13º Capítulo - Não Entendo

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Eu estava leve. Meu corpo pairava, minha mente estava adormecida e a única coisa que via era uma luz. Uma luz forte, mas delicada, que não machucava os olhos, mas ofuscava absolutamente tudo.

Uma mão segurava a minha. Era capaz de senti-la firmemente entrelaçada a meus dedos, como se eu fosse uma boia salva vidas. A última esperança de alguém.

Mas quem estava ali? Ou melhor, quem seria eu?

A luz cintilava. Seu brilho oscilava entre cores douradas e brancas. Era lindo, mas apavorante.

Não sentia a mim mesmo. Era como se fosse uma pena que adormece sobre o lençol, intocada pelo vento e... Um lençol?

Eu estava sobre um lençol. E pessoas me carregavam... Conversando.

Vozes distantes, mas, ainda assim, era capaz de ouvi-las.

De repente, os dedos que se entrelaçavam aos meus soltaram-se. A luz se apagou e comecei a despencar.

Procurei desesperadamente pela mão que segurava antes, mas nada encontrei além da queda que parecia durar eternamente. E o frio. O escuro...

Cair. Cair. Cair.

Mas quem sou eu?

_ Nic!

Abri os olhos de repente, a tempo de enxergar Laura falar meu nome e ordenar que parassem.

Senti o lençol que estava sob mim sendo abaixado e, junto dele, meu corpo, imóvel, pesado feito chumbo, repousando sobre o chão.

Todos me encaravam. Suspirei, sentindo a cabeça começar a latejar.

_ Nicolas, você está bem? - perguntou meu irmão.

As memórias haviam retornado à minha mente no instante em que ouvi meu nome e abri os olhos. Mas os movimentos de meu corpo ainda estavam ausentes.

Pisquei uma, duas, três vezes. Todos a meu redor estavam ansiosos.

Desviei o olhar do grupo e focalizei o céu.

Espera aí... O céu?

As árvores estavam espaçadas, com um espaço considerável entre suas copas que permitia ao brilho da lua que penetrasse a floresta. O clima do ambiente estava fresco, mas não mais pesado ou estranho como antes.

_ A... A flo... floresta... - tentei falar. Minha garganta estava seca e minha cabeça doía. - Ela está normal...

Dendras sorriu assim como outros do grupo.

_ Temos que conversar. - murmurou Thomas, com tom brincalhão. - Você resolveu tirar uma sonequinha um pouco longa e perdeu partes importantes da nossa jornada.

_ Mesmo? - questionei assustado enquanto direcionava todas as minhas forças aos músculos de meu corpo e forçava-me a sentar, sentindo os movimentos retornando lentamente.

_ Não! - Thomas riu, notando meu desespero.

_ Nada de tão importante assim, - explicou Laura, entregando-me um cantil de água. - mas precisamos mesmo parar um pouco e conversar.

_ Montem acampamento então. - pediu Dendras. - Aproveitaremos para descansar um pouco.

***

_ Você está melhor, cara? - perguntou Vinícius, entregando-me seu cantil de água. O meu estava vazio. O da maioria estava.

A ida ao rio só havia valido para sermos atacados por aquela floresta maldita, já que nem ao leito de água havíamos conseguido chegar.

_ Estou. - confirmei com um movimento de cabeça, assistindo o mundo girar logo em seguida. Coloquei as mãos ao redor do rosto e pressionei-as contra a pele, fechando os olhos. - Ou não...

O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora