Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 106- Um novo tempo

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By RosanaAparecidaMande


Olá, pessoal. Mais um capítulo de corações em jogo. Desculpem a demora, mas,  a vida está corrida, e como temo muitas fics para atualizar, eu vou postando conforme posso. Espero que  após lê-lo, me deixem seus comentários. Beijos, Rosana.

ANNE

O silêncio na sala naquele instante parecia tão pesado, que o único ruído que todos ali não poderiam deixar de ouvir era dos bebês, que alheios ao drama inesperado que se instalara entre os três adultos, deixavam que sua linguagem infantil hora ou outra escapassem de seus pequenos lábios rosados.

Para Anne que tentava entender as últimas palavras de sua mãe, e processá-las dentro de seu cérebro, tal distração era um alívio, pois naquele instante ela sequer conseguia pensar ou mesmo entender seus sentimentos completamente bagunçados.

A única coisa que sua mente não parava de repetir, era como aquela mulher que um dia a colocara no mundo, lhe fizera uma promessa que nunca cumprira, que a deixara para trás e que de uma hora para outra resolvera se lembrar de sua filha bastarda, tinha a coragem de vir até seu apartamento, e perturbar a paz de seu pequeno paraíso com uma notícia como aquela? Talvez ela devesse ter mais compaixão, pois era um ser humano ali em sua frente sofrendo de um mal terrível, mas, dentro de si, a garotinha magoada que nunca perdoara o abandono a qual fora submetida não a deixava sentir nada além de desprezo. Era como se olhar para sua mãe em sua fase final de vida não a abalasse nem um pouco, e tal frieza a assustou mais do queria admitir.

Não queria ser uma dessas pessoas insensíveis, incapaz de dizer uma palavra de consolo que fosse a alguém que estivesse a ponto de perder a própria vida, pois era o mínimo que se podia fazer nessas circunstâncias, mas sua boca permaneceu calada assim como seu coração continuou vazio de qualquer sentimento por Bertha Shirley.

Anne simplesmente caminhou até seu marido que tinha seus dois bebês no colo, e os trouxe para si. Eles eram seu refúgio, a doçura apresentada à ela em dois corpinhos angelicais cujo aroma era o mais maravilhoso do mundo, e eram sua sanidade no meio de toda aquela loucura que se tornara sua vida na última meia hora.

Era fora louca por permitir que aquela mulher entrasse em seu apartamento, trazendo o caos com ela onde era o único lugar onde Anne se sentia bem desde que o tiro de Peter Bells arrasara com sua alegria.

Com todo o carinho do mundo, ela beijou a testa de John, ajeitando os cachinhos ruivos em sua testa, e em seguida, ela encostou seus lábios sobre a barriguinha de Sarah, que retribuiu a carícia com um sorriso enorme, fazendo o coração de Anne se encher de felicidade. Era daquilo que ela precisava, do amor de seus bebês naquele momento, pois somente isso era capaz de livrá-la do tormento de seus pensamentos.

Ela levantou o olhar para encontrar o de Gilbert preocupado com sua reação às palavras da mãe, e logo imaginou o que seu marido deveria estar pensando, mas ela simplesmente não conseguia lidar com o que estava acontecendo bem ali no meio da sua sala, pois se forçasse a si mesma em analisar toda a situação, ela começaria a gritar, e precisava de um mínimo de coerência para conseguir permanecer exatamente onde estava.

-Anne, eu vim até aqui porque eu precisava te ver pelo menos uma vez.- Bertha disse quebrando o silêncio que estava ficando cada vez mais desolador.

- Então, só por isso que veio? Para pedir o meu perdão e morrer em paz? - Anne disse sem conseguir impedir que tais palavras saíssem de sua boca. E só notou o horror do que dissera quando viu a palidez de Bertha, e o olhar chocado do marido que a fitava como se não reconhecesse ali a mulher com quem tinha se casado.

Talvez a Gilbert fosse difícil separar a garota que tinha se colocado em frente à uma bala para salvá-la, arriscando a própria vida e a de seus filhos, da outra que estava ali naquele insistente reagindo sem misericórdia nenhuma a doença letal daquela mulher que era sua mãe biológica.

-Anne..- Gilbert começou, e a ruivinha sabia que pela expressão dele que seu marido não aprovava de forma nenhuma sua escolha de palavras. Mas, como fazê-lo entender que precisava atacar para se sentir mais forte? Que precisava ser cruel para se manter em pé? Porque se vacilasse um só segundo, ela iria desabar, pois as lembranças de sua infância até os nove anos eram miseráveis demais. E ela não estava se referindo a apenas a falta de alimentos, ou à escassez de roupas quentes no inverno, Anne estava se referindo a sua alma dilacerada pela tristeza de ter sido largada como um embrulho qualquer. Sua construção como ser humano fora a mais dolorosa possível, e só não se tornara pior, porque Green Gables abrira os braços para ela, e fora lá, ao lado de pessoas decentes e amorosas que ela reconstruiu suas crenças e voltara a sonhar como qualquer criança de sua idade.

- Tudo bem, Gilbert. Eu entendo a mágoa de Anne, e não a culpo por isso. Ela era um bebê quando eu a deixei, e não esperava que ela entendesse o que me levou a fazer o que fiz.- Anne olhou para Bertha com incredulidade. Era isso mesmo que tinha entendido, ou a sua mãe biológica estava tentando se passar por mártir naquela história? A ira de Anne aumentou ao pensar naquele absurdo e respondeu com rispidez:

- Você entende? Não me culpa por estar magoada? Pois vou te dizer uma coisa, Betha Shirley. Você não entende coisa alguma. Nada vai me convencer que veio até aqui levada por um sentimento de amor. E nada do que disser vai mudar o que você fez. Se quer o meu perdão, eu te dou, mas, por favor, me deixe em paz, pois não faço questão nenhuma de te ver de novo.- Anne foi para o quarto, depois de se sentar em sua cadeira de rodas que fora colocada ao lado do sofá para facilitar-lhe a locomoção, levando os bebês consigo, pois não aguentava mais o rosto sofredor de Bertha em seu campo de visão, e os olhos acusadores de Gilbert sobre si. Estava claro do lado de quem ele estava naquele instante, e Anne não estava zangada com ele por isso se pensasse que a simpatia que ele demonstrava pela mãe dela naquele momento fora causada por sua índole médica, que se manifestava toda vez que a vida de alguém estava em perigo. No entanto, ela se sentia magoada por ser julgada negativamente pelo homem que amava, e que sabia o quanto tudo aquilo era difícil para ela.

Anne chegou ao quarto, e com cuidado colocou os bebês no berço, e ficou observando-os se espreguiçarem até serem pegos pelo sono novamente. Como queria sentir a mesma paz de antes, quando ela nem sonhava que Bertha apareceria em sua vida. Se pudesse ficaria trancada naquele quarto com seus anjinhos até que os sentimentos ruins desaparecessem, mas não era mais criança , e não podia fugir do confronto à sua espera na sala, justamente quando tinha Gilbert zangado com ela.

Assim, bastante relutante, Anne voltou para sala, e encontrou seu marido tentando ser o anfitrião que ela se recusara a ser. Ele serviu café para Bertha, e manteve uma conversa neutra enquanto esperava que Anne se decidisse a se juntar a eles novamente, e quando a viu, o alívio foi óbvio em seu rosto.

-Tudo bem?- ele perguntou olhando-a com preocupação.

- Sim. -Anne respondeu, beijando-o de leve nos lábios, e depois ele a ajudou a se acomodar no sofá novamente, sentando-se ao lado dela e segurando em sua mão, mostrando-lhe que mesmo que não estivesse de acordo com seu comportamento, ele a apoiava naquele momento tão difícil, o que amenizou um pouco o aperto em seu coração.

- Os bebês estão bem?- Bertha perguntou, tentando mais uma vez se aproximar de Anne de forma amena.

- Estão sim. Eles ficam um pouco manhosos se não dormem seu sono da tarde.- Anne respondeu educadamente.

- Eles são lindos, e é uma delícia ter bebês em casa, não acha?- Anne não respondeu, mas Gilbert fez isso por ela:

- É sim. John e Sarah são bem sapecas. Adoram brincar, são risonhos, também adoram um carinho, beijinhos nas bochechas, mas na maior parte do tempo, eles são bem bonzinhos.- era nítido o orgulho de Gilbert ao falar dos filhos, e só por isso Anne conseguiu sorrir.

- Vocês são excelentes pais. Dá para perceber o quanto vocês são cuidadosos com eles - Bertha disse, olhando para Anne que não perdeu a oportunidade de dizer.

- Eles são crianças felizes porque são amados como se deve pelos seus pais, e nunca serão abandonados à própria sorte, pois tanto eu quanto Gilbert faremos o impossível para que continuem tendo uma infância mais saudável possível.

- Eu sei, Anne. E você pode até não acreditar, mas, estou orgulhosa pela mulher que você se tornou.- Bertha disse com um sorriso carinhoso que fez o coração de Anne doer. Não, ela não tinha o direito de falar com ela como se fosse uma mãe zelosa quando tudo o que fez a vida toda fora manter Anne o mais longe possível, enquanto dedicava todo o seu amor à outros filhos.

- A mulher que me tornei não foi graças a você, pois tive pessoas maravilhosas em minha vida que me ajudaram a construir quem hoje sou. - Anne, olhou para Gilbert e tocou o rosto dele com carinho, e depois continuou a dizer.- Embora, eu não possa dizer que não me espelhei em você quando decidi o tipo de mãe que não quero ser.- a fala de Anne foi tão amarga, que Gilbert apertou sua mão, e disse:

- Amor, pega leve.

- Não tem importância, Gilbert. Eu não vim até aqui com esperanças de que Anne me esperaria com flores nas mãos. Tenho consciência do que fiz, e não me orgulho, embora na época eu pensasse que estava fazendo o certo. Porém, eu não agi por falta de amor, mesmo Anne não acreditando nisso.- A ruivinha quase disse que quem ama não abandona, mas preferiu ficar calada, pois estava ficando exausta com toda aquela situação.

- Eu sei que esse assunto deve ser delicado para você, mas, eu sinto que preciso perguntar. Quanto tempo de vida te deram?

- Seis meses.- Bertha respondeu sem hesitar. Ela parecia bastante conformada com aquilo, pois seus olhos sequer pestanejaram quando ela falou sobre o assunto.

- Eu sou cirurgião, e minha especialidade é Oncologia. Temos até uma ala no hospital em que trabalho especialmente para cuidar de pessoas com esse mal, que Anne generosamente me ajudou a construir. - Ele disse, acariciando a mão da esposa com o polegar.- Se você quiser, eu posso te examinar , e dar uma segunda opinião.- Anne baixou a cabeça ao ouvir as palavras do marido, não se sentindo surpresa nem um pouco que Gilbert tivesse feito aquela oferta, sabendo da experiência dele com aquele tipo de caso.

- Eu não quero incomodar. - Bertha disse, observando a expressão fechada de Anne talvez imaginando que a ruivinha não aprovaria.

- Não é incômodo nenhum. Essa é minha profissão, e eu adoraria poder te ajudar.

- Você está de acordo, Anne?- Bertha perguntou, fazendo-a olhar para a mulher que era sua mãe biológica, e responder:

- Você ouviu o meu marido. Ele quer te ajudar, e eu não me oponho a isso em absoluto, pois não estou tão magoada a ponto de te desejar algum mal.

- Obrigada por isso. - ela agradeceu e parecia estar sendo sincera, mas Anne apenas balançou a cabeça assentindo.

- Poderia marcar para quando quiser . Eu estou de folga este fim de semana, mas, segunda-feira podemos nos falar se for conveniente para você. - Gilbert disse com simpatia.

- Seria ótimo. - Bertha disse se levantando.- Eu já tomei muito tempo de vocês. Obrigada por me receberem, e por me deixarem conhecer os bebês. Fiquei encantada.

- Ficamos felizes com sua visita.- Gilbert respondeu, tentando mais uma vez ser simpático, embora não fosse segredo para nenhum deles que Anne não compartilhava da mesma opinião.

- Obrigada. Nos vemos na segunda.- Bertha disse, antes de ir embora de vez.

Assim que a porta se fechou, Anne respirou fundo enquanto Gilbert perguntava:

-Quer conversar?

-Agora não. - Anne respondeu com um sorriso triste, e Gilbert não quis insistir.

Esse silêncio de Anne se seguiu pelo resto do dia assim como perdurou até durante o jantar. Quando foram para a cama, após uma sessão de cinema na sala a dois, a tensão do dia a pegou de jeito, e Anne não conseguiu deixar de pensar em tudo o que acontecera.

-Está tendo problemas para dormir? - Gilbert perguntou depois de perceber que ela fitava o teto ao invés de fechar os olhos, ao que Anne respondeu com apenas um balançar afirmativo com a cabeça.

- Vem cá. - Ele disse envolvendo-a em seus braços, e foi só assim que Anne conseguiu adormecer depois de ter como incentivo as batidas calmas do coração de seu marido.

GILBERT

Gilbert tinha saído para correr aquela manhã, e deixara Anne dormindo, depois de acordá-la para amamentar os bebês, e esperar que ela voltasse a adormecer.

O dia tinha amanhecido um pouco nublado, mas a temperatura primaveril se mantinha incrivelmente agradável, por isso, ele preferia fazer seus exercícios matinais naquele horário, pois logo as temperaturas subiriam e correr com o sol a pino não lhe agradava em absoluto.

Enquanto passava pelo Central Park, ele observou que várias pessoas tinham tido a mesma ideia que ele.

Esses momentos eram os únicos que tinha para si, e para cuidar de sua saúde mental, para organizar seus pensamentos e relaxar, e ele procurava tirar o máximo de proveito disso para recarregar suas energias, e encontrar a calma que precisava para lidar com os problemas no trabalho e no campo pessoal.

Contudo, naquela manhã o rapaz estava encontrando dificuldade para se desligar dos últimos acontecimentos, e tirar sua esposa dos seus pensamentos.

Anne não estava bem. Ele a conhecia como ninguém, por isso a postura fria que ela adotara frente a sua mãe biológica era uma atitude de autodefesa preocupante. Ele ficara chocado com a maneira com que ela falara com Bertha, mas, não a culpava por isso, pois a mágoa que ela carregava era muito antiga e a maneira como aquilo a machucava o deixava em alerta, pois tinha medo que a forma a qual ela escolhera para não deixar que aquela situação toda a atingisse em cheio poderia facilmente ter o efeito contrário.

Anne era tão teimosa, principalmente quando queria provar que aguentava bem um baque, mesmo que por dentro ela estivesse destruída. Ela só pedia ajuda quando estava quase se afogando, e ele odiava não conseguir fazê-la enxergar que aquilo fazia mais mal para ela do que bem.

Ele parou um instante para enxugar o suor da testa, e tomar água mineral da garrafinha que trazia consigo, enquanto sua mente continuava a processar suas preocupações. Bertha Shirley com certeza tinha escolhido o momento errado para aparecer, embora Gilbert pudesse entender bem porque ela o fizera, pois na iminência de perder a própria vida, ela quisera encontrar a filha que só pudera observar à distância.

Anne não dera a mulher muitas chances de se explicar, e quando ela tentara falar, sua esposa já tinha construído um muro de autodefesa em volta dos próprios sentimentos tão alto, que dificilmente alguém conseguiria transpô-lo.

Contudo, Gilbert acreditava na história de Bertha, pois na sua forma de observar de fora tudo o que acontecera, ela não teria motivos para mentir, pelo menos não na situação em que se encontrava, e se Anne não estivesse tão preocupada em desprezar sua mãe biológica, ela teria percebido isso também.

O que o deixara ainda mais preocupado fora a maneira dura como ela recebeu a notícia sobre a doença de Bertha. Ele nunca vira Anne agir assim diante da enfermidade de alguém, pois, ele se lembrava bem como ela o ajudara com o problema de Sarah, e como ela lhe dera todo o seu apoio quando ele tivera dúvidas em tratar um paciente com doença semelhante. E nem eram pessoas que ela tivesse um parentesco, ou relação de amizade, e por mais que Bertha fosse uma estranha diante dos olhos dela, elas tinham um laço de sangue inegável, e disso Anne não podia fugir.

Porém, Gilbert não queria forçar Anne a aceitar uma situação tão difícil assim, pois ela já vinha lidando com questões complicadas como a perda dos movimentos das pernas, que voltariam eventualmente, mas era algo que necessitava de muita paciência, exercício físico e mental, e o psicológico era a parte mais difícil de se manter intacta, pois qualquer abalo poderia prejudicar demais a evolução física, e ele não queria que isso acontecesse com Anne de jeito nenhum. Por isso, ele queria que ela entendesse que apesar de não aprovar a forma como ela estava enfrentando tudo aquilo, ela sempre teria seu apoio incondicional, e estava feliz por ter aquele fim de semana de folga, pois teria tempo para provar isso a ela.

Gilbert voltou a correr, agora sem a camiseta com a qual iniciara o exercício, pois ela já estava toda molhada de suor, e grudava na pele de maneira desagradável.

Olhares insinuantes cruzaram seu caminho, mas ele os ignorou completamente. Tinha uma mulher linda em casa, e nenhuma outra por mais atraente que fosse conseguiria mudar seus sentimentos por ela. Era assim desde que a conhecera e seria assim para sempre, pois Gilbert Blythe sempre pertencera e sempre pertenceria a uma única mulher.

O jovem médico correu mais alguns quilômetros, e quando estava para atravessar a rua, ele ouviu alguém chamar seu nome, e quando se virou para verificar de onde a voz vinha, seu sorriso se alargou ao ver que era Daniel e Gabriela que caminhavam em sua direção, aproveitando a manhã ensolarada juntos.

-Bom dia, Blythe. Se divertindo a essa hora da manhã?- Daniel disse do seu jeito brincalhão.

-Nós médicos fazemos o que é possível em nossas horas vagas para desestressar.- Gilbert disse, se sentindo animado com a presença dos dois amigos.- Pelo jeito, não é somente eu que gosta de passar um tempo ao ar livre.

- Depois de horas dentro daquele hospital, uma caminhada perto da natureza é sempre bem vinda.- Gabriela respondeu, ajeitando seus cabelos em um rabo de cavalo, os quais prendeu com um elástico que trazia em volta do próprio pulso. - Como está a Anne?

- Eu gostaria de dizer que ela está bem, mas não tenho tanta certeza. - Gilbert disse com um suspiro.

- O que aconteceu?- Daniel perguntou, olhando preocupado para o amigo, pois se Anne não estava bem, Gilbert também não estava, e ele já podia ver a testa crispada do rapaz que lhe dizia que muitos pensamentos se passavam dentro daquela mente brilhante.

- Vocês têm um tempo para conversar?- ele perguntou, afastando seus cabelos suados da testa.

- Claro. Vamos trabalhar só depois do almoço. - Gabriela respondeu, já tentando imaginar o que se passava com sua paciente favorita.

- Espere apenas um segundo, pois vou comprar um cappuccino para nós. - Daniel disse, caminhando até a lanchonete do outro lado da rua, e voltando com três cafés, os quais os três amigos foram tomar sentados em um banco no calçadão.

- Então, o que aconteceu com a Anne?- Gabriela perguntou, ansiosa para saber qual era o problema de Anne dessa vez.

- A mãe biológica dela apareceu. - Gilbert disse, tomando um gole do seu cappuccino.

- O que? Conta essa história direito.- Daniel perguntou, espantado com o que ouviu.

- Bem, como sabem, Anne foi adotada pelos Cuthberts quando tinha nove anos, e antes disso ela foi deixada em um orfanato ao nascer. A mãe disse às freiras que iria buscá-la assim que pudesse, mas, isso não aconteceu. Aos catorze anos, ela descobriu que tinha uma tia rica que morava em Nova Iorque, e foi obrigada a se mudar para cá, pois a tia ganhou a guarda dela, mas, ela nunca cortou seus laços com os Cuthberts. Entretanto, a alguns anos, Anne decidiu que queria conhecer sua mãe biológica, e descobriu que ela tinha se casado com um milionário e que tivera outros filhos, então, vocês podem imaginar como ela se sentiu.- Gilbert tomou outro gole de cappuccino enquanto Daniel perguntava:

- E ela deu alguma explicação para nunca ter procurado Anne?

- Ela disse que teve que trabalhar muito para juntar o dinheiro para poder buscar Anne no orfanato, mas, quando voltou ela já havia sido adotada pelos Cuthberts, e quando ela veio viver com a tia dela em Nova Iorque, Bertha tentou se aproximar, mas, a tia de Anne não permitiu, e assim ela tem acompanhado a carreira de Anne à distância.

- E que desculpa ela deu para aparecer somente agora?- Gabriela perguntou, curiosa para saber o fim daquela história.

- Ela está doente, Gabriela. Bertha nos contou que está com os dias contados, e por isso precisava ver Anne.- Gilbert disse, terminando o seu café e colocando o frasco vazio em uma lixeira próxima onde ele estava sentado com seus amigos.

- Que bomba! Como Anne aceitou essa novidade terrível?- Daniel perguntou, impressionado com a história que ouvira.

- Eu realmente não sei dizer. Ela simplesmente ignorou tudo como se não tivesse acontecendo, e ainda fez comentários cruéis. Nem parecia minha esposa.- Gilbert respondeu, relembrando em sua mente tudo o que havia acontecido naquele encontro tenso com Bertha Shirley.

- É realmente estranho Anne reagir dessa forma. Ela sempre me pareceu tão generosa, mas quem sou eu para julgar? Não sei como toda essa situação foi traumática para ela, e como as emoções dela estão neste momento.- Gabriela disse, também terminando seu café.

- Ela está sofrendo, Gabriela. Eu a conheço bem. Essa frieza dela é só uma fachada. A minha preocupação é que ela possa desabar a qualquer momento. Anne tem lidado com muita coisa nos últimos meses, e sua única alegria tem sido cuidar dos bebês. Eu até achei que as coisas fossem melhorar agora que ela voltou ao trabalho, mas, então, a mãe dela resolve aparecer, e tudo voltou à estaca zero.- o jovem médico disse suspirando.

- Tudo vai dar certo, Gil. Anne precisa apenas se acostumar com a situação. - Gabriela disse, tentando animar Gilbert mais uma vez.

- Eu me ofereci para examinar Bertha. Ela vai ao hospital na segunda-feira.

- O que Anne disse?- Daniel perguntou ao amigo.

- Ela não se opôs, mas, não se mostrou muito feliz com isso.

- Talvez seja isso que vai aproximá-la da mãe.- Gabriela concluiu.

- Não tenho tanta certeza.- Gilbert disse se levantando do banco.

- Talvez ela só precise de um empurrãozinho. - Daniel sugeriu.

- Quem sabe? Agora preciso ir, pois Anne já deve ter acordado e está à minha espera.- Gilbert disse preocupado.

- Nós falamos depois.- Gabriela disse.

- Até mais, meu amigo.- Daniel disse ao se despedir.

Gilbert correu o resto do caminho até o edifício onde ficava seu apartamento. Ele cumprimentou o porteiro, pegou o elevador e em poucos minutos estava chegando em seu andar. Assim que abriu a porta do apartamento e se aproximou do quarto, o rapaz ouviu Anne falando com os bebês, e sorriu. Ela estava ficando cada vez mais independente, e passou a usar a cadeira de rodas com mais frequência, apesar de ainda ter certa aversão ao objeto. No entanto, Anne se adaptara a tudo o que se tornou difícil em sua vida, por amor a Gilbert, e principalmente por amor a seus filhos. Era por isso que ele sentia sua admiração por Anne se tornar ainda maior.

Devagar, ele abriu a porta do quarto, e a viu sentada ao lado dos berços falando com Sarah e John de uma forma tão doce e amorosa, que os dois bebezinhos a observavam com atenção. Os olhos azuis de Sarah pareciam cheios de uma curiosidade infantil encantadora, e nos castanhos de John haviam uma adoração comovente, que mostrava bem o quanto aquele garotinho de cabelos ruivos cacheados já amava a mulher que lhe dera a vida, e que cuidava dele e da irmã com toda a dedicação do mundo. Ver uma cena assim, depois de toda a tensão do dia anterior, era como se uma brisa fresca passasse por ele, aliviando a apreensão que Gilbert vinha sentindo pela situação que sua esposa estava enfrentando.

Ele se posicionou atrás dela, beijou-a no topo da cabeça, e perguntou:

-Bom dia, anjo. Está melhor?- Anne olhou por cima do ombro e respondeu:

-Estou melhor, sim.- o sorriso dela foi doce, e por isso, Gilbert deu a volta e ficou de frente para ela que o encarou de cima embaixo, fazendo-o perguntar:

- O que foi?

-Você correu pelas ruas de Nova Iorque sem camisa de novo?- Gilbert riu de leve ao ver a expressão séria e ciumenta de sua esposa, e respondeu:

- Ah, isso.

- Você sabe que não aprovo essa sua mania de mostrar seu físico por aí.- ela disse, e Gilbert se aproximou mais um pouco, segurando na mão dela.

- Por que não , meu amor? - ele perguntou somente para provocar, vendo os olhos de Anne se endurecerem e responder:

- Porque eu odeio a ideia de outras mulheres olhando para o meu marido.- Gilbert se abaixou, ficando na mesma altura que ela. Em seguida, ele se aproximou do ouvido dela e disse baixinho:

- Vou te contar um segredo, meu anjo. Por que se preocupar com outras mulheres se sou todo seu? E por que eu olharia para outra mulher, quando a minha é a mais gostosa de todo o universo? Você não sabe os pensamentos que cruzam minha mente quando te vejo com essa camisola transparente.- a pele de Anne se arrepiou inteira, antes dela responder, olhando-o nos olhos:

- E você não sabe o que estou pensando nesse exato momento. Você adora me provocar , não é?- ela disse umedecendo os lábios rosados, fazendo os olhos castanhos de Gilbert brilharem.

-Você também me provoca quando usa suas milhares de lingeries e camisolas, e nenhuma é bem comportada.- Gilbert disse, segurando no queixo dela, e puxando-a para si, parando a boca dela a um milímetro da sua.

- Você também não é nenhum santo nessa história, Dr. Blythe. Não podia ter se lembrado de colocar a camiseta antes de entrar nesse quarto?- ela disse, umedecendo os lábios novamente, pois ela sabia o quanto aquilo o provocava e usava esse conhecimento muito bem.

- Eu juro que foi sem intenção.- ele disse com seu nariz tocando o dela.

- Eu não....- ela não terminou, pois Gilbert capturou-lhe os lábios com urgência, fazendo-a perceber o quanto ela exercia um controle absoluto sobre as emoções dele. Quando se separaram, Anne ainda ficou agarrada ao pescoço de Gilbert, que manteve a cabeça dela encostada em seu peito.

- Que tal terminarmos isso no chuveiro?- ele perguntou, subindo as mãos de forma insinuante pelos braços de Anne. A resposta dela foi um sorriso manhoso e depois um outro beijo, que fez Gilbert carregá-la em seu colo até o banheiro do casal, onde permaneceram a próxima hora inteira.

