3º Capítulo - Quem é Dendras

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Meio distraído, alcancei a mesa do grande salão e me acomodei de forma automática à cadeira, voltando a comer em seguida. Disfarçadamente, encarei Dendras que dava fim a última folha de alface presente em seu prato com voracidade.

Eu tinha apenas quatro anos quando este rapaz chegou a sede de forma misteriosa, ainda bebê. Hoje já tenho 19, mas, mesmo assim, ainda me recordo vagamente do dia...

Uma cesta havia sido largada às margens da floresta com uma criança pequenininha e ruiva dentro – os cabelos de fogo do bebê chamaram muito minha atenção. Todos o rejeitaram por medo de ter sido enviado pelo Caos, mas minha mãe o acolheu como filho e, desde então, crescemos juntos.

Independente das diferenças físicas e da opinião alheia – todos acham que Dendras é má influência por ter suas origens desconhecidas -, sempre agimos como irmãos. Eu o ensinei tudo o que sabia e ele somou à mim em muitas coisas também. A paciência é uma delas. Ah! E também a lábia para conquistar mulheres.

Sempre fomos inseparáv...

_ Qual foi, mano? – escutei a voz de alguém me arrancando de meus pensamentos.

Dendras me encarava, furioso.

_ Não posso mais nem comer a sobremesa, só porque você ainda está almoçando? – questionou, fingindo estar bravo. As sardas de seu rosto pareciam brilhar.

Pisquei, encarando o belo sorvete repousado frente a meu irmão, a colher à meio caminho da boca. Em seguida, direcionei minhas atenções a meu prato, que permanecia cheio e quase intocado.

_ Na verdade, não. Me passe o sorvete ou falo para mamãe que você quer repetir o feijão. – ameacei.

_ Nãããããão! – sussurrou ele. – Tudo, menos o feijão!

_ Muahahahahahah! – imitei uma risada maléfica.

_ Os dois rapazes aí. – censurou papai, chamando nossa atenção. – Terminem de comer logo e deixem as gracinhas para depois.

_ Desculpe. – respondemos em uníssono e baixamos a cabeça, escondendo as gargalhadas.

Lentamente, garfada após garfada, dei um fim a minha comida e, enfim, saboreei a sobremesa.

Dendras esperou pacientemente até que eu pudesse sair, no intuito de irmos juntos treinar. Quando estávamos livres, pegamos nossas espadas e nos dirigimos ao pátio.

_ Clara ligou? – perguntou meu irmão.

Assenti, indiferente.

_ E o que conversaram? – insistiu ele.

_ Disse que vem para nos visitar daqui uns dias e aproveitará para ficar até o bebê de tia Anna e tio Marcel nascer. Vai trazer Nani e uma sacola cheia de chocolates para nós dois.

O rosto do rapaz a minha frente se iluminou e, puxa, à luz do sol seus cabelos pareciam fogo.

_ Chocolates? – perguntou.

_ Sim. – sorri. – Disse que é para conseguir informações de nós.

_ Aproveitadora! – acusou ele, em tom de brincadeira. – Heitor não vem?

_ Bem... – pensei um pouco tentando recordar se minha irmã havia falado algo do marido. – Acho que não. A rotina de um médico é realmente muito difícil... Ele deve ter plantões a cumprir.

Dendras assentiu, dando-se por satisfeito. Em seguida, puxou uma pequena flanela do bolso e sentou-se à sombra de uma das árvores mais afastadas da floresta. Retirou a espada da bainha e começou a lustrá-la com avidez.

O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora