Capítulo 4

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Harry

Olhei à minha volta uma vez que me encontrava baixo as mãos daquele entardecer de inverno. A rua estava relativamente vazia mas, tendo em conta as horas que eram e a época do ano em que nos encontrávamos, era algo normal. Poucos eram os que saíam de casa no entardecer do último dia de janeiro.

Respirei o vento quase noturno que me acariciava o rosto e fazia voar o meu cabelo encaracolado enquanto começava a caminhar.

Normalmente não saía de casa a estas horas a não ser que fosse para ir a uma festa ou com o Niall a algum bar, mas esta noite precisava de pensar. Todos precisávamos de pensar nalgum momento, e este era o meu. Por alguma razão não conseguia fazê-lo em casa. Se calhar isso estava relacionado com o facto de que me chegava a sentir um pouco sobrecarregado e aprisionado entre montões de livros célebres para ler e guiões de dezenas de páginas para memorizar. Adorava o que estava a fazer, mas isso não tirava o facto de que me chegava a fartar de tanto estudar. Por isso saí com a intenção de aliviar a mente e caminhei pelas ruas meio vazias sem um destino em concreto, já que a única coisa que queria era perder-me. Pelo menos por um bocado.

Pus as minhas mãos nos bolsos do casaco e baixei o olhar. Era curioso o facto de que quando pensava baixava sempre o olhar. Não sabia o porquê disso e uma vez fiz a prova de o levantar mas acabava sempre baixo. Era um impulso e não o podia evitar. Mas era curioso, não? Tinha-me apercebido de que toda a gente - ou quase toda - o fazia. Era uma reação natural do corpo aos nossos sentimentos e realmente achava isso interessante. Eram várias as maneiras em que o corpo reagia ante os nossos estados emocionais e era bom sabê-las ou tê-las em conta.

Suspirei e a minha mente manteve-se em branco por uns momentos. Gostava de a manter assim às vezes. Mas esse estado não durou muito, porque estava tão distraído que sem querer bati contra algo, quer dizer, alguém. Elevei a cabeça atordoado para me encontrar com um rapaz de olhos pretos a olhar fixamente para mim um pouco chateado por cima do ombro da rapariga a quem estava abraçado. Ambos eram mais ou menos da minha idade e notava-se que tinha acabado de interromper um momento que não devia ser interrompido por uma terceira pessoa.

-Desculpem. - disse. - Estava despistado.

 -Vê lá se tens mais cuidado. - disse o rapaz chateado. Tentei não revirar os olhos e responder de má maneira, já que não tinha vontade de nada neste momento.

-Nate! - ralhou a rapariga ao tal de Nate que olhava para mim chateado. - Não sejas tão desagradável. - ela olhou-me nos olhos e dedicou-me um sorriso amável. - Não faz mal.

Ele revirou os olhos.

-Tem razão, não faz mal. - disse ele para deixar a rapariga feliz, obviamente.

Assenti com a cabeça e dediquei-lhes um sorriso a ambos.

-Desculpem. -  voltei a dizer e, antes de que dissessem mais alguma coisa, comecei rapidamente a caminhar. A última coisa de que precisava neste momento era de estar no meio de uma discussão por causa de um namorado ciumento.

Quando me encontrei o suficientemente longe, desviei o meu olhar para a direita e encontrei outro casal, mas estes estavam a beijar-se. Boa, era o que mais faltava. De seguida a imagem dela apareceu na minha mente e o só consegui pensar que amanhã iria vê-la. Não sabia como estar à frente dela nem o que lhe dizer. Ainda por cima sendo o meu aniversário. Dar-me-ia alguma coisa? Duvidava. Dar-me-ia os parabéns sequer? Também duvidava disso. Até duvidava que me dissesse um triste olá. E chateava-me. Chateava-me muito saber que no meu aniversário me ignoraria como se eu não existisse mas, apesar de tudo, eu merecia. Era melhor assim, sabia que era melhor assim, mas não podia evitar sentir que tinha feito mal. Era lógico que não poderíamos continuar juntos, o que nós tínhamos era algo tóxico e todas as minhas relações seriam uma merda tendo os irmãos que tinha. Simplesmente porque eram iguais a mim e podiam voltar a confundir-nos. Isso metia-me muita raiva. Tinha acabado com ela e tinha-lhe dito coisas que não achava para depois me aperceber que não fazia sentido fazer isso porque me aconteceria com qualquer rapariga com que saísse. Batava olhar para a Stacy, que tinha passado dois meses atrás do Marcel como uma desesperada enquanto ele lhe dava tampas uma e outra vez. E depois, de repente, voltou a querer estar comigo. Era patética, no entanto não podia negar que, nestes dois últimos meses desde que acabei com a Bella, a Stacy tinha passado pela minha cama uma ou duas vezes. Talvez até três ou quatro. Ela era como uma boneca sexual, podias fazer com ela o que te apetecesse e nunca terias uma queixa da sua parte se não houvesse nada mais do que sexo. No entanto tinha que ter cuidado para que a Gemma não estivesse em casa, porque a relação entre elas não se podia chamar de boa. Ter estado outra vez com a Stracy era uma das razões pelas quais duvidava que, se pedisse à Bella para me dar uma segunda oportunidade, ela aceitasse. Como lhe diria? "Olha, não consigo parar de pensar em ti, ainda te amo e quero que me dês outra oportunidade. Mas como tenho muitas saudades tuas tenho andado a foder com a minha ex ruiva. Sim, essa que odeias. Espero que não te importes, bebé" . Não, definitivamente não podia fazer isso, a não ser que quisesse que ela me deixasse a marca da sua mão na minha cara. Afinal, tinha que aceitar que eu era uma pessoa bastante imbecil. No entanto, isso não tirava o facto de que me tinha enganado com o meu irmão e depois me tinha mentido. Tinha utilizado a Stacy e talvez até outras raparigas apenas por sexo. Mas a Bella não. Nunca.

Continuei a caminhar enquanto me perguntava porque é que agora de repente, ao aproximar-se o meu aniversário, queria voltar a estar com ela. Eu tinha prometido a mim mesmo que a esqueceria e era isso que ia fazer, mas era difícil. Porém, não era impossível.

Deixei que os meus pensamentos voassem até outra parte: ao novo namorado da Gemma. Esse gajo era um estúpido e mesmo que quisesse fazer o que fosse preciso para o afastar da minha irmã, não o fazia com o medo de que ela gostasse dele a sério. Mas quem aguentaria semelhante personagem? Era um betinho, um egoísta, um autêntico menino mimado e idiota como tudo. Nem sequer saía com a Gemma para jantar sem que ela levasse algo posto que custasse pelo menos duzentas libras. Meu Deus, a minha irmã não tinha esse dinheiro e, se ele gostava dela, que raio importava quanto custasse a sua roupa? Era um completo superficial. Mas claro, tinha-se encarregado de renovar todo o guarda-roupa da minha irmã e ela tinha ficado estupefacta.Como é óbvio, o rapaz tinha sido bem recompensado por isso, enquanto eu sentia uma vontade incrível de o matar. Isso fazia-me pensar na "Dona Milionária". A Bella nunca me tinha comprado nada caro. No Natal, gastou milhões - literalmente - no Edward e no Marcel. E a mim? A mim deu-me um preservativo com um papel a dizer:"Isto é para a próxima que enganares. De: Bella".  Muito engraçada ela, reparem na ironia.  A verdade é que me chateei muito e se calhar disse coisas que não devia ter dito mas, em minha defesa, essa piada tinha sido demais. No entanto ela fechou-me a porta na cara antes que tivesse oportunidade de fazer alguma coisa. Podia dizer-se que ultimamente a nossa relação tinha passado um pouco ao ódio, no entanto eu não a odiava. Mas o pouco que às vezes falávamos não era precisamente para dizer coisas bonitas.

Eu não sabia há quanto tempo estava a caminhar e nem sequer sabia onde tinha chegado, mesmo que o lugar me parecesse bastante familiar. Atravessei a estrada e depois esperei que o semáforo mudasse para verde enquanto ajeitava o cabelo para voltar a atravessar. Franzi a testa ao aperceber-me de onde tinha chegado e roguei pragas a mim próprio por ter saído de casa. Era aí. Era o parque onde ela me tinha dito que me amava e me tinha beijado por vontade própria. Ali. Justamente no banco que estava a apenas a dois metros de mim. Consegui voltar a sentir o seu cabelo roçar no meu pescoço. Consegui sentir o seu cheiro e a sua voz temerosa enquanto me dizia que oxalá pudesse voltar atrás no tempo. Dei meia volta e bufei, já que não me queria continuar a lembrar de como tudo tinha começado. Inclusive lembrava-me de ter estado sentado aqui mesmo quando o pensamento de lhe pedir para ser minha namorada veio à minha mente, e tinha sido justamente aqui que uma pequena menina dizia querer ser minha namorada. Sorri. Onde estaria a pequena Alice?

Saí do parque rapidamente e entrei num beco. Já estava escuro, mas não me importava. O sol tinha desaparecido já há algum tempo e eu ainda pensava em estar mais um pouco às voltas. Não achava que nada de mau me fosse acontecer ao passar por um beco. Que poderia acontecer? Apareceria um assassino ou algo do género? Eu não acreditava nessas coisas, as pessoas viam demasiada televisão e demasiado CSI. Quando saí do beco, encontrei-me justamente à frente do lugar onde não deveria estar.

-Sou estúpido. - murmurei para mim mesmo admirando o edifício de apartamentos onde o Marcel, a Lottie, o Niall e a Bella viviam. O meu subconsciente está contra mim, pensei.

Dei meia volta rapidamente com a intenção de ir para longe dali. A última coisa que queria era chegar a casa dela. Comecei a caminhar, mas alguém se encarregou de impedir que eu desse mais algum passo.

-Harry? O que estás aqui a fazer? - pronunciou uma voz que reconheceria em qualquer sítio.

Os Trigémeos Styles 3: Déjà vu (tradução)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora