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Estávamos os dois a andar pelas ruas. Não havia quase nenhuma pessoa cá fora o que tornava isto tudo um pouco mais sinistro.

Eu conhecia esta rua porque era no meu Reino. Era aquela típica rua que todos evitavam. Era onde eram os estabelecimentos mais manhosos e perigosos. Uma Rainha nesta rua era algo impensável de ver. Mas aqui estava eu, a ir contra todas as regras e costumes, mais uma vez.

— Cento e noventa e sete, cento e noventa e oito... — o Tyler estava ao meu lado esquerdo e apesar de tentar se distrair ao dizer todos os números das casas sabia que ele estava com medo. Medo do desconhecido. Era compreensível mas acho que sempre que estava por perto ele tentava agir de forma corajosa. Rapazes. — ...cento e noventa e nove.

Olhamos para o estabelecimento à nossa frente, que tinha escrito a tinta fluorescente “Sangue de Tinta”. Isso deve ser um bom sinal.

Vi como o Tyler estava nervoso pela maneira que a sua mão tremia. Decidi agarrar a sua mão para ele saber que eu estava aqui ao seu lado independentemente do que acontecesse lá dentro. Senti que ele relaxou e acabamos por entrar juntos.
Todo o estabelecimento era a preto e branco. O balcão preto, os sofás brancos com almofadas metade pretas e metade brancas. Dava uma sensação de escuridão e de luz.

A curiosidade falou mais alto que eu, então eu acabei por abrir umas cortinas pretas e vi um homem que estava a ser tatuado nas costas.

Quando me aproximei vi que a tatuagem era uma coroa preta partida em dois e em cima estava escrito a vermelho “Eu quero ser livre”. Uau fantástica tatuagem.

— O que fazem aqui? — ouvimos uma voz grossa vinda de trás. Virei-me para ver quem era o dono da voz, que vim a descobrir que era o tatuador deste estabelecimento.

Ele tinha várias tatuagens ao longo dos seus braços morenos, um piercing no nariz e o cabelo com madeixas vermelhas. Não vou mentir, o tatuador tem estilo!

— Acho que foi uma má altura para fazer esta tatuagem. — ouviu-se a falar o homem que estava deitado com as costas viradas para cima. Ele só acha?

O tatuador olhou para algo atrás de mim e a sua expressão fechada mudou completamente. Reparei que ele olhava para o Tyler, mas ele ainda não tinha percebido o olhar estranho do tatuador.

— Tyler? Meu deus, estás tão grande rapaz! — o tatuador abriu os braços e deu-lhe um grande abraço. Ele estava muito surpreendido e eu e o homem que estava a ser tatuado, também.

— É suposto conhecer-te? — o Tyler estava a ser esmagado pelo abraço do homem que eu não conhecia de lado nenhum. E é por isto que ninguém vem a este lado do Reino.

— Não te lembras de mim? Que triste, és a primeira pessoa que se esquece do Spike! — o tatuador que fiquei a saber que se chama Spike, afastou-se, e foi até o homem que estava a ser tatuado.

O Tyler olhou-me confuso e eu apenas encolhi os ombros ainda mais confusa do que ele. As pessoas são malucas deste lado do Reino. Pelo menos é o que dizem mas mesmo depois disto não sei se acredito.

— Desculpe.. — disse e fui atrás do Spike. Nós precisávamos de respostas e este senhor era o único que nos poderia dar. Nós não podemos desistir agora que estamos tão perto da verdade. — ...como é que conhece o Tyler?

— Ele foi um dos meus clientes ainda quando era um pequeno bebé. Mas parece que agora tens madeixas azuis e os teus olhos são azuis. Que estranho, os teus olhos eram roxos e muito brilhantes quando te vi pela primeira vez. — o Spike não o sabia mas tinha acabado de nos comprovar que o Tyler tinha vindo mesmo do Reino da Espiritualidade.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde as histórias ganham vida. Descobre agora