— Foi ferido?

Christian deu-se conta da insensatez da pergunta. Afinal, todos eles não tinham trazido ferimentos, mesmo os que haviam voltado com o corpo ileso?

— Em Waterloo, não. Umas duas vezes na Espanha, com o velho Intrometido.

Christian sorriu para si mesmo, na escuridão. Fazia tempo que não ouvia aquele apelido do duque.

— Meu companheiro, Joe Liddle, foi retalhado por um cavaleiro francês... — o ferreiro murmurou, como se falasse para si mesmo.

Um barulho desagradável seguiu-se às palavras. Christian percebeu que o homem vomitava, assim como ele também teve vontade de fazer.

Christian tomara parte do ataque violento da cavalaria contra a artilharia francesa em Waterloo e fizera em pedaços um ou dois soldados de Bonaparte. Aquela fora a última lembrança da batalha. Depois acordara no inferno, com as costelas quebradas e uma face despedaçada, rodeado por mortos e moribundos franceses e ingleses.

Anastasia foi tomada por uma sensação desagradável, cerca de uma hora mais tarde. Ouvia passos e vozes alteradas que se aproximavam da cabana dos Shaw. Mas não se tratava de medo. Pelo menos, não da maneira habitual

Estava certa de que o ferreiro não ousaria cometer uma violência contra ela, depois da ameaça incisiva de lorde Grey. E, pelo tom das vozes dos dois homens, ela duvidou de que o sr. Shaw pudesse ameaçar qualquer pessoa naquela noite.

O que era um fato auspicioso. Pelo que a sra. Shaw contara e pelas suposições de Anastasia, o ferreiro e sua esposa já haviam sofrido o suficiente.

O sr. Shaw abriu a porta do casebre e entrou de cabeça baixa. Lorde Grey seguiu-o, ereto e com o garbo costumeiro.

O ferreiro vinha com olhos inchados e vermelhos, e sua expressão demonstrava grande sofrimento. Ele fitou Anastasia, que compreendeu, de imediato, não haver mais necessidade de temê-lo.

Lorde Grey curvou-se diante da sra. Shaw.

— Leve seu marido para a cama, senhora. Acredito que, daqui para a frente, ele agirá de maneira sensata. Se isso não acontecer, mande avisar-me a qualquer hora, e eu virei em seguida.

Anastasia nunca o ouvira falar de maneira tão solícita e gentil. O que o fizera vir até ali naquela noite? Não devia ter sido fácil decidir-se.

Desajeitada, a sra. Shaw segurou o braço do marido.

— Sim, milorde. Obrigada por vir esta noite. — Ela se virou para Anastasia. — A senhorita foi muito corajosa.

Anastasia procurou sorrir ao seguir lorde Grey, que lhe fizera sinal para irem embora. Ela não se sentia com

muita coragem diante da perspectiva de enfrentar as recriminações dele, embora admitindo que as merecesse.

No pátio iluminado pelo luar, lorde Grey segurou as rédeas do cavalo que deixara amarrado em uma árvore.

— Eu deveria ter vindo de cabriole, mas estava com muita pressa. Incomoda-se se formos a pé até Netherstowe?

Seria a melhor maneira de passar-lhe um sermão sobre os assuntos "razão e responsabilidade". Uma descompostura daquelas perderia muito de sua veemência se o autor a passasse por sobre o ombro contra uma pessoa que lhe segurava a cintura, ambos sobre o lombo de um cavalo em movimento.

Anastasia quis protestar. Afinal, era capaz de voltar para casa sozinha. Mas não pretendia piorar a situação.

— Não, em absoluto. — Eles iniciaram a caminhada. — Lorde Grey, eu não o ouvi chegar. Acredito que o meu coração batia mais forte do que os cascos do cavalo. Agradeço-lhe por ter vindo em meu auxílio. Eu teria ficado em uma situação difícil se o senhor não tivesse vindo.

Lord Christian GreyDonde viven las historias. Descúbrelo ahora