Wickedness

Pecado

Um dólar e 50 cents era o que Camila precisava para um bilhete de ônibus até a Walmart Center mais próxima, seus olhos castanhos estavam perdidos na tela do computador, tentando anotar em um pedaço de jornal que encontrou na cozinha de Consuela, tudo o que podia para chegar a seu destino desejado.

— Carajo... - Estressou ao tentar organizar de maneira compreensível, não sabia falar absolutamente nada em inglês que não fosse aquilo que o tradutor lhe mostrava na tela: i don't speak english.

Eu não sei falar inglês, era tudo aquilo.

Fora que as localizações pareciam confusas, ela precisava de palavras básicas como um cellphone e indicar quantos dólares tinha nos bolsos, tentar um good morning era essencial ao motorista do ônibus, ele podia ajudar se não conseguisse chegar ao destino, precisava de meios da simpatia com aqueles americanos idiotas.

A localização da igreja de El Paso ficava na 8011 Williamette Avenue, teria de caminhar 5 minutos a pé até a rua San Paulo em cruzamento com a Lafayette, entraria na linha 63 do ônibus, a linha roxa... ela repetia todas as informações no papel e em sua cabeça, incessantemente.

Com tudo aquilo seriam 23 minutos até a Eastside Transfer Central, onde desceria do ônibus para atravessar a rua e em 4 minutos estaria dentro da Walmart, era tudo... não precisava de muito além, e não seria tão difícil, não é?

Era o que esperava, logo terminando de fazer todas as anotações que presumiu serem necessárias ela dirigiu ao quarto que chamava de seu, se enfiando dentro de daquela blusa vermelha de lã, conseguiu um Jeans com Consuela, não queria chamar a atenção, não precisava dela naquele momento porque sabia que em terrenos desconhecidos aquilo podia soar como perigoso.

Com as sandálias baixas nos pés e devidamente satisfeita com sua imagem retraída ela simplesmente saiu do quarto, decidiu que iria depressa para que não notassem sua ausência, não queria pedir favor a ninguém, não gostava de devê-los às pessoas. Talvez momentaneamente a única dívida que tinha a fizesse se sentir mais positiva do que negativa, mas aquela era uma exceção.

Ensinar a serva do senhor a pecar parecia um bom preço a pagar por um dívida.

Em seu caminho até o ponto de ônibus ela observava as ruas da cidade, notando que haviam muitos informativos em Espanhol, o que era positivo, dava um conforto mais em suas decisões, era assustador pensar que em algum momento podia se perder e não conseguir mover por aquele país por causa da língua.

Não entendia quase nada em inglês que não fosse palavras óbvias utilizadas até no meio do Espanhol, ou termos soltos que não faziam muito sentido em frases completas, o que só a tornava mais confusa. A medida em que se aproximava da indicação exata e avistava o ponto de ônibus com algumas pessoas ela se sentia mais otimista e menos retraída, observando adolescentes se estapeando em brincadeiras idiotas diante de si.

Sentindo os dólares seguros dentro de seu decote ela apertava a pequena folha de jornal entre as palmas, observando o movimento e tentando não se dispersar das numerações indicativas nos ônibus.

Não tinha relógio a vista para que mensurasse o tempo, mas se moveu otimista quando o miniônibus se aproximou, número 63 e a indicação roxa a fez entrar atrás de duas senhoras que cederam rápidas o pass ao motorista em identificação e aproximaram da pequena destravando suas passagens aos bancos do ônibus.

Camila pensou sobre as anotações no jornal, em como indicaria que não tinha um pass.

— Buy... day pass... - Tentou com o forte sotaque latino aquilo que anotou temerosamente no papel. O homem assentiu.