فن

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Notas Iniciais: Vamos a outro capítulo? Espero que gostem e tenham uma boa leitura, deixem-me seus comentários, sempre é importante dar a temperatura para a trama através deles ;)

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Glossário

Jannah: Paraíso na concepção islâmica.

Jahannam: Inferno na concepção islâmica.

Se haviam dificuldades maiores antes eu não sabia mensurar, mas naquele instante eu estava em Jahannam, sentindo-me queimar em minhas lembranças, o som da bala, os corpos caídos ao chão, o sangue... tão vermelho e traumático. E então naquele mesmo ciclo eu me recordava que haviam me tirado minha paz, que minha vida se esvaiu dentre seus dedos como eu havia esvaído as deles. Tudo conspirava em sentidos que me nauseava.

Sentada em minha sala de reuniões, pensava sobre a noite de 5 dias atrás, as primeiras mortes, o secretário de Al Sisi sofrendo um ataque que prontamente foi assumido pelo Estado Islâmico, o que deixava álibis estranhos em minhas mãos, são aproveitadores das desgraças alheias, querem com toda sua força levarem créditos sobre tudo o que de pior acontece no país, diante dos narizes que os rodeiam.

Eles assumiram a culpa do meu crime com sua ganância pelo terror.

Em Ashmun o prédio caiu à cinzas, as alegações de ataque à mim tornaram o crime uma inversão, tentaram me queimar viva em minha estadia na cidade, era o que diziam, era o que Normani e Hadd os faziam acreditar, nenhuma suspeita seria levantada em posição de ataque à mim porque no fim era eu a suposta vítima.

Foi um crime perfeito.

Que não podia voltar a se repetir, não da mesma maneira, usando os mesmos métodos. Normani havia encontrado com aquele celular ligações de vários homens que ainda vivos sustentavam suas consciências da morte de meu marido, eram muitos, medianos, pequenos empresários do ramo da indústria de energia, queria com todo o fervor o petróleo, nada além. Meus anseios eram estranhamente deturpados, o presidente do país não mencionava algum aspecto das ameaças que eu sofria, era como se de fato ignorasse minha existência e a de minha família, indiferente ao poder econômico que sustentavamos, tudo se repetia, os ciclos se mantinham os mesmos.

Preciso de uma modificação em meus meios, eu somente ainda não sei o que pensar, ou como agir diferente da guerra sangrenta, Normani tem melhor experiência para que consiga me ceder alguma sugestão durante seu tempo. Mantendo-me em minha sala de reuniões, era final de tarde quando me mudei da cadeira atrás de minha mesa e me acomodei na poltrona ao centro da sala, perdendo meus olhos no chá de hibiscos que Tawaba havia deixado para que tomasse, era minha rotina silenciosa.

Mantendo-me focada no chá em minhas mãos, livre de quaisquer pensamentos, notei a luz trepidar ininterruptas vezes, me fazendo franzir o cenho até que ela acabasse de vez, me deixando desconfiada e ligeiramente sobressaltada na semiescuridão. Deixei a xícara de lado sobre a mesinha, relutando sobre tentar me movimentar ou não.

Não me movimentei de imediato, espere alguns instantes no pleno escuro, tentando entender o que acontecia.

Alteza... - A voz abafada de Normani tornou-se nítida assim que ouvi sua abertura da porta, parecia apressada pelo tom ofegoso em sua voz. Mas algo em sua aproximação me fez desviar o olhar, notando o brilho negro rastejante, era escamoso, diferente e intrigante.

Alteza, Hadd fez alguns testes na garagem, desligaram a energia sem notificar... - Sua justificativa não me atraiu em cheio, eu não me importei com a ausência de luz, não estava fazendo nada demais que precisasse de luz, ignorei sua justificativa perdida notando aquela coisa...

Karila AistarabawOnde histórias criam vida. Descubra agora