Bip

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Então, depois do que os alienígenas entenderam ser muito tempo, os números da datação passaram a girar mais lentamente e, gradativamente da esquerda para direita, começaram a parar, com ambos olhando fixamente como se aquilo fosse a roda da fortuna, um deles notou: "Caindo à margem Chi", e o outro: "Isso é estranho". Por fim, o suspense acabou e o número se dispôs na tela: 6.461.346,8 mu. Aquela informação, ao que se percebia pela agitação dos alienígenas, parecia deixá-los ainda mais confusos, de forma que continuaram com suas autoindagações:

– Pré-histórico? – Positivo.
– Rechecagem. – Feito. 

Então, como que acionado por seus pensamentos, uma pequena cortina se estendeu abaixo da informação que debatiam, na qual se lia: "Entre-Guerras: Bandeiras II-III. Era Terrena". A informação parecia os confundir cada vez mais, que prosseguiram:

– Não conheço. – Nem eu.
– Precisamos de um historiador. – E um veterinário.
– Requisições encaminhadas. – Ainda sem verificação na unidade mínima espacial.
– Prosseguir com análise ADN. – Pegue um pêlo.

Dito isto, sem qualquer delicadeza, o alienígena esticou seu braço até a cabeça de Billy arrancando um fio de seu cabelo, quase que imediatamente, vários gráficos foram dispostos na tela, um deles mostrava um desenho com pequenas linhas que iam se entrelaçando enquanto diversos caracteres ao lado corriam ao longo de listas giratórias, quando a animação parou, com espanto, as criaturas analisaram uma delas:

Homo-sapiens? – Eu não acredito!
– Base da cadeia íntegra. – Está correto.
– Convocar arqueólogo. – Convocado.
– Cheque a nave. – Carbônico-contemporânea.
– Prosseguir com análise liquorraquidiana. – Permissão negada.
– Mudança de protocolo. – Pergunte as criaturas.
– Elas estão muito assustadas.  – O de juba está em estado auto-hipnótico. 
– O outro em processo de trânsito. – Congelar.
– Negado! – Os filhotes parecem bem.
– O menor está dormindo. – Não vestiu o adaptador.
– O outro sabe ler. – Parece esperto.
– Curioso. – É asqueroso.
– São primitivos. – Odeio animais.
– Irracionais... – Mortais... 
– Pergunte a ele. – Oi, homenzinho, você sabe me dizer de onde vieram?

Frente a pergunta do alienígena, Billy falou:

– De Miami – respondeu após se recobrar dos próprios pensamentos, perdidos em meio às informações trocadas pelos alienígenas, completando: – Mas a gente tava vindo das Bermudas.

– Nesse aparelho?! – disse um, depois o outro completou a pergunta quase que simultaneamente: – Como vieram parar aqui?

– Nós... Eu... Não sei! A gente saiu de Wade, o avião quase caiu e paramos aqui, vocês não sabem onde estamos? – disse. As respostas de Billy pareciam deixar os alienígenas ainda mais perdidos, assim foram prosseguindo com o interrogatório, sempre com um complementando a fala do outro:

 – Estamos em Bimini, Terra. – Não vieram de Marte? 

Sem entender direito, o garoto respondeu: – Não, nós somos de Miami. Vocês são marcianos?

– Claro, somos todos marcianos. – Miami, Marte ou Nova Miami, Saturno?

– Nós somos de M-I-A-M-I, Estados Unidos, Flórida, fica na Terra, vocês não sabem? – disse Billy enervando-se com o fato dos alienígenas demonstrarem não entendê-lo corretamente. Frente à reação ríspida do garoto, os alienígenas, de forma completamente inesperada, começaram a rir simultaneamente em uma longa gargalhada, depois dizendo um ao outro em tom da chacota:

– Essa foi ótima! – Está completamente perdido.
– Tem senso de humor. – É nervosinho.
– E americano. – Como se não pudesse ser.

Então, subitamente voltando a assumir uma postura séria, continuaram:

– Informação válida. – As coordenadas batem com a história geográfica.
– Pergunte se ele sabe a data. – Você sabe que dia é hoje?

Frente à questão, Billy respondeu: – 21 de junho – e os alienígenas prosseguiram enfatizando:

– Calendário antigo. – Terráqueo.
– Escala messiânica. – Não conhecia.
– Nem eu. – Ano?

"78", informou o menino, se perguntando se aquele questionamento continuaria para sempre, já que os alienígenas permaneciam com mais dúvidas e questões:

– Confere com a medição. – Margem de erro irrelevante.
– Continuo sem entender. – Eu também.
Pai idem. – Está fora de nossa alçada.

De repente, quando os alienígenas pareciam desistir da bateria de checagens e perguntas, ouviu-se um bip vindo da tela do computador. O último dado da listagem, até então em análise, apresentava seu resultado final, o qual, para os alienígenas, parecia ser incompreensível conforme leram a informação em coro exclamando sua dúvida:

 – SEM RESULTADOS NA ESCALA ESPACIAL?! – disseram os alienígenas após alguns instantes se entreolhando notadamente boquiabertos, em seguida, voltando seus olhares para a família e, de forma frenética e demonstrando certo estresse, iniciando uma conversa a qual apenas Billy, o único humano presente senhor de si naquele instante pôde ouvir, ainda que de sua perspectiva, logo notou o garoto, percebesse algo de estranho naquele "papo": os alienígenas falavam muito rapidamente, na verdade, falavam ao mesmo tempo, em uma velocidade quase instantânea, enquanto conversavam, sequer mexiam os lábios e, detalhe que reparou somente depois de uma breve desorientação mental, não emitiam som algum, as ideias fluíam diretamente para dentro de sua cabeça. Apesar da incrível rapidez com que trocavam seus pensamentos, Billy conseguia compreender tudo ou, ao menos, tudo aquilo que podia escutar pensando

Adução Série: "O Voo Charter para Miami"Onde as histórias ganham vida. Descobre agora