Corte de Sombras e Marés

By barrowaquiles

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Thalassa desde cedo aprendeu a sobreviver sozinha, e isso era uma das suas melhores qualidades. Assim como no... More

dedicatória
disclaimer
parte um
prólogo
capítulo 01
capítulo 02
capítulo 03
capítulo 04
capítulo 05
capítulo 07
capítulo 08
capítulo 09
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21

capítulo 06

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By barrowaquiles

——— got my mind on your body
and your body on my mind
got a taste for the cherry
I just need to take a bite






As portas do Salão de Baile Privativo estavam abertas e a barulheira era ouvida até dois andares acima. O salão ficava no sétimo andar e era aquele usado para fazer as "pequenas festas" por ser o menor e mais perto dos dormitórios, o Palácio contava com outros quatro salões, dois ao norte e dois ao sul e todos ficavam no segundo andar. Os lado norte eram ligados o que poderia ser considerado para alguns como um só, já os que ficavam ao sul eram individuais. Thalassa já havia frequentado todos eles, mas o privativo sempre fora seu favorito, não por ser "pequeno" — Helion deveria realmente repensar em seus conceitos de grande e pequeno. Mas por ter uma atmosfera que exala selvageria, sensualidade e alegria, um lugar perfeito para quem queria esquecer certas coisas. 

Quando passou pelas portas foi quase automático a forma que se sentiu ainda mais leve e pronta para uma boa noite de farra. A decoração estava impecável com mesinhas e cadeiras altas espalhadas pelo lugar, ao fundo da sala pequenos sofás em tons vermelhos se localizavam na parte mais escura. Diversas pessoas dançavam espalhadas pelo salão, algumas sozinhas de forma sensual e outras em grupo de forma divertida. Uma banda — que Thalassa reconheceu tocar em uma das tavernas famosas da cidade — dava ritmo aos passos alegres dos feéricos ali. 
Nada ali era tradicional, a forma que dançavam era completamente camponesa e espontânea e por muitos era vista como vulgar. Aquilo era uma de suas coisas favoritas em bailes informais, ninguém lhe julgaria pela roupa decotada demais tal como não tinha uma regra específica a seguir na dança — era apenas algo espontâneo e totalmente plebeu. Perto da parede onde a banda tocava estava uma enorme mesa cheia de petiscos que pareciam ser completamente ignorados pelos convidados. 
 

Thalassa localizou Helion em pé perto dos sofás vermelhos, sentados de forma distribuída ao seu redor estava o Círculo Íntimo, pela forma que riam deveriam estar ali já há algum tempo. Mas ignorando o padrinho, a feérica caminhou para a mesa de petiscos, afinal se queria encher a cara até o dia amanhecer no mínimo deveria fazer isso de estômago cheio. 

Montou seu pratinho com seus quitutes favoritos e quando se contentou com o pequeno montinho ali se escorou em uma parede para comer. Observando o salão enquanto mastigava a jovem teve um rápido vislumbre de Aslan no canto de uma parede, mesmo oculto na penumbra ela era capaz de reconhecer aquela cara de quem foi renegado mesmo de longe. Ainda se lembrava de quando chegou ao Palácio e o macho lhe pareceu simpático e até mesmo bonito, mas a verdade é que um rostinho bonito pode enganar muito.

Com ele não foi diferente. 

Aslan tinha os olhos castanhos que de longe pareciam inofensivos mas de perto podiam lhe devorar a alma. Sua estatura não era muito alta, mas usava de seus músculos e cabelo loiro encardido de galã para intimidar e persuadir os outros. O macho aparentava não ter nenhuma família já que vivia em função de servir a Helion no Palácio Dourado. 

Na primeira vez em que Helion teve que sair de Aethel para visitar uma cidade perto das fronteiras, Aslan se candidatou a fazer companhia para sua protegida. Ele lhe levou em passeios e até apresentou para amigos próximos do Grão-Senhor que moravam em outras cidades. E tudo ia às mil maravilhas, até o momento que ele entrou em seu quarto sem permissão enquanto ela dormia. Ela tinha acordado assustada porque como sempre havia sentido algo de errado, quando olhou para o lado pode discernir os olhos castanhos e traiçoeiros na escuridão do quarto. Eles não falaram nada até o momento que Thalassa com apenas um gesto trêmulo apontou para a porta. A jovem feérica passou o resto da noite tremendo com uma adaga na mão e sem conseguir fechar os olhos, com medo do que o macho poderia fazer se voltasse enquanto ela dormia. 

A partir daquele dia Thalassa manteve o máximo de distância possível do macho e nunca ousou falar tal coisa para seu padrinho. 

Seus olhos saíram do odioso feérico e foram atraídos para seu parceiro que se sentava sozinho em um sofá de três lugares que parecia adaptado para asas — ainda era estranho pensar que aquele lindo macho alado era seu destinado. Como estava longe o suficiente, se deixou avaliá-lo com calma e apreciação. 

A blusa de mangas longas estava dobrada até abaixo dos cotovelos deixando a pele bronzeada à mostra junto às cicatrizes. Cicatrizes. Uma onda de raiva esquentou seu corpo ao ver aquilo. Quem havia ousado queimar aquela pele em um ato tão cruel, pois só de olhar os relevos brutos sabia que aquilo não havia sido um acidente — seja  lá que criatura maléfica tinha feito aquilo, Thalassa sabia que havia encontrado um final ainda pior pelas mãos do Encantador de Sombras. Esperava que tivesse sido um final doloroso. Foi com esse pensamento que esfriou seu corpo. 

Continuando sua nobre avaliação a blusa que aparentava ser de linho e abraça aquele corpo escultural com mestria estava com os botões sobre a clavícula abertos mostrando parte de seu peito que parecia confortável e quente e só naquele momento Thalassa percebeu o nanquim que estampava o delicioso corpo dourado. 

Oh não. O fraco que Thalassa tinha por tatuagens era uma coisa de outro mundo. Ela se atraía por qualquer um, mas quando o indivíduo era tatuado o tamanho de sua atração triplicava. 

Eram arabescos negros que para ela não faziam muito sentido mas que deixavam o macho ainda mais atraente, sua vontade era de traçar aqueles traços com seus dedos e perguntar sobre toda sua vida, beijaria cada uma delas com fervor e seria como uma devota adorando aquele macho. Desviou o rumo de seus pensamentos antes que os realizasse. 

Foque em outra coisa que não seja imaginar aquele macho sem camisa em sua banheira. Se dê ao respeito mulher. Era o que dizia a si mesma. 

Tirou seus olhos de cima do macho e focou os pensamentos no que teria que fazer nos próximos dias antes de viajar. 

Precisaria apresentar o navio para os convidados antes de embarcarem. 

Levar algumas peças de roupa para suas instalações no Nostradamus. 

Acertar os detalhes finais com sua equipe e com o Círculo Íntimo. 

Ajudar na organização dos móveis que comportariam os machos alados confortavelmente. 

Foi a palavra alado que despertou a garota que mastigava um dos últimos petiscos. Se lembrou da fantástica criatura alada que lhe separava nos estábulos e bateu na própria testa ao perceber que desde que chegou não havia visitado seu amado Festus. Fez mais uma nota mental de no dia seguinte ir ver seu adorado pégaso. 

Enquanto mastigava seu último petisco — e considerava encher o prato novamente —, a feérica viu o Grão-Senhor da Corte Diurna acenando e sorrindo para ela de seu lugar. Seria mentira se alguém dissesse que naquele momento Helion não era a personificação do sol. A túnica branca lhe alcançava os joelhos e era de um ombro só com um adereço de ouro sobre o mesmo, no braço onde o tecido não ocupava estava um bracelete dourado em formato de cobra repousando no bíceps braquial. A calça possuía o mesmo tom da túnica e nos pés apenas uma simples sandália de dedos na cor marrom, mesmo em cores tão neutras o feérico parecia reluzir em sua própria órbita. Sua pele negra parecia fazê-lo brilhar ainda mais que o sol e a coroa de pontas douradas era a cereja do bolo. 

Caminhando na direção de seu patrono a garota só parou para pegar uma taça de vinho branco que um dos garçons estava servindo bebendo todo seu conteúdo de uma só vez. Pegou outra com o mesmo líquido e continuou seu caminho fazendo o possível para desviar daqueles que dançavam como se não houvesse amanhã — pretendia se juntar a eles logo. 

Os braços de Helion a circularam assim que ela estava em seu alcance, levantando a fêmea do chão — que fez o possível para não derramar sua bebida —, o macho beijou sua tez enquanto sorria. 

— Já estava achando que você não viria! — Exclamou em uma expressão alegre quando a colocou no chão. 

Antes que pudesse responder, a voz da Grã-Senhora se fez audível. 

— Ele já estava subindo pelas paredes enquanto te procurava, eu realmente achei que o pescoço dele não voltaria para o lugar depois de tantos giros. 

A mais nova das Archeron's estava no colo de seu parceiro sentados em uma poltrona confortável e olhando para os dois Thalassa só pode pensar que se Rhysand era a escuridão da noite encarnada então Feyre era as estrelas onde os dois se vestiam como tais. O vestido da Grã-Senhora possuía um fundo escuro que ia até as coxas mas o forro que o cobria era o verdadeiro destaque, cheio de bordados de diversos tamanhos em um tom prateado. A roupa escurecia conforme chegava aos seios onde um decote profundo lhe alcançava o umbigo, na cabeça uma simples porém gloriosa tiara repousava nos cabelos da feérica. Rhysand embaixo dela parecia ter optado por discrição ao usar uma túnica num escuro de azul que parecia contar pequenos brilhos entre o tecido — mesmo quando o macho queria ser discreto sua aura poderosa parecia convidar os outros a olhá-lo. Ao lados das pernas do macho feérico um pequena esfera escura repousava, nunca Makaela havia visto algo do tipo! A pequena criança alada dos dois não estava em nenhum lugar por ali — provavelmente em seu vigésimo sono. 

— Para a sorte de vocês eu consegui um tempo livre na minha agenda lotada, agora  poderão usufruir da minha adorável presença — tomando um gole do vinho Thalassa deixou seu ego aparecer. Não se contentou ao elogiar a caçula das Archeron's — Sinto que devo lhe dizer Grã-Senhora, que a noite ficou sem graça depois que você roubou todo brilho das estrelas para si mesma. 

A grã-feérica corou de forma adorável e foi observada com adoração pelo parceiro. 

— Viu, Cassian? É assim que se elogia uma mulher! — Morrigan quem não perdeu a chance de implicar o general. 

— Fique sabendo que eu sei elogiar uma fêmea muito bem, pode perguntar a Nestha o quão bom eu sou nisso. 

— Eu não teria tanta certeza disso. 

— Muito obrigada, você também está linda essa noite Capitã. E por favor me chame apenas de Feyre — a Grã-Senhora não deu chance de seu amigo retrucar a parceira. 

— Só se você me chamar de Thalassa. 

Cassian — deixando de lado a provocação anterior — que estava em um sofá de dois lugares com a parceira, gargalhou alto e estrondosamente. 

— Já que agora estamos em sua adorável presença porque não se senta, ó vossa majestade? 

Quando avaliou os possíveis lugares onde poderia se sentar, ela se viu em um impasse. Elain estava sozinha em um diva de dois lugares enquanto Azriel se acomodava elegantemente em um de três, Helion estava em pé encostado do assento de Cassian e Nestha já Morrigan se acomodava muito bem sozinha em uma poltrona. 

Mesmo que o corpo de Thalassa quisesse repousar ao lado do Mestre-Espião, foi na direção de Elain que ela seguiu pedindo uma rápida permissão para se acomodar ao seu lado. Quando enfim repousou o traseiro em um lugar confortável ela não pode deixar de se comparar com as fêmeas ali presentes e perceber que talvez estivesse simples demais. Elain estava em um vestido em um tom variante entre o creme e o rosé, no topo da saia que exalava leveza pequenas flores surgiam em tons neutros e variados tamanhos, elas iam até o decote de coração que se acomodava com maestria no peito da jovem feérica. Uma única alça cheia de florzinhas repousava em seu ombro esquerdo. A beleza dela juntamente a roupa a faziam parecer celestial. Seus lindos cabelos tão semelhantes aos das irmãs estavam em ondas brilhantes enquanto uma tiara de flores pequenas repousava no topo de sua cabeça. 

Já a mais velha das Archeron's parecia conter o fogo prateado que habitava a lua com as madeixas soltas — a fazendo parecer mais jovem —  e seu vestido azul escuro, a peça era de alças finas e um decote nem tão fundo e nem tão recatado. A saia era solta e tinha uma fenda que alcançava o topo da perna onde a mão de Cassian repousava, olhando para o contraste da pele bronzeada do macho com a de alabastro da feérica, Thalassa sentiu um aperto no pé da barriga. 

As irmãs Archeron pareciam ter roubado a matéria bruta da natureza quando foram Feitas e agora mostravam toda sua glória. 

~o0o~


—… se eu tivesse uma dessas garrafas eu tomaria sozinho. Pegaria ela e fugiria para não precisar dividir com ninguém. 

— Vou ter que discordar de você nisso Cassian, primeiramente porque acho que um D'Malez deve ser apreciado suavemente e não ingerido como se o mundo tivesse acabando. E em segundo lugar porque uma garrafa especial pede uma ocasião especial, então eu certamente esperaria o momento certo para abri-la e dividir com quem eu estivesse. E isso depende da bebida também, se fosse rum eu tomaria com amigos mas se fosse vinho eu certamente tomaria em uma ocasião mais romântica. 

— Um dia eu ainda espero ter uma dessas na minha coleção — o Grão-Senhor da Corte Noturna recebeu um aceno de concordância da parceira. 

Morrigan e Feyre concordaram com Thalassa naquele ponto. Helion estava comprimentando os outros convidados e eles embarcaram em uma discussão muito séria sobre o que fariam se tivessem um D'Malez. D'Malez era um fabricante muito talentoso de bebidas desde rum até vinhos, ainda em vida seus produtos tinham um valor altíssimo e após o desastre que destruiu suas plantações e matou o feérico as garrafas D'Malez passaram a ter não só um valor alto como também a serem raras. A  estimativa é que só existam 23 dessas ainda. Thalassa não disse para nenhum deles que havia encontrado três delas em um mergulho e as mantinham guardadas em seu navio — como disse antes, só degustaria das bebidas se fosse realmente uma ocasião especial.
 A feérica que já estava em sua nona taça estava muito mais relaxada em seu assento do que quando havia chegado, e a conversa que mantinha com o grupo fluía perfeitamente bem. 

Cassian parecia inclinado a também concordar com ela quando um macho pediu licença e se curvou na frente de Elain. 
— Com licença Senhorita, mas você me daria a honra de uma dança? 

Todos ficaram em silêncio naquele momento apenas aguardando a resposta da fêmea que lançou um rápido olhar hesitante na direção de Azriel que mantinha o olhar longe e a expressão indiferente. 

— Seria uma honra — e agarrando a mão do feérico, eles caminharam para um lado mais calma do salão e começaram a dançar suavemente. 

A expressão que o Círculo Íntimo fez foi impagável, era como se fosse uma filha que havia crescido e ido em seu primeiro encontro — Thalassa revirou os olhos quando viu aquela expressão neles. Mas também sentiu uma onda de ciúmes e assim que desviou os olhos percebeu que aquilo vinha de Azriel, mesmo que o macho não estivesse olhando para Elain o ciúmes era praticamente palpável para Thalassa. Não era difícil ver porque o macho parecia tão apaixonada por ela; em primeiro lugar a feérica era divinamente linda e suave e tinha uma personalidade forte e doce que parecia atrair a todos. Em segundo lugar porque era fácil. Tres irmãs são feitas e encontram três irmãos illyrianos, quem não pensaria que todos estava destinados? Makaela certamente pensaria que sim, isso se a Mãe não tivesse predestinado ela para o macho. 
Uma pulga surgiu atrás de sua orelha ao considerar porque eles não estava juntos sendo que obviamente se gostavam. 

Lançando um último olhar para o macho e feérica de cabelos rubros mudou sua linha de pensamentos e percebeu que Morrigan não estava mais ali, a feérica deveria ter ido buscar mais bebida ou se encontrar escondido com alguma fêmea. Havia percebido assim que colocou os olhos sobre ela quando a conheceu e teve certeza absoluta ao ver ela encarando uma mulher de cabelos curtos dançando perto da banda. Pelo visto pouquíssimas pessoas sabiam daquilo. 

Helion ainda estava circulando pelo salão com um sorriso brilhante no rosto e o clima ao redor da Capitã parecia cem vezes mais erótico, pelo cheiro que exalava dos Grão-Senhores da Corte Noturna eles estavam com muito tesão acumulado. Não deu outra, três segundos depois eles deram a escapada com Feyre sussurrando um baixo:
— Só iremos checar o Nyx, já voltamos! 

Nestha sorriu junto a Thalassa enquanto Cassian apenas gargalhou debochado para os amigos. 

No momento que Thalassa terminou sua décima taça ela sabia que o álcool já estava cobrando seu preço — sua dignidade! Porque nada mais era capaz de explicar sua ações imprudentes. 

Nestha e Cassian estavam tendo uma conversa silenciosa regada a tensão sexual quando Thalassa depositou a décima taça na pequena mesa ao seu lado. Olhando ao redor ela novamente pode ver Azriel com aquele olhar vazio em seu rosto — ela definitivamente não gostava daquela expressão nos traços elegantes e foi por isso que se levantou e caminhou na direção do seu parceiro. O macho lhe olhou como se questionasse se ousaria se sentar ao seu lado tendo como resposta apenas um sorriso zombeteiro e o corpo quente se acomodando perto demais do dele. Mesmo que o assento tivesse três lugares ela fez questão de se sentar no meio confortávelmente pousando a  cabeça nas costas do sofá. 

Quis comentar que ele era o único com cara de ranzinza na festa e que provavelmente uma dança melhoraria mas a fêmea não ousou a esse ponto. Olhando para o teto a fêmea sentiu as sombras cada vez mais densas ao redor do Encantador, aquilo era um sinal de que estava desconfortável — ela sabia e sentia também. Assim soltou a primeira coisa que veio em sua mente. 

— Hoje eu passei o dia todo me perguntando se estava ficando louca por ver minha sombra mais escura e me sentindo acompanhada mesmo quando estava sozinha. Agora eu percebo que não. 

Olhando para a face elegante do macho Thalassa foi capaz de discernir um rápido arregalar de olhos e a sensação de vitória por ter surpreendido o macho lhe preencheu o peito. Percebeu que não receberia uma resposta e prosseguiu. 

— Sabe, Azriel, se você quer saber algo sobre minha pessoa é só me perguntar e eu lhe respondo. Não precisa colocar suas sombras nas minhas costas. 

Makaela se deliciou com a forma que o nome do macho saiu de seus lábios. Poderia passar a noite inteira falando, cantando e gemendo seu nome. Azriel. Azriel. Azriel. Era como se as letras quando se juntavam para falarem seu nome adquirisse uma melodia própria. 

— E que tipo de espião eu seria se tivesse ido diretamente lhe perguntar algo, Thalassa? 

Thalassa decidiu naquele momento era a rainha do autocontrole, porque apenas uma rainha do autocontrole teria conseguido segurar a vontade que teve de pressionar as pernas quando se excitou ao ouvi-lo cantar seu nome. Apenas a rainha do autocontrole para conseguir controlar o cheiro de sua excitação para que Azriel não soubesse quão molhada a garota estava só de escutar sua voz. Apenas a rainha do autocontrole não rasgaria a própria roupa e pularia no colo do macho ao seu lado. 

Traga-me minha coroa, era tudo que conseguia pensar. 

Mas tentou sair por cima ao retrucar seu parceiro. 

— Levando em consideração que eu te peguei no flagra, voce seria uma espião melhor do que está se saindo agora. E de quebra não pareceria um intrometido. 

Seu tom era brusco mas sua mente lhe traía dizendo que se o macho quisesse e falasse com ela um pouco mais suavemente repetindo seu nome ela contaria a ele todos seus segredos. 

Será que ele sabia o poder que sua voz tinha na fêmea? 

O olhar de Azriel mudou ganhando uma pitada de diversão e quando estava preparado para dar uma resposta a altura… algo mudou. 

Thalassa sentiu um toque gelado nos dedos da mão que repousa entre ela e o Encantador de Sombras e por um segundo considerou que fosse a mão do próprio mas ao olhar pensou que era algo muito melhor. Aparentemente uma das sombras haviam se desgarrado do Mestre e agora vagava entre os dedos da fêmea. A sensação era uma das coisas mais gostosas que já havia sentido, era como um vento palpável que lhe fazia cosquinha arrancando o sorriso estupefato de seus lábios cheios. Levou a mão em frente ao rosto e seu sorriso aumentou quando sombra desviou de seus dedos e lhe tocou a bochecha como uma carícia. 

Porém toda a atmosfera a foi interrompida quando um grito feminino estridente foi audível. 
— Thalassa! 

Azriel recolheu suas sombras as usando como manto em uma expressão que dizia que aquilo não iria se repetir, o que era uma pena pois a feérica havia adorado a forma que a sombra fria se entrelaçou em seus dedos. As sombras se acumularam em volta de seu Encantador em um murmúrio baixo que apenas ele entendia, a fêmea se perguntou quais segredos seus elas foram capazes de descobrir para seu mestre. 

Desviando o olhar para a dona do grito Makaela encontrou os olhos negros de Juno. O sorriso que apareceu em seu rosto ao ver a feérica foi instantâneo. 

A fêmea parou em sua frente e teve o impulso de dar um abraço na Capitã, mas ao recordar sua antipatia por eles, ela apenas a levantou do sofá com um afago carinhoso nas mãos. 

— Garota, você chega e nem me avisa? Como a gente pode sair para beber se você não me avisa que tá aqui? 

Juno era uma figura no mínimo excêntrica. Seus cachos dourados e seus olhos castanhos eram um atrativo e tanto, mas era sua personalidade que ganhava qualquer um. Você não pode dizer não para essa mulher na mesma proporção que não pode ficar sem rir perto dela. Uma das primeiras amigas que havia feito quando chegou na Corte Diurna, Thalassa era muito reclusa e Juno foi uma das pessoas que mais ajudou a jovem a se abrir. Como uma das pessoas mais próximas de Helion era nela que ele depositava confiança suficiente para visitar as cortes para fazer acordos e negociações e um dos principais motivos das duas quase não se verem. Podiam se ver pouco mas quando se encontravam era bom que as tavernas das cidades estivessem com seus barris abastecidos. 

— Peço desculpas por isso, mas estava organizando as coisas para próxima viagem e nem sabia que você estava aqui! — sentiu suas costas queimarem na observação dos olhos avelãs enquanto explicava. 

— Eu te perdoo… se você vier dançar comigo. — Thalassa revirou os olhos para chantagem fajuta mas aceitou o convite porque temia o que poderia fazer com o álcool e o tesão por Azriel correndo em suas veias tão forte. 

Juno pegou em sua mão e enquanto era arrastada para a "pista de dança", Thalassa percebeu que Helion lhe lançou um olhar esquisito de onde estava. 

Ainda sentindo suas costas queimando Thalassa  começou a dançar. 

Ela adorava aquilo, aquele momento da noite onde só havia ela, os movimentos de seu corpo e a música. Não tinha uma coreografia correta, era apenas os movimentos que seu corpo comandava fazer enquanto ouvia a música — porque era aquilo que parecia, a música era ouvido pelo seu corpo e não pelos seus ouvidos. Estava na parte mais cheia do local e sentia outros corpos roçando o seu conforme a música envolvia a todos, Juno à sua frente prendia o cabelo com as mãos para logo depois soltá-lo e deslizar os dedos esguios pelo pescoço e lateral do corpo. 

Não soube dizer há quanto tempo estava soterrada pela melodia mas em determinado momento um macho de cabelo castanho chegou por trás da fêmea loira tocando seus quadris, percebendo o movimento Juno aumentou o ritmo grudando no peito do desconhecido enquanto eram observados por uma Thalassa sorridente. Quando Juno se virou para sussurrar algo para o feérico, a Capitã já sabia que tinha perdido a parceira de dança. 

Parando por um momento para virar outra taça, a Capitã perdeu a amiga e o macho de vista em um piscar de olhos. Tudo bem, não precisava de companhia quando se tratava de dança — e inúmeros outros assuntos. 

Voltando a movimentar o corpo enquanto passava as mãos pelo mesmo Thalassa foi subindo o vestido que agora parecia muito quente, e aumentando o ritmo dos quadris com as batidas da música. Ninguém ousava chegar na feérica enquanto dançava mas ao invés disso lhe encarando e apreciando a deliciosa visão que aquilo era. Com o vestido já na metade das coxas sendo aparado por uma de suas mãos, a fêmea deslizou a outra pelo corpo de forma erótica puxando o decote do vestido e aumentando o vão entre os seios. Fechou os olhos ao sentir o suor que lhe escorria pela nuca enquanto ela jogava os fios rubros para o lado. A música ficou lenta e a voz do vocalista se silenciou, apenas o instrumental era audível naquele momento e tocava de forma cada vez mais sensual, seguindo o compasso da música Makaela deixou o vestido voltar a cair enquanto escorregava as palmas lentamente das coxas aos joelhos. Se abaixou lentamente fazendo o vestido parecer uma segunda pele de tão grudado em seu corpo curvilíneo ainda entorpecida pela melodia dos instrumentos onde o tempo pareceu diminuir gradativamente junto a música. Quando o violino assumiu o solo e passou a tocar de forma agressiva, Thalassa voltou a se levantar rebolando provocante. A música atingiu seu ápice no momento em que voz do vocalista voltou a preencher o salão. 

Quando voltou a abrir as pálpebras, os olhos na cor do oceano captaram uma pequena roda de pessoas ao seu redor. Eles batiam palmas ritmadas ao som da banda incentivando a garota a dançar. Ela sabia o porquê das palmas, estava chegando seu momento favorito da dança, aquele em que a dama em questão escolhia o macho que mais lhe chamou atenção na noite para ir com ela a roda dançar enquanto os outros batiam palmas e giravam ao seu redor. Dessa vez apenas a voz do cantor era audível e Thalassa soube que deveria ir buscar o macho em questão. 

A roda se abriu para a feérica passar e enquanto ela seguia para onde estava o Círculo Íntimo apenas um pensamento lhe passou pela cabeça. 

A Capitã do Nostradamus não queria um macho para dançar naquela noite. 

Ela queria dançar com Nestha Archeron. 

Durante toda a noite Makaela percebeu os olhares famintos que a feérica havia enviado a pista de dança e não sabia o que a estava inibindo e impedindo de ir até lá. Mas Thalassa queria ser quem lhe incentivaria a ir até lá. Nestha tinha aquele olhar de quem era apaixonada pela música mas também era capaz de dançar sem uma porque ela podia ouvi-la mesmo quando nada estava tocando. E foi por isso que a jovem parou em frente ao divã onde a Archeron lhe encarava junto de seu parceiro. Lhe reverenciando, Thalassa estendeu a mão em um simples pedido:
— Me daria a honra dessa dança, Senhorita Archeron? 

— Mas eu não sei a coreografia — Makaela era capaz de ver em seus olhos o quanto ela queria ir. 

Sabia das coisas que falavam da Archeron por aí, que era cruel, mal educada e tudo de ruim. E talvez fosse aquilo tudo mas Thalassa preferia descobrir sozinha. 
— Nós duas sabemos que você não precisa de uma. 

Nestha hesitou por um mísero e olhou para seu parceiro — não pedindo permissão, ela não era esse tipo de pessoa mas sim buscando o incentivo de seu maior porto seguro —, e quando o macho sorriu ela não perdeu tempo em agarrar a mão da feérica em sua frente e fazer o que teve vontade durante toda noite. 

A ciranda se abriu novamente e alguns machos olharam embasbacados ao ver que o escolhido da noite era uma mulher. Ignorando os olhares inconvenientes Thalassa puxou o corpo da grã-feérica para o meio da roda colando seu peito as costas da mulher. Nestha era alguns poucos centímetros mais alta que ela mas aquilo não seria um problema. 

Colocando uma mão no quadril e a outra espalmada em sua barriga, sentiu o corpo de Nestha ficar tenso. 
— Relaxa, nós só vamos dançar — foi tudo que sussurrou no ouvido dela antes que a música as dominasse. 

As palmas seguiram as duas de forma frenética enquanto movimentavam seus corpos. Mesmo que estivesse travada no início Nestha se deixou levar, e foi uma de suas melhores decisões. Sentia cada grama do corpo da Capitã colocada ao seu, rebolando contra o seu, incitando o seu. Não sabia o porquê mas aquilo lhe deixou excitada, a forma que o corpo da feérica preenchia as curvas de seu corpo estavam fazendo aquilo com ela. Nunca havia dançado algo do tipo, tão camponês e erótico mas estava adorando não precisar de uma coreografia e só se deixar levar pela bela melodia. Fechou seus  olhos azuis-acinzentados e jogou a cabeça para trás ao sentir as mãos de Thalassa lhe apertarem no quadril. 

Não soube dizer quando a música alegre terminou dando lugar a uma mais lenta, mas a roda que antes a circulavam já havia se desfeito. Makaela percebeu quando Nestha abriu os olhos e chamou seu parceiro, o general vinha observando as duas dançarem daquela forma já há algum tempo e viu o olhar e a expressão da Archeron, ela estava se descobrindo e não iria interromper aquilo com sua possessividade mesmo que se sentisse um pouco tentado a ir até lá. Mas quando a mulher que ele amava o chamou para participar daquela dança, ele não pode negar. 

O macho levantou do sofá recebendo um olhar profundo e um pouco questionador de seu irmão e tempo não foi perdido quando Cassian seguiu para onde as duas dançavam de modo sensual. 

Uma das mãos de Cassian foi para o quadril de sua parceira enquanto a outra lhe alcançou a nuca puxando-a para um beijo faminto e desesperado, Thalassa descansou a palma aberta contra a barriga plana da feérica sentindo a quentura do corpo de Cassian que também pressionou sua mão. Com um movimento suave dos dedos esguios, ousou mover o cabelo da Archeron para o lado, de forma que roçou os dedos calosos do general. 

A Capitã queria ficar ali naquela dança erótica mas sabia ser cedo demais ainda. Seja lá o tamanho do desejo que Nestha sentiu ao ter o copo de Thalassa contra o seu, ainda não era suficiente para a Capitã tentar uma investida. Por isso saiu da pista deixando os parceiros em sua própria atmosfera erótica em busca de mais bebida para apaziguar seu fogo. 

Quando chegou em uma mesinha alta repleta de bebidas a fêmea decidiu alterar seu cardápio colocando um pouco de rum misturado com suco de melância em um copo. Parando um pouco para respirar depois de tanto tempo dançando observou a situação ao seu redor, casais era o que ocupavam grande parte da pista agora, assim como os sofás. Nos cantinhos mais escuros do salão ela poderia jurar que um nível muito louco de pegação estava rolando, parando os olhos onde antes estava o Círculo Íntimo viu apenas Azriel ainda sentado no mesmo lugar com uma taça de vinho na mão. Como se uma lei tivesse atraído seus olhos até ela, ele a encarou assim que o olhar de Thalassa o encontrou. Ele tinha aquele olhar indecifrável em seu rosto mas a jovem sentiu a confusão pelo laço. Desviou o olhar porque era incapaz de suportar aquela intensidade castanha sobre si sem querer ir até lá lhe contar sobre a parceria, por segurança segurou o medalhão que repousava em seu peito. Se perdesse aquilo estaria fodida para caralho, se sequer o tirasse do pescoço Azriel poderia sentir o laço. Sentia o quanto aquilo era errado, esconder um laço de parceria assim mas mesmo com o pensamento não desistiu da ideia. 
 

Thalassa não pretendia fumar mais naquela noite, não gostava de ficar muito alta na frente de seu padrinho. Tinha avistado algumas pessoas fumando diversos tipos de cigarrilhas em uma mesa próxima e estava pronta para ignorar aquilo, mas percebeu pelo canto do olho seu padrinho saindo do salão com uma garrafa na mão acompanhado por um pequeno grupo de feéricos. Conhecendo Helion como conhecia sabia que ele estava indo para uma noite muito louca em seu quarto. 

Makaela também queria uma noite muito louca e sem o Grão-Senhor ali seguiu direto para a mesa de cigarrilhas pronta para tal. 

~

o0o~

Boa noite, nobres leitores, finalmente a aclamada festa aconteceu e eu não sei se ficou o que vocês separavam mas eu gostei. O capítulo tá maiorzinho e a meta agora é essa, fazer capítulos um pouco maiores. Também gostaria de avisar que as coisas vão acontecer um pouco mais rápido porque esse povo precisa embaraçar logo, meu desejo é que no capítulo 08 eles já estejam dentro do navio. Enfim é isso, obrigado a todos que estão acompanhando e até a próxima..

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Nosso caos se transformou em calmaria. Plágio é crime!!