Entre Damas e Espadas

Od LilyLinx

2.6K 367 2.1K

Feéricos governam o reino de Awen, mas esse poder vem a custa de muito sangue, tramas e mentiras. Talvez o ma... Více

Glossário
Prólogo
Capítulo 1: Lance perigoso
Capítulo 2 Faca cega
Capítulo 3: Corvos das montanhas
Capítulo 4 Limiar da Morte
Capítulo 5 : Urzais (Parte 1)
Capítulo 6: Urzais (Parte 2)
Capítulo 7: Pântano
Capítulo 8 : Correntes e Serpentes
Capítulo 10 - Tinto de Sangue
Capítulo 11 - Fora do Baralho
Capítulo 12: Ás de Espadas
Capítulo 13 - Jogos de Azar
Capítulo 14 - Animais feridos
Capítulo 15 - Mortalha Pálida
Capítulo 15 - Mortalha (Parte 2)
Capítulo 16 - A morte inebria seus sentidos
Capítulo 17: Castelos e ruinas
Segunda Rodada: O Carvalho e a Daninha
Capítulo 18: Nas Montanhas
Capítulo 19: Picanço
Capítulo 20: Limiar do Outono
Capítulo 21: Lâmina Sutil

Capítulo 9 - Quase jantar Caterida

42 7 43
Od LilyLinx


       O mundo a sua volta se liquefazia.

       Carter cheirava a cerveja barata e já estava de pernas bambas. Não queria parar. Não estava bêbada o suficiente, disse a si mesma. Se podia pensar, não estava.

       O som dos tambores ecoava em torno da praça, acompanhados da melodia das gaitas em uma estranha parceria com o acorde das cítaras. A música soava antiga, no que parecia o choque de fogo e água, aquecendo os corpos em movimento no ritmo do vento e das chamas.

      Carter dava voltas com eles.

     Sons e formas passavam em sua mente como o rio corria ao lado, veloz, incontido e suplantado pelo sangue pulsando em suas veias. Sorveu frustrada as últimas gotas da bebida em seu corno. Tateando rápido não encontrou um vintém em seu alforje.

      Praguejou em pensamento.

      Um grasnido agudo da besta cortou céus e rios, distante o bastante para ser a de Tenno. Explicaria porque ele desapareceu de vista. Àquela altura, a humana já havia encontrado a embriaguez que procurava na boca de cinco rapazes que não conhecia, mas ela não durava. No alto, o wyvern de Inari voava baixo em círculos rasantes, o viu pousar em algum lugar do outro lado rio, e graças a visitante nobre, os répteis e seus gritos eram o acompanhamento da festa esse ano. Estava se afastando para longe da multidão, com um rapaz do povo silvestre, um meio sorriso nos lábios e o pensamento: Estou feliz. Grata por ter um motivo para ficar longe da mansão e dos olhares tortos dos nobres. A nobreza humana era a pior.

      Mas era Maybh e isso não importava.

      Não há nada como essa época do ano, quando todos ficavam infinitamente mais amáveis, até Elawan ficará mais presente, depois que os lordes se forem. Ele havia viajado bastante nos últimos tempos. Lohkar, infelizmente–  ou não – , ficava longe de vista na estação fria, o que significava que não teria treino com armas. Embora o lorde feérico sempre tivesse uma pilha de livros sobre ervas e mimetismo, para ocupar o tempo dela.

      Esbarrou em um casal de fadas ainda menores do que ela, com plantas coroando os cabelos. Seus rostos estavam estranhos, aturdidos. Pode ver suas bocas se movendo, ainda que tais insultos não lhes tenham chegado aos ouvidos, era difícil ouvir por cima da música e o canto agourento das bestas. A humana fez bico e voltou a fada da floresta. Fogo, mesmo de olhos fechados podia senti-lo, suas labaredas ascendentes. O rapaz a beijou repleto de exigências, outras dúzias de casais faziam o mesmo, ou até mais; era Liffey, era o Maybh e a única coisa melhor que vinho para espantar as preocupações invernais era outros corpos, enquanto almas vagavam incontidas até o amanhecer. Pressionou o rapaz contra si, meio afetada pela bebida, ameaçava desabar. Se apoiou no parapeito de uma das pontes. Não sabia qual das seis que davam acesso à praça central.

      A sua volta, animação dos foliões se manifestava em danças no ritmo das chamas, músicas esparsas e, mais próximo, pode ouvir também gritos. Se desvencilhou do seu novo conhecido sentindo o ar lhe faltar e a bebida voltar. Algo está errado. Virou-se para o rio imaginando as sardas gritarem em seu rosto agora pálido; salvo pelas bochechas vermelhas. Mas isso em nada ajudava. Perdia a batalha contra sua garganta. Arrotou vinho, e as ameixas que havia comido na marcha de volta das montanhas quase saltaram para fora. Era difícil não imaginar a cara do rapaz diante dessa cena.

     Passou as mãos suadas na calça de montaria e percebeu que seu peito doía, estava sem ar. Antes que pudesse tentar se reajustar e não passar mais vergonha, sentiu uma mão pesada lhe empurrando ao chão e as pessoas na ponte correndo para o interior da praça, seu acompanhante com elas.

      Uma confusão se propagava.

      Carter foi lançada ao chão pelos empurrões.

       Lohkar tomou o ar como se nele pudesse beber a paciência.

– Às favas com o querer deles – proferiu o capitão. – Nossos visitantes trouxeram duas dúzias de cavaleiros, cada. Quero meus guardas nas ruas, mantendo a segurança da população! O dever de vocês é para com o seu lorde e suas terras. Se insistirem em atender as vontades de Mestre Argo então podem se pôr a serviço dele.

      Os guardas se dispersaram, amuados, para fazer o que lhes fora ordenado.

      Por Niníve, isso está um caos. As ruas estavam apinhadas de foliões e a festa corria sem dar atenção aos guinchos do wyvern ferido ou seu irmão zangado. Bile ainda lhe subia a garganta quando lembrava dos olhos do réptil penetrando os seus. A prata batida havia se tornado baça como o luar. A morte se apoderando daquele sangue frio. Sangue de guerreiro. Pedaços generosos do animal haviam sido retirados com abocanhadas, não em lugares aleatórios. As escamas do wyvern variavam na escala de cinza, mas foram manchadas pelo sangue negro que escorrera de sua garganta, rasgada com eficiência. O animal ciciou mais uma vez antes do seu irmão alado recair sobre ele, com Inari montada em seu dorso. Lohkar vira sua senhora estremecer diante da visão da amazona, mas ele não se atrevia a imaginar o que se passava na mente de Sorel. Mas, de algum modo, sentiu o que se passava com os wyverns quando estes se encontraram.

      A criatura menor, a de Inari, se mostrou incapaz de desvirar o ferido que, de barriga para cima, se contorcia inquieto. Eles agitaram as línguas bifurcadas, tremendo como se conversassem em uma linguagem reptiliana. E Lohkar compreendeu, sem entender de verdade, ele não vai sobreviver. Estava demasiado ferido e, de sua garganta, minava sangue negro.

     A luz tênue das estrelas ganhava um tom espectral e as fogueiras tingiam a cidade de ouro e escarlate. Estava na rua do Trasgo quando a figura de Tenno saltou sobre ele. O comandante alado tinha a testa brilhando de suor, havia corrido para chegar ali. Oscilava entre o pálido e o vermelho enquanto deslizava o olhar entre a besta nos céus e o capitão.

– Irmãzinha – Sua voz estava embargada. – O que Inari fez com a Irmãzinha?

     A confusão se dissipou na face do lanceiro com um culpado suspiro.

– Aquela bastarda a sacrificou antes que eu chegasse? – Tenno o segurou nos ombros, conhecendo a resposta. 

      Só agora a tensão deixava seu corpo, mas não a lembrança de Inari recaindo sobre eles, montada na serpe. Não trouxera comitiva como os outros, não portava armas. Lady Inari, irmã da Senhora da Marca de Évora e comandante das Tropas Aladas de Awen era bela a maneira exótica do povo do Deserto. Seus cabelos cor de areia estavam presos no que parecia ser uma tentativa de trança que se enrolava em suas curvas como uma cobra dourada até pender na cintura. Era alta como uma feérica, mas não era, de fato, uma.

– Ele estava montando esse há 75 anos – comentou a amazona com amargor aos ouvidos de Sorel. – O sol se põe mais cedo nas terras da alvorada. 

– Já chega! – Sorel havia dito.

     Inari fez bico, mas completou:

– Como dor e alegria, tudo passa.

      Com um comando dela, o lamento solidário da menor das criaturas foi substituído por súbito ataque feroz contra a garganta do wyvern cinzento. A montaria de Inari era menor, mas não menos eficaz na matança e os olhos em fenda do moribundo cravaram no feérico ruivo enquanto a cortina de sua visão se fechava e sangue era derramado em cascata por seu pescoço, retirado do solo pelos dentes do irmão.

      Tenno fechou o punho nas roupas do capitão. Era um macho baixinho, de pele parda e rosto salpicado de sardas brancas, cabelos de um negro opaco. Tinha os olhos estreitos da irmã gêmea, mas que agora ficaram vermelhos e úmidos enquanto buscava uma resposta.

       A única coisa que o capitão sabia foi o que disse a Sorel.

– Isso é obra de Kervan – preveniu-a.

– Eu sei – respondeu ela, sombria, após segredar com Inari e se embrenhar no interior da mansão.

      O aperto de Tenno lhe incomodava a ferida provocada pelo dardo de Carter aquela manhã. O macho não chorava, mas o próprio feérico sugava os lábios se perguntando o que fazer. Não era bom em lidar com luto, nem mesmo o dos outros.

     O rosto de Tenno se fez uma máscara de marfim ao frio da noite.

– Quem é o responsável?

     Não deixava margem para hesitação.

– Klang, o líder da matilha! Não sabemos como ou porquê atacaram. As portas do canil foram abertas e salve os filhotes, todos os cães sumiram. Talvez tenham sido sequestrados e houve uma luta ou...

– Sequestrados, merda nenhuma. – Lohkar estreitou as sobrancelhas. – Um kappa estava caído no ancoradouro, não acho que levante. Estão à solta na cidade!

     Tenno indicou a rua do outro lado do rio. Lohkar levou a mão aos cabelos ruivos. Porra, Nínive!

     Não houve latido, não se escutou um uivo, apenas gritos.

     Mantos de pelo negro saltavam sobre a multidão.

     E as pessoas começaram a fugir assustadas em diferentes locais, com o medo singrando o vento. Mas estavam cercadas.

     Lohkar cerrou a mão em volta da lança.

     No alto, o réptil alado dava rasantes buscando a atenção dos caninos. Dois deles saltaram sobre a multidão, como lobos atacando ovelhas. Mas eles não eram lobos, e não atacavam rebanhos se não lhes fosse dado uma ordem. Não deviam estar... matando.

     Um homem correu na direção do rio, um dos cães flanqueou suas pernas e o derrubou. Antes mesmo que atingisse o chão, facas brancas se enterravam em seu pescoço. O cão cambaleou para trás, provavelmente quando a morte se encarregou do rapaz.

     O metal cantou quando Tenno desembainhou Anglarita.

– Minha irmã não está nos vendo. Fico mais tranquilo se o poderoso Lohkar, Lança Maldita, ficar para me proteger – comentou se deixando chegar mais perto do capitão. – Para quem duvida que feriu o rei de Vineheim, posso atestar o poder de sua "lança".

    O feérico lhe lançou um olhar de reprimenda. O outro encolheu os ombros.

– Volte para a mansão! Os lordes estão reunidos na câmara de audiências... – Lohkar deu por si perdendo a voz. – Achamos que era um ataque externo... que merda tá acontecendo?

      Uma garotinha humana rasgou o ar com força em um berro agudo. A mãe, que encontrara aquela tarde, a envolveu, olhos de negros cerrados murmurando uma prece enquanto um dos cães lhes encarava de pelo eriçado.

     Algo entre o medo e a determinação das duas o atiçou.

     Era a oportunidade que a multidão esperava para correr rua abaixo com não mais que um relance de lado. O feérico, preso na ponte por outras tantas pessoas, viu as duas se enrolarem uma na outra, mãe tentando envolver a filha e a garotinha erguendo seu brinquedo de madeira como se fosse lhe oferecer alguma proteção. Lohkar viu as vestes ocre se tingirem de vermelho, com o animal se enterrando na carne.

       O feérico estava sendo empurrado, mas colocou força contraria e posicionou o braço da lança, quinze metros era a distância até a família humana. Soltou a respiração e a viu ondular à sua frente. Lança cortou o espaço, atravessando a anca do cachorro. Outro mastim compreendeu a cena e abriu caminho até o capitão.

       Anglarita atravessou sua carne como teria cortado água. O sabujo grunhiu a exibir os dentes. Tenno mostrou suas presas brancas e o animal recuou. Lohkar já investigava as ruas de peito apertado.

      A alegria maliciosa do nobre não lhe chegou aos olhos.

– Quem o capitão precisa resgatar com tanta pressa?

     Seu jeito taciturno de parecer pedante parecia abalado e fez o ruivo hesitar.

– A protegida de Elawan.

– Na praça central – disse o macho com uma tristeza distante. Vendo a interrogação no rosto do feérico, explicou: – Sabe como tenho uma queda por ruivos. E ruivas.

      O capitão emitiu um estalo com língua, se afastando do afago fora de hora do macho. Já havia perdoado os gêmeos pelo que houve na capital, pela traição a Elawan e tudo mais envolvendo Sõjo  Sakebi. Mas Carter não sabe até onde vão seus jogos. Deuses, nem mesmo o feérico sabia.

– Lohkar, você era amigo do príncipe Cardiff, certo? – perguntou baixinho. O ruivo não entendeu, mas assentiu. Melhores amigos. Embora Elawan tenha chegado primeiro, o lanceiro estava presente nas maiores conquistas do príncipe antes que ele morresse pelas espadas tengus. – Foi perdoado pela rainha, podia estar servindo na corte. Ficar aqui, nesta terra esquecida, vale mesmo a pena?

     O feérico lhe sorriu após pensar um pouco.

    Um sorriso que não chegou aos olhos. E avançou pelo lado de fora do parapeito da ponte.

    Tenno sabe se cuidar sozinho. Mas Carter... é humana.

Pokračovat ve čtení

Mohlo by se ti líbit

197K 14.6K 22
𝐀𝐥𝐦𝐚𝐬 𝐠𝐞𝐦𝐞𝐚 - 𝑒 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎 𝑎 𝑞𝑢𝑎𝑙 𝑛𝑜𝑠 𝑔𝑒𝑟𝑎 𝑢𝑚 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑢𝑟𝑎 𝑒/𝑜𝑢 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 𝑎𝑓𝑖𝑛𝑖�...
13.3M 570K 85
TRADUÇÃO AUTORIZADA ✔ SÃO PARÓDIAS BL (GAY), NÃO SE TRATA DOS CONTOS ORIGINAIS ❌ NÃO É PERMITIDO REPOSTAR ESTA TRADUÇÃO.❌ TRADUÇÃO: Enny [WeiYaoi] A...
2.9M 205K 86
Livro 1 - Completo | 2 - Completo | 3 - Em andamento No dia do seu aniversário de 18 anos, Aurora Crayon sentiu o chamado do seu parceiro, enquanto...
12.3K 1.2K 19
Hazel Potter era considerada a melhor bruxa da sua turma, a mais inteligente, a mais estudiosa, a mais talentosa, ela ia muito bem consigo mesma, bom...