Capitulo Um.

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Geente to chegando heinnnn. Seguraaa o forninho....

Hortênsia a cima de viajemmm.....



Capitulo Um.

Distrito Federal, Brasil.

Itamaraty.

— Boa tarde, Hortênsia. — Escuto a voz gutural do chefe das missões ao entrar pela porta atrás de mim. Uma sensação calorosa se instala dentro por meu corpo imediatamente e não consigo evitar sorrir para o homem moreno e tez flácida, agora, sentado à minha frente. Ele se acomoda em sua poltrona enquanto abre uma pasta que trouxe consigo.

— Boa tarde Sr. Souza. — Respondo quase que imediatamente, parecendo mais desesperada do que realmente estou. Tento, mais não consigo me acalmar. Cada folha da pasta que ele analisa rapidamente me faz ter uma tremedeira repentina nas mãos. Estou no meu terceiro ano em Relações Internacionais e como nos anos anteriores, preciso do senhor Souza para me fornecer estágios e programas que contribuam na minha formação acadêmica. Sem essas tarefas extracurriculares, pode-se dizer que a minha formação será barrada, ainda mais nesse último ano.

Eu nasci no estado do Espirito Santo, em uma cidadezinha bem costeira. Sou a filha do meio da minha mãe, a única responsável pela gente, e assim que terminei o ensino médio, decidi que queria contribuir de alguma forma com a estabilidade mundial. Eu tinha dezoito anos quando comecei, e deixe-me dizer, fiquei apaixonada por toda a matéria. No entanto, apesar de ser uma excelente aluna, tenho que apresentar resultados práticos e saber falar pelo menos, duas línguas estrangeiras. Já domino o inglês, a base essencial, graças a Deus!

As coisas neste ultimo anos estão puxadas. Hoje mesmo é a quinta vez que retorno até o escritório do senhor Souza em busca de uma novidade. Das outras vezes ele não tinha nada, apenas me mandou para uma socialização em três embaixadas onde eu participei de algumas comemorações coletiva. Ontem a noite eu recebi uma ligação da sua secretária me pedindo para vir aqui hoje. E cá estou. Observo o Sr. Souza fechar a pasta e retirar os óculos redondos, guardando-os em uma de suas gavetas. Em seguida ele me olha, as mãos cruzadas sobre a mesa, expressão neutras.

— Foi nas socializações? — Me pergunta e eu travo. Certamente ele não me chamou aqui apenas para perguntar isso, estou confusa e sei que minhas sobrancelhas estão arqueadas pela sensação. Aceno lentamente, sem qualquer palavra para responder. Um sorriso singelo se abre em seus lábios com a minha resposta. — Como foi na embaixada da Arábia Saudita?

Será que respondo o que realmente achei? Ou que fui apenas pela faculdade? Não socializo muito com esse país. Muito menos com a sua monarquia. Foi a socialização mais entediante que participei. Fiquei o tempo todo aérea em meus pensamentos, ao contrário dos meus companheiros, também recomendados por Souza.

— É uma embaixada bonita. — Digo, e não é mentira. É uma construção muito bela de verdade, tem o toque dos árabes nela. Agora quem está com o cenho franzido é Souza. Acho que ele compreendeu perfeitamente que não dei muita atenção á essa socialização em especial.

Sou pega de surpresa quando sua expressão relaxa e ele sorri novamente.

— Só isso? Não gostou dos árabes? Algum preconceito de estereótipo? — Ele inquere, e mesmo sendo de uma forma sutil, sinto a acusação. Comprimo os lábios um contra o outro enquanto busco uma resposta convincente.

— Senhor Souza... — Tento dizer, no entanto, ele estende a mão e paro.

—Tudo bem, Hortênsia. Não precisa responder. — Ele abaixa a mão e já não está mais sorrindo. Sinto um azedo em minha língua, uma sensação de decepção por estar de alguma forma decepcionando o Sr. Souza. Lá fora, telefones tocam sem parar. Não sei mais o que dizer. Estou muito envergonhada. Após alguns segundos, ele volta a falar: — Eu tinha conseguido uma vaga pra você. Foi difícil, porque é um estágio de nível superior e de apenas dois meses. Você ia trabalhar com um jovem muito respeitado em seu meio, em ciência e programas sociais. Mas, acho que não está preparada pra isso.

Engulo em seco. Um estágio desse garantiria minha formação sem pestanejos e acabei jogando tudo fora. Além do mais, ciências e programas sociais é a área que mais amo e que futuramente planejo trabalhar. Quero me dedicar as pessoas. Melhorar as relações delas umas com as outras e criar bases para isso. Observo o senhor Souza segurar a pasta como se fosse se levantar e leva-la pra longe e sinto meu peito doer. De repente, me ergo. A dor da quase necessidade se tornando insuportável, além do mais, também tenho uma família pra cuidar e é através desse estágio que terei maiores possibilidades.

— Desculpe senhor Souza, de verdade. O senhor tem razão sobre meus preconceitos, mas vou me livrar deles. Por favor, me de essa vaga. Eu preciso. — Falo tudo de uma vez, meu peito arfante. É sempre difícil se redimir, eu particularmente sempre tive dificuldade, mas a julgar pela expressão do senhor Souza, alcancei meu objetivo. Pelo menos, ele larga a pasta sobre a mesa.

— Precisará mesmo deixar esses preconceitos de lado, senhorita. Essa vaga é uma oportunidade única. O seu mentor além de ser um jovem intelectual, é um árabe, e além disso, um príncipe. — A minha careta traz o senso de humor do senhor Souza de volta. Ele dá uma risada baixa, a tez leve. Retorno ao meu acento e contraiu a mandíbula ponderando se devo realmente perguntar, até que decido que sim.

— Na Arábia, né? — Tento evitar parecer temerosa, sem sucesso. Tudo por esse estágio, animo a mim mesma.

Senhor Souza assente, complacente, em seguida, uma pequena preocupação passa diante de seus olhos.

— Hortênsia, se não estiver preparada, não vá. Acredito que você vá lutar contra seus preconceitos, no entanto, se algum agente brasileiro ofender um membro da monarquia... Nem sei direito o que pode acontecer. — Suas palavras ecoam em minha mente, um receio maior ainda se formando em meu peito e juro pra mim mesma que não vou deixar a situação chegar á esse nível.

— Senhor Souza, eu prometo dar o meu melhor e representar bem uma cidadã brasileira. — O corto com firmeza. Entendo a gravidade da situação e sua preocupação, mas eu realmente preciso da vaga. Nem que pra isso eu tenha que ir pra um país que jurei nunca pisar no seu solo. Eu realmente preciso.

Realmente.



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Letícia.

Príncipe Saudita.Where stories live. Discover now