Meu Trabalho

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Trabalhei por 38 anos ininterruptos. Teria eu aquietado meu espírito sonhador durante esse tempo?  Afinal, por onde andei esses anos todos?
Tenho características aparentemente opostas e isso merece um registro!
Como assim? Nestes contos, por exemplo, seguidas vezes confesso que minha imaginação é fértil, que gosto do inusitado, que não sou o que se pode dizer, uma pessoa previsível. No entanto, mesmo tendo formação acadêmica para ser administradora, advogada ou contadora, minha paixão foi pelos números. Uma dicotomia, com certeza!
Ainda em 1978 fui aprovada num concurso federal do antigo DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público. Essa aprovação, embora fosse dum cargo de 1° grau motivou-me a optar pela área pública. Eu já percebia que as empresas que me entrevistavam para o emprego que eu insistentemente procurava, admirava a minha redação e minha facilidade com cálculos, mas quando partíamos para a entrevista pessoal claramente o fato de eu ter filhos pequenos me desclassificava para o cargo. Não os culpo. Sei que o mundo é capitalista e que os empresários precisam de pessoas que não trarão tantos problemas como uma jovem mãe.
Sendo assim em 79 fui aprovada para o Detran-MS, em 1981 para o TJ-MS e em 1985 para a Secretaria de Estado de Fazenda-MS, onde trabalhei por 35 anos.
Como eu disse optei pelos números!
Foi uma escolha consciente , uma vez que sendo concursada de um órgão público haveria possibilidade de trabalhar em diversas áreas.
Tenho minhas teorias e certezas e dentre estas gosto muito de acreditar que a explicação está na proteção divina.
E minha imaginação voa ao imaginar uma discussão entre dois anjos de lados opostos, cada um querendo convencer o outro de suas razões.
Um diria:
—Ela é muito avoada para essa área! Vai acabar se metendo em confusões  ao mexer com cálculos, números, relatórios!
E o outro diria:
—Pelo contrário, isso vai fazer com que ela tenha foco, pois com  filhos para criar, não é concebível que seja tão dada a sonhos e divagações!
E a discussão seguiria cada um mostrando seu ponto de vista, porque afinal é para isto que existe esse departamento invisível, mas muito eficiente.
O departamento que nos intui para que façamos nossas escolhas, boas ou más. E como seres humanos não são máquinas podemos sim ter tanto o lado prático, como o lado sonhador.
O que vai fazer predominar um ou outro em determinados períodos da vida são nossas necessidades e responsabilidades. Não culpemos os anjos!
Dessa forma trabalhei com os cálculos e números, mas sempre que possível eu "viajava" para outros mundos através de cursos, treinamentos e seminários que eram oferecidos.
E graças a Deus mantive minha mente imaginativa que me faz acreditar que ao término da minha vida funcional trabalhando com números eu possa estar aqui contando histórias para vocês. 
Quanto aos meus anjos espero muito que eles tenham se acertado e que disseram juntos:
—Agora sim, agora lá vai ela contar histórias a todos, contar o que fez, o que sentiu, o que sonhou, por onde andou!
Sou ou não sou uma sonhadora realista?

Vem Viver Comigo? AutobiografiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora