O Trabalho

5 2 2
                                    

Ele fugiu. Não foi sua atitude mais corajosa, mas foi compreensível, afinal ele é humano, não é?! Um pouco de sua consciência lhe alfinetou o fazendo lembrar que ele saiu correndo e gritando de medo na frente de sua amiga Bianca, mas o resto de seus sentidos não deixavam-no  olhar para trás. Bianca deve ter ficado confusa, ela não merecia esse tipo de tratamento, pois Matheus não estava com medo dela, e sim daquela coisa. Uma criança que praticamente era a Samara do filme o chamado.

Suas pernas fraquejaram. Matheus cai derrapando de bruços no chão. Toda aquela correria o deixou com uma cãibra forte, não aguentava mais correr. A queda foi feia, ele ralou os braços, mas não teve nenhum ferimento sério, a não ser no seu orgulho. Nem mesmo havia conseguido chegar na rua de sua casa antes de cair. O garoto senta no chão para assimilar o que estava acontecendo. O que era aquela garota? Um aliem? Um demônio? Um filho bastardo de um aliem com um demônio? E o mais curioso: por que ela se afastou quando a Bianca apareceu? Ele se perguntava como iria conseguir falar com ela na escola amanhã depois do que aconteceu. Será que ele devia contar isso para o Greg? Não, ele não iria acreditar, Greg é o tipo de pessoa que não admite a existência de fantasmas.

Um barulho ali perto faz Matheus se assustar, algo fazia um tonel de lixo tremer. Um arrepio percorre o corpo de Matheus, será a noiva do Chuck mais uma vez?

Entre os sacos de lixo se mexendo e latas vazias caindo emerge uma cabeça peluda e despenteada...
- Roof! -  Uma cabeça canina! Era ele, o mesmo vira-lata que sempre ficava na porta da casa de Matheus, devia estar procurando comida ali. Ao ver o jovem o cão bota a língua pra fora com uma expressão engraçada e começa a abanar o rabo.
- Roof! - O cachorro pula do tonel de lixo e caminha até o menino. Matheus sorri.

- Você quase me matou de susto pulguento! - diz ele, feliz de ver que não era a garotinha assassina.

O animal aproxima o focinho e dá uma leve lambida no machucado do garoto. Mas ele afasta o cachorro.

- Ei! - reclama Matheus - Eu não quero pegar uma infecção aí! Pode saindo!

Ele se levanta com um pouco de dificuldade enquanto o canino o observa contentemente. Pelo menos o problema da companhia até em casa estava resolvido.

...Aula de biologia - 15:20/ dia seguinte...

A professora estava falando sobre algum tipo de trabalho em grupo, não importava muito, afinal ele e o Greg acabavam sempre fazendo juntos, a única biologia que estava na sua cabeça era a daquele monstro de ontem que o impediu de dormir tranquilamente, a quantidade de teorias da conspiração que ele absorveu só serviu para deixá-lo ainda mais paranoico, o que lhe deixou com olheiras enormes.

- Você tá bem cara? - perguntou Greg, sentado ao seu lado - Você parece até um zumbi! Passou a noite vendo anime de novo?

- Eu tô bem mano, fica tranquilo! - "ELE DISSE ZUMBI? E SE ELA FOSSE UM ZUMBI? SERÁ QUE ELA ME MORDEU? O QUE CURA ISSO? EU ALIMENTEI MEU GATO ANTES DE VIR PRA CÁ?", pensou ele.

A professora pediu que a turma se dividisse em trios para o trabalho. Após todos escolherem, como sempre Matheus e Greg iriam fazer o trabalho com uma pessoa a menos, nada fora do habitual.

- Hey!

Uma mão encosta no ombro de Matheus, o garoto se vira para ver quem é, tinha que ser, Bianca estava em pé atrás deles com um sorriso amigável no rosto.

- Oi! - diz a menina - Eu acabei sobrando, vocês tem um lugar vago no seu grupo?

Matheus duvidava que ela não tivesse sido chamada para participar de outro grupo, afinal ele já conhecia gente na sala que tava afim dela, ela fez isso de propósito, seria bom para ambos, afinal ele gostaria de esclarecer o que aconteceu na noite anterior, apesar de que falar com ela ainda seria estranho. Greg estava quieto, nem mesmo olhou nos olhos dela, ele costumava ficar nervoso assim com ela por perto, será que ele não gostava dela? Isso seria ruim para o grupo, mesmo assim...

- C-claro... - supreendentemente disse Greg.

Matheus olhou surpreso para o amigo, essa reação foi inesperada, talvez... Será que ele...

- E por você Matheus? - pergunta Bianca.

- Não vejo por que não! - diz ele, se perguntando como eles estavam tendo uma conversa normal depois do que aconteceu, talvez ele tenha visto filmes demais.

- Muito obrigada! - responde a menina - Vamos nos encontrar na quadra depois para ver essas coisas do trabalho! Ah! Matheus, aqui estão os poemas que você me pediu! - ela entrega algumas folhas impressas para ele.

- Mas eu não... - Matheus tenta responder, mas o sinal toca e os alunos começam a sair aos montes.

Ótimo, do jeito que essa garota era inteligente Matheus sabia que naquelas páginas devia ter algum tipo de mensagem ou código escondido para ele achar, ele era horrível com códigos.

...

Após sair da escola e ir para casa ele arruma sua mochila e reúne todas as informações que tinha sobre o que aconteceu. Observando Bianca ele notou certas curiosidades, ela sempre anda lendo algo sobre história antiga ou mitologias, ela nunca participa de nenhuma atividade física, por mais que ela pareça ter uma forma melhor que a de muitos estudantes, e ela sempre carrega uma caixa de caneta tinteiro, ela nunca abre, apenas a carrega para todo lugar. E também tinham aqueles papéis que ela lhe entregara, muito bem, era hora de começar a investigação.

Andantes das SombrasWhere stories live. Discover now