Depois do parabéns (Vinícius)

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A noite caiu, e antes que ele adormecesse e perdesse o parabéns, Vinícius decidiu voltar a festa. Mariana já havia mandado mensagem perguntando se ele estava bem, então não queria deixá-la preocupada também. Para sua surpresa alguns dos convidados já haviam ido embora e não havia nenhum vômito em lugares inapropriados, embora ele ouviu alguém dizendo que o banheiro ao lado da churrasqueira não devia ser usado em quaisquer circunstâncias.

Felipe estava rodeado de meninas, o mesmo grupinho que havia começado com o apelido de "deus grego". Uma delas, a Jéssica, se inclinava apoiando a cabeça sobre o ombro dele, sorridente enquanto arrumava a franja e colocava as mechas atrás da orelha num mesmo movimento. Felipe, por sua vez, pousou sua cabeça sobre a da menina, que fechou os olhos e alargou o sorriso. Era conhecimento comum que os dois já havia se pegado várias vezes, e entre uma vez e outra ele pegou mais outras três meninas.

Nas primeiras vezes que ele e Vinícius conversaram sobre o assunto, o papo não foi longe. Felipe não era de se vangloriar, e o amigo também não fazia perguntas; queria e não queria saber detalhes, mas decidiu que o desinteresse o ajudaria a lidar melhor com aquela sensação inédita que chamavam de ciúmes, o primeiro grande sinal que talvez ele gostasse do melhor amigo. Sua batalha, contudo, foi se tornando mais fácil conforme ele ganhou mais e mais certeza que Felipe nutria um carinho diferente por ele.

A mesa de pebolim era o palco de um embate fervoroso entre Mariana, até o momento invicta, e Francisco. O mesmo talento que Vinícius tinha para jogos eletrônicos Mariana tinha para jogos de mesa e de cartas, a um ponto que eles jamais apostariam dinheiro um contra o outro em seus terrenos de expertise.

Depois de se divertir a vendo massacrar mais três oponentes, ela sinalizou para que Vinícius a seguisse e foram até a cozinha. O sonho de qualquer dona de casa; ampla, equipada com as últimas tecnologias, e organizada. Caberia ali a cozinha de Vinícius e Mariana e ainda sobraria espaço. O interesse deles, porém era a Schweppes Citrus na geladeira e mais alguma coisa do freezer.

— Felipe me falou que o Tomás andou na sua cola — disse pegando assim a garrafa de Bacardi Big Apple que eles guardaram para consumo próprio.

— Ah, sim... — suspirou —, mas não sei. Ele não me xingou nem nada, ele só está estranho, como se quisesse falar alguma coisa.

— Menos mal.

Ela colocou as duas garrafas no balcão e foi buscar um copo.

— Eu quase falei hoje mais cedo, aquilo lá — anunciou em voz mais baixa.

— Pro Tomás?!

— Não! Para o Fê.

— Quase? — ela colocou um dedo do alcoólico e depois encheu o copo com o refrigerante.

— Ficou aqui ó. — Ele colocou a mão na garganta. — Simplesmente não saiu. Que ódio.

— Calma. — Ela ofereceu um gole da bebida, e um pouco para sua surpresa Vinícius aceitou. Ela abaixou o tom da voz. — Oportunidade não vai faltar.

— Eu sei. — Devolveu o copo para a amiga. — Bem que ele podia se declarar para mim, certeza que seria mais fácil para ele.

— Talvez não, viu — disse antes de tomar um gole rápido. — Não acha que ele tem os mesmos receios de você?

— Como assim?

— De estragar a amizade, de não ser recíproco... Até porque ele não sabe tudo o que está passando na sua cabeça. — Mariana pegou o destilado e foi o devolver ao freezer. — No lugar dele, eu teria.

Vinícius esfregou a mão pela testa enquanto ficou de costas para a bancada. Não queria ficar nesse impasse por mais um dia que fosse, de ficar imaginando situações e tentando deduzir o que um sentia pelo outro. Regredir ao nível de amizade anterior não seria possível também; ele não conseguiria enterrar esse amor e se esquecer dele como se nunca tivesse existido. Não antes de uma rejeição, independente do quanto lhe doesse.

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