Entretanto, mais uma vez, sua visão o agraciara delicadamente, capturando assim aquele amável sorriso – não um de escarneio, deboche ou perverso, mas, delicamente amável – que ela lhe dirigira de modo estupidamente ingênuo, e, sim, seu cérebro desconfiado ainda tentava convencê-lo que tudo aquilo poderia ser somente uma farsa, e até que poderia, mas, mesmo ela podendo ser uma atriz, – uma ótima atriz, ele pensara – mas, ele não negaria que ela era uma atriz com um sorriso muito bonito.
(...)
Contudo, podemos dizer que ele tomara as devidas providências – logo após admitir, com grande dificuldade, como aquele sorriso pairando em sua cabeça e se intrometeu em seus sonhos – e no dia seguinte, fez as devidas pesquisas sobre aquela estranha garota de sorriso bonito. E pode contestar que, não era somente seu sorriso, até seu nome era tão bonito quanto sua dona.
E em defesa de Taehyung, ele não estava totalmente errado em suas suspeitas: Ela realmente conhecia um dos idiotas, estudava na mesma sala do mais babaca dentre eles, porém, ela dava ouvidos a ele tanto quanto prestava atenção no zumbido de uma mosca que pairava pela sala na hora do intervalo. E recentemente ela realmente perdera uma aposta com seu grupo de amigos, porém, o castigo fora somente trocar o turno da limpeza da sala com cada um deles, durante um mês. E bom, ela definitivamente era bem conhecida pela diretora, pois, era a representante de classe em destaque da escola, entretanto, suas campanhas escolares mais conhecidas eram a respeito do clube de jornalismo e seu arrecadamento de assinaturas que solicitavam a mudança da gestão escolar, e isso sem dúvida, não era de agrado da diretoria.
Vocês podem se perguntar, como Taehyung conseguiu tantas informações, em tão pouco tempo, e, de uma garota que ele nem sabia o nome? Bom, essa era uma das vantagens de ter tantos seguidores por toda a escola.
E logo após todas aquelas informações – extremamente – detalhadas que Soobin passara animadamente para Taehyung, pois, aparentemente, nada fazia o rapaz mais novo tão feliz, quanto se mostrar útil para seu grande sunbae.
O rapaz não podia ter ficado ainda mais curioso – ou particularmente intrigado, como preferia admitir – sobre aquela garota. Entretanto, Taehyung sabia que, se aproximar dela não seria fácil – ou até mesmo aceitável, no ponto de vista de qualquer outra pessoa – e somente pensar na possibilidade de chegar nela e a cumprimentá-la sem um preparo prévio o deixavam extremamente nervoso.
Isso sem levar em conta os possíveis riscos que isto implicaria: Quem o garante que ela realmente seria tão simpática consigo como foi naquele dia? Talvez ela só tenha o socorrido por pura pena – o que ele já consideraria algo positivo, pois, nem isto recebia dos demais – ou, talvez, do próprio piso da escola que ele estava sujando com seu sangue.
E mesmo que realmente quisesse ajudá-lo, isso não significaria que ela queria se envolver com alguém como ele. Ele sabia da fama que carregava sobre toda escola – e por todo o bairro – e não seria legal fazer com que a gentil garota tivesse a reputação machada por causa dele. Ele iria se manter longe, o mais longe que sua curiosidade o permitiria.
(...)
E ele se manteve longe.
Mas ele nunca imaginara que essa suposta distância o fizesse agir semelhante a um maldito stalker! Quando ele notara, já tinha quase todos os horários da garota mais memorizados em sua cabeça do que o inútil teorema de Pitágoras. Quando batia o primeiro sinal, ele já tinha em mente como se posicionar alguns quatro armários distantes da biblioteca esperando ela passar e acenar timidamente para si. Após o intervalo sempre a via comprando alguma coisa na máquina de lanches e no horário da saída sempre se deparava a observando ir embora com sua dupla de amigos.
Ele simplesmente não conseguia evitar, pois quanto mais a via, mais queria saber sobre ela, e se pegava imaginando como seria ter alguém como ela próximo a si, mas ele não queria prejudica-la e então, se mantinha distante.
Mas foi em uma quarta-feira qualquer – ele ainda se lembrava dela vestindo um moletom cor de rosa – que ele se despreveniu e acabou esbarrando nela por acidente.
− Perdão. − Ambos falaram praticamente em uníssono quando sentiram seus ombros se chocarem. Taehyung quase deixou transparecer seu desespero ao ver o rosto dela tão próximo ao seu em um corredor lotado. Se apressou em se afastar, aproveitando o fato que ela não o tinha reconhecido, mas foi impedido ao ouvi-la chamar.
− Você deixou cair seu... − A mesma cortou sua fala, e assim que ele seguiu seu olhar em direção ao chão e viu seu canivete, pode entender sua pausa repentina. Apressou-se em recolhê-lo e antes que pudesse fugir dali, e não a assustar ainda mais, a ouviu continuar. − Você é Taehyung, não é mesmo? − Ele acenou em resposta, arriscando tentar ficar ali por alguns instantes, já que, felizmente, após o sinal, toda a escola rapidamente havia se esvaziado.
− ... Me perguntava se.... seu ombro havia melhorado... − E ele assentiu novamente, não evitando que um tímido sorriso aparecesse em seu rosto ao ver como ela continuava simpática para com ele. Porém, seu cérebro paranoico ainda se mantinha em pane ao imaginar se alguma pessoa poderia estar os observando. − Que bom, é um alivio... − E foi a vez d'ele vê-la sorrindo de novo, e por mais inacreditável que seja, por todos os cantos que ele espiava, ele fora o único a presenciar aquela cena. − Então... até mais ver... Taehyung. − E ele se lamentou ao vê-la sumir naquele corredor.
*Sunbae (선배): termo geralmente usado para se dirigir a colegas mais velhos (geralmente) ou mentores. Ex: estudantes mais novos se referindo a estudantes mais velhos em uma escola, como foi o caso neste capitulo.