𖤍 T a l i s s a 𖤍
Eu já havia me acostumado a passar meus dias ao lado de Loki. Seja lendo, treinando ou andando a cavalo pelo bosque, apostando corrida. Continuávamos a dormir juntos, mesmo que ninguém soubesse desse detalhe, mas já estava bem claro para todos no palácio que éramos um casal. Loki já sentia liberdade em me beijar — respeitosa e educadamente — em qualquer cômodo do local, normalmente andávamos juntos, e algumas – poucas – vezes, de mãos dadas.
Frigga se demonstrava muito feliz por nós, e Thor ainda mais. Assim que notou o anel em meu dedo anelar, pediu para ver com detalhes e elogiou a escolha do irmão. Nenhum dos dois presentes que Loki me deu, saíra de perto de mim nesses um mês e meio que se passaram. Tirava apenas quando eu ia dormir e tomar banho, em outras ocasiões eles sempre me acompanhavam.
— Peço que sirvam o almoço aqui? — Loki perguntou, fechando o livro entre um dedo, me encarando.
— Sim. Mas Thor não pediu que o esperasse? Disse que quer contar algo.
— É verdade... Melhor esperar que ele venha, então. — Diz, dando de ombros e voltando a ler.
Agora nós éramos citados como o novo casal de Asgard. Nosso nome já vinha sido comentado desde que ficou público que seríamos padrinhos do casamento de Thor e Sif, e agora era mais comum ver e ouvir os serventes do palácio falarem sobre “o príncipe e a guerreira midgardiana”. Loki estava feliz com isso. Eu estava feliz com isso. Mas ainda assim com medo do que Odin pensaria quando voltasse.
E isso também era algo que nos preocupava ultimamente. Odin deveria ter retornado de sua viagem e missão há duas semanas. Frigga estava preocupada, por mais que confiasse que o marido não estava em perigo. Muninn não havia retornado da Yggdrasil, e nenhum dos guerreiros que estava com Odin também dera sinal. Heimdall não conseguia vê-los com clareza, mas via onde estavam, e tudo o que sabíamos é que era sempre em meio a alguma batalha.
— Está fazendo aquilo de novo. — Loki diz, sem me olhar, e eu o encaro.
— O quê?
— Pigarreando e estalando os dedos.
— Não estou.
— Sim, estava.
— Loki! Não estava.
— Sim, estava. Eu te conheço, meu bem. O que está te deixando nervosa? — Questiona, deixando o livro de lado e me encarando.
— Estive pensando sobre nós... Acha que Odin irá aceitar? — Pergunto, e ele suspira, me encarando sério. Ele não gostava desse assunto.
— Odin não tem que aceitar nada, pois eu não pedi nada a ele. Nós estamos juntos e ninguém tem nada a ver com isso.
— Ele tem, afinal este palácio é dele, você é... “filho” dele, e eu sou de um outro mundo. Não pertenço a isso aqui, e ele pode sim me expulsar a qualquer momento caso não goste do nosso relacionamento.
— Então esse é o seu medo? — Questiona e eu assinto. — Ele não vai fazer isso.
— Como tem tanta certeza, Loki?
— Eu sei que ele não vai. Você é a melhor guerreira que esse lugar já viu. Tenho certeza de que ele te quer aqui por muito mais tempo. E eu não vou deixá-lo te tirar de mim. Nem ele nem ninguém. — Ele me conforta, massageando minhas mãos.
Nós permanecemos em silêncio, apenas nos encarando e acariciando um ao outro. Desisti da minha leitura, afinal não conseguia me concentrar em nada, e me aproximei da meia parede, me apoiando e sentindo o vento bater contra o meu rosto. Abri as asas, balançando as penas e logo senti a presença de Loki ao meu lado.
Ele observava meu corpo, minhas asas, e meus cabelos que voavam condizentes com o vento. Vê-lo me observar me causava estranheza, timidez. Eu ainda não havia me acostumado com seu jeito atencioso, e sua estranha linguagem de carinho: observação — e as vezes o toque. Já era automático olhar para ele e flagrar seus olhos em mim.
— Já disse o quanto suas asas são lindas? Te dão um ar diferente.
— Sabe que pode tocar nelas, não sabe?
— Sei, eu só... Eu imagino que sejam sensíveis e não quero te fazer se sentir desconfortável.
— Elas são, mas não se preocupe com isso, amor. — Digo, e sinto minhas bochechas tomarem uma coloração vermelho sangue assim que ele percebe o apelido que lhe dei sem pensar. — Toque-as.
Loki ergue a destra, tocando as penas mais baixas, passando os dedos por entre elas, devagar. Acabo mexendo-as num impulso nervoso involuntário quando ele sobe a mão e toca na pele que prende as asas. Ele sorri e me encara, percebendo que eu tentei esconder o rosto. Ele toca novamente, e eu tenho a mesma reação.
— Loki! — O repreendo, quando ele repete o ato uma terceira vez.
— Tudo bem, parei. É engraçado como elas se movem, e como você se arrepia.
— As terminações nervosas dessa pele são muito sensíveis, e mexem com todo o meu corpo. — Explico e ele me encara com um olhar perverso, lascivo.
— Todo o corpo?
— Sim. Contando as duas asas são mais de vinte mil terminações nervosas e... Por que está me olhando assim?
— Nada...
— Você não me engana, Loki. Fala.
— Só achei interessante. Um novo lugar para explorar, massagear, sabe?
— Oh céus! Você só pensa nisso é?
— Uma das minhas cabeças, sim.
— Homens... — Dou de ombros e ele me encara, boquiaberto. Ouvimos passos pelo corredor e acessamos a conversa ali mesmo.
— Oi casal! Desculpem a demora. — Thor se anuncia, entrando no terraço onde estávamos.
— Não se preocupe com isso. Como está? — Pergunto, receptiva.
— Bem, bem. E vocês?
— Bem. — Respondemos juntos e ele assente.
— O que queria? — Loki questiona, e eu vejo Thor olhar para os lados no corredor, e voltar para o local, fechando a porta.
— Nossa mãe já sabe o sexo do meu filho. Não quer me dizer. Então eu pensei se você não poderia se infiltrar na sala de cura, quem sabe ter acesso aos exames recentes de Sif... Retribuir o favor que eu te fiz indo a Nidavellir. — Thor pede, quase sussurrando para o irmão e eu sorrio da feição de Loki.
— Vai desperdiçar seu favor com isso?
— Eu preciso saber, irmão.
— Tudo bem, eu vou. — Loki diz, suspirando.
— Ahm... Meninos? — Os chamo, e os dois olham curiosos para mim. — Já é o momento certo para eu dizer que já sei?
— Sabe mesmo? — Thor me encara curioso.
— Me escondeu isso? — Loki pergunta, em choque.
— Sim, e sim. Frigga quer contar no almoço de hoje. Pretendia esperar a chegada de Odin, mas não vai mais.
— Hoje Sif completa seis meses de gravidez... Ok... Acho que consigo esperar até o almoço. E você ainda me deve um favor. — Diz, apontando para Loki.
— Viu o que você fez? Não vire as costas para mim, Lis!
— Resolva você os seus problemas. — Dou de ombros, juntando os meus livros e ouço Thor rir do irmão.
Passamos mais um tempo no terraço até que uma das serventes viesse nos chamar para o almoço. Thor foi buscar Sif e Loki e eu fomos direto para o salão de refeições. Frigga se sentara ao lado da cadeira do marido, que estava vazia, e Loki e eu ao seu lado direito. Eira e Fulla se sentaram a nossa frente, Thor e Sif do lado esquerdo da cadeira de Odin, Freya, Frey e Sigyn – que ainda andavam se agarrado por aí – em frente a eles.
O almoço começou leve, tranquilo, e se finalizou ainda melhor. O momento estava bom, e todos conversavam animadamente, mesmo tensos sobre o que Frigga queria falar. Ela se pronunciou, parabenizando Thor e Sif mais uma vez pela gravidez, e anunciou o que alguns de nós já sabíamos e imaginávamos. O herdeiro de Thor, na verdade, seria menina.
— Uma menininha, que está bem saudável, viu? — Frigga, diz, após todos parabenizarem o casal. — Já tem alguma ideia de nome?
— Não. Havíamos pensado em Magni, pois Thor jurava que seria um menino.
— Ao menos tem mais três meses para pensar em algo. E agora a missão é organizar as roupinhas e o quarto, certo?
— Certo...
A conversa toma o assunto “filhos e gravidez”, e eu fico calada, assim como Loki, que terminava de comer. Ainda era um assunto que não tocávamos muito. Ele se mantinha fechado para filhos, e eu também, por enquanto. Como já havia dito diversas vezes a ele, eu quero ser mãe, mas no momento certo.
As sobremesas foram servidas, e Frigga fez o favor de trocar de assunto, comentando agora sobre a temporada de verão que estava para se iniciar em Asgard. Assim que a conversa acaba, Frigga nos convida para ficar em um dos terraços abertos, para passar a tarde juntos.
Lá, Loki e eu nos sentamos próximos de Thor e Sif, e os irmãos passaram a conversar sobre o Mjolnir, e a nova arma de Thor que estava sendo forjada a pedido de Odin – antes de sua viagem –, o Stormbreaker, mais forte e mais poderoso. Sif e eu conversávamos sobre a minha espada, e eu contava a ela sobre Aegis. Ela parecia maravilhada com as armas do Olimpo, e eu, como madrinha do casamento, havia lhe prometido uma adaga de bronze celestial de presente.
— Oi! — Ouço uma voz fina e me viro, vendo uma criança loirinha, magrinha e aparentemente tímida, atrás de mim.
— Oi, tudo bem? — Pergunto, atenciosa, e ela assente, se aproximando mais. — Como se chama?
— Maeve. E vocês? — A menininha pergunta.
— Eu sou Talissa.
— Eu sou Sif. É um prazer, Maeve. — A morena diz, e a menininha sorri.
— Vocês são princesas?
— Tecnicamente sim. Ela é noiva dele, ele é príncipe. — Explico, e ela assente, chegando mais perto e pedindo para sentar-se no meu colo. Eu deixo, e assim que senta, ela começa a balançar as pernas animada.
— Isso faz dela uma princesa. É o que dizem as histórias.
— E você lê muitas histórias? — Sif pergunta, e ela assente.
— Muitas. Minha mãe e a lady Eira também leem para mim. E você, não é uma princesa? — Maeve pergunta para mim.
— Não sei. Acha que eu sou?
— Acho que sim. Parece uma. Você também tem um noivo? — Ela pergunta, observando Thor e Sif lado a lado, e sorri.
— Noivo não, mas tenho um namorado. — Digo, atraindo alguns olhares das pessoas que estavam conosco. — Quem acha que é?
— Hmm, ele? — Ela pergunta, apontando para Frey.
— Na verdade, é ele. — Digo, girando o corpo dela, fazendo-a olhar para Loki.
Loki, por sua vez, sorriu gentil e acenou para a menina, que sorriu de volta, e se curvou rapidamente, reconhecendo que ele era um dos príncipes de Asgard. Maeve me encara, e depois encara Loki, semicerrando os olhos para nós.
— É, combinam. Vocês também. — Ela diz para nós dois e para Thor e Sif. — Oh, você está grávida!
— Sim, estou. — Sif sorri e a menina sai do meu colo, indo para ela e tocando sua barriga.
— Ela ama crianças, é minha companheira no neonatal. — Eira diz, se aproximando com um bebê no colo. Bebê esse que eu já conhecia bem. — Lis, querida, pode segurar a Stela por um minuto?
— Claro! — Me disponho, levantando e segurando a pequena, voltando a sentar onde estava antes.
Aninho Stela no meu braço, e ela sorri para mim, tocando o meu cabelo, rosto e mão, carinhosa. Nesse último mês eu havia ajudado bastante Eira com os bebês, e Stela já estava acostumada comigo. Por incrível que pareça, Loki se aproxima, sentando-se ao meu lado, e brinca com as mãos de Stela, que gargalha com ele. Sorrio com a interação de ambos, e logo vejo-a tentar puxar sutilmente meu vestido.
— Oi, minha linda. Quer tete? A titia não nem. — Digo, e ela grunhe, mexendo as perninhas de forma nervosa. Eu sorrio. — Titia não tem filho, neném. Não tem tete.
— Não tortura ela assim, mulher. — Loki diz, e eu sorrio. — Ela é má, Stela. — Ele conversa com ela, e ela grunhe, respondendo, tentando falar. — É malvada, não é, criaturinha? Vem com o tio Loki. — Estende os braços para a menina.
Stela não pensa duas vezes e faz força para se levantar do meu braço, indo para Loki. Ele a deixa de pé, apoiadinha na perna dele, segurando-a por trás, evitando que ela caia. Ela me olha sorridente e devolve o olhar para ele, mexendo nos cabelos dele.
— É muito cabelo, não é meu amor? Tem que cortar tudo isso. — Brinco, e Loki me encara incrédulo. — Ela gostou.
— Sua traíra. — Ele diz, e a menina gargalha mais.
A visão me deixa feliz, mas traz um nervosismo na boca do estômago, quase um enjoo. Eu não era a única a olhar ele com estranheza, mas todos disfarçavam. Estava sendo fofo ver isso de perto. Flagrei Frigga nos olhando e sorrindo, e sorri de volta, tornando minha atenção para o moreno e a pequena ao meu lado. Sentindo minha tarde um pouco mais completa...
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oláaa!
Boa tarde pra quem confundiu os capítulos!
Gente eu jurava que esse era um com ação, como prometi no capítulo anterior, mas é o próximo. (E dessa vez eu estou certa)
O quê acharam desse capzinho? Foi bem simples, apenas pra mostrar mais um pouco da interação do casal com os pequenos probleminhas da vida. E o Loki com a Stela, claro. Morri de amores escrevendo isso 😭
Espero que tenham gostado. E continuo dizendo: foco nos pequenos detalhes. Não quero pegar ninguém desavisada com tudo o que vai acontecer, viu?!
Nos vemos no próximo, bebês! Beijão 💚💚