7º Capítulo - Sempre tem como Piorar

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E não é que piorou?! Sem que qualquer um de nós estivesse preparado, alguém gritou da porta palavras indecifráveis, a fim de atrair a atenção de todos.

O lugar silenciou. Os membros da Luz direcionaram foco para o local em que a voz surgira bem a tempo de ver Leo, um dos Luminescentes de meia idade mestre na arte de conhecer a floresta, limpar a testa embebida de suor e respirar fundo.

_ Eu... Eu... – gaguejou ele, sem fôlego.

_ Você o quê, Leo? – perguntou minha mãe, aflita.

_ Eu acabo de voltar do Caos... Estava... Bem, estava espionando como pediu e... – o homem engoliu em seco. – E descobri que seu exército apenas cresce. Dia após dia, hora após hora, pessoas novas chegam e saem da sede. Alguns membros antigos retornam ao lugar conduzindo famílias inteiras pela mão.

_ O-o que isso... O que isso quer dizer? – questionou a líder, temendo receber a confirmação esperada.

Leo baixou os olhos.

_ Ao que tudo indica, estão recrutando membros novos todos os dias, incessantemente, e, pelo que notei, muitos estão aceitando a proposta.

Um nó se formou em minha garganta. Ninguém sabia o que falar, portanto o cômodo jazia num silencia mórbido.

Pouco a pouco, meio que sem pretensão, todos os olhares se voltaram à minha mãe que, nervosa, esfregava as mãos na barra da blusa.

_ Isso não é possível... – murmurou, sem saber o que fazer.

_ É possível sim! – exclamou alguém não identificado entre os membros.

_ Tanto é possível que está acontecendo. – grunhiu mais um.

_ E nós aqui, fazendo um monte de nada para reagir. – reforçou o primeiro.

Pronto. Estas três frases foram mais que suficientes para ocasionar uma explosão de murmúrios indignados e frases de terror.

_ Dessa vez não haverá jeito, a Luz perderá a batalha!

_ Será que todos nós seremos mortos?

_ Eu não lutarei por uma causa perdida!

_ Se permanecermos aqui, estaremos assinando nossas próprias sentenças de morte.

Os gritos e reclamações eram tão altos que reverberavam pela sala, ecoando como vozes de espíritos trazendo terríveis premonições. Corria os olhos pelos rostos ali dispersos, mas era como se não visse nada, como se não reconhecesse ninguém. Algo crescia dentro de mim.

_ Amanhã de manhã recolherei minhas coisas e irei embora se nada for feito!

_ Lucy, você precisa fazer algo!

Um desconforto terrível enchia meu peito. Mamãe estava desesperada. Pela primeira vez, ela experimentava a sensação de não saber o que fazer.

_ Se Aurora estivesse aqui isso não estaria acontecendo.

Fúria invadia minha alma ao passo de que uma ideia maluca tomava conta de minha mente.

_ Nossa líder é incompetente!

Ah! Não... Aí não... Não podiam falar assim com minha mãe!

_ Vamos, líder! Lidere!

_ SILÊNCIO! – explodi.

Todos me encaram, assustados. O grito houvera sido tão espontâneo e inesperado até mesmo para mim que saiu mais alto que o necessário.

_ Vocês não tem vergonha? – continuei. – Pelo simples fato de estarem com medo, buscam alguém a quem possam culpar! Será que fazem isso porque é muito mais fácil proferir acusações do que uma ideia? – silêncio total. Ninguém queria responder. – DIGAM!

_ Sim... – alguns murmuraram, baixando os olhos, no impulso que o susto lhes causou.

_ Nicolas... – mamãe chamou com olhar piedoso, como se dissesse "eu entendo o lado deles", apenas para me acalmar.

A raiva pulsava em meu sangue, fazendo meu coração espancar meu peito de forma impiedosa. Quer dizer, em partes por conta da raiva e em partes por conta da ideia...

_ Pois bem! Eu também estou com medo. – admiti com voz firme, tentando parecer forte embora minhas pernas tremessem mais que bambu no vento. – Mas vou fazer o que nenhum de vocês, membros, foram capazes de fazer, já que estão ocupando suas mentes com premonições ridículas e palavras de ódio contra a líder que, vocês sabem, nada fez de errado.

Olhares arregalados encaravam uns aos outros, talvez por nunca terem me visto falando assim ou porque acabavam de descobrir que nem tudo estava perdido.

Encarei minha mãe e respirei fundo, reunindo coragem. Antes que desistisse, falei:

_ Se o Caos está recrutando, não vamos perder mais nem um segundo! Vamos recrutar também!

O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora