Acordando

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 Quando eu acordei, tudo estava tão claro que fechei os olhos novamente para me acostumar com a luz. Movi meus dedos com cuidado e respirei fundo, tentando me sentir acordada. E então, o próximo passo é me lembrar do porque estou aqui. Eu estava tomando sorvete, antes de tudo. Mas então, algo deu errado. Eu me machuquei. O que tinha sido mesmo? Após alguns momentos, uma imagem de um chute e um soco me chegou na mente. Culpa de quem?

- Mathias! Felipe! Seus desgraçados! - gritei, sentando de vez.

- Se está boa o suficiente para difamar os outros, creio que posso pedir que a enfermeira venha lhe fazer uns exames. - disse uma voz, agora familiar e calma.

 Olhei em volta, um tanto tonta. Foi então que me dei conta de quem estava ali do meu lado: Amélia Azevedo, a famosa socialite matadora de boas reputações. Coincidentemente, mãe de Mathias, o garoto que eu acabei de insultar. Imediatamente, meu rosto se tornou escarlate e eu comecei a ter dificuldades para respirar. A mulher, que até então estava sentada de pernas cruzadas com um livro em mãos, ergueu os olhos para mim. Quase enfartei quando seu olhar frio e incomumente claro cruzou com o meu. A mulher tinha olhos azuis, é isso mesmo, produção? Cadê o olhar verde e bondoso? O jeito tímido? Obviamente, Mathias não puxou à mãe.

- Deite-se ou vai ficar tonta. Você tem ferimentos sérios. Irei ligar para os seus responsáveis. - ela disse, como quem comenta sobre o tempo.

- Quais são meus ferimentos? - perguntei nervosamente.

- Boa pergunta. - ela pareceu pensar por alguns segundos - Você tem uma fratura numa costela e se eu não me engano você teve que passar por uma lavagem no estômago para não vomitar quando acordasse e etc. Mas não é nada preocupante. Só evite brigas a partir de hoje.

 A voz dela tinha um tom de autoridade tão natural que fazia você pensar que ela estava certa e que deveria obedecê-la. Mas, voltando à minha realidade, balancei a cabeça, um tanto confusa. O que ela estava fazendo ali, afinal? Onde estavam meus amigos? Provavelmente Thaís estava por perto, afinal ela também sofreu alguns ferimentos. As meninas devem estar em casa, obviamente. Elas devem estar estudando ou comendo. Não faz sentido que percam seu tempo aqui, quando tenho uma responsável do meu lado. E os meninos devem estar brigando até agora. Honestamente, quando eu ver esses meninos novamente, vou dar uma boa lição neles. Vou começar chutando seus...

- No que está pensando? - perguntou Amélia.

- Em onde estão todos. - respondi, ajeitando-me na cama - Os meus amigos.

- Você dormiu bastante, já são dez da noite. Eles te deram anestesia e tudo o mais também. Eu acho. - ela jogou os cabelos lisos para trás - Eles te deram algo para dormir por causa da costela. Então as pessoas se dispersaram. Seu irmão, Felipe e Mathias ainda estão aí fora. Quer que eu os chame? - ela perguntou seriamente.

- Sim, por favor. - pedi, um tanto nervosa.

 Na verdade, eu não queria a presença deles ali em especial. Só pensei que, com eles por perto, seria mais fácil encarar a mulher amedrontadora que Amélia é. A mulher levantou-se sem perder a majestade, fechou o livro com um baque surdo e andou calmamente em seus saltos gigantescos. Foi só aí que percebi que ela era baixa. Muito baixa. Ela deve ter minha altura ou menos. Mas pelo menos ela sabe andar de salto, eu não sou boa nisso. Suspirei e me preparei para quando visse os meninos. Ia dar uma bronca enorme neles. Puxar seus cabelos e...

- Amanda! - gritou Mathias, entrando de supetão no quarto.

 A primeira coisa que eu percebi foi o quão mal ele estava. Seu olhos estavam vermelhos, a pele pálida, os lábios secos e uma aparência de faminto. Será que ele tinha ficado esse tempo todo no hospital, sem comer nem beber? Além disso, e mais importante, ele teria chorado por mim? Afinal, não é tão sério assim, gente. Imediatamente, fiquei com um sentimento de culpa.

Perfeição É Para Os FracosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora