Eu estava leve. Meu corpo pairava, minha mente estava adormecida e a única coisa que via era uma luz. Uma luz forte, mas delicada, que não machucava os olhos, mas ofuscava absolutamente tudo.
Uma mão segurava a minha. Era capaz de senti-la firmemente entrelaçada a meus dedos, como se eu fosse uma boia salva vidas. A última esperança de alguém.
Mas quem estava ali? Ou melhor, quem seria eu?
A luz cintilava. Seu brilho oscilava entre cores douradas e brancas. Era lindo, mas apavorante.
Não sentia a mim mesmo. Era como se fosse uma pena que adormece sobre o lençol, intocada pelo vento e... Um lençol?
Eu estava sobre um lençol. E pessoas me carregavam... Conversando.
Vozes distantes, mas, ainda assim, era capaz de ouvi-las.
De repente, os dedos que se entrelaçavam aos meus soltaram-se. A luz se apagou e comecei a despencar.
Procurei desesperadamente pela mão que segurava antes, mas nada encontrei além da queda que parecia durar eternamente. E o frio. O escuro...
Cair. Cair. Cair.
Mas quem sou eu?
_ Nic!
Abri os olhos de repente, a tempo de enxergar Laura falar meu nome e ordenar que parassem.
Senti o lençol que estava sob mim sendo abaixado e, junto dele, meu corpo, imóvel, pesado feito chumbo, repousando sobre o chão.
Todos me encaravam. Suspirei, sentindo a cabeça começar a latejar.
_ Nicolas, você está bem? - perguntou meu irmão.
As memórias haviam retornado à minha mente no instante em que ouvi meu nome e abri os olhos. Mas os movimentos de meu corpo ainda estavam ausentes.
Pisquei uma, duas, três vezes. Todos a meu redor estavam ansiosos.
Desviei o olhar do grupo e focalizei o céu.
Espera aí... O céu?
As árvores estavam espaçadas, com um espaço considerável entre suas copas que permitia ao brilho da lua que penetrasse a floresta. O clima do ambiente estava fresco, mas não mais pesado ou estranho como antes.
_ A... A flo... floresta... - tentei falar. Minha garganta estava seca e minha cabeça doía. - Ela está normal...
Dendras sorriu assim como outros do grupo.
_ Temos que conversar. - murmurou Thomas, com tom brincalhão. - Você resolveu tirar uma sonequinha um pouco longa e perdeu partes importantes da nossa jornada.
_ Mesmo? - questionei assustado enquanto direcionava todas as minhas forças aos músculos de meu corpo e forçava-me a sentar, sentindo os movimentos retornando lentamente.
_ Não! - Thomas riu, notando meu desespero.
_ Nada de tão importante assim, - explicou Laura, entregando-me um cantil de água. - mas precisamos mesmo parar um pouco e conversar.
_ Montem acampamento então. - pediu Dendras. - Aproveitaremos para descansar um pouco.
***
_ Você está melhor, cara? - perguntou Vinícius, entregando-me seu cantil de água. O meu estava vazio. O da maioria estava.
A ida ao rio só havia valido para sermos atacados por aquela floresta maldita, já que nem ao leito de água havíamos conseguido chegar.
_ Estou. - confirmei com um movimento de cabeça, assistindo o mundo girar logo em seguida. Coloquei as mãos ao redor do rosto e pressionei-as contra a pele, fechando os olhos. - Ou não...

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O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)
FantasyNicolas é o segundo, último e inesperado filho de Lucy e Ícaro. Tem dezenove anos, foi criado na sede dos Luminescentes e, desde sempre, treina para ser um guardião. Entretanto, como seu irmão adotivo, Dendras, sempre diz, ele não é apenas um guardi...