Capítulo 29

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Shayene batia os pés sem parar contra o piso, o restante do grupo almoçava conversando alegremente na cozinha, somente Kyon que se alimentava em um canto separado, ele aparentava não comer nada há muito tempo, comia rapidamente e não mastigava nada e isso fazia Shayene desejar rir.

A menina estava ansiosa, esperava todos irem dormir, tinha várias dúvidas e um plano em mente.

Nara ainda não havia acordado e isso só deixava Shayene com mais raiva, talvez estivesse sendo realmente ingrata e injusta com Florisbela, porém nunca voltaria atrás com tudo o que disse ou pediria desculpa pelo tapa que desferiu no rosto dela, achava mais que merecido.

Observou Isabel e Jeremy todos sorridentes junto a mulher, todos pareciam tão felizes e despreocupados com o mundo lá fora que lhe irritava, talvez estivesse sendo egoísta ao achar que eles deveriam passar pelo menos o tempo todo preocupados, mas era assim que jurava ser a única forma de sobreviver no atual estado do mundo.

Não confiar. Não aceitar bondade demais. Não acreditar. Não se iludir. Não ser covarde. Não ser auto confiante demis. Não se garantir demais. Não ser ingênuo. Não fechar os olhos. Não deixar que se aproximem. Não esquecer um segundo os monstros lá fora. Essa listas de "nãos" ela repetia mentalmente em todo tempo livre que tinha, era o que a impedia de surtar com a situação.

"Tic, tac, tic, tac" o som do grande relógio na parede já parecia algo insurdecedor, nem entendia como alguém poderia possuir um relógio tão barulhento, estava se segurando para não quebrar o objeto. 22:01 parecia que o tempo não passava nunca, agora os demais do grupo, menos Kyon que roncava no sofá jogavam banco imobiliário. A vontade de acabar com o jogo e perguntar que problemas mentais eles tinham era grande.

Às vezes era possível escutar alguns gritos, provavelmente ainda existiam pessoas vivas e talvez elas não durassem muito tempo. Ninguém ali se abalava, ninguém parecia ligar, "talvez só estejam tentando fingir que não escutam e fugir da realidade" ponderou, porém logo deixou esse pensamento para lá ao escutar suas gargalhadas. "Tolos, não sei como ainda estão vivos", bufou com seu próprio pensamento e encarou sua irmã, a achava tão bonita e nem aquelas cicatrizes conseguiam tirar sua beleza. 

"A culpa é sua!", "Você a deixou nesse estado! Quase a matou!", "Um monstro. Você é um monstro!", "Todos vão acabar mortos por sua causa!", "Você é o verdadeiro monstro dessa história!". Shayene fechava os olhos com força, sua mente a castigava de uma forma enlouquecedora, desejava para de escutar, desejava poder fugir de sua própria consciência, mas era impossível e isso a torturava.

— O que está acontecendo?— alguém a perguntou.

Shayene abriu os olhos alarmada e se deparou com Rodheriqueson, havia percebido que no jogo ele era o único que não dava risadas, ou esboçava alegria.

— Nada.— respondeu ríspida.

— Eu conheço a dor e desespero que vejo em sua expressão, ela é a mesma que vejo várias vezes quando me olhos no espelho.— ele sussurrou o final mais para si mesmo do que para ela.

— Do que está falando?

— Shayene eu sou muito observador e sei reconhecer muito bem quando alguém está lutando contra si mesmo, a vida nunca foi fácil e agora é muito menos, sempre acontecerá coisas ruins e nada disso será sua culpa, sua mente pode lhe torturar, mas isso só acontece quando você permite.— ele tocou na testa da menina.— Você é maior e mais forte do que tudo de ruim que eles tentam lhe dizer. E confiar é bom Shayene, precisamos confiar, a vida é tão sem graça sem decepções.

— Não estou entendendo.— ela resmungo confusa.

— Somente não deixe suas vozes a enlouquecerem e se permita confiar, principalmente em si mesma.— Dizendo isso ele se levantou e voltou para o jogo.

Ganância - O início do fimजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें