— Claro, querida. Qual história você quer ouvir? — Charlotte sorriu. Havia abandonado totalmente o medo.— Aquela do cachorrinho, mamãe. — Os olhos escuros da garota brilhavam. Seus cachinhos escuros caiam sobre o rosto. Charlotte se sentia bem com aquela menina.
— Qual do cachorrinho?
— Do cãozinho que lambe mãos.
— Daquele livro de contos? Mas ele só tem histórias de terror, querida.
— Mas eu quero ela, mamãe.
— Esta bem. — Ela não conseguia negar nada a pequena. — Só não venha querer dormir comigo depois. — Elas riram juntas.
Charlotte deu as costas para sua filha e foi até a estante ao lado do guarda roupas. Tantos livros lhe causava uma sensação nostálgica. Dentre todos os livros coloridos, um se destacava por ter capa preta. Quando retirou do meio dos outros, leu o título:
— "Contos e Canções de Tenebris". — Enquanto lia, se virou. Olhando para baixo, viu um par de tênis nos pés do que seria um homem na porta do quarto. Assustada, ela deixou cair o livro. — Quem é você? — Ela indagou, mas sentia que conhecia aquele homem com roupas esportivas rasgadas. Ele estava cheio de marcas de garras pelo corpo.
— Reza a lenda de que todos que citam esse nome, selam sua sentença com o azar e seu destino está ligado ao próprio mal primordial. — Ele diz com eloquência e calma, algo inconfundível para qualquer um que tenha conhecido Noah, mas ele parecia bem mais velho.
— Noah? Parece que não te vejo a anos. O que houve contigo? — Perguntou preocupada.
— Você me abandonou no mundo mental e fui pego por aquele bicho desgraçado. Tive que lutar para sair de lá. — Ele disse limpando o suor e sangue da testa.
— Do que está falando? Isso foi a anos não foi? E foi apenas um sonho! — Ela disse rindo do ocorrido como se fosse apenas um delírio coletivo.
— Já reparou que nunca lembramos do começo ou do fim de um sonho? — Noah indagou com a eloquência de sempre. Ela se sentiu em uma conversa com um velho amigo.
— Sonhos não tem começo e acabam quando acordamos. — Ela sorri pensando ter acertado a resposta de mais uma das charadas de Noah.
— Exato. Já está de noite, não é? — Ele indaga e ela assente, como algo óbvio. — Então me diga; O que você fez hoje de manhã?
— Bem, eu... — Ela faz uma longa pausa pensando numa resposta e até tenta formular, mas é impossível. — Não me lembro. — Logo ela se deu conta do que estava acontecendo. — Estamos no mundo mental ainda?
— Sim.
— Mas parece bem real para mim! — Ela se beliscou, imaginando a dor como maior prova do mundo real e realmente sentiu o beliscão. — Isso dói! Ta vendo? Olhe para esse quarto, olhe para minha filha! — Ela aponta para a cama, porém não havia ninguém ali. Ela estremeceu ao ver o quarto perder toda a tonalidade rosa e viva, dando lugar a um quarto empoeirado, abandonado a muito tempo.
— Me diga, Charlotte: Quem sou eu? O que vim fazer aqui?
— Quem é você? Quem? — Ela se questionava e as memórias vinham como um filme. Finalmente ela acordava em pleno sonho. — Você é Noah Ross, um Detetive do Além e... O que veio fazer aqui? — Essa foi a primeira coisa que o detetive lhe perguntou quando se viram. Ela já havia respondido, mas disse novamente. — Te chamei porque estava ouvindo barulhos estranhos no quarto da minha pequena, durante a noite.
— Isso não responde o que perguntei. Eu vim aqui justamente para você me dar a resposta certa, Charlotte.
— Como assim? Foi justamente porque nós não conseguíamos dormir à noite.

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Occulta Tenebris
Mystery / ThrillerUm grupo de jovens híbridos de humanos com outras espécies, que cresceram juntos em um orfanato, depois de deixarem seu antigo lar, decidem se unir para formar um grupo de investigadores paranormais. Eles passaram a agir sob jurisdição de uma ordem...