05 || ♡.𝑽𝒆𝒏𝒆𝒓𝒆 𝒍𝒂𝒔𝒄𝒊𝒂 𝒖𝒏𝒂 𝒍𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓𝒂°୭̥

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O tempo passa porque o relógio não para. Amantes pegando fogo, olhos que choram, vivência que mata, a mensagem sempre o ampara.

.𝑽𝒆𝒏𝒆𝒓𝒆 𝒍𝒂𝒔𝒄𝒊𝒂 𝒖𝒏𝒂 𝒍𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓𝒂.

Aos 56 anos Lee Felix nunca pensou que ainda estaria vivo. Ele não queria.

Parado no meio de seu escritório enquanto toda a sua família comemorava mais um ano de vida dele do lado de fora o fez perceber que estava muito cansado. As prateleiras lotadas de livros escritos por si enfeitavam o cômodo assim como os inúmeros quadros que pintara feito louco durante todos aqueles anos.

O homem de cabelos grisalhos deu um pequeno sorriso e sentou-se em sua poltrona, encarando a pequena gaveta da mesa grande por exatos quinze segundos. Ele sempre contava. Abriu e então encarou por mais cinco o pequeno papel amassado e manchado que ele guardara todo aquele tempo.

Nunca havia conseguido terminar de ler aquelas palavras porque doíam demais. Após a morte de Seo Changbin, Felix seguiu sua vida friamente. Arrumou outros companheiros, terminou a faculdade, começou a escrever romances e então casou-se com uma bela mulher de uma boa família, onde anos depois tiveram dois filhos juntos; Rappa e Chang-San.

Uma família bonita de fato.

Com cuidado desdobrou a folha e suspirou fundo, já sentindo as lágrimas acumulando no canto de seus olhos ao passo que o estômago revirava em angústia real. A letra desleixada e mesmo assim atraente lhe trazia memórias demais.

Passaram bons aniversários juntos, sempre sozinhos com um bolo pequeno e uma playlist com significados. Felix usou a mão livre para abafar um soluço e abaixou sua cabeça até que encostasse na mesa de madeira.

Dói... Você me fez sentir muita dor e continua fazendo.

Estava destruído.

Eu nunca vou te perdoar por não ter me esperado.

Quebrado.

Um suicídio a dois teria sido mais romântico, seu bobão.

Totalmente enlouquecido.

Lee Felix não tinha mais alma, ou se tinha havia se perdido entre as enormes camadas de tinta negra que enchiam seus órgãos internos e manchavam seus ossos. Os dedos trêmulos do homem indicavam ansiedade, assim como suas unhas roídas. As olheiras indicavam insônia, os olhos inquietos o uso de alguma droga, os lábios ressecados falta de cuidado consigo mesmo e os pulsos... Bem, eles mostravam tentativas falhas de seguir Changbin para onde quer que estivesse.

Ainda entre soluços ele tomou coragem para voltar a ler desde o início as mesmas palavras que já estava acostumado.

Para Lee Felix, o pintor da arquibancada.

Foi durante o inverno que me senti mal pela primeira vez, e sinceramente? Não tinha motivo algum. Sabe, tem um certo momento da sua vida que você percebe o quanto é vazio e vulgar, e isso acaba te prendendo em pensamentos melancólicos e destrutivos.

Nós estamos juntos por todos estes anos e quando olho para você ainda não o consigo ver como um motivo para viver, Lee Felix. Porque eu não te amo e creio que nunca vou amar... Mas estar contigo me faz sentir e isso é bom.

Sou egoísta de um jeito ou de outro por te usar, não é? Mas você também é! Lix, quando você diz que me ama é muito bonito, porém não passa de uma mentira porque você está tão doente quanto eu, e qualquer um em nossa situação pode perceber isso somente ao olhá-lo nos olhos. Você expele farsa e tudo o que é abominável, e droga, eu estou vivendo para provar mais deste seu ser horrível e podre. Tão podre quanto o meu.

Esta viagem foi gota d'água porque eu já não aguento mais isso, tudo é tão distorcido e mentiroso que eu chego a vomitar só de olhar. Por favor, eu espero que você me perdoe por não te esperar, mas já passamos tempo demais juntos e eu não consigo encontrar uma maneira melhor de terminar este relacionamento.

Se divirta, continue pintando e sendo a pessoa incrível que é, continue sendo esta pessoa doente e obsessiva porque para mim teus defeitos são como arte.

Eu estarei bem logo logo, junto de vênus. Ela cuidará de mim.

Sem amor algum, Seo Changbin. A sua tela.

Felix não chorava mais.

Em surtos de frustração e dor ele questionou-se sobre a existência diversas vezes, querendo compreender o porquê de ainda doer tanto.

Era fim de verão quando Vênus se foi. Seu amor puro e doce deixou para trás uma farsa doentia de obsessão e caos. Pedacinho por pedacinho desmoronando enquanto desfrutava de sua liberdade dolorosa e sem sentido.

O Lee totalmente dopado pela sua mente vazia e destruída levou o papel até a própria boca e passou a mastigá-lo diversas vezes até que se tornasse uma massa amarga ao seu paladar, e então engoliu.

Agora Changbin vive em mim.

Abriu a segunda gaveta e tirou de lá um pequeno frasco de cianeto que ganhara em seu aniversário de 19 anos. Um presente de Changbin para caso o Lee quisesse ir antes dele.

Era um processo muito rápido quando pessoas decidiam partir. Dependendo do método elas apenas perdiam a vida sem muita dor ou significado, era algo que escorria pelos dedos e impossível de reverter, portanto, ao beber o líquido do frasco não havia nada que ninguém daquela casa pudesse fazer.

Lee Felix debateu-se na poltrona grande, espuma escorria aos montes pelos cantos da boca e uma convulsão violenta fazia o corpo se debater em busca de melhora.

Foi assim que morreu.

Não deixou carta.

Não deixou nada.

Aos 56 anos ele se foi, na mesma data da morte de Changbin. Sim, Seo Changbin havia se suicidado durante o aniversário de Felix quando foram comemorar na Itália.

Não havia amor, não havia ressentimentos. Tudo o que tinham era o egoísmo cru e as mentiras doentes.

Felix era obsessivo e caótico, Changbin era vazio e curioso.

A única coisa que tinham em comum era a morte.

E o fim finalmente havia chegado.

°°°

O fim.

O Suicídio de Vênus || chang•lix Where stories live. Discover now