GILBERT E ANNE

Apesar da visita da mãe biológica de Anne que acabou causando uma certa tristeza na ruivinha, o fim de semana passou tranquilamente, cheio de amor e cumplicidade entre o casal, e embora Gilbert soubesse que precisava falar com Anne sobre Bertha, ele não teve coragem de tocar no assunto e estragar a alegria que viu estampada em muitos momentos no rosto da esposa.

Porém, na segunda-feira, enquanto estavam tomando o café da manhã, Gilbert achou que era o momento perfeito para terem aquela conversa, mesmo que Anne ficasse um pouco aborrecida, pois não havia outra forma de conversarem sem que ele colocasse o dedo na ferida.

-Anne, eu sei que você tem evitado esse assunto, mas, não pode fugir dele para sempre.

- O que quer dizer?- Anne perguntou, enquanto passava geleia na torrada.

- Sua mãe biológica, amor.

- Por que quer falar disso agora?- Anne perguntou, largando a torrada no prato.

- Porque precisamos conversar sobre isso. Você está fugindo do assunto desde que ela esteve aqui. - Gilbert cobriu a mão dela com a sua sobre a mesa.

- Eu não tenho nada para falar. Ela é uma estranha para mim.- Anne respondeu, tentando tomar o café da manhã que tinha perdido o sabor por conta do assunto sobre o qual seu marido insistia em falar.

- Anjo, eu não posso acreditar que algo que te magoou a vida toda não tenha significado nada agora que você teve a chance de saber sobre sua origem.

- Eu não acho que falarmos sobre isso, vai mudar como as coisas aconteceram. Bertha me abandonou, Gil, e nada do que ela me disser, vai consertar o que ela fez. Por favor, não me obrigue a lembrar a pior época da minha vida.- Anne baixou a cabeça, e Gilbert levou a mão dela aos lábios, beijou cada dedo com carinho, e depois disse:

- Ela estar doente não toca esse seu coração tão doce?- Gilbert lhe sorriu, e Anne por pouco não suspirou. O que seu marido não conseguia dela com aquele sorriso?

- Eu sinto pela doença dela como eu sentiria por qualquer pessoa que estivesse sofrendo desse mal terrível, mas, isso não me faz ter nenhum sentimento especial por ela por conta disso.- Anne disse, admirando o semblante calmo de Gilbert.

Sempre que ela sentia um turbilhão dentro de si, era ali que recobrava seu equilíbrio, naqueles olhos, naquele sorriso, naquele homem forte, seu melhor amigo, seu amor para toda vida, seu marido maravilhoso.

- Se eu te pedir uma coisa, você faz para mim?

- O que é?- Anne perguntou, sabendo que o pedido não seria algo simples.

- Promete para mim que vai dar uma chance a si mesma de conhecer Bertha melhor?

- Gil...- Anne balançou a cabeça, querendo negar o pedido, mas ele não desistiu fácil.

- Eu não estou pedindo que a aceite como mãe, ou que a perdoe pelo passado, apenas peço que a deixe se aproximar o mínimo que seja, pois amanhã ela pode não estar mais aqui, e você poderá se arrepender por não ter aproveitado a oportunidade.- Anne sabia que ele pensava no pai e em Sarah, e podia perfeitamente entender os sentimentos dele, e por mais que desejasse que Bertha ficasse bem longe dela, Anne não saberia dizer não ao único homem por quem faria qualquer coisa .

-Prometo que vou tentar.- Anne respondeu, acariciando os cabelos de Gilbert

- Obrigado.- ele disse, beijando -a na testa.

Naquele instante a campainha tocou e Anne disse ao ver Gilbert se levantar para atendê-la.

-Deve ser a Norma.

- Sim - Gilbert disse, deixando Anne sozinha por alguns instantes, e quando voltou, ele disse:

- Acho melhor nos apressarmos. O trânsito a essa hora é horrível

- Eu já terminei aqui.- Anne respondeu. Ela tinha uma consulta com Gabriela, aproveitaria a carona com Gilbert naquela manhã, e depois teria o resto do dia livre, pois suas sessões de fotos naquela semana se concentrariam em apenas dois dias, por isso poderia programar os outros para fazer suas coisas favoritas.

Antes de deixar o apartamento, tanto ela quanto o marido se despediram dos bebês, e saíram juntos para enfrentarem o trânsito pesado de um dia movimentado em Nova Iorque.

Como esperado, eles chegaram ao hospital depois de quase vinte minutos dirigindo em meio a grande movimentação de carros e pedestres que beirava a um caos diário que Gilbert conhecia muito bem.

Assim que entraram no hospital, foram cumprimentados pela recepcionista que lhes informou que Gabriela estava à espera deles, e assim, Anne foi levada de cadeira de rodas pelo marido até o consultório de Gabriela que abriu um enorme sorriso ao ver o jovem casal aparecer juntos para a consulta.

-Bom dia, meus queridos. Eu estava esperando por vocês.

- Bom dia, Gabriela. Eu vou deixar Anne a seus cuidados, pois tenho um paciente nesse exato momento.- depois ele se virou para Anne e disse:- Quando terminar a consulta vá até meu consultório, ou prefere que eu venha te buscar aqui?

- Pode deixar que vou até lá sem problema algum.- Anne respondeu sorrindo.

- Está bem. Por favor, Gabriela, cuide do meu tesouro.

- Pode deixar, Dr. Blythe.- Gabriela respondeu rindo, observando Gilbert beijar Anne e sair .

- Como você está, minha querida?- Gabriela perguntou, concentrando sua atenção em Anne.

- Estou bem.- a ruivinha respondeu simplesmente.

- Gilbert me contou sobre sua mãe. Quer falar a respeito?- Gabriela perguntou, vendo Anne se entristecer.

-Não, obrigada.

- Você sabe que estou aqui se quiser falar.

- Sim, obrigada. - Anne agradeceu novamente. Não se sentia pronta para falar de Bertha para mais ninguém que não fosse seu marido, apesar de apreciar muito o esforço de Gabriela nesse sentido.

- Então, vamos ao nosso exame.- Gabriela disse, ajudando Anne a se aprontar para ser examinada, o que durou menos do que a ruivinha esperava, além de deixá-la aliviada por saber que tudo estava bem fisicamente com ela, embora seu emocional ainda precisasse de tempo para se estabilizar, principalmente por conta dos últimos acontecimentos.

-E os movimentos dos membros inferiores, como estão?- Gabriela perguntou.

- Ainda não voltaram, mas estou trabalhando para isso. Gilbert me disse que agora que a lesão se cicatrizou é questão de tempo.- Anne respondeu, se sentindo mais confiante ao falar sobre aquele assunto do que a meses atrás.

- Tudo vai ficar bem, você vai ver.- Gabriela disse, e a ruivinha teve a impressão que ela não falava apenas de sua imobilidade das pernas.

- Assim espero. Agora preciso procurar pelo meu marido.- Anne disse movendo a cadeira de rodas em direção à porta.

- Eu te levo até lá. - Gabriela disse solícita, e Anne apenas assentiu com um sorriso.

Depois de passarem por todo o corredor, elas chegaram ao consultório de Gilbert, e com um beijo na bochecha de Anne, Gabriela se despediu e voltou para sua sala onde teria uma próxima consulta.

Anne bateu na porta de leve, e ouviu a voz cadenciada do marido pedindo que ela entrasse. Uma vez lá dentro, a ruivinha ficou surpresa em ver Bertha conversando com Gilbert. Ela sabia que sua mãe biológica teria uma consulta com o rapaz naquele dia, mas sequer imaginara que seria bem naquele horário. Sem outra alternativa, ela se aproximou assim que Gilbert se levantou da mesa e caminhou até ela com seu olhar amoroso de sempre.

- Como foi sua consulta?- ele perguntou, beijando -a nos lábios.

- Foi ótima. Não sabia que estava ocupado. Perdão por te atrapalhar.

- Você não está atrapalhando. Nós já estamos terminando. Bertha veio apenas conversar sobre os exames que quero que ela faça para podermos decidir qual é a melhor abordagem de tratamento para o seu caso.

- Que bom.- Anne respondeu, e depois olhou para Bertha que tinha os olhos fixos nela, e as mãos cruzadas no colo e perguntou:

- Como vai?

- Eu estou bem e você?

- Ótima. Espero que Gilbert possa ajudá-la.- Anne disse com sinceridade. Ela podia estar magoada com aquela mulher, mas, não era por isso que lhe desejaria algum mal. Não era tão cruel assim.

- Obrigada. É o que também desejo..- Bertha disse com certa cautela.- Eu quero aproveitar que você está aqui, e convidá-los para um jantar especial de agradecimento pela sua ajuda Gilbert. E podem escolher o restaurante que quiserem.

- Aceitamos sim, mas preferimos que o jantar seja em nossa casa. É mais cômodo para Anne dessa maneira.- Gilbert disse, antes que Anne pudesse recusar, o que ela não faria, pois prometera a seu marido que iria tentar se aproximar o mínimo que fosse de Bertha, e cumpriria a promessa.

- Está ótimo para mim também. Mas, eu providencio a comida.- Bertha disse, parecendo mais animada que minutos antes.

- Combinado então. Que tal na próxima sexta-feira?- Gilbert sugeriu.

- Perfeito.- Bertha disse ao se levantar da mesa.- Muito obrigada por tudo, Gilbert. Vou para o meu hotel ligar para meu marido para contar as novidades.

- Tudo bem. Nos vemos quinta- feira para os exames.- Gilbert disse acompanhando-a até a porta.

- Até logo, Anne. Foi muito bom ver você. - Bertha disse com um sorriso mais uma vez cauteloso.

- Até logo.- Anne respondeu com secura.

- Quer ir para casa?- Gilbert disse, sem comentar nada sobre a reação de Anne ao ver Bertha ali. Não queria deixá-la ainda mais chateada com a situação.

- Quero sim. Mas não precisa me levar, apenas chame um táxi para mim. Você tem muito o que fazer aqui. Não quero te dar trabalho.

- Não é trabalho nenhum, meu amor. Mas, se prefere assim, não vou contrariá-la.- ele disse acariciando o rosto dela.

- Eu prefiro sim.- Anne respondeu, segurando a mão que ele lhe estendia.

Assim, Gilbert pediu o táxi que ela desejava, e quando o veículo chegou, ele a beijou nos lábios e disse:

-Nos vemos mais tarde.

- Sim, Anne respondeu com um sorriso bonito nos lábios, que Gilbert admirou por algum tempo, até ajudá-la a subir no táxi e vê-la partir.

Após chegar em casa, trocar de roupa e se acomodar no sofá logo que terminou de amamentar os bebês com a ajuda de Norma, Anne tentou distrair sua mente para que não voltasse ao assunto de sua mãe biológica. Não queria se aborrecer mais com aquela história do que já estava aborrecida, porém aquela insistência dela em se manter presente fisicamente a estava incomodando terrivelmente. Ela sabia que Gilbert aceitara aquele jantar não só por educação, mas, também porque queria aproximá-la da mãe biológica, e apreciava esse esforço dele. No entanto, ela preferia que continuassem apenas com a cortesia de seus parentescos, sem envolver nenhum tipo de sentimento nisso.

Quando Gilbert chegou do trabalho horas depois a encontrou completamente tensa, reclamando de dor nas costas, e preocupado, ele perguntou:

-Isso tem a ver com o jantar com sua mãe?

- Talvez.- ela respondeu evasivamente, pois não queria que ele se sentisse culpado por algo que só dizia respeito a ela.

- Por que não me disse que isso estava te incomodando tanto? Eu podia ligar para ela e cancelar.- Gilbert disse sentando-se ao lado dela no sofá.

- Não precisa cancelar, querido. Eu vou dar um jeito de lidar com isso. Eu prometo.- Gilbert a olhou com ar de dúvida e depois disse:

- Eu sei do que precisa.

- E o que é?- ela perguntou.

- Você precisa de uma das minhas massagens. -Gilbert respondeu, levando- a para o quarto de hóspedes. Logo, ele a ajudou tirar a blusa, a deitou com cuidado de bruços, e começou a deslizar seus dedos por todos os músculos tensos dela. Não demorou muito para que o corpo de Anne começasse a reagir por uma necessidade diferente, e quando a ouviu suspirar, Gilbert parou o que estava fazendo e perguntou, fazendo-a se levantar e se virar para ele:

- Eu te machuquei?

- Não. O problema é que preciso de outra coisa agora.

- E do que precisa, meu anjo?- ele perguntou, tocando o rosto dela com a ponta dos dedos.

- Eu preciso do meu marido.- ela disse, insinuando sua mão pela fenda aberta da camisa dele, fazendo o coração de Gilbert se acelerar um pouco.

- Anne, não acha melhor deixar isso para depois?

- Não, eu preciso de você agora.- ela disse sem dar tempo para Gilbert pensar, ao colar sua boca na dele, sorrindo satisfeita ao senti-lo corresponder, fazendo-a se deitar na cama, apoiando suas mãos ao lado da cabeça dela para que seu peso não caísse por cima dela.

Seu sutiã desapareceu em questão de segundos, sua saia foi tirada as pressas, e quando Anne percebeu, Gilbert já tinha dado um jeito de tirar as próprias roupas, fazendo-a protestar, pois gostaria de ter sido ela a despir o marido, para poder tocar com os lábios cada parte daquele corpo enlouquecedor.

Para que ela ficasse mais confortável, Gilbert se deitou na cama, e colocou Anne por cima dele, mas não sem antes excitar os seios dela com seu toque, ou fazê-la gemer baixinho quando ela o sentiu atingir um ponto sensível do seu pescoço. E embora sua imobilidade das pernas dificultasse seus movimentos em cima do corpo de seu marido, ele a ajudou a deslizar devagarinho para baixo, com suas mãos nos quadris dela até que ela encaixou seu corpo onde queria, deixando um rastro de beijos por todo o peitoral e abdômen tentador de Gilbert, fazendo-o pegar fogo assim como ela.

Mesmo que não pudesse sentir muita coisa da cintura para baixo, era impossível ignorar a excitação de Gilbert que crescia a cada segundo, e apesar de tê-lo visto assim tantas vezes, Anne não podia deixar de se sentir exultante por saber que só ela conseguia fazer o corpo dele responder ao seu de maneira intensa. Eles tinham um encaixe perfeito, como duas peças de um quebra cabeça que precisavam uma da outra para se completarem.

As mãos de Gilbert se moveram em círculos por suas costas, enquanto ela sentia a deliciosa fricção de suas intimidades, e o contato de seus seios com o peitoral quente dele. Então, ela sentiu o arfar incontrolável dele, assim como seus dedos fortes começaram a apertá-la com mais força contra si, e entendeu que ele estava perto do seu limite assim como ela, mas antes de sua rendição total, ela o beijou com todo o desejo que havia dentro de si, e quando seu fôlego diminuiu, ela mordiscou o lábio inferior dele, ouvindo-o mais uma vez gemer.

Assim, não foi mais possível controlar sua urgência em tê-lo dentro de si, assim, como Gilbert precisava fazê-la dele mais uma vez, e então, eles se tornaram um só corpo, navegando em seu mar particular cujas águas eram todo o combustível que precisavam para que alcançassem seu paraíso preferido, e quando o êxtase chegou, eles permaneceram com suas testas suadas coladas uma na outra, enquanto seus corpos iam pouco a pouco voltando a temperatura normal, mas, não saíram um dos braços do outro por minutos inteiros.

Algum tempo depois, Anne sentiu sede, e se virou para pedir a Gilbert que lhe pegasse um copo de água. Inesperadamente, ela sentiu algo diferente nas pernas, e quando Anne olhou para baixo, e viu seus dedos do pé direito se mexerem. Sem acreditar que aquilo estava acontecendo, ela começou a chorar, e Gilbert que estava de olhos fechados, os abriu e ao ver Anne naquele estado, ele perguntou:

-Anne, está com alguma dor. - ela balançou a cabeça negando, incapaz ainda de dizer o que estava acontecendo.

-O que é então, meu amor?- ele tornou a perguntar, e com a voz embargada, ela respondeu, apontando para os pés:

-Gil, olha, eu estou mexendo os meus dedos.- incapaz de dizer qualquer outra coisa, ela o beijou, sentindo em seu coração o início de um novo tempo

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