Capítulo 45 - O caminho para a imortalidade

28 5 23
                                    

1 dia antes do Juízo Final

Dizem que quando estamos próximos da morte, um filme com toda a história da vida passa de maneira breve pelos olhos cansados de nossa penitência. Isso talvez ocorra devido ao fato que raras vezes sabemos quando exatamente iremos padecer, a aleatoriedade do destino nos surpreende com um último suspiro e vislumbre antes de partir. Porém, saber exatamente quando atravessaremos a barreira corporal que nos impede de ascender é de igual maneira conturbada.

Acho que algumas pessoas já se perguntaram o que fariam se soubessem a exata data de quando morreriam, é complicado planejar uma vida sabendo da morte. Acredito que durante vários momentos da existência, simplesmente esquecemos este evento, o que de certa forma nos faz crer ser imortais, além de renovar o fôlego para despertar um novo dia.

Riverside era agora uma cidade fantasma, poucas pessoas circulavam nas ruas, em alguns segundos tinha a impressão de que o mundo havia parado e jamais voltaria a girar. Fizemos questão de que cada um levasse seu próprio instrumento e juntos irmos caminhando até o local que preparamos e decidimos ser apropriado para realizarmos a nossa primeira e última apresentação.

Escolhemos uma parte do rio que passava pela entrada da cidade, como se pudéssemos expulsar dali com nossa música qualquer mal que desejasse entrar novamente em nossa amada Riverside. Que as águas percorressem o globo e levassem em suas correntezas nossas angústias e dores.

Não queríamos assistir a gigantesca produção das estrelas harmônicas da noite em sua transmissão mundial, ao invés disto, preferimos fazer o que tínhamos que fazer sem distrações, e ao mesmo tempo, contemplar a sensação de paz de quem está preparado para tudo.

Segurando de um lado a mão de Sophy, enquanto na outra abraçava Kathy com Zelda no colo, seguimos um passo de cada vez rumo ao rio que batizaria nossa alma. Stanley, Rebecca, Elijah, Summer, Daryl e a dupla de labradores Mytru e Jivana andavam ao nosso lado. Uma família unida para interromper o fim do mundo.

Tive orgulho de ver todos determinados a apoiarem até o fim o plano duvidoso que havia criado em meio as incertezas que a situação nos deixou. Nossa chance era de fato baixa, muito poderia dar errado, a tradução de Rebecca tinha a possibilidade de ter sido equivocada, afinal de contas, estávamos brincando de deuses ao almejar o som divino das entidades dos sonhos e pesadelos. Também poderíamos executar de maneira errada a canção, falhando durante a performance e arruinando tudo. E claro, por último, mas não menos relevante, a chance de nada disto estar correto, e a sinfonia do paraíso ser apenas uma ilusão para um crédulo destinado a falhar.

Mas nenhuma destas questões seria mais forte que nossa força de vontade, a obstinação do ser humano e o desejo de viver para vislumbrar mais um raio de sol. Seria impossível até mesmo para criaturas celestes nos impedir de seguir em frente. Posso afirmar, que com minha família ao meu lado, eu me sentia invencível.

Fiz questão de colocar um sorriso no rosto enquanto caminhava, um sorriso largo, natural e verdadeiro.

— Papai? —Chamou Sophy — Para onde estamos indo? E por que está tão feliz?

— Iremos passear nas margens do rio querida, sentir um pouco a brisa refrescante e admirar a mansidão das águas. Quem sabe até possamos tomar um banho nele. Poder fazer isto com vocês me deixa entusiasmado.

— Posso dar banho em Mytru e Jivana também? — Perguntou.

— Claro princesa! Iremos todos ter uma noite libertadora e agradável em família.

E aquela sensação de paz era estranhamente o que sentia naquele momento, como se meu corpo estivesse dentro um barco em direção as terras sagradas no horizonte de um outro mundo, sem violência, inveja, guerras ou ódio. Um lugar perfeito, onde nossas dores se converteriam em alegria, a raiva em amor e a morte em vida. Onde possamos desfrutar do que há de melhor na existência, a companhia de quem amamos e uma única profunda harmonia.

Finalmente compreendi o que o prefeito sonhou em conquistar. Após sofrer sozinho por anos, ele desejou a simples oportunidade de entregar a todos os cidadãos a chance de viverem a plenitude da alma, sem a melancolia esmagadora de Kabus, o senhor dos pesadelos e a dor da solidão. Se sua iminente loucura trouxe até mim este vislumbre, agradeço a insanidade por compartilhar sua visão por vezes imcompreendida pela maioria.

Finalmente era chegada a hora, a meia noite, do outro lado do planeta, seria tocada a sinfonia do juízo final, e com ela viria o período de terror que vivenciamos um ano atrás, desta vez para finalizar a vida na terra. Enquanto isto, aqui, na pacificidade das águas de Riverside, realizaremos um humilde encontro em família, que não ressoará alto o suficiente para que os habitantes escutem, mas ultrapassará os céus e chegará até os confins da alma, num lugar onde somente os sonhos e pesadelos podem acessar.

Seremos os próprios deuses da criação, tocando um eterno e belo soneto sob a noite iluminada pela lua e pelas estrelas.

Uma ode ao amor e a vida.

Um pedido carinhoso de socorro.

O caminho para a imortalidade.

Um boa noite a cidade de Riverside.

A arma perpétua e secreta das entidades da mente.

A canção do paraíso. 

***********************************************

E aí pessoal, o que acham que acontecerá no próximo capítulo? Acreditam que Aaron e sua família conseguirão parar a sinfonia do juízo final com a canção do paraíso?

E o que acontecerá as pessoas? Será que a mente de todos suportará esta marcha fúnebre?

É o que veremos! Vejo vocês no próximo capítulo <3

A sinfonia do juízo finalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora