— Meu apartamento não é tão longe e não vejo problema em fazer uma festa com nossa companheira — afirmou chamando a loira com a mão antes de passear por meu tronco.

— Não vejo qualquer problema em dividir também — concluiu a loira ao tomar a bebida de minha mão e virar. — Demoramos muito por aqui.

— Temos coisa mais interessantes por lá, Blake e não temos a noite toda para nossos planos.

Ao invés de me manter almejando que retomasse os costumes antigos ou filtrar a frase como um convite devasso para uma noite regada de prazeres, minha mente mudou completamente o foco para uma larga desconfiança, que se alastrou assim que os lábios brilhantes roçaram os meus e os olhos brilhantes encontraram os meus.

Eu já havia esquadrinhado este rosto em algum momento, ou eu estava completamente paranoico.

— Já acabou a hora da brincadeira, crianças — anunciou uma voz conhecida e poderosa o suficiente para fazer meu sangue congelar e a mulher se afastar.

Diferente de qualquer reação que cogitava ter, meu corpo paralisou ponto a ponto, meu coração parecia a mil como se tivessem injetado diretamente altas doses de noradrenalina, a visão não era mais dupla e sim perfeita sobre seu contorno, contudo nada poderia escutar ou perceber além dela.

Meu mundo havia parado para ela mais uma vez como quando nos conhecemos, não como um sonho lúcido ou ilusão, como eu desejava me convencer, era tão real que ambas das mulheres se voltaram ao chamado e tom francês ácido.

Não sabia dizer se o álcool em minhas veias poderia ser suficiente para me fazer delirar desta forma, ou se não era para afastar alucinações que tanto desejava ao perceber seus resquícios, mas ela estava prostrada em minha frente de braços cruzados, com o queixo alto direcionado a mim com ar imperiosos, os lábios rubros em uma linha tênue de repreensão, e mesmo que não pudesse ver seus olhos por debaixo dos óculos escuros, desnecessários, sabia que seu olhar era afiado.

— Você... não é... você — Minhas palavras pareciam atropeladas demais para mim mesmo.

— Sim, sou eu, caso você não esteja cego ou bêbado o suficiente.

— Não pode ser... — Me soltei das duas mulheres e me projetei na direção de minha aparente ilusão.

— No jogo que estamos, pouca coisa é impossível — replicou e voltou-se a loira. — Eu assumo por aqui, creio que tenha um número consideravelmente alto de homens disponíveis, este é problema demais para qualquer um, inclusive problemas de ereção — declarou acenando para que saísse.

Poderia me voltar a ela e praguejar contra suas palavras venenosas que mandaram a loira embora, entretanto as palavras desapareceram, enquanto tentava tomar o mínimo de lucidez quanto a situação e as emoções que deveria ter com sua presença.

Contudo assim que meus olhos pairaram sobre seu pulso, meu coração novamente deu um pulo contra meus pulmões, que apertaram pela rápida falta de ar. Poderia ver minimamente o fio vermelho enfeitando seu pulso, o exato par do que estava preso ao meu. O presente de Agatha.

— Agente Rech, se ousar encostar um dedo nele, sua morte será mais rápida e executada por mim, então aproveite os três segundos que lhe dou para sair e creio que não queira me desafiar — prenunciou para a mulher que sobrou, esta antes tinha os olhos vidrados e a postura forte, mas logo desfez e procurou o caminho para sair. — Quanto a você, vamos. — Apontou para mim.

— Não — neguei segurando o pulso da morena que saía.

— Blake, não coloque a teimosia acima da razão, você mesmo sabe que tem algo errado.

Ardente Perdição - Duologia Volúpia - Livro II Where stories live. Discover now