a mão que segurava a serra se abaixando, a largando no solo, dando espaço para um rosto bem famíliar entre o breu da floresta, ela se espantou, as lágrimas já inundando o canto de suas pálpebras, aqueles fios dourados só podiam pertencer a uma pessoa:
── Kurt? ── questionou, sem fôlego, foi difícil chegar a tal conclusão naquele estado.
Porém, sim, era ele, desta vez com um macacão sujo e a mente no automático, sem ponderar perfeitamente bem.
₍ 001 ₎ Oii, amores! Oh, quem voltou!!
Gente eu tava mt empolgada
pra trazer esse cap, estamos
quase finalizando a trama de
1978! Mds! E vcs ainda tão
comigo nessa incrível jornada!
Só queria agradecer a todos
que lêem essa história! Pra mim
é uma honra tê-los aqui!! Mas vou
lançar uma meta aqui com vocês,
quando a gente chegar a 50k de
leituras em Haunted, eu vou lançar
um vídeo no tiktok dublando a Deena
para compensar o tempo que estive
ausente aqui e por lá, pode ser? Eu
passo qualquer vergonha por vcs! kakaka
Mas quando eu soltar vcs vão ter q
me prometer q vão dar mts
coraçõezinhos por lá como esses
que eu sempre deixo aqui pra vcs! ♡♡♡
E quando lançar vê se corre
pra ver rápido, porque se eu tiver um
colapso e excluir n vem botar a culpa
em mim não! akakak Mas é isso, amores!
Espero que tenham gostado do capítulo! ♡
Foi muito bom, apesar de exaustivo,
escrevê-lo! Já temos praticamente
todos os arcos da história fechados,
só nos resta o desenrolar final. Daí
sim vai ser uma depressão daquelas...
Mas, nos vemos em breve! ♡♡♡
₍ 002 ₎ Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!
₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