PEGANDO FOGO

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Por volta das 04:00 da madrugada de uma sexta - feira, numa casa afastada do centro, cheia de jovens bebados e vestidos de maneira provocativa, rola uma festa. A cidade de Monte Carlos, no interior do Espirito Santo, já se preparava para amanhecer. Ruy é um rapaz misterioso e calado, com poucas afinidades dentre os outros jovens que o cercam. Leon é seu velho amigo de infância, por quem ele mantém uma paixão secreta. Enquanto todos estão bebendo e dançando, os dois fumam na varanda

— Como é que pode você não ter pego ninguém e nem ao menos ter tocado num copo, Ruy? —  Leon lhe oferece uma garrafa de bebida.

— Hoje eu não tô no clima, e nem quero entrar, quero só que amanheça e eu pego minha carona pra casa! — respondeu Ruy.

Ruy sempre amou Leon silenciosamente por tantos anos, mas nos últimos dias, ele estava sendo sufocado por esse sentimento que crescia cada vez mais, não era fácil ver Leon saindo com tantas garotas. Ruy sabia que seria impossivel fazer Leon olhar pra ele, todos aqueles pensamentos, aqueles planos que nunca se realizariam,
ele só queria gritar, e botar tudo pra fora.

— Você parece diferente, nunca mais sorriu, nunca mais soltou aquele veneno que só você tinha meu amigo, parece que está confuso, quer desabafar? — Perguntou Leon, após alguns tragos.

— O que está estranho aqui é você bancando o psicologo, acho que fumou demais, Leon... — Ruy tenta desconversar.

Leon entra na casa rindo e deixa Ruy só na varanda. Agora sem ninguém por perto, Ruy se arrepende por mais uma oportunidade jogada no lixo, ele poderia ter dito o que sente pelo seu velho amigo.

Lá dentro, uma garota ruiva, chamada Taís, dança sensualmente em cima de uma mesa. A música, "Ice Princess" de uma rapper qualquer, se encaixava perfeitamente com aquela jovem. Pois a mesma, estaria disposta a roubar seu homem e todo dinheiro que ele tivesse... e sem ressentimento nenhum. Ao perceber a chegada de Leon no recinto, Taís começou a direcionar sua dança diretamente pra ele, o provocando com uma subidinha de seu vestido.

Seria uma pena se Leon estivesse apaixonado por Lizandra, uma garota pálida de olhos verdes. E realmente ele estava. Mas Taís não se importava com isso, ela o queria e faria de tudo para tê-lo, e além do mais, Lizandra não estava na festa e seu caminho estava livre, pelo menos naquela madrugada.

Sentadas no sofá, Michele e Tainara observam aquela cena constrangedora. Enquanto Taís continua sua dança, Michele ousa comentar:

— Oh, céus! Essa garota é uma tremenda vagabunda! — Michele comentou, com um pouco de recalque estampado em seu rosto azedo.

— Você ainda se espanta? Mi, isso não é nada perto do que essa garota já fez... — disse Tainara, agora rindo dos movimentos estranhos que Taís fazia.

A Festa está longe de terminar, alguns convidados já se encontram derrubados pela falta de pudores. Música vai e música vem, alguns litros de bebida e muita pegação, quando de repente uma voz grossa se dispõe a gritar:

" Fogoooo! FOOOGOOO! Corram!"

Todos entram em desespero, a porta se torna pequena pra tanta gente querendo sair ao mesmo tempo. Ruy que estava do lado de fora, começa a puxar algumas pessoas, enquanto outras tentam sair pelas janelas. O fogo começava a se espalhar.

— Tem gente caida no chão, não podemos deixa-los! Galera por favor me ajudem a arrasta-los — Grita Tainara para todos.

Sem pensar, Ruy entra pelo meio das chamas para tentar resgatar os que estavam dormindo. A fumaça já tomava conta do ambiente e cada vez ficava mais quente. Algumas pessoas começam a se levantar, Ruy encontra uma moça e a carrega no colo, era Júlia, uma de suas colegas de trabalho.

Leon e os outros estão lá fora e começam a ficar apreensivos, pois todos já conseguiram sair, menos Ruy e Júlia. O fogo ja consumia todas as partes da casa e ninguém se interessara a chamar os bombeiros, apenas assistiam a casa ser consumida pelas chamas como um espetáculo bônus da festa. Mas nem tudo estava perdido para Ruy e sua bela adormecida, ainda do lado de dentro da casa, ele avista uma janela e não pensa duas vezes, corre para jogar Júlia. Após se livrar da moça, Ruy pula pela janela, ao mesmo tempo que as paredes começam a cair e ele despenca junto.

Ruy totalmente intacto, arrasta a garota para perto dos outros, enquanto a casa termina de ser pulverizada. Marina, a irmã de Júlia, corre para abraça-la.

— Saiam da frente. Oh, meu Deus vocês estão bem? — Pergunta Leon.

— Sim, você sabe que vaso ruim não quebra, Leon. Eu ainda vou viver muito e você vai ter que me aguentar — disse Ruy, com um tom de deboche.

A essa altura, a preocupação de todos eram as devidas explicações que teriam que dar à polícia e aos verdadeiros donos da casa. Os festeiros consumidos pela desolação, esperavam para poder sair daquele lugar, onde tudo já era cinzas e vestigios de uma casa queimada. Sentados no gramado do jardim, olhavam para a encrenca que arrumaram.

Com o dia claro, os jovens se reunem em um só grupo e começam a seguir em direção a cidade, marchando como um exercito de derrotados. A garota desmaiada segue carregada por alguns rapazes, enquanto Ruy, caminha apoiado em Leon. Aquele momento foi mágico para ele, sentir a pele cheirosa do homem que ele amava, aquele braço em volta de suas costas... ele gostaria de dizer algo para Leon, mas não conseguia.  A sensação de estar bem próximo era gratificante, parecia até presente de Deus por ter salvo aquela garota. Sentia-se pleno, contente com aquela migalha involuntaria de seu amor platônico.

Assim, todos caminham na direção do centro de Monte Carlos...

Eu serei o seu Rival (Trama Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora