PRÓLOGO

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Em um passado distante.

A CRIANÇA BRINCAVA COM UM CARRINHO DE MINERAÇÃO.

O objeto se movia com rapidez e expelia singelos tufões de fumaça de um pequeno cano de metal, que se elevava de uma haste de madeira. Gollen, o filho de Gondhur, com os seus quatro invernos de idade, desfrutava dos prazeres da infância, onde a fantasia reinava em seus pensamentos juvenis e não havia qualquer preocupação a perturbar suas ações. Era primavera em Kerion e o perfume das flores da montanha pairava na atmosfera da Praça Central do Reino. Um local agradável às famílias kerianas. Fira, sua mãe, uma kerina bela, de feições delicadas e cabelos castanhos, carregou-o em seus braços com carinho.

Gondhur aproximou-se e a abraçou.

O General de Kerion, com um bastão e cinco partes de altura e sua barriga de cerveja cada vez maior, tinha os braços robustos, por todos os anos que trabalhou na forja e no comando dos exércitos do Reino. Sua brät ruiva era adornada por cinco anéis lustrosos e os seus olhos tingidos num vermelho muito escuro, quase negro.

Fira colocou o filho no chão e este caminhou até o pai.

Começou, então, a puxar a sua cota de malha apressadamente.

— Papai... — chamou ele. Os olhos brilhavam e os cabelos vermelhos, como o fogo, esvoaçavam com a brisa suave.

Gondhur ajoelhou-se.

— Diga, filho.

— O que é o mundo?

O General estacou.

Como vou simplificar tudo em uma resposta?, pensou consigo mesmo.

Fitou para o céu límpido e começou:

— Nosso mundo é o fruto de uma grande batalha, Gollen — contou Gondhur, usando a primeira coisa que lhe veio em mente. O garoto seguiu o olhar do pai e contemplou a beleza do azul, com singelos pontos brancos de nuvens. — Os Primais, seres de tremendo poder, lutaram durante séculos, originando as montanhas, os mares e o céu com o fim da Guerra Primordial.

Gollen piscou e formulou outra pergunta:

— Algum deles venceu?

Gondhur riu brandamente e abraçou de lado o filho.

— Sim, Gollen, sim. Reza a lenda que, após a morte dos demais, dois permaneceram: Askar, o Primal do Caos e da Morte, e Íllinen, a Primal da Ordem e da Vida. No furor do mítico conflito, que durou cerca de sete mil invernos, Askar traiu Íllinen. Antes de morrer, a Primal deu sua vida para fazer com que os seres que criou continuassem a se perpetuar neste mundo. Íllinen usou o último suspiro do seu poder para arrastá-lo até as profundezas do mundo, onde o calor das chamas o retém na escuridão eterna até os dias de hoje, e derrotado.

Gondhur pôs-se de joelhos, igualando a sua altura à do pequeno Gollen.

— O nome dado ao nosso mundo, criado com o término da Guerra Primordial, tem origem na palavra lirana para "Equilíbrio": Etherya.

Etherya... — repetiu o garoto.

O menino perdeu-se no infinito dos céus radiantes da manhã. Gondhur sempre imaginou batalhas entre enormes criaturas de extremo poder, atirando rajadas de fogo com os olhos e gritando tão alto, que as estrelas estremeciam quando era mais novo. Gondhur percebeu que o filho teria gostado de presenciar o remoto início dos tempos. O nascimento de Etherya.

Assim como ele.

A AMEAÇA ESQUECIDA - A Saga do Elly: Livro UmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora