A garçonete chegou logo em seguida e fizemos nossos pedidos.
A conversa se seguiu leve e falamos um pouco sobre nossas empresas e pretensões na carreira.
Descobri que, assim com eu, Arthur lutava pelo trono de seu pai. Então pelo menos isso tínhamos em comum.
-Agora sinceramente - ele falou se aproximando de mim. - Como você me via antes de toda essa loucura?
Eu dei de ombros.
-Um cara safado, mulherengo, irritante, irresponsável - comecei.
Ele chacoalhou os braços na minha frente para que eu parasse.
-Okay entendi - disse. - Você nem se importa com os meus sentimentos... Meu Deus, que sinceridade é essa.
Uma gargalhada se esgueirou pela minha garganta e fui incapaz de controla-la.
-E você o que pensava de mim? - perguntei.
-Isso e complicado - se ajeitou desconfortável na cadeira.
Olhei para ele desconfiada.
-Fala - eu disse.
Ele me estudou com aqueles olhos penetrantes.
-Quando eu te conheci eu fiquei encantado por você - falou envergonhado. - Você parecia muito mais velha e tinha uma maturidade que eu invejava.
Eu o olhava admirada.
-Logo recebi notícias suas e soube que já estava trabalhando na empresa de seu pai - ele deu uma risada. - Eu te achei muito foda.
Rimos juntos da gíria e quando as risadas se cessaram ele voltou a me olhar.
-Dai eu descobri que você era uma mulher desbocada e irritante - falo.
Eu via em seus olhos que ele queria dizer algo mais, mas não insisti. Já sabia que rumo aquela conversa tomaria de os dois não tivesse cautela.
-E agora? - perguntei.
-Continuo te achando desbocada - falou rindo. - A diferença é que agora eu admiro isso em você.
Olhei para ele surpresa.
-Admira?
Ele balançou a cabeça.
-No dia em que fomos na boate, percebi que é só sua forma de auto defesa - ele tinha assumido um tom sério e pensativo. - A vida provavelmente já te testou de todas as formas possíveis, então esse é seu jeito de se privar de algumas coisas.
-E por que acha isso?
Tomei sua atenção e ficamos alguns segundos em silêncio.
-Você é uma mulher inteligente e muito mais racional do que qualquer outra que eu conheça, para adquirir esse tipo de coisa você tem que passar por muitas coisas - falou.
O que me deixava mais curiosa não era o que ele falava, mas como dizia tudo aquilo.
-Vamos? - perguntou.
Eu balancei a cabeça e o segui.
O caminho de volta a empresa foi silencioso. Arthur estava com a cabeça em outro mundo e não consegui interromper seus pensamentos.
Tirei aquele tempo para também repassar todo o nosso almoço.
Estávamos criando um vínculo e ficando mais próximos, era nítido que a sintonia que tínhamos um com o outro era uma grande influência naquilo, mas ainda assim...
Meus olhos se viraram para ele automaticamente e eu suspirei. Pude sentir meu coração badalar um pouco no peito.
Eu sabia o que aquilo significava.
Agora eu só tinha um medo. Fazer papel de trouxa e me iludir com Arthur Morais.
-Vamos fugir? - Arthur disse de repente, enquanto ocupava umas das vagas do estacionamento.
-Oi? - perguntei.
Ele se virou para mim no carro.
-Vamos fazer algo só nós dois - falou.
Pensei na papelada que pedi para a secretária pegar e no tanto de serviço que eu teria na parte da tarde.
-Eu estou cheia de coisas para fazer - falei.
-Eu também - ele disse.
Ele pegou uma de minhas mãos entre a suas e sorriu.
-Vamos, por favor.
-Okay, vamos.