C A P Í T U L O XXII

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— Apressadinha.

— Claro que estou com pressa! — Eliza abriu um sorriso — Mal posso esperar para ver Titia Daisy.

— A velocidade que você toma o desjejum não muda o ritmo da carruagem dela... — Julian riu.

— Poderíamos fazer nosso piquenique hoje, não? — Liz indagou — E vamos para o vilarejo amanhã quando Daisy for visitar a família do vigário. Eu queria tanto cavalgar até lá...

Os criados trouxeram os últimos pratos. Eliza serviu-se por conta própria com torradas, ovos e trouxe para perto de si um recipiente com mingau de abóbora. Lord Gunning preferiu pão e bacon.

— Você faz de tudo para não ver a família do vigário, Eliza.

— As filhas dele quebravam minhas bonecas. Lembro-me muito bem.

— Então faremos o piquenique hoje! — Julian sorriu — Será melhor para sua tia poder descansar. Tenho certeza que chegará exausta da viagem e alguns agrados a farão muito bem.

Lady Eliza bateu palmas de entusiasmo.

— Ah que maravilha. Irei colher algumas frutas antes do almoço. Papai, você quer que eu traga o que?

Gustave pensou por alguns segundos. Ele usava uma camisa de mangas curtas e um colete azul, aberto. O melhor, entretanto, era seu cabelo desgrenhado. Se em Londres o conde sempre parecia muito enfadonho agora ele estava perfeitamente relaxado.

— Cerejas — lord Gunning tocou no nariz da filha — doces como você.

Stanley pigarreou.

— Minha opinião não é valida?

— Oras Julian. É claro que eu pediria para você logo em seguida — defendeu-se — quais frutas eu trago?

— Morangos. Ou maçãs. Talvez ambas, vamos estar com fome.

— Morangos para o piquenique e as maçãs para nossa cavalgada amanhã.

— Perfeito.

Ela assentiu com um sorriso. Terminaram o desjejum jogando conversa fora e após isso Eliza decidiu esperar a carruagem da tia em frente da propriedade. Um belo gramado estendia-se ao lado dos jardins e algumas mesas brancas haviam sido colocadas para descansos e chás da tarde. A jovem sentou-se em uma das cadeiras, apoiou a cabeça sobre a palma da mão e esperou os minutos se passarem assistindo a vista do campo. Nada.

Ao passo em que era desesperador era tranquilizante. Sim, não havia nada. Não era como em sua janela em Mayfair de onde Eliza conseguia avistar carruagens, pedestres, prédios e as lamparinas para iluminação. Não havia ruídos dos criados, dos cavalos, dos moradores ou visitantes. Tudo era o nada. Uma imensidão verde, com trigo, árvores e um céu azul, onde o único barulho audível foi por muito tempo o cantar dos pássaros.

— Senhor, se eu estou sonhando... — ela murmurou, fechando os olhos e sentindo a brisa da manhã chocar-se contra seu rosto — por favor, não me acorde. Nunca.

Não era um sonho. Era real. Ela estava em Somerset longe de todas as aflições e dores. Estava longe de Frederick Morley e isso trazia tantos sentimentos conflitantes até seu coração. Por mais que ela soubesse que estava melhor assim ainda havia um aperto em seu peito que gritava por ele. Um grito que lady Eliza tentava constantemente calar.

Ela manteve os olhos fechados por muito tempo. O sol da manhã batia em seu rosto claro, deixando as bochechas rosadas e as sardas mais evidentes. Liz permaneceu muito tempo apreciando a escuridão de suas pálpebras, viajando nas cores e nos sentidos, mas ao escutar o soar de uma carruagem abriu os olhos na hora. Certamente era Daisy. Só poderia ser. Eliza correu pelo gramado.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Where stories live. Discover now