Capítulo 6 - Quer vir aqui em casa?

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As gotas de água chamuscavam o vidro da janela do meu quarto, enquanto eu apenas observava da minha cama o céu escurecendo. Pode parecer muito estranho, mas eu prefiro dias de chuva a dias de Sol. Eu não sei exatamente o porquê, acho que a sensação de que alguma coisa está acontecendo lá fora dá um certo ânimo, ou quando o céu fica acinzentado, pelo menos em mim, me dá uma sensação de conforto. Espero que não seja somente eu, não quero parecer estranho.

No tempo que passei sem fazer absolutamente nada, apenas olhando através da janela a chuva que se formava do lado de fora, fiquei escrevendo frases completamente aleatórias no aplicativo tradutor de libras, e definitivamente aquilo vai ser muito útil para mim. Começaram com coisas normais como "qual tipo de filme você gosta" e terminou com "eu acho que vou vender meu cérebro para a NASA". E acho que farei isso de fato, porque eu não sei quais os tipos de neurônios que existem na minha cabeça.

Meu celular só estava funcionando para ouvir Lo-fi (mais um ponto positivo: Lo-fi + dia de chuva = perfeição absoluta da vida) e já havia perdido as esperanças de que o sinal iria voltar cedo. Desci umas duas vezes para ver se não tinha como ajustar o aparelho da sala, mas era a mesma coisa que enxugar gelo. Da segunda vez, meu pai estava agachado, atrás da mesinha da televisão, tentando ver se tinha algo que pudesse ser feito, mas ali atrás era um labirinto, e daqui que ele conseguisse diferenciar os fios da TV com os do aparelho de sinal, eu já teria trocado de telefone.

-Por que você está tão ansioso com isso? – minha mãe perguntou, enquanto colocava mais um prato no escorredor. – Está tão dependente assim da internet?

-Não, não é isso. – repondo, um pouco irritado. – É que eu preciso enviar uma mensagem para uma pessoa, mas não chega.

-Do jeito que você fala, é como se estivesse tentando passar um arquivo confidencial para o FBI.

-Não seja tão dramática, mãe. É uma mensagem importante, e eu queria que a pessoa visse logo. – suspirei.

-Paciência, seu pai está fazendo o possível. E essa chuva não vai durar uma eternidade.

Dei mais um longo suspiro e voltei para meu quarto. Fiquei pelo menos uns 5 minutos olhando para o teto fazendo absolutamente nada, só piscando, e ouvindo a chuva lá fora. Em determinado momento ficou frio, do nada, e eu não tive outra escolha se não me enfiar debaixo de um cobertor guardado nas gavetas do meu guarda-roupa. Fiquei enrolado nele, parecendo um fantasma. Para completar a seção de "dia chuvoso", desci as escadas, ainda enrolado no cobertor, apertando-o contra meu corpo, e fui até a cozinha pegar um pacote de salgadinhos que estava guardado no fundo do armário, atrás dos potes de biscoito e do saco de farinha.

-Meu Deus, que coisa triste. – disse minha mãe, olhando para mim e fazendo um sinal de negação com a cabeça, o rosto apoiado num dos braços.

-Não me julgue, por favor. – falei, e fiz um movimento com o cobertor de forma dramática, imitando uma capa de super-herói.

-Tudo bem, Gasparzinho. – ela responde, e dou aquela risada que se resume a soltar ar pelo nariz.

E lá fico eu, deitado, embrulhado num cobertor branco, comendo salgadinhos e ouvindo Lo-fi. Definitivamente o estado máximo de deploração que eu poderia estar vivendo. Constantemente esfregava minhas mãos, ora pela ansiedade, ora pelo frio que não se mantinha apenas do lado de fora. Terminei todas as tarefas tão rápido que nem acreditei de primeira que fosse possível. Nunca havia feito isso antes. Isso provava que realmente havia muita pouca fonte de entretenimento. Além disso, aquele ambiente criava uma espécie de conforto, algo que me deixava relaxado sobre o colchão. E eu quase consegui dormir.

Jikook - Atitudes Valem Mais do que PalavrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora