Capítulo 17 - Desorganização Profunda

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"... estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda."

Clarice Lispector


Estava tudo fora do lugar, uma desorganização mental incabível. Na minha pouca idade e falta de experiência, era praticamente impossível encontrar uma saída – ao que estava brotando dentro de mim. Queria poder conversar com alguém, desabafar. Cadê você, Priscila?

Assim que avistei minha casa, estanquei e olhei para o Breno.

— Obrigada — agradeci e ameacei continuar. Ele segurou meu braço e aguardou que eu voltasse a olhar o seu rosto.

— Vou te levar até a porta — avisou, seguro.

Neguei, rapidamente, pensando no desastre que seria, se eu chegasse com o Breno a tiracolo em casa. Minha mãe o escorraçaria com um cabo de vassoura.

— Breno, minha mãe não gosta de você — cuspi de uma vez. Por mais que, até certo ponto, ela tivesse razão, eu estava conhecendo-o de verdade. Não queria que ela o machucasse.

— Porque ela não me conhece, Catarina. Estou acostumado com as pessoas me julgando. Vou mostrar que não sou como as pessoas me pintam — garantiu e pegou na minha mão, voltando a caminhar. Estagnei, outra vez, e tentei soltar-me dele.

— Breno... — suspirei —, você não entende — insisti, encarando-o. Ele precisava me escutar, era um assunto muito sério.

Soltou minha mão e cruzou os braços – içando as sobrancelhas.

— O que eu não entendo? Explique-se.

Respirei fundo e fechei os olhos – elaborando a melhor frase. Abri os olhos e ele continuava me analisando – sério.

— Quantos anos você tem? — comecei pelo essencial.

— Vinte e um — respondeu sem hesitar.

Sorri e balancei a cabeça.

— São seis anos, Breno. E... — Puxei o ar, melancolicamente, e desviei os olhos dele. — Eu amo o Heitor e... Heloisa...

Seu bufar me fez o olhar novamente. A cabeça estava baixa e chacoalhando. Começou a chutar o asfalto, com as mãos no bolso da calça jeans.

— Você nem sabe o que é amor, Catarina — censurou-me, com um sorriso de canto.

— O quê, seu...

— Shiiii... — interrompeu-me, colocando o indicador em frente ao meu lábio. — Ouça, gatinha — seguiu. Empertiguei meu corpo e afastei-me um pouco, sentindo meus nervos começarem a pular. Já nem sabia mais o porquê. — Heitor e Heloisa se foram. Puff! — Encenou com as mãos, mostrando que eles tinham desaparecido.

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