dia dois.

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At least I got you in my head

Sair correndo sem olhar para trás foi bem imaturo, admito. Ficar e arcar com as consequências de minha confissão era o certo a se fazer, mas meu corpo parecia ter criado vida própria, ignorando os comandos do meu cérebro, quando dei por mim já estava andando em direção à saída enquanto esbarrava em qualquer um que surgia na minha frente.

Ainda conseguia sentir a pressão que sua mão fez em pulso para me manter no café, o olhar que ela me enviou antes que eu cruzasse a porta e fosse embora do local. Talvez esperasse que ela gritasse por mim, ou apenas falasse alguma coisa, mas Rafaella parecia tão atordoada quanto eu.

E agora eu, Manoela Gavassi, a ex-bbb mais cobiçada dos últimos tempos, estava sentada no meio fio, esperando que minha melhor amiga, uma super modelo, chegasse de mais uma das diversas festa que tinha a presença solicitada. O arrependimento de ter recusado a chave de sua casa quando ela me ofereceu uma cópia algumas semanas atrás começou a bater, assim eu não estaria me encolhendo dentro do moletom enquanto sentia a chuva me molhar inteira.

Odiava o fato de Bruna passar o dia inteiro com o celular grudado na mão e quando surge uma possível emergência ela simplesmente se torna inacessível, fazia quase duas horas que eu estava sentada ali e seu celular tinha passado de ocupado para fora de área. Pensei em tentar conseguir algum tipo de chave mestra com os seguranças do condomínio, mas Bruna já havia me contado sobre eles serem proibidos de entregar a chave para qualquer pessoa à não ser ela.

A única opção que me restava era esperar ela chegar, já que me hipótese nenhum iria voltar para o meu apartamento e dar de cara com minha irmã. Catarina era minha pessoa favorita no mundo e a que mais me compreendia, porém ela era fácil de se enganar e seria questão de minutos até estamos completamente bêbadas no meu tapete.

Não queria beber, mesmo que fosse o tipo certo de anestesia que procurava no momento.

Estava prestes a desistir e procurar abrigo em outro lugar quando seu carro parou na minha frente, quase me ensopando quando passou por cima de uma poça. Revirei os olhos e esperei que ela saísse do carro, Bruna estava meio bêbada, teve dificuldade de abrir o guarda-chuva para sair do automóvel sem se molhar.

Continuei encolhida no meio fio, esperando que ela me notasse, talvez estivesse um pouco irritada com o fato dela estar da maneira que eu queria desesperadamente estar. Bruna gargalhava para o vento e tropeçou quando tentou subir na calçada, e foi só ai que ela finalmente notou minha presença.

"Manu?" sua voz estava arrastada, mas pude notar um vislumbre de sobriedade em seu olhar, talvez não fosse uma boa ideia continuar aqui, seria impossível correr pra longe do álcool estando na mesma casa que minha amiga bêbada.

"Guarde as perguntas pra quando você ficar sóbria" resmunguei levantando e ajudando ela a subir o degrau da calçada sem cair de cara no chão. "Posso dormir aqui?"

"Quer dormir na calçada?" Bruna riu, quase derrubando o guarda-chuva, segurei o objeto firmemente para evitar que ela também se molhasse. "Não dorme na calçada, dorme no seu quartinho, fiz ele com tanto carinho."

Bruna havia montado um quarto para mim fazia algumas semanas, segundo ela era para que eu enxergasse sua casa como um lugar seguro, esse também foi o motivo de ter me oferecido uma cópia de sua chave. Recusei por saber como o estoque de bebidas dela era bem abastecido e que na maioria das vezes a casa fica sozinha durante dias, seria uma tentação ter aquela chave. 

Não estava afim de entrar em coma alcoólico. Por mais que fosse tentador.

Hesitei um pouco, não sabia se era uma boa ideia continuar aqui, talvez ir para o meu apartamento fosse a melhor opção. Era só me trancar no quarto e ignorar a vontade de encher a cara.

Cinco Dias [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora