11º Capítulo - Droga de Início

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As árvores se avolumavam ao nosso redor. Suas copas, dotadas de milhões de folhas, se estendiam alguns metros acima de nós e adensavam-se, ficando cada vez mais difícil enxergar.

_ Meus olhos ainda não estão acostumados a essa penumbra... – comentou Helena, quebrando o silêncio que nos acompanhava desde que saímos da sede.

A verdade é que, enquanto nos preparávamos para sair nesta jornada, sentíamos uma segurança inigualável. Mas, quando deixamos a área protegida pela Luz, uma inquietação tomou a todos, ainda que não assumíssemos isso em voz alta.

_ Ai, gente, será que ter vindo por esse caminho foi uma boa ideia? – exclamou Igor de repente. – Será que essa jornada foi uma boa ideia?

Revirei os olhos. A meu lado, pude ouvir Dendras bufar.

_ Não é que eu tenha aversão às coisas novas, é só que... – começou ele, parando à minha frente.

_ Cale a boca e ande. – murmurei, sem paciência. Não precisávamos de alguém que reafirmasse nossas angústias em voz alta.

_ Não, mas é sério o que digo, é só que...

_ Eu disse ande. – ordenei, sentindo a raiva inundar meu cérebro. Igor havia feito o grupo inteiro parar para tagarelar pensamentos que poderiam ser guardados dentro de si.

_ Mas, Nic, é que...

_ Eu disse ande, Igor! – exclamei em um tom tão irritado que assustou até a mim. – Será que não notou que tenho tanto medo quanto você? Todos temos! A única diferença é que nós não estamos sendo covardes ao ponto de querermos fugir.

O rapaz se encolheu à minha frente. Sara deu uma risadinha e Laura me reprimiu com o olhar.

_ Igor, você não é obrigado a seguir conosco. – comentou Dendras com a voz insegura, temendo se o reprovaria.

Bufei, nervoso, e praguejei mentalmente. Todo aquele clima de tensão me tirava do sério.

Minhas costas estavam rígidas, minha respiração mostrava-se descompassada e minha cabeça começava a doer. Meus ânimos à flor da pele não ajudavam em nada a melhorar o clima do grupo e tudo graças a sensação de vulnerabilidade que o ambiente nos trazia.

Não conhecíamos aqueles arredores da floresta. Na verdade, boa parte de nós podia contar nos dedos as vezes que deixou a sede para ir além de seus limites. E este era o pior dos fatos...

A cada passo sentia como se estivesse me perdendo mais. E será que estava?

Respirei fundo e voltei a caminhar, afastando paranoias desnecessárias e passando à frente de meus amigos.

Ouvi os passos recomeçarem meio incertos.

_ É, Igor, se não quiser seguir conosco, é livre para voltar. – murmurei, tentando me redimir.

Ele suspirou.

_ Não, vou com vocês. Me desculpem... – Igor tocou meu ombro e eu acenei com a cabeça, olhando-o pelo canto dos olhos.

_ Pessoal – sussurrou Vinícius, pigarreando. -, é impressão minha ou essas árvores estão se adensando mais?

_ Eu não queria assustá-los, mas já caminhei muitas vezes por esse lado da floresta e não me lembro de tê-la visto tão escura quanto está hoje... – avisou Thomas, o único de nós que entendia e conhecia os arredores da sede.

Engoli em seco.

_ Como assim? – Laura perguntou com voz fina, denunciando seu pavor.

_ Não sei explicar... – continuou nosso guia. – Só posso dizer que não nos perdemos, porque tenho certeza absoluta que este é o caminho. – e apontou à frente.

O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora