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— Ei, parece que o senhor shinigami finalmente despertou, não é? Espero que esteja se sentindo melhor da pancada.

Meus olhos haviam acabado de abrir e minha visão ainda turva estava se adaptando a luminosidade daquele lugar. A voz que parecia ter se dirigido à minha pessoa não indicava exatamente a sua origem, o que me fez pensar que estava com algum tipo de alucinação. E então, eu esfreguei meus olhos com os punhos e pisquei duas vezes com firmeza para lubrificar meus globos oculares de deus da morte...

Hmm...

Aparentemente, eu ainda era um shinigami. Eu sentia isso, e era um sentimento inegável. Era minha natureza, agora.

Porém, ao que minha visão se estabilizou e pude enxergar com clareza minhas mãos... elas haviam voltado ao normal.

Minha pele, meu corpo, havia voltado a ser um humano.

Eu havia voltado a ser um humano.

Espera, eu havia voltado a ser um humano?

Foi esse o pensamento incrédulo que passou de uma ponta a outra de minha mente confusa, enquanto me observava sentado em uma cama macia no reflexo de um grande espelho estrategicamente posicionado para aquele tipo de situação.

Afinal, do fundo do meu coração, eu ainda me sentia um shinigami.

— O que foi, está simulando demência, é? Não se lembrava mais de como era ver sua própria imagem no espelho?

De onde essa voz...?

— Aaaaaah!

— Não precisa gritar, senhor shinigami. Ninguém irá escutá-lo aqui. O som não passa de dentro para fora, mas é possível escutar o que vem de fora para dentro.

No alto, ao canto direito daquele quarto onde eu me encontrava minutos antes adormecido, uma garota estava grudada como uma aranha na parede. Literalmente como uma aranha. De suas costas, quatro grandes patas aracnídeas brotavam da base de sua coluna como asas abertas em X. A ponta de cada pata mutante era como uma afiada lâmina dourada, enquanto o restante de cada membro era de um marrom-avermelhado. As patas a seguravam na parede com suas lâminas cravadas nela, o que deixava seu corpo pendurado de uma maneira bastante esquisita. Tirando isso, a garota era surpreendentemente bonita. Seu cabelo cor de rosa era quase tão chamativo quanto os membros de aranha saindo de suas costas. Os olhos eram castanhos, e ela tinha uma ponte de sardas cruzando sobre seu nariz. Ela vestia uma camiseta de basebol e um short preto muito curto. Nos pés, um par de tênis de basquete e meias que cobriam metade de suas canelas.

— Você se assustou comigo, senhor shinigami? Ou estava só simulando demência?

— É claro que me assustei. Olhe... essas coisas... você está grudada na parede.

— Hmm, "essas coisas"? São minhas patas, ora. Nunca viu patas de aranhas? Por acaso o senhor tem medo de aranhas? Minha senpai disse que você era corajoso embora irresponsável e um pouco burro.

— Certo, muita informação. Phew. Onde eu estou e quem é você?

Ao meu questionamento simples, a garota inclinou a cabeça levemente para o lado e piscou duas vezes seus olhos. Suas patas aracnídeas se despregaram da parede e como um gato ela pousou suave e de pé em solo firme. Seus membros de aranha foram sorvidos pelo seu cóccix como macarrão instantâneo, e com sua imagem menos ameaçadora, ela se aproximou da cama.

— Você também é um homem? Mesmo sendo um shinigami, você é um homem?

— Hã? O que essa pergunta tem a ver com o que perguntei a você?

Yuna Nate: Colors Pt. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora