Otto não saia do escritório e minha sogra não saia do meu pé.
Eu só queria ir embora para a minha casa, mas Otto estava tão focado em descobrir onde os jamaicanos estão e onde a outra máfia albanesa que simplesmente sumia e só voltava quando queria transar e eu como a vagabunda que sou cedia sempre.
Eu sentia falta do meu trabalho e do Khal. Andreia fingia que estava tudo bem, mas eu sei que está longe de estar tudo bem e eu estava com medo.
Os homens que me defendiam nem ao menos gostavam de mim só obedeciam o chefe, eu me sentia sozinha e triste o tempo todo.
— Oi, Otto mandou ver como você está — ele mandou o primo gay dele atrás de mim.
— Se ele quisesse saber ele viria me perguntar pessoalmente — eu estava sentada no jardim era o único lugar que tinha e usava roupas até bonitas que minha sogra comprou incluindo uma blusa preta colada de tricô com calças de couro e botas que estou agora.
— Quando Otto está daquele jeito eu tenho medo dele, todos até os mais velhos têm se eu chegar na frente dele sem uma resposta é perigoso ele me comer vivo! — Eu olhei para ele que parecia assustado deveria ter uns 20 anos.
— Eu estou bem. Diga apenas isso — ontem tive um pesadelo com um bebê cheio de sangue e passei o dia inteiro no telefone com a Donna, mas estou bem.
— Eu sofri e sofro muito preconceito afinal eu e minha família viemos da terra do fascismo, me dou até melhor com os Ramadanis mais novos que minha família de verdade — ele senta do meu lado e começa a falar e eu reviro os olhos — não estou aqui fazendo propaganda do meu chefe, estou fazendo propaganda da única pessoa que me trata como um ser humano na minha família.
— Por que não vai embora? — Pergunto já meio emotiva pelo desabafo.
— Se Don Ramadani morrer eu sou o primeiro na linha de sucessão após o tio Antônio, provavelmente se Otto não ter filhos eu terei que liderar os Ferrazzos. Por mais que eu seja homossexual eu tenho direito e sou o melhor na minha faixa etária — eles o suportam porque ele é muito bom. Lembra a mim no meu trabalho.
— Eu sei como é rola o mesmo comigo no caso das minhas empresas eu só não sou boicotada porque sou uma das melhores senão uma das melhores e eu também não vou negar que me escondi atrás de truques de maquiagem chapinha. Não sei se tenho coragem de tirar um dos poucos traços que eu tenho que pode ser do meu pai. Na verdade, eu nem sei nós brasileiros somos muito misturados para saber — digo meio sem graça.
— Eu tenho uma proposta legal para te fazer — ele diz e eu estranhamente gosto dele o bastante para dar atenção — se suportar isso por um tempo eu ajudo a encontrar o seu pai.
— Eu aprecio seu esforço, mas não vai ser algo fácil, as poucas coisas que eu sei é que é um preto nordestino porque a vizinha amiga da minha vó falou uma vez na minha frente. — Eu me lembrei naquilo quase ao mesmo tempo que falei — O ex marido da minha mãe não deixou nada sobre ela queimou todas as suas fotos em um surto antes do real surto significativo.
— O que houve? — Ele pergunta atento.
— Ele a matou a marteladas — ele me abraça de uma forma carinhosa e eu percebo o porquê de Otto gostar tanto dele.
— Meu pai trata a minha mãe como lixo e eu não posso fazer nada. Já pensei até em me casar com uma mulher de mentira só para que não seja obrigado a ver isso — dessa vez eu o abraço.
— Deveria dizer que quer morar sozinho — digo e ele ri.
— Não seria viável eu preciso de proteção 24 horas por dia. Nem mesmo Otto a lenda pode sair daqui por causa disso — na hora meu coração doeu com essa informação, mas resolvi não dizer nada.

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A obsessão do Gângster
ChickLitPérola sempre se sentiu a pessoa mais normal do mundo nunca achava que algo especial pudesse acontecer com ela até o momento em que Otto Ramadani a olhou pela primeira vez.