Parte I - Boas-vindas calorosas

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"Zibalis – Pequena criatura necrófaga. Desde o início da civilização, faz de cemitérios seu habitat natural. Também se alimenta de pequenos animais e insetos. A expressão "Faça sua vigília de zibalis" vêm do tempo em que pessoas precisavam vigiar o túmulo de seus entes queridos por pelo menos 24 horas após o sepultamento, a fim de evitar que as pequenas criaturas exumassem o corpo para se alimentar."

– BARDACAR, Nieldo. Enciclopédia Bardacar. 9ª Ed. Pág. 2.245.

Parte I – Boas-vindas calorosas

Estavam perdidos. Não havia dúvidas disso. Afinal, estavam seguindo uma estrada que mal conseguiam ver enquanto eram açoitados por uma nevasca intensa de inverno. Os cavalos estremeciam e vapor saía profusamente de suas narinas a cada respiração pesada. O mesmo se aplicava ao trio. Arkon havia tirado Aevelm do cavalo de carga e colocado o menino na sua frente, de modo que ele pudesse ficar mais aquecido. Dorian cavalgava seu pônei um pouco mais à frente, apenas uma silhueta borrada na visão de Arkon. Ainda era tarde, mas parecia ser noite de tão escuro que estava.

Arkon aproximou-se de Dorian.

— Acha que estamos perdidos?

— Se acho? Tenho certeza! Falei que não devíamos deixar Campanário no meio do inverno! — reclamou Dorian.

— Onde está o mapa que você comprou?

— Ah não! Nem fodendo que vou abrir o casaco para pegá-lo. Vou congelar!

Os três usavam grossos casacos de pele por cima das casacas habituais. Também haviam comprado luvas na cidade de Campanário, mas nada poderia tê-los preparado para esse fim de inverno tão rigoroso. Logo, haveria as famosas celebrações de Nyshe, e então finalmente o ano de 432 seria deixado para trás.

— Como está, garoto? — Arkon tentava envolver Aevelm nos braços enquanto segurava as rédeas do cavalo.

— Com frio, quando vamos parar e acender uma fogueira?

— Nenhuma fogueira sobrevive nesse tempo, garoto. — Arkon descartou as esperanças do menino. — Precisamos de abrigo.

— Ouviu isso? — Dorian de repente virou o rosto para a esquerda, revelando uma barba salpicada de neve por baixo do capuz do casaco de pele. Arkon imaginou que seu rosto provavelmente estaria igual. Ele também virou a cabeça na direção que o anão tentava escrutinar com os olhos.

— Não ouvi nada.

— Parecia um grito. Tenho quase certeza — reforçou o anão.

— Pode ter sido o vento.

— Vamos dar uma olhada, não custa nada. — Deu um tapa na anca do pônei, que acelerou ligeiramente, pegando o caminho por fora da estrada.

— Já estamos aqui mesmo. — Deu de ombros Arkon, repetindo o gesto do anão, mas acabou ficando para trás pois também puxava o cavalo de carga do trio.

Após cavalgar por pouco tempo através do terreno esbranquiçado, viu uma mureta de ferro do tamanho de um anão. Imaginou se Dorian havia entrado no cercado ou dado a volta. Sabia que não poderia pular a mureta com dois cavalos e por isso virou à esquerda, procurando por aberturas.

Foi quando ouviu nitidamente o grito.

Levantou a cabeça, mas não via nada além da mureta de ferro. Agora tinha certeza de que fora um grito. Fosse lá o que estivesse atrás daquela mureta, não era nada bom.

— Dorian! — tentou chamar, mas o anão não respondeu, havia sumido no meio daquela tempestade.

— Aevelm, tenho uma missão muito importante para você — ele disse enquanto desmontava. O garoto o olhou, parecendo determinado.

Negro e Pardo (Conto Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora