Festa de Formatura

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Capítulo I

Festa de Formatura

Foi literalmente um inferno na terra. Ficar sentada horas e horas, vestida em tubinho preto que nada valorizava minha silhueta de monstro do lago ness, enclausurada em um cubículo rodeado de ventiladores sem vontade de trabalhar, e pior sendo melada pelo esfrega, esfrega, dos pais, professores e "amigos" de classe. Por mais que minhas expectativas acerca da formatura tivessem sido exorbitantes, elas foram ao polo norte e voltaram em questão de segundos.

Quando finalmente fui chamada ao palco para a cerimônia de entrega do certificado notei algo estranho ao meu redor. Acostumada deixei rolar, levantei, ergui o semblante e andei em direção ao palanque - porém algo me corroía por dentro. Respirei. Passos limitados por uma aura pestilenta sedenta por vingança, juro que tentei ignorar os acenos dos meus fãs e da minha diva maior Penelope, só que meu instinto resolveu transparecer. Foi apenas uma rodada de 90 graus, movimento necessário para contemplar: Augusto, Penelope e Fernando imitando sons de uma porca quando está no cio. Não foi preciso ter PhD para interpretar que aquela atividade sinônimo de 5ª série havia sido designada a mim, somente a mim, a orca assassina da terceira série do Ensino Médio, também conhecida como Thábata.

Segui ignorando, olhar consumido pela raiva, envolto em um sorriso falso. Praticamente um vulcão em erupção, meneado pela ação do bicarbonato de sódio. Minha perna tremia, minhas mãos tremiam, até partes nunca antes habitadas começaram a tremer. O tombo foi consequência do misto de raiva e ódio. O chão tremeu, mas o rímel não escorreu.

O salto fino do sapato alugado não havia sido feito para aguentar 94 quilos de pura diabetes e colesterol. Não chegou a quebrar, mas deu uma bela de uma trincada. Reconstitui a cabeleira, inspirei fundo e voltei. Enfim cheguei ao palco.

Após a saraivada de risos sobre a queda do muro de Berlim, recebi o "idiota" do papel simbólico (certificado) impresso em folha de sulfite e assinado pela chefia Cleide. Ergui-o ao alto em sinal de vitória, mas o que era para causar alegria inspirou outra horda de risadas. Escassez de ventilador, vestido preto e ambiente fechado = marca de suor nas axilas. Eu queria morrer.

Já estava tudo perdido, então raciocinei:

A) Posso descer e ficar com cara de boba para sempre;

B) Posso pegar o microfone e pedir desculpas, e mesmo assim sair com cara de trouxa;

C) Posso pegar o microfone, fazer a "Kátia cega", e bolar uma vingança a altura.

Não pensei duas vezes, optei pela terceira opção.

Diário de uma ex-adolescente vingativaOnde histórias criam vida. Descubra agora