Verluste

By Julie1Sachs

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Os irmãos Everblane possuem um passado que nenhuma criança jamais mereceria ter. Pesadelos e fantasmas cresce... More

Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Sobre este livro

Capítulo 2

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By Julie1Sachs

— Você! Limpe essa bagunça! — ordenou a bruxa para Zariah algumas horas mais tarde, enquanto ela puxava a menina para fora do quartinho antes que Rowan sequer pudesse se levantar.

Eles não sabiam quanto tempo havia se passado, a luz que entrava pelas janelas indicava que já estava amanhecendo. Depois que Michail estava há muito morto e a bruxa começou a comê-lo, as crianças se meteram bem no fundo do quartinho e taparam os ouvidos com toda a força que possuíam para não ouvirem o melhor amigo ser mastigado e engolido pela bruxa; sua carne sendo dilacerada pelos poucos dentes dela.

Aquilo era demais para aguentar.

— Pegue a vassoura e o rodo — ordenou, forçando os braços da menina para frente e prendendo-os a correntes soldadas em um gancho no chão para impedir a menina de fugir. — e nem pense em escapar ou não me obedecer. Se você fizer tudo certo, não comerei seu irmão tão cedo.

Tremendo, Zariah obedeceu. Ela começou a varrer as cinzas no chão e usou o rodo para tirar um líquido amarelo e gosmento que tinha um cheiro azedo de urina.

A urina de Michail.

Por favor... por favor, alguém me acorde desse pesadelo, implorou ela, enquanto afastava a sujeira para o mais longe que as correntes permitiam. Qualquer um...

— Está bom — disse a bruxa, por fim. Ela lhe estendeu um punhado de doces. — Entregue para seu irmão.

Ela obedeceu, trêmula. O leve roçar de dedos foi o máximo de conforto que ela conseguiu.

Procure brechas — sussurrou Rowan antes que ela se afastasse novamente.

— É bom comer tudo de boa vontade, menino — disse a bruxa. — Ou eu mesma enfio goela abaixo.

Zariah ouviu os doces sendo mastigados conforme ela completava as tarefas domésticas que a bruxa lhe passava. Pareciam não ter fim e, quando o sol já estava começando a baixar, a garota estava tão exausta que seus braços estavam se mexendo praticamente sozinhos.

— Pegue um puxa-puxa e se enfie em algum canto em que eu não possa vê-la — disse a velha quando percebeu que não havia mais nenhuma tarefa para dar para a menina.

Apesar de ter trabalhado a manhã inteira, Zariah não sentia fome alguma, mas esticou o braço para pegar um doce mesmo assim. Afinal, ela poderia não ter outra oportunidade tão cedo, ao contrário de Rowan, que recebia um punhado de doces a cada hora.

Ela deve estar tentando engordá-lo para comê-lo! Pensou Zariah, o estômago revirado de repulsa. O que posso fazer para impedir?

A resposta não surgiu em sua mente de imediato. Então, arrastando as correntes, ela se encolheu em um cantinho perto da pia e se deitou no chão duro. Alguma coisa pontuda cutucou suas costas e, com horror, percebeu que era um osso. Ela não sabia dizer se era humano ou de algum rato, mas decidiu não investigar demais, com medo da resposta.

Guardou o osso no bolso do vestido, uma ideia começando a se formar em sua mente.

— Garoto — chamou. — Mostre seu dedo.

Zariah ouviu Rowan obedecê-la sem questionar, com medo de que a bruxa pudesse fazer algo à irmã caso fosse teimoso.

— Magro... magro demais — murmurou a bruxa, soltando o dedo.

Ela se virou para Zariah.

— Dê-lhe mais doces.

A garota se levantou com um gemido de cansaço, mas foi colher alguns puxa-puxas enquanto que, discretamente, os unia com o ossinho.

Quando passou os doces pela portinhola, ela sussurrou tão baixinho que Rowan quase confundiu com os próprios pensamentos:

— Mostre isso ao invés dos dedos.

Rowan ficou confuso por alguns segundos, mas assentiu e Zariah se afastou, com medo da bruxa desconfiar de algo.

Com muita sorte, esse truque poderia atrasar a velha por alguns dias até Zariah conseguir uma brecha para soltar o irmão.

Ela voltou para seu cantinho na pia e tentou descansar um pouco, apesar da imagem de Michail surgir sempre que fechasse os olhos.

Tudo o que ela poderia fazer agora era rezar.

****

Os dias se arrastavam conforme a bruxa lhe dava mais e mais tarefas, uma mais exaustiva do que a outra. Zariah passou a temer não conseguir aguentar tanto tempo quanto havia imaginado. Se ela não fizesse algo logo, ela iria morrer antes mesmo de Rowan.

O truque do osso estava funcionando surpreendentemente bem, mas a bruxa estava ficando cada vez mais irritada. Os comentários que ela fazia para a garota evoluíram de "criança fraca e inútil" para "debilóide" e outros adjetivos que Zariah não sabia o significado, mas que não soavam nada bem aos ouvidos.

No fim do quarto dia, depois de verificar o dedo de Rowan novamente, a bruxa gritou:

— Chega! Magro ou não, vou cozinha-lo hoje mesmo! — ela se virou para Zariah, o dedo fino e retorcido como um galho muito feio apontado em sua direção. — Acenda o forno.

O coração de Zariah disparou, a mente em branco. O que ela poderia fazer? Ela não poderia permitir que...

E então a ideia surgiu. A princípio apenas um esboço, mas, conforme ela ia arrastando a lenha até o forno, foi se desenvolvendo.

Quando terminou de empilhar tudo, o plano já estava formado.

— Anh... — murmurou ela, atraindo a atenção da bruxa. — eu não consigo acender o fogo.

— Como não, sua débil? É a coisa mais fácil que tem!

Zariah respirou fundo. Seu corpo inteiro tremia de medo e excitação pelo o que estava prestes a fazer.

— Pois me ensine.

A bruxa ergueu as mãos finas para o alto e soltou um grasnado de irritação, mas pegou as pedras em cima do forno e se ajoelhou diante dele.

Essas crianças de hoje... cada vez mais imprestáveis... — murmurou, irritada. — É bom prestar atenção, pois não farei de novo. Você tem que bater as pedras com...

— Espere — interrompeu Zariah. — Chegue um pouco mais para frente. Assim eu não consigo ver direito.

A bruxa, com certeza não crendo que alguém de oito anos pudesse fazer algo contra ela, não suspeitou de nada e avançou alguns centímetros para dentro do forno.

— Como eu dizia, você bate com força perto da palha — disse, demonstrando, e uma faísca surgiu, fazendo a palha pegar fogo rapidamente. — E então assopra e... AHHHH!

BAM!

Nem mesmo Zariah conseguia acreditar no que havia feito: com toda força que ainda possuía, chutou o traseiro da bruxa, que se desiquilibrou por tempo o suficiente para ela empurrá-la para dentro e fechar o forno.

— O que você está fazendo, menina?! — a velha gritou, a voz abafada. — Me tire daqui! AH!

Zariah se virou para correr até o irmão, mas, com o canto do olho, conseguiu ver que o fogo já estava crescendo.

Talvez a bruxa conseguisse apaga-lo antes que se tornasse irreversível, o que seria um problema, mas talvez o pânico tirasse sua capacidade de raciocínio.

Ágil como uma lebre, a garota subiu em um banquinho e destravou a porta para Rowan, que não perdeu tempo e a abraçou com toda sua força, como se fosse a última vez que fossem fazer aquilo.

De fato, a garota percebeu, o osso salvou sua vida. Ele estava bem mais encorpado do que antes.

— ME TIREM DAQUI! — Eles ouviram do forno. Zariah correu na direção dele, para ver se o fogo apagara.

Não. E estava apenas crescendo.

Rowan não ficou curioso para assistir e, por isso, correu por toda a casa em busca de qualquer coisa que pudesse abrir as algemas da irmã.

Em menos de um minuto, a bruxa começou a gritar com a dor do fogo. Não eram gritos nem um pouco parecidos com os de Michail, mas eram tão desesperados quanto.

Rowan encontrou um machado na parte de trás da casa e o usou para cortar as correntes.

— Vamos! — disse ele, pegando na mão da irmã com uma mão e tapando um ouvido com a outra. Por mais que ele quisesse que a bruxa pagasse pelo que fez, os gritos e o fogo só conseguiam trazer as lembranças de Michail.

Zariah não argumentou e correu tão rápido quanto Rowan na direção da mata de onde eles vieram.

Eles conseguiram ouvir os gritos da bruxa até um segundo antes de atravessarem o portal. Quando eles olharam de novo, a casa voltara a ser de pedra e o céu clareou um pouco.

Mas, mesmo assim, eles não pararam de correr até saírem da floresta e avistarem o vilarejo.

Quando chegaram na segurança de casa, o pai os recebeu com a testa franzida de preocupação.

— Onde vocês estavam?! Sumiram por dias! — indagou ele, enquanto abraçava os filhos.

Ele sabia que algo grave tinha acontecido, pois ele sempre se orgulhava da obediência dos filhos quanto à horários e tarefas. Porém, jamais iria imaginar algo ao menos parecido com o que realmente ocorrera aos filhos.

— Cinco dias sumidos! Eu já estava juntando uma equipe de busca.

Ofegantes de tanto correrem, os irmãos começaram contar sobre o pesadelo da qual haviam acabado de escapar. O pai ouviu tudo boquiaberto. Se fosse apenas uma aventura na casa de doces, com uma bruxa má, ele talvez não tivesse acreditado e deixaria os dois sem jantar como castigo pela mentira. Porém duas crianças de oito anos, por mais cruel que o período em que viviam fosse, jamais inventariam uma morte tão horrenda para o melhor amigo.

Quando terminaram o relato, o pai se levantou, trêmulo, e lhes deixou sob os cuidados de um dos empregados, que lhes deu água e comida. Ele não conseguiu pensar em absolutamente nada para falar para os filhos e, por isso, ficou aliviado quando eles se deitaram e desmaiaram de exaustão na cama quase que imediatamente.

Ele deu um beijo na testa de cada um e saiu de casa.

Alguém tinha que avisar o pai de Michail. E procurar ajuda.

***

A tempestade estava forte do lado de fora da casa dos Everblane. Um trovão soou alto, iluminando o quarto dos irmãos, que acordaram quase que imediatamente, em silêncio, pois ainda o cérebro não havia se acostumado com segurança.

— Rowan — chamou Zariah. O trovão a remetera à bruxa fechando a portinhola após verificar o dedo do irmão. — Está acordado?

Ela viu um movimento na cama e logo em seguida os dois olhos dele se abrirem.

— Acho que não vou conseguir dormir por muito tempo tão cedo — disse ele, melancólico. — Não consigo me esquecer do fogo e...

— Não vamos falar sobre isso — cortou Zariah. Verbalizar os acontecimentos só fazia tudo parecer pior.

E mais real.

— Acho... acho que deveríamos nos alistar no exército.

— Temos oito anos — argumentou Rowan. — Eles não nos aceitariam.

— Podemos insistir — disse ela.

Rowan ficou em silêncio por alguns segundos. A ideia de aprender a lutar e ser mais ágil lhe parecia perfeita. Se eles tivessem tido treinamento antes de caírem na casa da bruxa, talvez Michail ainda estivesse vivo. Talvez eles conseguissem tê-lo salvo...

— Precisamos aprender a nos defender — concordou Rowan lentamente. — Para isso não se repetir nunca mais.

Zariah assentiu, os olhos brilhando pelas lágrimas que queriam sair, mas que a menina não permitia.

— Amanhã tentamos — disse ela. — Nem que seja para limpar os estábulos e aprender observando, mas vamos ficar fortes.

— Não vamos perder mais ninguém — disse Rowan, afundando a cabeça no travesseiro.

— Mais ninguém — ecoou ela, encolhendo-se ainda mais nas cobertas.

Eles não podiam permitir isso, mesmo que ainda fossem crianças. 

|se você acha que essas crianças precisam de um psicólogo, deixa seu voto|

PRONTO! Partes pesadas finalizadas e agora vocês podem relaxar que a aventura vai começar uhuuuu!

O que acharam? Muita brisa essas crianças decidirem se alistar pra eliminar os traumas que acabaram de passar? Eu tenho CERTEZA que sim, mas eu já fui como esses dois e deu ruim pra caramba, então isso é baseado em fatos reais.

De qualquer forma, agradeço demaaaais por você ter chegado até aqui. Agora, prepare sua mochilinha de Dora Aventureira que vamos partir para a nossa odisséia!

Espero ver vocês amanhã!

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