4º Capítulo - Não Ganhamos Chocolates

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Três dias após a ligação de Clara, o telefone novamente tocou. Minha irmã estava vindo para a sede e antes do dia previsto! Isso só podia significar uma coisa: problema...

_ Traga-a em segurança. – pediu mamãe, beijando-me à testa, pouco antes de que eu entrasse na caverna e seguisse pela floresta para buscar minha irmã na antiga casa de meus bisavós.

_ Tem certeza de que não quer que eu vá em seu lugar? – questionou papai, preocupado. – Ou então seu irmão pode ir com você.

_ Não, pai, está tudo bem. – respondi, indiferente. – Vou sozinho e volto antes do anoitecer.

O almoço acabara de passar. Teria aproximadamente seis horas para ir, esperar por Clara e voltar em segurança, na melhor das hipóteses, ou enfrentar uma pequena luta em meio a este intervalo, na pior delas.

Os dois assentiram, relutantes, enquanto Dendras esticava o braço e dava um soquinho em minha mão.

_ Vai com Deus, mano. – desejou sorrindo, com olhar fulgurante, banhado em ansiedade.

_ Amém... – sussurrei enquanto partia, com um frio na barriga enlouquecedor atazanando meu sistema nervoso.

A luz do dia logo ficou para trás e cada vez mais parecia uma vaga lembrança em minha mente. Ruídos indecifráveis surgiam a cada passo e a escuridão era a única coisa que me acompanhava pelo caminho dentro da caverna.

Bati palmas uma, duas, três vezes, na tentativa de fazer as luzes se acenderem, mas nada aconteceu. Deviam estar queimadas... A espada pesava na bainha e eu ia ficando cada vez mais sufocado.

_ Cadê o final disso? – exclamei, com voz vacilante. As palavras pareceram passear pela caverna e, em seguida, voltaram para mim.

Arquejei.

Droga... Droga... Droga...

Que tipo de pessoa sabe que vai caminhar na escuridão e não carrega uma lanterna? Gênio! Merecia um prêmio por tamanha burrice.

Já era estranho andar por ali com as luzes acesas, imagine então apagadas?!

Covarde...

Cada vez mais meus passos soavam vacilantes.

Espere! Pensei. E se eu correr?

No mesmo instante, respirei fundo e enchi os pulmões. Sem pensar duas vezes, tomei impulso e comecei a correr. Entretanto, mal saí do lugar e...

BUM!

­_ AAAAAAI, DROGA! – praguejei, levando as mãos à testa.

Enfim havia alcançado o fim da caverna e descobrira isso da pior forma possível: usando a cabeça! Literalmente.

Assim que entrei em contato de forma brusca com a parede de pedra, ouvi um estrondo ressoar pela caverna e a luz do sol começou a aparecer. A rocha deslizava calmamente, deixando completamente escancarada a saída para a floresta.

Quando pude, pulei para fora em direção às árvores e, assim que saí, a caverna se fechou.

_ Nossa... – sussurrei, tocando o sólido mineral. – Mal havia acabado de abrir... Imagine se eu não saio por inteiro?! – um arrepio percorreu meu corpo. – Teria sido esmagado num segundo, credo...

Um pouco ofegante, voltei-me na direção das árvores, dando às costas para o caminho, agora vetado, que conduzia à sede. Tomei a espada nas mãos trêmulas e comecei a caminhar.

Sabia exatamente o que tinha que fazer e para onde devia seguir. Desde criança era treinado naquele lugar e, por infinitas vezes, fui testado na prova "ache a casa da vó-bisa", a fim de estar preparado para momentos como esse. Confiava plenamente no caminho, mas não na solidão...

O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora